Manejo de plantas daninhas III

Parte III - Herbicidas para Pós-emergência da Cultura e Operações de Pós-Colheita.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Muitas vezes, por uma dificuldade climática, o herbicida pré-emergente não foi aplicado e o produtor de milho se vê a frente de uma lavoura onde o milho e as plantas daninhas já nasceram. Este tipo de situação pode ocorrer por causa da falta de umidade no momento do plantio ou, como é mais comum, por causa da falta de maquinário para plantar e pulverizar ao mesmo tempo. Com o aparecimento de herbicidas de pós-emergência para a cultura do milho, o produtor de milho ganhou em flexibilidade de tempo para sua pulverização. A aplicação pode ser iniciada na pré-emergência, passar pela pós-emergência precoce, atingir a pós-emergência inicial e terminar na pós-emergência tardia. Segundo Silva et al (1998), as fases da pós-emergência podem ser assim caracterizadas:

Pós-Emergência Precoce: A pós-emergência precoce, com relação à cultura do milho, é uma fase que vai desde a emergência até o estádio de duas folhas abertas, ou até o início da abertura da terceira folha. É importante salientar que as plantas daninhas ainda são muito pequenas e que as gramíneas ainda não perfilharam e as folhas largas apresentam o primeiro par de folhas. Nesta fase, a perda cultural devido à competição inicial varia de 0 a 2% e predomina o uso de herbicidas a base de atrazine, cyanazine e outros, capazes de controlar, por ação de contato, folhas largas como o leiteiro e gramíneas como o capim marmelada, antes do perfilhamento.

Pós-Emergência Inicial: A pós-emergência inicial tem seu início no estádio fenológico de três folhas abertas do milho e vai até a abertura completa da quinta folha, ocorrendo no período de 10 a 15 dias após a emergência do milho (DAE). As gramíneas anuais apresentam de um a dois perfilhos e as folhas largas de duas a quatro folhas . A Figura 1 mostra em detalhe uma lavoura de milho na fase de pós-emergência inicial. Nesta fase da pós-emergência, as perdas culturais não são ainda significativas (de 2 a 4%) e predomina o uso da mistura 1+2 de Sanson 40 SC (nicosulfuron) com atrazine. A adição de atrazine no tanque tem o objetivo de aumentar o escopo de controle, principalmente de espécies de folhas largas. Após a emissão do primeiro perfilho, somente o herbicida Sanson 40 SC (nicosulfuron) é efetivo no controle de gramíneas dentro da cultura do milho.

Pós-Emergência Normal: A pós-emergência normal tem seu início no estádio de cinco folhas abertas do milho e vai até a abertura completa da sexta folha. A pós-emergência normal ocorre entre 16 e 20 DAE, as gramíneas podem apresentar até três perfilhos e as folhas largas podem ser vistas com 4 –6 folhas. Nesta fase, as perdas culturais devido à competição variam de 4 a 7% e o herbicida Sanson 40 SC (nicosulfuron) é o mais usado por causa do estádio adiantado das gramíneas.

Pós-Emergência Tardia ou Avançada: A pós-emergência tardia é caracterizada por perdas culturais mais evidentes (7,40 a 12,39%). A cultura do milho já apresenta a sétima folha completamente aberta e as gramíneas anuais já apresentam de três a quatro perfilhos. As plantas daninhas como o leiteiro já apresentam de seis a oito folhas. Nesta fase da pós-emergência, recomendada para o controle das plantas daninhas somente em situações especiais, devido às perdas já ocorridas pela interferência anterior à aplicação, predomina também o uso de Sanson 40 SC (nicosulfuron). O uso de atrazine nesta fase é opcional porque as folhas largas já apresentam a capacidade de rebrotar após sua aplicação. Atrazine não é efetivo também contra as gramíneas nesta fase da pós-emergência. A adição de atrazine no tanque pode ser feita com o objetivo de aumentar o efeito residual sobre plantas daninhas de folhas largas como a corda-de-viola e outras plantas daninhas tardias que irão causar problemas na colheita mecanizada.

A pós-emergência avançada não é usada para o manejo de plantas daninhas que causam perdas culturais no início da cultura. As perdas verificadas até esta fase, se não for usado um tratamento anterior, podem ultrapassar 12%, altas demais para justificar o investimento de uma aplicação de herbicida. Nesta fase, deve ser feita, quando necessário, uma pulverização dirigida, complementar a um tratamento anterior, visando o controle de plantas daninhas tardias e beneficiar as condições de colheita.

