Lotação máxima

A produção de carne em manejo intensivo de pastagens é uma alternativa e algumas técnicas podem promover aumentos expressivos na carga animal nas pastagens.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O Brasil tem se firmado no mercado internacional como grande produtor e se tornou o maior exportador mundial de carne bovina. Além disso, a demanda interna por consumo de carne tem crescido devido ao aumento da população. A expectativa futura é que haja aumento do poder aquisitivo da população e que com isso o consumo individual também se eleve. Segundo projeções da MB associados (Balsalobre et al., 2002), devido ao aumento da população brasileira e ao aumento do poder aquisitivo, a produção de carne vermelha terá que ser 30% maior em 2012 comparada com a produção de 2002.

A área de pastagens não tem aumentado no Brasil, principalmente devido à redução dos desmatamentos, à regeneração de áreas de reserva legal e ao avanço da agricultura. A taxa de lotação animal média brasileira, de 0,54 UA/ha (1 cabeça/ha), entretanto, indica que a área de pastagens não é limitante para o crescimento da produção animal. Atualmente, existem técnicas capazes de promover aumentos expressivos de carga animal nas pastagens, como:

• Reforma e recuperação das pastagens

• Pastejo rotacionado

• Diferimento de pastagens

• Adubação de pastagens

• Irrigação de pastagens

A adoção dessas técnicas para produção de carne em manejo intensivo de pastagens deve ser feita mediante uma análise de projeto que indique qual o melhor sistema de produção para as condições de cada propriedade.

Reforma e recuperação

“Degradação de pastagens é um termo usado para designar um processo evolutivo de perda de vigor, de produtividade e da capacidade de recuperação natural de uma dada pastagem, tornando-a incapaz de sustentar os níveis de produção e qualidade exigidos pelos animais, bem como o de superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e invasoras” (Kichel et al., 1997).

A caracterização do nível de degradação não é uma tarefa fácil, porém alguns métodos têm sido propostos como, por exemplo:

Grau 1: redução na produção de forragem, na qualidade, na altura e no volume durante a época de crescimento;

Grau 2: diminuição da área coberta pela vegetação, pequeno número de plantas novas;

Grau 3: aparecimento de plantas invasoras de folhas largas, início de processo erosivo por ação das chuvas;

Grau 4: presença, em alta proporção, de espécies invasoras; aparecimento de gramíneas nativas e processos erosivos acelerados.

A degradação de uma pastagem pode ser decorrente de uma série de fatores que, em muitos casos, ocorrem de forma concomitante. Os principais fatores determinantes da degradação de um pasto são: falta de adaptação da espécie semeada ao meio; má formação do pasto; manejo inadequado; invasão de plantas indesejáveis; ataque de pragas e doenças; baixa fertilidade do solo; compactação do solo.

Um dos fatores determinantes da degradação de pastagens é a implantação de espécies forrageiras não adaptadas às condições de solo, clima e manejo. As Tabelas 1 e 2 trazem algumas informações sobre espécies forrageiras que podem ajudar no processo de escolha (

).

Pastejo rotacionado

O pastejo rotacionado permite um controle mais rigoroso da forragem colhida e um melhor aproveitamento do pasto, evitando a desuniformidade de pastejo. Com esse sistema é possível, também, controlar a freqüência de desfolha das plantas, permitindo que estas se recuperem de forma adequada e evitando o seu esgotamento.

O período de ocupação em um pastejo rotacionado vai depender do ritmo de crescimento das plantas e da estrutura disponível na propriedade. Quanto menos tempo os animais permanecerem em cada piquete maior vai ser o controle do homem sobre o pasto e maior será a necessidade de infra-estrutura (cercas, aguadas, cochos de sal, etc.). Desta forma, em áreas mais intensificadas, onde o ritmo de crescimento das plantas for bastante elevado, o período de ocupação deve tender a um dia. Já nas áreas mais extensivas, onde não se utilize adubação nitrogenada, este período pode ser estendido, não devendo, no entanto, ultrapassar uma semana.

Para se determinar o período de descanso deve-se levar em consideração informações de produção, perdas e valor nutritivo da planta forrageira. Quanto maior for a idade da planta, maiores serão as perdas e a participação das hastes na produção e menor será a qualidade do material. Por outro lado, pastejos muito freqüentes são indesejáveis, pois não permitem que o potencial produtivo da planta seja explorado e podem levar à degradação do pasto. Na Tabela 3 observa-se o intervalo entre pastejos recomendado para algumas espécies forrageiras.

Diferimento de pastagens

O diferimento de pastagens consiste em vedar determinada área da propriedade no final da estação das águas para que a forragem acumulada seja utilizada durante o período de entressafra. A adoção dessa técnica permite médias anuais de 1,5 a 2,0 UA/ha.ano na propriedade, sendo que sua maior vantagem é o baixo custo de implantação.

As espécies forrageiras mais indicadas para o diferimento são aquelas de hábito de crescimento prostrado (braquiárias e cynodons). Deve-se evitar as plantas de crescimento cespitoso (que formam touceiras como, por exemplo, as cultivares Tanzânia e Mombaça) e que concentram o florescimento em maio.

