O mal-do-Panamá é também conhecido como murcha de Fusarium ou fusariose da bananeira. A doença surgiu na região indo-malaia, região de origem do gênero Musa, afetando variedades suscetíveis, que mais tarde foram introduzidas no Novo Mundo, a partir da África. Acredita-se que o primeiro relato da doença tenha ocorrido por volta de 1874, no sudeste de Queensland, Austrália, atacando a cultivar Maçã. Os primeiros prejuízos importantes foram relatados no Panamá, em 1904, sendo esta a provável razão do nome mal-do-Panamá. Há relatos de que, num período de 50 anos, mais de 40.000ha de terras cultivadas com banana foram abandonadas devido à fusariose, em toda a América Central e do Sul. Por esta razão, é considerada a doença mais devastadora, afetando plantações comerciais de banana no hemisfério ocidental entre os anos 1900 e 1960. No Brasil, a doença foi constatada pela primeira vez em 1930, no município de Piracicaba, SP, sobre a variedade Maçã.
Em apenas três a quatro anos foram dizimados cerca de um milhão de pés de banana daquele município paulista. A doença se disseminou por todo o território nacional e a banana Maçã passou a ser cultivada apenas nas áreas de abertura da fronteira agrícola, na expectativa de encontrar solos livres do patógeno. Por tudo isso, esta variedade tornou-se artigo de luxo na mesa dos brasileiros. No momento, a preocupação retorna com a variedade Prata Anã, hoje com cerca de 12000ha plantados apenas no Norte de Minas Gerais e em franca expansão em todo o país, principalmente nos perímetros irrigados. Ventila-se, neste momento, a possibilidade de iniciar um processo de substituição desta variedade, que é muito apreciada no mercado brasileiro. Com este trabalho pretende-se esclarecer aos produtores de banana, de modo geral, sobre as alternativas de controle e as dificuldades para se conviver com uma doença como o mal-do-Panamá.
O mal-do-Panamá é causado por
f. sp. cubense (E.F. Smith) Sn e Hansen. É um fungo de solo, onde apresenta alta capacidade de sobrevivência mesmo na ausência do hospedeiro, fato que provavelmente se deve à formação de estruturas de resistência denominadas clamidósporos. Existe também a hipótese da sua sobrevivência em estádio saprofítico, formando heterocários com linhagens não patogênicas de
. Nesses casos, o núcleo presente em hifas dessas linhagens voltaria a atuar na presença do hospedeiro suscetível. Apresenta variantes patogênicos denominados raças fisiológicas com adaptações ou patogenicidade específica em relação a determinadas variedades.
Pouco se conhece a respeito da influência de parâmetros climáticos como luz, temperatura e umidade no desenvolvimento de sintomas do mal-do-Panamá na bananeira. Sabe-se, porém, que o solo influi fortemente na incidência da doença, a ponto de se considerar tal influência comparável à do próprio hospedeiro. Destas observações, surgiram os conceitos de solos supressivos e, com isto, a possibilidade de controlar a doença alterando o solo de cultivo. Como o
f. sp. cubense é um fungo de solo, qualquer alteração nesse ambiente poderá influenciar positiva ou negativamente no avanço da doença. Há quem acredite que a resistência e a suscetibilidade a esse fungo devem ser definidas tendo como referencial às condições do solo.
As principais formas de disseminação da doença são o contato dos sistemas radiculares de plantas sadias com esporos liberados por plantas doentes e, em muitas áreas, o uso de material de plantio contaminado. O fungo também é disseminado por água de irrigação, de drenagem, de inundação, assim como pelo homem, por animais e equipamentos.
As plantas infectadas por
f.sp. cubense exibem externamente um amarelecimento progressivo das folhas mais velhas para as mais novas, começando pelos bordos do limbo foliar e evoluindo no sentido da nervura principal. Posteriormente, as folhas murcham, secam e se quebram junto ao pseudocaule. Em conseqüência, ficam pendentes, o que dá à planta a aparência de um guarda-chuva fechado. É comum constatar-se que as folhas centrais das bananeiras permanecem eretas mesmo após a morte das mais velhas. Além disso, pode-se observar ainda em plantas infectadas: estreitamento do limbo das folhas mais novas, engrossamento das nervuras e, eventualmente, necrose do cartucho. Ainda externamente, é comum observar-se, próximo ao solo, rachaduras do feixe de bainhas, cuja extensão varia com a área afetada no rizoma.
Internamente, através de corte transversal ou longitudinal do pseudocaule, observa-se uma descoloração pardo-avermelhada provocada pela presença do patógeno nos vasos. A vista de topo mostra a presença de pontos descoloridos ou uma área periférica das bainhas manchada, com centro sem sintomas. A vista longitudinal mostra as linhas de sintomas que começam na base e estende-se em direção ao ápice da bainha. Neste corte também se vê o centro do pseudocaule sem sintomas. Em estádios mais avançados, os sintomas de descoloração vascular podem ser observados também na nervura principal das folhas.
O corte transversal do rizoma também revela a presença do patógeno pela descoloração pardo-avermelhada exibida, cuja intensidade é maior na área de vascularização densa, onde o estelo se junta ao córtex.
Até o momento, os esforços no sentido de controlar o mal-do-Panamá por via química, inundação ou práticas culturais não produziram os resultados esperados. As recomendações têm-se orientado, por conseguinte, para o uso de variedades resistentes, tendo várias opções varietais para resistência ao patógeno e, por conseguinte, oferecendo várias opções de cultivares para atendimento ao mercado (Quadro 1 -
). Apesar de ser uma alternativa ideal do ponto de vista ambiental, a necessidade de mudança na variedade cultivada é sempre preocupante para o produtor, que tem a necessidade de produzir aquilo que o mercado deseja consumir. Invariavelmente, nos casos de mudança varietal, é importante e necessário o investimento em marketing, para inserir o novo produto no mercado.
Qualquer informação sobre as variedades citadas no quadro 1 podem ser obtidas junto à Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, BA.
Como medidas preventivas recomendam-se as seguintes práticas:
• Evitar as áreas com histórico de incidência do mal-do-Panamá;
• Utilizar mudas comprovadamente sadias e livres de nematóides; estes poderão ser os responsáveis pela quebra da resistência;
• Corrigir o pH do solo, mantendo-o próximo à neutralidade e com níveis ótimos de cálcio e magnésio, que são condições menos favoráveis ao patógeno;
• Dar preferência a solos com teores mais elevados de matéria orgânica. Isto aumenta a concorrência entre as espécies, dificultando a ação e a sobrevivência de
no solo;
• Manter as populações de nematóides sob controle - eles podem ser responsáveis pela quebra da resistência ou facilitar a penetração do patógeno, através dos ferimentos;
• Manter as plantas bem nutridas, guardando sempre uma boa relação entre potássio, cálcio e magnésio.
Nos bananais já estabelecidos e que a doença começa a se manifestar, recomenda-se a erradicação das plantas doentes como medida de controle, para evitar a propagação do inóculo na área de cultivo. Na área erradicada, aplicar calcário ou cal hidratada.
É importante estar ciente de que as práticas recomendadas não garantem o controle da doença, porém são importantes na redução da incidência. Não há nenhuma outra prática de controle que supere o uso de variedades resistentes.
e
Embrapa Mandioca e Fruticultura
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