Herbicidas pré emergentes no manejo de plantas daninhas em algodão

Algodoeiro sofre com interferência de plantas daninhas que limitam crescimento, produtividade, qualidade da fibra e beneficiamento

28.04.2020 | 20:59 (UTC -3)

Cultura de desenvolvimento inicial lento o algodoeiro sofre com a interferência negativa de plantas daninhas, com limitações ao crescimento, produtividade, qualidade da fibra e beneficiamento. Herbicidas pré emergentes são uma das ferramentas disponíveis para manejar o problema.

As plantas daninhas constituem um dos principais problemas na cultura do algodão, por interferirem diretamente no crescimento, produtividade, qualidade da fibra e beneficiamento. O algodoeiro geralmente é cultivado com espaçamento largo que varia de 0,80m a 1,0m entre as linhas e possui um lento desenvolvimento inicial. Esses fatores acabam favorecendo o crescimento de plantas daninhas principalmente nos primeiros meses da implantação da cultura. Portanto, é necessário um controle efetivo das plantas daninhas para não haver risco de comprometer o potencial produtivo da cultura.

Neste contexto foi conduzido um experimento sobre o efeito residual de diferentes princípios ativos de herbicidas pré-emergentes sobre as principais ervas daninhas que ocorrem na cultura do algodão na região sudeste de Mato Grosso.

O experimento foi realizado no município de Campo Verde, Mato Grosso, na safra14/15, em área comercial com plantio em 04/01/15, cultivar FM975 WS com 6 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos são apresentados na Tabela 1.

Cada parcela foi composta por 4 linhas com espaçamento de 0,80m por 5m de comprimento. Os parâmetros avaliados foram população e espécie de ervas daninhas em 1m2 na área útil da parcela aos 14, 28 e 42 DAE e altura das plantas aos 20 e 45 DAE.

Experimento aos 45 DAE.
Experimento aos 45 DAE.
Instrumento utilizado para a avaliação (1 m²).
Instrumento utilizado para a avaliação (1 m²).

As determinações das dosagens foram resultado de discussões e recomendações de profissionais, levando em consideração os registros dos produtos junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para a cultura do algodão. Na aplicação foi utilizada uma bomba costal de CO2 com pontas de pulverização tipo leque de 110° ADI ISSO regulada para o volume de 130 l/ha.

Os parâmetros avaliados foram população e espécies de ervas daninhas além da altura de plantas aos 20 e 45 DAE. Para avaliação de altura de plantas foi utilizada uma única linha em cada bloco, avaliando as 5 plantas da região central no sentido único em cada tratamento para que a quantidade de adubo, que pode variar de uma linha para outra, não causasse interferência. Na medida de altura foi considerada a distância do solo até o ápice da planta de algodão. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias, de todos os tratamentos, comparadas pelo método de agrupamento de Tukey a 1% de probabilidade. Já para a quantificação de população de ervas daninhas o método de agrupamento utilizado foi o de Scott-Knott a 5% de probabilidade.

Resultados observados

Foram realizadas três avaliações de plantas daninhas aos 14, 28 e 42 dias após a emergência do algodão (DAE), além de altura de plantas aos 20 e 45 DAE. As seguintes ervas foram encontradas no experimento: pé de galinha (Eleusine indica), junquinho (Cyperus esculentus.), apaga fogo(Alternanthera ficoidea L. Sm.), trapoeraba (Commelina benghalensis L.), corda de viola (Ipomoea triloba L.), joá-bravo (Solanum sisymbriifolium Lam.), caruru (Amaranthus deflexus L.) e erva de santa luzia (Commelina nudiflora).

Na primeira avaliação foi encontrado o menor número de plantas daninhas. Houve diferença significativa apenas para a testemunha (aplicação única de Glyfosato) em relação à população de junquinho que apresentou 0,5 plantas/m2 enquanto nos demais tratamentos não houve nenhuma planta (Tabela 2).

