Máquinas no cafezal

O uso de máquinas no cultivo melhora a qualidade do café; conheça as principais usadas nas diversas fases da colheita.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A produção mundial de café na safra 2002 foi de 122 x 106 sacas de 60Kg beneficiadas. O Brasil, que é o maior produtor, consumidor e exportador do mundo participa nesse total, com cerca de 44,69 x 106 sacas. Estima-se que a área cultivada com café no país é de, aproximadamente, 2.346.480ha, com 4.885,8 x 106 covas. O Estado de Minas Gerais é, entre os Estados, o de maior produção, respondendo por mais de 50% da produção brasileira, sendo que a região Sul/Oeste contribui com 53% desta e conta com aproximadamente 20.000 propriedades distribuídas em 510 municípios, os quais ocupam cerca de 1.062.000ha. Considerando a área cultivada e a produção, verifica-se que a cultura do café é de grande importância socioeconômica para o país por gerar direta e indiretamente grande quantidade de empregos e por manter no campo parte do pessoal envolvido no sistema produtivo. Entretanto, para a sustentabilidade do agronegócio torna-se necessário tomar, isoladamente pelo produtor ou conjuntamente pela classe produtora, várias medidas, entre elas, a de fazer uma boa gestão administrativa, devendo o administrador contar com planejamento e organização, tecnologia apropriada, recursos humanos capacitados, lavouras economicamente produtivas, produto de boa qualidade e, sobretudo com boa comercialização. A mecanização racional da lavoura é a base da sustentabilidade e, conseqüentemente, da competitividade desse agronegócio, haja vista os seus reflexos na redução do custo de produção e as contribuições que podem proporcionar na melhoria da qualidade do produto. A mecanização pode ser usada nas diversas etapas do processo produtivo da cultura, todavia a de colheita, que envolve inúmeras operações, é a de maior custo e, conseqüentemente, de maior importância no custo de produção. As operações mecanizadas normalmente realizadas na colheita do café são: arruação, derriça, varrição, recolhimento e abanação.

É realizada antes da derriça e caracteriza-se pela retirada de folhas, ramos e galhos secos, plantas daninhas e outros materiais estranhos que se encontram na projeção e arredores da saia do cafeeiro, com a finalidade de evitar que os frutos que caem naturalmente da planta e/ou derriçados venham a se perder ou deteriorar ao ficar em contato com a terra e resíduos vegetais. A retirada dessas impurezas pode ser feita mecanicamente via raspagem superficial, pneumaticamente via sopragem das impurezas existentes na superfície e, pela ação combinada da raspagem e sopragem. Existem diversas marcas e modelos de arruadores no mercado e a escolha de um deles depende de vários fatores. De modo geral, um conjunto trator-arruador pode superar diariamente o homem em aproximadamente 36 vezes, com um custo cerca de 4,0 vezes menor, sem prejuízos na qualidade do serviço executado.

A produção horária e a qualidade do trabalho realizado numa arruação tratorizada depende, entre outro fatores, da declividade do terreno, manejo de plantas daninhas, espaçamento entrelinhas, diâmetro e altura de saia do cafeeiro, forma de condução da lavoura, tipo de equipamento usado e das condições operacionais.

É o processo de retirada dos frutos da planta e, por isso, é considerada a principal operação da colheita, uma vez que tem maiores implicações no custo de produção e também por influir na qualidade do produto. A colheita coincide na maioria das regiões produtoras do país com o período de seca. Recomenda-se iniciar a colheita quando a quantidade máxima de frutos verdes na planta for de 5%, embora alguns produtores iniciem quando este percentual é de 20%. Os fabricantes de máquinas destinadas a este fim recomendam iniciar a colheita quando o percentual de frutos verdes é de 10%. A decisão de se iniciar a colheita mais cedo compromete a qualidade e o preço final do produto e mais tarde causa depauperamento das plantas mais novas e o comprometimento da próxima safra, considerando os danos causados às flores. Essa decisão é influenciada pela: a) possibilidade de realizar a colheita seletivamente em mais de uma passada; b) condições climáticas da região e das características do terreno onde a lavoura se encontra instalada (tipo e umidade do solo, umidade relativa do ar, altitude e desuniformidade na maturação); c) tamanho da área a ser colhida e tempo disponível para a operação de colheita; d) disponibilidade de máquinas e; e) preço do café no início da colheita. Em alguns Estados produtores do Brasil, a derriça inicia-se no outono, geralmente nos meses de maio ou junho, e se estende até as Estações de inverno ou de primavera. Em outros Estados ou regiões, a colheita inicia-se tardiamente e pode se estender até o mês de janeiro. Essa variação no período de colheita está condicionada à altitude do terreno e ao clima da região, uma vez que influem na maturação dos frutos.

