Medidas de controle da broca-do-colmo em arroz irrigado

Controle do inseto passa por diversas medidas como eliminação de plantas daninhas, destruição da resteva e adubação equilibrada

09.03.2020 | 20:59 (UTC -3)

Espécie considerada secundária, a broca-do-colmo tem causado preocupação aos produtores de arroz irrigado no Rio Grande do Sul por conta do aumento na população do inseto e também nos danos provocados à cultura. Perdas de até 410kg/ha já foram observadas em estudos experimentais na última safra. Seu controle passa por diversas medidas como eliminação de plantas daninhas, destruição da resteva, adubação equilibrada e preservação de inimigos naturais.

Os insetos fitófagos que atacam as lavouras de arroz irrigado são considerados importantes quando ocorrem com maior frequência e causam danos. As perdas na produção são elevadas, pois ao infestarem as lavouras da semeadura até a colheita, os prejuízos são significativos e chegam a até 37%.

Nas últimas safras a incidência de insetos tem preocupado o produtor, pois além do aumento das populações, uma espécie secundária tem ocorrido com maior frequência e causado perdas. É o caso da broca-do-colmo, Diatraea saccharalis, que se encontra em expansão. Pelas condições climáticas favoráveis ao inseto e provavelmente pela redução de predadores, o produtor deve estar atento e realizar o monitoramento em sua lavoura.

A broca-do-colmo, atualmente, ocorre em várias regiões orizícolas do Rio Grande do Sul, porém as principais infestações são verificadas na região da Fronteira Oeste, onde mostrou um comportamento diferente ao atacar o grão. Também nas regiões da Planície Costeira Interna e na Planície Costeira Externa, muitas lavouras foram atacadas.

Biologia

Os adultos de hábito noturno estão abrigados nas plantas durante o dia e se caracterizam por apresentarem asas anteriores de coloração amarelo-palha, com pontos escuros e asas posteriores mais claras. As fêmeas realizam as posturas nas folhas, agrupadas, com aspecto de escamas. Após sete dias, em média, surgem as lagartas, que passam por seis estágios; no primeiro instar ficam nas folhas, depois penetram no colmo, podendo permanecer até a fase de pupa. O estágio de lagarta é de aproximadamente 30 dias. A seguir ocorre a fase de pupa, com duração aproximada de dez dias, e posteriormente surgem os insetos adultos.

É considerada uma das principais pragas da cana-de-açúcar, todavia ataca outras culturas com importância econômica como milho, sorgo, trigo e pastagens. Essa diversidade de hospedeiros facilita a permanência da praga nas lavouras e sua disseminação.

Monitoramento

O monitoramento deve ocorrer durante o estádio de maior suscetibilidade da planta, através da presença de adultos e das posturas. Como o inseto está presente praticamente durante todo o ciclo da cultura. Recomenda-se obter as amostras a partir da fase de alongamento do colmo até próximo à colheita. O monitoramento deve ser realizado abrindo-se as plantas para verificar a incidência do inseto.

O número de amostras e o tamanho da área de coleta vão determinar a eficiência do método. Quanto mais amostras, maior a precisão. As amostras devem ser obtidas em pontos ao acaso, percorrendo a lavoura em sentido transversal. Recomenda-se a realização de no mínimo 20 amostras a 30 amostras, iniciando-se a 10m das bordas da lavoura e se analisando em média dez colmos por ponto.

Sintomas e dano

Pelo hábito de permanecer no interior da planta os sintomas são observados quando já ocorreram os danos. Muitas vezes são confundidos com os causados pelo percevejo-do-colmo (Tibraca limbativentris). No caso do ataque pela broca-do-colmo, o sintoma pode ser identificado pela ocorrência de um orifício e, geralmente, pela presença de resíduos da lagarta.  

As lagartas de primeiro instar ficam sob a bainha das folhas causando o amarelecimento da parte externa. Porém, o ataque das lagartas aos colmos na fase vegetativa geralmente começam a partir de 30 dias após o início da irrigação, causando a morte da folha central, sintoma conhecido por “coração morto”. Estas partes das plantas, se puxadas, soltam-se com facilidade.

No estágio de emissão da panícula pela penetração de lagartas pequenas no internódio superior, ocorre o secamento parcial ou total das panículas, com o sintoma conhecido como “panículas brancas”. As lagartas podem deixar os colmos e atacarem outras plantas próximas.

Além do hábito da lagarta de atacar o colmo das plantas hospedeiras, na região da Fronteira Oeste foram identificados ataques da broca-do-colmo diretamente nos grãos de arroz. Neste período, a lagarta se alimenta do grão em formação, podendo atacar vários grãos por panícula.

Os danos provocados pela lagarta no ataque aos colmos e grãos, mesmo não sendo de ocorrência generalizada na lavoura, têm ocasionado perdas na produtividade, chegando a 10% de redução.

Em estudos experimentais realizados na última safra, no município de Alegrete, ocorreram perdas no rendimento de grãos de 410kg/ha, ou mais de oito sacos/ha, demonstrando os prejuízos causados por esse inseto-praga à lavoura de arroz irrigado no estado.

Medidas de controle

Como os danos causados pelas lagartas da broca-do-colmo ocorrem no interior do colmo, onde o controle é difícil, vários métodos importantes devem ser adotados.

Eliminação das plantas daninhas

As plantas hospedeiras nos canais de irrigação, nas ruas e bordas da lavoura, devem ser eliminadas para evitar que os insetos se abriguem no período da hibernação. Porém a grama existente nestes locais deve ser cortada e não eliminada, para manter os inimigos naturais.

Destruição da resteva

A eliminação da resteva após a colheita, através de incorporação por grade ou rolo faca, vai auxiliar na redução da população do inseto. As partes mais altas da lavoura que contém a palha são os locais favoráveis ao abrigo deste inseto.  

Adubação

Uma adubação equilibrada vai formar plantas mais fortes, maior número de afilhos, raízes mais desenvolvidas, suportando melhor o ataque das pragas. 

Favorecer a ação dos inimigos naturais

Os inimigos naturais representam um papel importante, uma vez que reduzem a população das pragas, tornando-as mais estáveis. Pode-se favorecer o aumento da população dos predadores, ao evitar a queima da resteva e de áreas próximas da lavoura. Dentre as principais espécies de inimigos naturais destacam-se as aranhas, que desempenham um papel importante no controle dos insetos devido a sua constante presença e à relativa abundância durante todas as fases da cultura. Durante o dia ficam na parte inferior das plantas, subindo no final da tarde para a captura dos insetos. Outros predadores como libélulas, tesourinhas e gafanhotos também são importantes, pois se alimentam de insetos adultos, ovos e pequenas lagartas.

As diversas espécies de inimigos naturais do arroz irrigado são de grande importância nas práticas de manejo dos insetos, razão pela qual devem ser monitoradas e preservadas.



Jaime Vargas de Oliveira, Unitec; Danielle Almeida, Irga/EEA; Luciano Araujo Freitas, Igor M. de Oliveira Pias, Caal


Artigo publicado na edição 197 da Cultivar Grandes Culturas. 

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