Pós-emergência precoce

A exemplo dos herbicidas pré-emergentes, os herbicidas usados na pós-emergência precoce possuem ação residual variada e, além de controlar as plantas daninhas emergidas, controlam também as que ainda irão nascer, dentro do período de ação do herbicida. A pulverização deve ser feita em dia não chuvoso para que as gotículas não sejam arrastadas das folhas para o solo mas, a umidade é muito importante para a ativação no solo e absorção foliar. Horas quentes do dia e umidade relativa do ar baixa (abaixo de 50%), não são recomendadas para a pulverização. Os melhores resultados de pulverização em pós-emergência precoce têm sido obtidos por produtores que pulverizam nas primeiras horas do dia, com vazão na faixa de 100 a 250l/ha.

Para evitar injúrias causadas por herbicidas inibidores da fotossíntese (atrazine, simazine, cyanazine, bentazon etc), as pulverizações de pós-emergência precoce devem ser realizadas à tardinha e à noite, dando-se tempo para que as plantinhas de milho possam metabolizar parte do herbicida. Quando a pulverização é feita em dias muito claros, pela manhã, é muito comum o aparecimento de sintomas de injúrias causadas por inibidores fotossintéticos como clorose e necrose nas bordas das folhas do milho. Caso isto aconteça, o produtor não precisa preocupar-se. A ação dos inibidores fotossintéticos é apenas de contato, não atingindo as novas folhas que irão se formar a partir do ponto de crescimento abrigado ainda no solo nessa fase.

Herbicidas como cyanazine, cyanazine + simazine e 2,4-D amina, não são recomendados quando o milho ultrapassa o estádio da quarta folha aberta, com a lígula visível, por causa do risco de injúrias. A aplicação desses herbicidas deve ser restrita à pós-emergência precoce.

O herbicida 2,4-D tem ação sistêmica e é uma boa opcão para suprimir o crescimento de tiririca (Cyperus rotundus) e muitas espécies de folhas largas na cultura do milho, quando aplicado na pós-emergência precoce. Se a aplicação for feita mais tarde, depois que a quinta folha do milho começa a sair, o risco de injúrias é muito grande.

Os herbicidas recomendados para o controle em pós-emergência precoce de plantas daninhas na cultura do miho, estão agrupados nas Tabelas 1 e 2, sendo a primeira para os produtos comerciais de um só princípio ativo e a outra para as misturas comerciais e misturas em tanque contendo dois princípio ativos.

Pós-emergência inicial e normal

Quando a cultura do milho atinge a pós-emergência inicial e pouco depois a pós-emergência normal, o aparecimento de gramíneas perfilhadas faz com que os herbicidas usados na pós-emergência precoce percam a sua eficiência. Torna-se necessária a adição em tanque do herbicida nicosulfuron, único herbicida de ação sistêmica capaz de controlar gramíneas perfilhadas dentro da cultura do milho. É importante salientar que atrazine tem sido usado com muito sucesso nessas fases da cultura, principalmente na pós-emergência inicial, por causa de sua eficiência no controle de folhas largas e seu efeito residual sobre plantas daninhas de emergência tardia como a corda-de-viola e quamoclit. Os principais produtos usados na pós-emergência inicial e na pós-emergência normal estão agrupados na Tabela 3.

Com relação ao herbicida nicosulfuron, a aplicação exige um intervalo mínimo de sete dias para a utilização de inseticidas organofosforados. O ideal, nesse caso, é o uso de inseticidas fisiológicos ou a base de piretroídes, manejando as pragas da cultura sem interferir na ação do herbicida.

A pulverização de herbicidas em pós-emergência inicial e normal pode ser usada por grandes e médios produtores mas ela é também aplicável aos pequenos produtores por causa da facilidade de pulverização em faixa com um pulverizador costal, seguindo-se a linha de milho. A esse tratamento em faixa que elimina toda concorrência das plantas daninhas com o milho, segue-se normalmente o cultivo nas entrelinhas com um cultivador de tração animal.

Controle tardio

Há algumas invasoras que, quando não controladas devidamente, incomodam a colheita, respectivamente o espinho de carneiro (

) e o timbete ou capim carrapicho (

).