A derriça pode ocorrer de uma só vez, processo mais usado pelos produtores, no qual é aconselhável a separação posterior dos frutos em função do grau de maturação e em mais de uma vez, o que caracteriza a derriça seletiva. Nesta, a separação dos frutos em função do grau de maturação pode, em alguns casos, ser dispensada. Tanto no primeiro, quanto no segundo processo, a derriça pode ser feita diretamente sobre o chão já arruado ou sobre panos.

A derriça no chão é recomendada para regiões de inverno seco e em áreas de solo arenoso, desde que o recolhimento seja feito logo após a derriça, visto que as baixas umidades na planta e no solo favorecem a rápida passagem dos frutos do estágio de maduros para secos, sem fermentações e, conseqüentemente, sem comprometer a qualidade do produto. Neste processo de derriça necessita-se do levantamento e da abanação, além da lavagem dos frutos para separação de pedras e de pequenos torrões.

A derriça no pano é o processo mais recomendado, uma vez que dificulta a mistura dos frutos derriçados com aqueles que se encontravam caídos antes de iniciar a derriça e que provavelmente encontram-se deteriorados pelo contato prolongado com o solo. Neste processo, os frutos são derriçados sobre panos colocados previamente de cada lado da linha e sob a projeção da copa das plantas. Os panos são, em geral, de tecido grosso, lona ou também de polietileno trançado e emendados, que medem normalmente de 3,5 a 20 m de comprimento por 2 a 3 m de largura. A derriça no pano resulta em abanação mais fácil e rápida, com frutos mais limpos, o que dispensa a lavagem dos mesmos, além de menor quantidade de impurezas transportadas para o terreiro.

A retirada dos frutos da planta na derriça mecânica dá-se pela vibração de varetas, dispostas em hastes, fabricadas de material resistente e leve, entre os ramos da planta. Neste caso, a freqüência das vibrações, amplitude do movimento das varetas e o tempo de contato das mesmas com a planta, além de outros fatores, como o sentido do movimento das varetas e o estádio de maturação dos frutos, são de grande importância na eficiência da operação.

Existem várias marcas e modelos de máquinas destinados à derriça, tais como: a) portáteis – cujas hastes podem ser acionadas mecanicamente ou pneumaticamente; b) tracionadas – podem operar a “cavaleiro”, isto é, dos dois lados da planta ao mesmo tempo e lateral ou apenas de um lado da planta e; c) automotrizes – operam a “cavaleiro” . As máquinas portáteis podem ser laterais ou costais e a capacidade de trabalho varia, aproximadamente, de 2 a 3 vezes a do homem, considerando o tempo consumido para ajuntamento, abanação e recolhimento. As máquinas tracionadas podem trabalhar à velocidade normalmente compreendida entre 400 e 800m/h, o mesmo ocorrendo com as automotrizes. A desfolha e danos à planta provocados pela derriça mecanizada são desprezíveis. A produção diária dessas máquinas é alta quando comparadas à operação realizada manualmente, além do que possibilitam a derriça seletiva e realizar concomitantemente outras operações como recolhimento, abanação e transporte dos frutos limpos para a carreta.

É a operação de ajuntamento dos frutos de café que se encontram no chão. Pode ser realizada antes da derriça, quando a mesma será feita no chão ou após a derriça, quando a mesma será feita sobre panos ou com máquina que dispõe de mecanismo de recolhimento dos frutos derriçados. Essa operação pode ser feita manualmente ou mecanicamente.

Caracteriza-se pela operação de recolhimento dos frutos derriçados no chão. O ajuntamento e recolhimento podem ser feitos manualmente ou mecanicamente. No segundo caso, as operações podem ser realizadas independentemente ou conjuntamente. Dependendo do tipo da máquina usada para o recolhimento, a mesma pode também realizar as operações de abanação e de ensacamento. O recolhimento pode ser tanto do café de varrição quanto do derriçado e daquele proveniente do repasse.

Essa operação caracteriza-se pela retirada das impurezas leves (gravetos e folhas) que se encontram juntos dos frutos recolhidos. Normalmente, a abanação é realizada após a derriça e pode ser uma operação manual ou mecânica. No caso da abanação ser mecânica, a máquina acoplada e acionada pelo trator é transportada na lavoura e o café recolhido é transportado com as impurezas até a mesma, onde é limpo. A retirada das impurezas baseia-se na diferença de densidade e de tamanho dos materiais. Para isso, usa-se no primeiro caso ar e, no segundo, peneiras.

A escolha do tipo de máquina e da combinação a ser usada numa lavoura ou sistema de exploração depende de inúmeros fatores, entre eles: característica da lavoura – espaçamento entrelinhas, número de plantas por cova, alinhamento, distância entre covas, altura e situação dos ramos inferiores, condição dos carreadores; declividade do terreno, normalmente inferior a 15% para as máquinas tracionadas e automotrizes; disponibilidade de mão-de-obra; disponibilidade de máquinas; capital disponível e qualificação profissional da equipe envolvida.

UFLA

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