A vedação do pasto deve ser feita no terço final da estação de crescimento. Para o Brasil Central, as áreas devem ser vedadas em fevereiro, quando forem utilizadas na primeira parte do período seco, ou em março, quando sua utilização estiver prevista para a segunda metade do período seco.

Adubação de pastagens

A adubação é a aplicação de adubos e corretivos a fim de se melhorar o ambiente químico do solo, dando condições para que a planta forrageira expresse seu potencial de produção. Apesar de ser uma das principais técnicas envolvidas na intensificação de sistemas de produção animal em pastagens, ainda há muita controvérsia com relação às recomendações de adubação e correção do solo, não havendo um consenso entre os pesquisadores, técnicos e produtores com relação a fatores como: nível de fertilidade (ex.: nível de saturação por bases) e de adubação (ex.: doses de nitrogênio) adequados a cada espécie e sistema de produção; métodos de aplicação de corretivos e fertilizantes (ex.: cobertura ou incorporado); e fontes de nutrientes (ex.: fosfatos naturais ou superfosfatos).

Estas divergências podem, em parte, ser explicadas pelo fato da resposta à adubação ser modulada por uma série de fatores ligados à espécie forrageira, ao solo, ao clima, ao fertilizante e ao manejo da pastagem. Além disso, o sucesso desta prática depende do sistema de produção adotado e da capacidade de adoção e implantação de novas técnicas por parte da equipe responsável. A adubação de pastagens, principalmente a de reposição, deve ser adotada em conjunto com técnicas adequadas de manejo para que a forragem produzida possa realmente ser aproveitada.

Dos nutrientes considerados como essenciais ao desenvolvimento das plantas, o nitrogênio é o que apresenta as melhores respostas em termos de produção de matéria seca. A resposta das plantas forrageiras à adubação com nitrogênio, no entanto, é bastante variada. Esta variabilidade das respostas é decorrente de fatores como: espécie forrageira; fonte do nutriente; tempo de rebrota; dosagem de adubo aplicada; condições climáticas; fase de desenvolvimento da planta; e fertilidade do solo.

A utilização de adubações nitrogenadas tem sido bastante questionada nos vários setores ligados à cadeia de produção animal, sendo que a amplitude observada nos resultados é um dos responsáveis pelas opiniões divergentes. Além disso, é preciso lembrar que a forragem produzida ainda deve ser consumida e convertida em produtos animais e que, ao longo deste processo, ocorrem várias perdas que tornam os resultados econômicos dos sistemas ainda mais variáveis.

Irrigação de pastagens

Grande parte dos produtores que implanta um sistema de irrigação de pastagens tem como principal objetivo reduzir a estacionalidade de produção forrageira e a necessidade de suplementação do rebanho no período “seco”.

A produção de forragem depende de fatores ligados ao clima, ao solo, à planta e ao animal, além das interações entre os mesmos. Dentre os fatores climáticos que influenciam o desenvolvimento vegetal, pode-se citar: precipitação de chuvas (interfere na umidade do solo), luminosidade, fotoperíodo e temperatura.

A aplicação de água elimina (ou reduz) os efeitos do estresse hídrico sobre a planta, aumentando a produtividade do pasto. Desta forma, a irrigação será interessante em situações em que a produção seja limitada, principalmente, pela falta de água. Em diversas regiões do Brasil, no entanto, o desenvolvimento das plantas forrageiras no período de entressafra é limitado também (ou principalmente) pela temperatura e por outros fatores como luminosidade e fotoperíodo.

Devido à limitação climática (temperatura e luminosidade) as pastagens irrigadas podem piorar o efeito da sazonalidade de produção forrageira. O diferencial de resposta da produção de matéria seca à irrigação entre os períodos de verão e inverno será determinado, principalmente, pela latitude do local. Balsalobre et al. (2003) utilizaram modelos de simulação para definir a taxa de lotação média de cada localidade e a distribuição da lotação entre verão e inverno (Tabela 4).

A partir desse dados, é possível prever que a introdução de irrigação em 10% da área total de uma propriedade de mil hectares poderá, no período de inverno, determinar menor capacidade de lotação da fazenda (Tabela 5). Essa diferença na capacidade de capacidade suporte será maior nas maiores latitudes.

O planejamento da forma como será utilizado o restante da fazenda permitirá um equilíbrio entre a lotação de verão e inverno.

Considerações finais

A intensificação e a adoção de novas técnicas deve ser feita com base em uma análise econômica do sistema de produção como um todo. É importante lembrar, no entanto, que para a realização de simulações são considerados vários índices zootécnicos que precisam ser atingidos. Do contrário, a simulação torna-se inválida e os resultados esperados não se concretizam. É necessário, portanto, escolher índices realistas considerando-se as condições da propriedade e, principalmente, acompanhar os resultados obtidos a fim de detectar, com a devida antecedência, possíveis desvios em relação ao que foi planejado.

Patricia Menezes Santos

Embrapa Pecuária Sudeste

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