Integração lavoura-indústria-pecuária contribui para agricultura de baixa emissão de carbono

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O Brasil, nas duas últimas décadas, vem se destacando no cenário internacional com aumentos significativos da produção agrícola, em função do aumento da produtividade, seja na agricultura, seja na pecuária, colocando-se entre os principais países competidores na produção de alimentos e agroenergia, com capacidade de atender ao forte aumento da demanda mundial por esses produtos.

Somos um dos principais fornecedores de proteínas no mercado internacional de alimentos, exportando os nossos excedentes para mais de 215 locais do planeta.

Todos esses avanços são resultados do aumento da utilização de tecnologias pelos produtores rurais, pela inovação nos sistemas de produção e principalmente pela garra dos nossos heróis anônimos do campo.

Um bom exemplo de inovação e racionalidade na utilização dos recursos naturais realizado por um empreendedor rural pode ser visto na Goiás Verde Alimentos, empresa agroindrustrial, que fica localizada em Luziânia-GO, onde se produz diversas culturas agrícolas irrigadas (milho, tomate, feijão, trigo, ervilha, goiaba etc.) com a utilização de água de barramentos construídos ao longo do leito do ribeirão Pamplona, para armazenar a água das chuvas que caem durante o período de verão, que se estende do mês de novembro a março.

Esta é uma estratégia muito inteligente e eficiente de aproveitamento racional da água, pois a sobra de água das chuvas é reservada para irrigação das culturas na entressafra ou período da seca e caso não fosse armazenada se perderia ao ser carreada ao longo do ribeirão e não possibilitaria a intensificação de uso da terra, com o aumento da oferta de alimentos de qualidade, geração de empregos e renda.

Lá utilizam o Sistema Plantio Direto (SPD) que dispensa o preparo do solo, reduzindo o gasto com óleo diesel, com a conseqüente redução da emissão de gases de efeito estufa, permite a realização simultânea das operações de colheita e plantio, pois as máquinas que realizam a colheita das culturas de verão são seguidas por semeadoras que realizam o plantio das culturas de inverno, ou melhor, irrigadas ou de entressafra, porque na verdade praticamente não existe a estação de inverno na região.

Outro aspecto relevante do SPD é que a palhada resultante dos restos culturais da cultura anterior protegem o solo contra a ação direta dos raios solares e dos ventos, mantendo por mais tempo no solo a água fornecida pela irrigação, gerando uma economia de água de até 30% e a conseqüente redução nos gastos com energia.

Além disso esta palhada que cobre o solo também evita a disseminação de doenças muito severas como o mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum) que ataca as principais culturas irrigadas como o feijão, o tomate e a ervilha, podendo causar perdas de até 80% da produção e cujo controle químico é muito oneroso e de moderada eficiência em casos de alta incidência do fungo na lavoura.

A palhada é uma barreira física que dificulta a penetração de luz no solo e por isso reduz a germinação das sementes (esporos) do fungo, reduzindo a sua disseminação e consequentemente a redução do uso de fungicidas para o seu controle, resultando na redução do risco de contaminação do ambiente e de intoxicações.

Na Goiás Verde boa parte da área irrigada é cultivada com milho verde para fornecimento de matéria prima para a indústria de enlatados. Colhem-se as espigas do milho verde que seguem para processamento na agroindústria. O colmo e as folhas que ficaram na lavoura são ceifados e picados por uma máquina ensiladeira e transportados por caminhões vasculantes até um silo, estrategicamente construído numa área marginal de pastagem próxima dos pivôs.

Lá essa massa verde é ensilda e/ou misturada a concentrados para fornecimento aos lotes de bois magros, mantidos em confinamento, em estrutura coberta para maior conforto dos animais. Os resíduos das espigas de milho (palha, sabugo, descarte) que seguiram para a agroindústria também são utilizados para alimentação dos animais. Nada se perde.

Mais a racionalidade no uso dos recursos e insumos não para por aí. As fezes dos animais mantidos no confinamento são recolhidas diariamente e armazenadas em áreas pavimentadas, onde são misturadas com rocha moída de fosfato natural e recebem a inoculação de uma bactéria que promove a solubilização parcial do nutriente fósforo e produz o biofertilizante.

A produção de fertilizantes fosfatados solúveis é realizada através de processos químicos e industriais que demandam grandes quantidades de energia e emitem altas concentrações de gases de efeito estufa (GEE).

Na Goiás Verde, 80% do fertilizante utilizado anualmente é produzido na própria fazenda, proporcionando uma redução considerável nos custos de produção e uma significativa contribuição para a mitigação das causas do aquecimento global e das mudanças climáticas.

Exemplos como esse são dignos de prêmio e, no mínimo, de serem amplamente divulgados e seguidos, em especial num país cujo Governo Federal assumiu o compromisso voluntário de reduzir a emissão de GEE em quase 40%, até 2020.

Lá nada se perde, ou quase nada, pois só se perde o berro do boi, que pode ser gravado. É o campo fazendo a sua parte para alimentar o mundo, conservando os recursos naturais e contribuindo para uma agricultura de baixa emissão de carbono.

Engenheiro Agrônomo,

Especialista em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e Sistema Plantio Direto

Campo Consultoria e Agronegócios

(61) 3012-9760/9978-4558

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