Instalação da cultura do abacaxizeiro, consorciação e controle de mato

Para minimizar os riscos da exploração da atividade, produtores de abacaxi estão adotando o cultivo consorciado. Veja como realizá-lo.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Ainda que existam grandes plantios de abacaxi no mundo, utilizando

tecnologia avançada, essa cultura é explorada, na maioria dos casos,

por pequenos e médios agricultores. Esse fato, de certo modo, dificulta

a introdução e adoção de novas técnicas de cultivo desenvolvidas pela

pesquisa, sobretudo naquelas regiões onde a abacaxicultura não tem o

devido amparo da assistência técnica e creditícia, nem a garantia de

comercialização. Por isso mesmo, o agricultor enfrenta um maior risco

no seu empreendimento e investimento, o que torna a consorciação de

culturas altamente recomendável.

A cultura do abacaxi apresenta alta rentabilidade econômica, apesar de

requerer tratos culturais intensivos, o que encarece o custo de

produção, além de que os mercados de destino desse fruto exigem

produtos de alta qualidade. Assim, para se alcançar um rendimento

satisfatório, são necessários altos investimentos, o que os

abacaxicultores em geral não podem fazer, a não ser que sejam

assistidos por cooperativas ou associações de classe.

Por esses motivos, em várias regiões produtoras de abacaxi do mundo, os

agricultores têm procurado minimizar os riscos decorrentes da sua

exploração, adotando o cultivo consorciado, especialmente com culturas

alimentares de ciclo curto. Acredita-se que tal sistema de cultivo,

além de não causar maiores problemas às culturas consorciadas, é

altamente benéfico do ponto de vista sócio-econômico para o agricultor,

que tem sua renda aumentada e qualidade de vida melhorada.

No Brasil, o consórcio de abacaxi com outras culturas, sobretudo

aquelas de subsistência (feijões Phaseolus e Vigna, mandioca, milho,

arroz, amendoim) é praticado por pequenos agricultores de várias

regiões. Em outros países, são exploradas, ainda, quiabo, pimenta,

pimentão, tomate, repolho, couve, batata-doce, girassol e outras. Em

geral, as culturas consorciadas são colhidas apenas uma vez e abrangem

a fase inicial do ciclo da cultura do abacaxi, à exceção da mandioca,

cujo ciclo é mais longo. Todas essas culturas são plantadas nas

entrelinhas do abacaxizeiro – em espaçamentos compatíveis com os da

cultura principal, e na mesma época ou até 30 dias após. Dessa forma

evita-se a competição que certamente ocorrerá após cinco a seis meses

do plantio, decorrente da expansão do sistema radicular, aumento da

massa foliar e crescimento mais rápido da planta consorciada. Nesses

casos, há uma melhoria na relação custo/benefício, com redução do custo

de produção, em função do uso comum de alguns insumos, e o abacaxizeiro

ainda pode proteger as culturas consorciadas contra o vento, chuvas

fortes e radiação solar.

Além da consorciação com as culturas alimentares mencionadas, onde o

abacaxizeiro é a cultura principal, esse tipo de exploração é também

possível com outras plantas – arbustivas e arbóreas, de ciclo longo ou

perenes –, quando o abacaxi passa a ser a cultura secundária. Como

exemplos dessas culturas citam-se: abacate, caju, citros, coco, manga,

mamão e pinha. Nesse caso, ambas as culturas devem ser plantadas na

mesma época, deixando-se uma distância de 1,0 m a 1,5 m entre as filas

do abacaxizeiro e as da planta principal. Poder-se-á, assim, obter até

três safras de abacaxi na mesma área, o que contribui para reduzir e

cobrir os custos de implantação da cultura principal, ou ainda permitir

a obtenção de uma renda extra.

Antes de se adotar plantios consorciados, que têm se mostrado mais

apropriados para os agricultores familiares e pequenos, deve-se fazer

uma avaliação sobre os ganhos econômicos que o sistema pode

proporcionar para esses produtores. Além disso, alguns aspectos devem

ser levados em conta quando da escolha das culturas consorciadas, pois

pode ocorrer alguma combinação não recomendável, sobretudo do ponto de

vista fitossanitário. A cultura do milho, por exemplo, é hospedeira do

fungo Fusarium subglutinans – causador da fusariose e de nematóides.

Por esse fato seu consórcio é recomendado com restrições, devendo-se

adotar algumas medidas que diminuam os riscos de infecção e perdas,

como o plantio em linhas alternadas, o que reduz a densidade da

referida cultura na área. Em alguns locais sugere-se o plantio de uma

fila de milho para cinco ou seis de abacaxi. Ademais, algumas plantas

podem ter um efeito depressivo no crescimento, nutrição e rendimento do

abacaxizeiro, principalmente se o ciclo das mesmas alcançar a fase de

diferenciação floral, em função da competição por fatores de produção.

Nesse caso, uma das alternativas é plantar uma fila da cultura

consorciada para duas de abacaxi, conforme recomendado para feijão,

amendoim e girassol.