Na segunda avaliação 28 DAE, 31 dias após aplicação dos 5 primeiros tratamentos e 21 dias após a aplicação do S-Metalacloro ocorreu diferença significativa para a erva de santa luzia e joá-bravo onde a testemunha (somente Glyfosato) e Trifluralina, respectivamente, foram menos eficientes no controle destas ervas (Tabela 3). 

Na terceira avaliação, aos 42 DAE, não ocorreu diferença significativa entre todos os tratamentos (Tabela 4 e 5).

Na avaliação de altura de plantas não foi constatada diferença significativa entre os tratamentos indicando que os produtos testados não afetam o desenvolvimento inicial do algodoeiro (Tabela 6).

Para todos os efeitos somente foram avaliadas ervas que emergiram após a aplicação dos herbicidas, evitando a ocorrência de influência das plantas que já se encontravam no local no momento da implantação do experimento. 

O glifosato não apresentou controle eficiente de junquinho aos 14 dias após a emergência, uma vez que não é um herbicida de ação pré-emergente. Aos 28 DAE, apresentou menor eficiência sobre erva de santa Luzia e como todos os outros herbicidas avaliados aos 42 dias não diferiu quanto ao número total de ervas.

Aos 14 DAE a Trifluralina não apresentou controle eficiente sobre o joá-bravo. Nas seguintes avaliações não se diferenciou estatisticamente dos outros tratamentos, quando considerada a eficiência do controle, sendo encontrados números significativos indicando não haver redução satisfatória da população.

Para Diuron, Diuron + Trifluralina e S-Metalocloro não foram encontrados resultados que se diferenciassem dos demais tratamentos em nenhuma das avaliações (14, 28 e 42 DAE). Além disso, na ultima avaliação, aos 42 DAE, foi possível constatar não haver diferença entre os tratamentos indicando que o efeito residual dos pré-emergentes já havia se esgotado e se igualavam estatisticamente à testemunha.

Segundo as avaliações de altura de plantas realizadas tanto aos 20 quanto aos 45 DAE, não foram encontradas diferenças nas médias de altura de plantas, constatando-se não haver efeito fitotóxico dos produtos testados que influenciassem na altura ou desenvolvimento inicial da cultura do algodão.

A partir dos dados estatísticos apresentados conclui-se que Glifosato e Trifluralina foram menos eficientes até os 28 DAE deixando uma maior quantidade das plantas invasoras infestarem a área. Porém, no decorrer do experimento, aos 42 DAE, todos os tratamentos se igualaram mostrando que a partir daí nenhum dos tratamentos obteve eficiência no controle de plantas invasoras.

Algodão no Brasil 

O algodoeiro herbáceo (Gossypium hirsutum) é uma das principais culturas produtoras de fibra sendo cultivados 35 milhões de hectares em todo o mundo (ABRAPA, 2015). Segundo os levantamentos da Conab (2015), a área cultivada no Brasil na safra 2014/2015 foi de 1.017,1 milhões de hectares, com uma média de 1,7 milhões de toneladas de pluma produzidas. O Brasil se coloca entre os cinco maiores produtores mundiais, sendo o primeiro em produtividade em algodão sequeiro, terceiro país maior exportador e quinto maior consumidor (ABRAPA, 2015).

A Região Centro-Oeste é a maior produtora de algodão do país, destacando o estado de Mato Grosso como maior produtor nacional. O estado da Bahia é o segundo maior produtor. Mato Grosso e Bahia concentram 85% da área plantada de algodão do país. Particularmente a cultura se desenvolve em regiões onde a agricultura já está consolidada e solos com alta fertilidade, o que acaba concentrando as regiões produtoras. 


Wellinton L. Figueredo, Vagner Zuconelli Mendez, Crislaine Cristina S. Martins, Maurício Claro Silva, Rita de Cássia S. Goussain e Charles Revson Araújo, Inst. Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de MT


Artigo publicado na edição 203 da Cultivar Grandes Culturas.

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