A aplicação dirigida de herbicidas nas entrelinhas do milho, tem um caráter complementar e tem o objetivo principal de melhorar as condições de colheita, ajudando o controle das chamadas plantas daninhas tardias. Com o advento das aplicações sequenciais, onde as doses dos herbicidas são diminuídas, a aplicação dirigida de herbicidas nas entrelinhas do milho se torna cada vez mais importante, complementando a aplicação feita na pré-emergência ou nas fases iniciais da pós-emergência. A aplicação dirigida deve ser considerada principalmente em lavouras destinadas à produção de milho semente.

Estes herbicidas são aplicados nas entrelinhas do milho, de forma que o jato do pulverizador atinja somente as folhas baixeiras e não acerte as folhas de cima do milho. Para que isso seja possível, o milho tem que estar no estádio acima de quatro pares de folhas (pós-emergência avançada), com uma altura mínima de 40 a 50cm. Os herbicidas usados nessa operação não são seletivos para o milho e podem causar injúrias na planta se a pulverização não for dirigida.

A pulverização dirigida pode ser feita com um pulverizador costal, aplicando-se o herbicida nas manchas de maior infestação ou, em casos de grandes lavouras, com um pulverizador de barra tratorizado. Para a aplicação tratorizada, recomenda-se o uso de uma barra especial com pingentes de mola para baixar os bicos e dirigir o jato para a base das plantas. Essa é uma operação limitada pela altura do milho. Se o milho estiver muito alto, a barra do pulverizador pode quebrar o colmo do milho.

Os produtores de milho do Estado do Paraná têm usado essa modalidade de controle com muita freqüência e alguns equipamentos já estão disponíveis no mercado. Entre os produtos utilizados, os herbicidas a base de paraquat e glufosinato de amôneo têm ação de contato e não apresentam efeito residual. Ametryn tem ação de contato e apresenta efeito residual por 60-90 dias. Os herbicidas a base de 2,4-D amina têm ação sistêmica e um efeito residual de aproximadamente 30 dias.

Operações de Pós-Colheita

A não ser em caso de produtores que dispõem de um conjunto de irrigação e que podem replantar a área colhida com uma cultura de inverno, ou, no caso de áreas mantidas em sistemas agrícolas de sucessão como a safrinha, as terras plantadas com milho, uma vez colhido, permanecem em muitos casos abandonadas até seis meses, deixando um espaço de tempo livre para as plantas daninhas produzirem mais sementes, rizomas, bulbos, etc. Para que na safra seguinte a população de plantas daninhas não seja maior ainda, o produtor deve utilizar um meio de controlá-las, antes que elas produzam sementes. Podem ser usados os herbicidas recomendados para o manejo de plantio direto ou algum meio mecânco para roçar a parte aérea. Somente em caso da existência de plantas daninhas perenes é que a aradura é recomendada. Quando as plantas daninhas perenes não constituem um problema, é preferível deixar a biomassa da parte aérea das plantas daninhas como cobertura do solo, evitando os efeitos da radiação solar sobre os microorganismos do solo.

Considerações Finais

Algumas conclusões importantes podem ser destacadas com relação ao manejo de plantas daninhas na cultura do milho:

a) As plantas daninhas devem ser controladas por causa das perdas que elas acarretam e o investimento do produtor deve ser proporcional a essas perdas. Quanto maior a produtividade esperada, maior deve ser o cuidado para evitar perdas na produção pela ação das plantas daninhas.

b) Além dos problemas de competição e outras ações que causam as perdas na produção, o produtor de milho deve preocupar-se também com os problemas de colheita e, principalmente, com o aumento gradativo da infestação de plantas daninhas, comprometendo as produções futuras.

c) Há uma lista muito grande de produtos comerciais que podem ser usados para controlar as plantas daninhas na cultura do milho. A escolha do produto, do método de aplicação e da dose a ser empregada, é função da lista de plantas daninhas que ocorrem na área empregada para a produção, equipamentos existentes na propriedade etc. O produtor de milho deve recorrer a um agrônomo para auxiliá-lo nessa tarefa.

d) Finalmente, o meio-ambiente deve ser preservado, escolhendo-se produtos que atendam as exigências de performance técnica, de segurança para a cultura e de preservação do meio ambiente. Devem ser evitados herbicidas de ação residual muito longa capazes de causar problemas de “carryover”, contaminação de depósitos de água subterrânea etc.

João Baptista da Silva

Consultor

Compartilhar

Mosaic Biosciences Março 2024