Manejar bem é preciso

A resistência de pragas aos produtos fitossanitários traz prejuízos a toda a cadeia produtiva. O uso de cultivares resistentes é uma alternativa eficiente, limpa e barata.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Manejar adequadamente as pragas que atacam a lavoura é indispensável para o bom andamento da agricultura. Com o objetivo de implementar as práticas que auxiliam o agricultor, os entomologistas da Embrapa Soja, apresentaram proposta de avanços no Programa de Manejo de Pragas da Soja, sendo que os principais pontos abordados os que seguem, com explicações do especialista Décio Luiz Gazzoni.

• Adotar as bacias hidrográficas como unidade de implementação do MIP-Soja. Isso significa que a comunidade deve ser motivada para unir-se em torno da proposta, para que as ações sejam contínuas no tempo e no espaço, objetivando a maximização dos benefícios.

• Estudos sobre novas pragas. A expansão da área cultivada provocou o surgimento de novas pragas, que estão se tornando importantes para a cultura, como é o caso do tamanduá da soja (

) e pragas de solo como espécies de percevejo castanho da raiz (

), cochonilhas e corós (

), além de mosca branca, piolho de cobra, lesmas e caracóis. Para essas pragas ainda há necessidade de estudos básicos de bio-ecologia, de níveis de danos, métodos de amostragem e de controle. Algumas pragas inexistentes há duas décadas, ou tidas como secundárias há pouco tempo, atingem o status de praga primária em algumas condições, reduzindo o lucro ou mesmo limitando o cultivo da soja.

• Expandir os programas de controle biológico, pela viabilização da multiplicação massal de parasitóides de ovos de percevejos (

e

) através de criações in vitro. O Brasil cultiva, atualmente, 12 milhões de hectares de soja, com francas possibilidades de crescer 50% na próxima década. Imaginando uma pequena parcela da área de soja, equivalente a 10% do total, teremos 1,8 milhões de hectares, onde se utilizaria o controle biológico de percevejos, que se viabiliza na escala apenas com o rompimento dos paradigmas de produção do parasitóide.

• Produção massal de entomopatógenos. O mesmo raciocínio se aplica para outros entomopatógenos que não Baculovirus anticarsia, cuja tecnologia de produção é compatível com grandes áreas. Para expandir o uso da tecnologia, é necessário que, além de economicamente viável, seja possível produzir os entomopatógenos em escala que permita seu uso em áreas expansivas.

• Viabilizar o controle microbiano de percevejos. Por ser o conjunto de pragas com maior potencial de danos à cultura, técnicas alternativas para seu controle devem ser desenvolvidas, o que inclui o uso de entomopatógenos, que ainda é um campo a ser explorado.

• Identificar novos produtos químicos para o controle do complexo de percevejos da soja, com menor toxicidade, em especial com menor impacto sobre agentes de controle biológicos. A indústria química tem produzido avanços consideráveis na descoberta e desenvolvimento de novas moléculas, porém, no caso específico do controle de percevejos de soja, os benefícios desses avanços não se materializaram.

• Desenvolver estudos para monitoração da evolução e para o manejo de resistência de pragas a inseticidas. A resistência de pragas a agrotóxicos tem se revelado um efeito marginal e indesejável de seu uso, com sérios prejuízos a toda a cadeia produtiva. Compete às instituições de pesquisa manter um controle rígido sobre os parâmetros que expressam a evolução da resistência, dispondo de técnicas factíveis para o seu manejo.

• Desenvolver novos índices de impacto de agrotóxicos sobre inimigos naturais, considerando seu efeito também sobre parasitóides de pragas de soja. Desde o início da implantação dos MIP-Soja, os predadores têm sido utilizados como parâmetro para avaliação da seletividade dos inseticidas usados para controle de pragas. A atuação diferencial dos inseticidas sobre os dois grupos de agentes de controle biológico, e a importância muito maior dos parasitóides no controle biológico natural ou aplicado, exige uma nova postura frente à questão da seletividade, conferindo importância muito maior ao efeito sobre parasitóides que o impacto que ocorre nos predadores. Também deve ser considerado o efeito do uso de fungicidas, aplicados na cultura da soja, sobre fungos entomopatogênicos.

• Identificação de substâncias associadas com resistência da soja a insetos e de seu efeito sobre as pragas. Técnicas modernas permitem isolar e identificar substâncias químicas associadas com a resistência das plantas às pragas que dela se alimentam. O conhecimento destas substâncias e de seu controle genético, bem como o desenvolvimento de seu efeito sobre a bio-ecologia das pragas, é de transcedental importância para municiar os melhoristas envolvidos com programas de resistência de soja a pragas.

• Desenvolvimento de cultivares de soja resistentes a pragas. Este campo ainda se encontra praticamente inexplorado, não apenas no Brasil, como nos demais países produtores de soja no mundo, a despeito dos esforços de pesquisa efetuados. O uso de cultivares resistentes representa não apenas mais uma tática a ser incorporada ao programa, mas, especialmente, a possibilidade de contar com uma tecnologia eficiente, limpa e barata. Os novos processos biotecnológicos, em especial com o uso de engenharia genética, devem acelerar as novas descobertas e a geração de cultivares resistentes a pragas.

• Viabilizar metodologia econômica para a produção comercial de nucleopoliedrovirus da lagarta da soja em laboratório, aperfeiçoando sua formulação comercial. Atualmente, a produção comercial do vírus é feita a campo, com grande dependência de fatores bióticos e abióticos, que influenciam a dinâmica populacional da lagarta da soja. Dessa forma, a disponibilidade de inseticida biológico torna-se imponderável, dificultando o planejamento de sua utilização.

Décio Luiz Gazzoni

Embrapa Soja

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