Em geral, quando o abacaxizeiro é a cultura principal, o consórcio deve

restringir-se aos primeiros seis meses do ciclo da cultura, e não se

deve empregar plantas que sombreiem demasiadamente o abacaxizeiro, nem

herbicidas para o controle de plantas infestantes. Entretanto, em

regiões onde o abacaxi apresenta um crescimento vegetativo mais lento

e, portanto, um ciclo mais longo, algumas culturas consorciadas podem

ser cultivadas mais de uma vez, a exemplo dos feijões.

As vantagens da consorciação de culturas com relação ao monocultivo são

indiscutíveis, no tocante ao melhor uso dos fatores de produção, maior

produção total por área, uso de mão-de-obra familiar, controle da

erosão, diversificação da dieta alimentar e da fonte de renda, bem como

à redução dos riscos inerentes à atividade agrícola.

Manter a lavoura livre de plantas daninhas, sobretudo durante os

primeiros seis meses após o plantio. O controle do mato pode ser feito

por meio de capinas manuais (enxada), cultivos à tração animal (salvo

em solos virgens, de primeiro plantio, para evitar prejudicar a sua

estrutura), uso de cobertura morta ("malche”) e de herbicidas.

Atualmente, está se recomendando também apenas a roçagem do mato, para

evitar a erosão e melhorar a conservação do solo.

A depender da intensidade de infestação por plantas daninhas, são

necessárias de seis a 12 capinas manuais durante o primeiro ciclo da

cultura. Cultivos à tração animal nas entrelinhas podem ser feitos

durante os primeiros meses após o plantio do abacaxi, sendo

complementados por capinas manuais nas linhas de plantio. Durante as

capinas manuais, e logo após as adubações, deve se chegar terra às

plantas (amontoa) – prática indispensável para a região do semi-árido,

evitando se, porém, que caia terra no centro da roseta foliar ou ‘olho’

da planta. Após a frutificação pode-se reduzir a freqüência das

capinas, que muitas vezes podem ser substituídas por roçagens para o

raleamento do mato.

Desde que esteja disponível na propriedade ou na região, a palha seca

de diversos produtos (milho, feijão, etc.), ou os restos culturais

(folhas) do próprio abacaxizeiro podem ser distribuídos de modo

uniforme sobre a superfície do solo, sobretudo nas entrelinhas de

plantio. Esta cobertura morta, além de reduzir o aparecimento de

plantas daninhas, limita a erosão, diminui a perda de nutrientes por

lixiviação, aumenta o teor de matéria orgânica e conserva a umidade do

solo e, portanto, o próprio solo.

O uso de herbicidas permite a redução do uso de mão de obra e é um

método de controle do mato mais eficiente que a capina manual, em

especial durante os períodos chuvosos, quando o mato cresce muito

rápido. Em geral, os herbicidas são mais usados pelos produtores que

exploram áreas maiores (acima de três hectares). Os herbicidas

disponíveis para a cultura do abacaxi são, na maioria, do tipo

pré-emergente (em relação ao mato), cujas substâncias ativas são

triazinas e diuron, e pertencem à classe toxicológica III. Eles devem

ser aplicados sobre o solo úmido, sendo, portanto, de uso restrito a

períodos chuvosos. Nas áreas cobertas com estes herbicidas não se pode

cultivar feijão e outras culturas sensíveis, o que se constitui numa

das limitações para o uso destes produtos pelos pequenos produtores. Se

o produtor optar pelo uso de herbicidas para controlar o mato, ele deve

procurar orientação técnica adequada, pois aplicações inapropriadas

podem resultar em danos às plantas cultivadas e ao solo. Além do mais,

só devem ser usados produtos registrados no Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento para a cultura do abacaxi.

Gramocil deve ser aplicado em pós-emergência com jato dirigido ao mato,

enquanto os demais herbicidas são aplicados em pré emergência do mato,

isso é, em solo limpo, sempre em pulverização uniforme sobre o solo

úmido, ou, no mais tardar, em pós emergência precoce ou fase inicial de

crescimento do mato, utilizando se de 300 a 600 litros de água por

hectare. Usar bicos em leque (por exemplo, Teejet 80.02 a 80.04),

mantidos a 30 50 cm acima do solo. Recomenda se adicionar um espalhante

adesivo (10 mililitros por litro de água) na pulverização em

pós-emergência. Atualmente, está se recomendando também diminuir ao

máximo o uso de herbicidas pré-emergentes.

Usar as concentrações baixas em solos arenosos e as mais altas em solos

argilosos ou com alto teor de matéria orgânica. Quando as aplicações se

restringem às entrelinhas, as doses têm que ser reduzidas

proporcionalmente à diminuição da área coberta pelo herbicida (em

geral, cerca de 50% da área total).

Mesmo que se use o controle químico do mato, capinas manuais

complementares são necessárias, com vistas a limpar o solo para as

aplicações de herbicida, cobrir os adubos aplicados e fazer a amontoa

(chegar terra para junto das plantas), conforme comentado anteriormente.

e

Pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical

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