Medidas de controle do bicudo-do-algodoeiro em todas as fases do plantio

Manejo em fases como final da safra e pós-colheita são essenciais para o inseto não se manter e migrar para lavouras subsequentes​

26.02.2020 | 20:59 (UTC -3)

Desde a emissão dos primeiros botões florais os cuidados com o manejo do bicudo-do-algodoeiro devem ser intensificados. Contudo, medidas de controle não podem ser negligenciadas em outras fases como o final da safra e a pós-colheita, sob pena do inseto se manter e migrar para lavouras subsequentes.

O bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman, 1843 (Coleoptera: Curculionidae), é a principal praga da cultura do algodoeiro no Brasil, responsável por elevadas perdas de produtividade. Os prejuízos são oriundos da sua agressividade ao atacar as estruturas reprodutivas do algodoeiro, especialmente os botões florais e as maçãs, alvos da alimentação e reprodução da praga. O desenvolvimento das fases de ovo, larva e pupa no interior das estruturas reprodutivas, aliado ao comportamento dos adultos, que se alojam entre as brácteas, ficando protegido das aplicações, dificulta o controle deste inseto.

O bicudo-do-algodoeiro coloniza preferencialmente as lavouras de algodão, assim que a cultura emite os primeiros botões florais, estruturas preferidas para alimentação e oviposição. Nesta fase, iniciam-se os principais cuidados relacionados ao manejo da praga, especialmente o monitoramento e às aplicações de inseticidas, que quase sempre são sequenciais. Estas aplicações variam de três a cinco, devido à emergência dos adultos ocorrer constantemente, ao nível de infestação e ao controle de indivíduos que escapam das últimas pulverizações.

A partir da emissão dos primeiros botões florais até a abertura do primeiro capulho, maior atenção é direcionada ao controle do bicudo-do-algodoeiro na lavoura. Esta ação tem por objetivo garantir o maior número de estruturas reprodutivas e, consequentemente, uma boa produtividade. Entretanto, medidas de controle devem ser adotadas também no final de safra, com o intuito de reduzir a população da praga nesta fase. De fato, o bicudo alimenta-se e se reproduz no fim de safra, utilizando botões florais do ponteiro da planta e, também, as maçãs macias (<10 dias). Infestações tardias podem ainda causar perdas de produtividade, garantindo ainda uma elevada população para passar o período de entressafra nos refúgios e migrar para o cultivo de algodão subsequente. Por isso, é correto afirmar que os altos níveis populacionais da praga na lavoura atual são influenciados pelo manejo da praga na safra anterior, pois o bicudo-do-algodoeiro que está colonizando a área é aquele residual da safra passada.

Assim, espera-se que, ao realizar um bom manejo da praga na safra anterior – especialmente no final do ciclo do algodoeiro – e uma destruição bem feita de soqueira e plantas tigueras, a população que irá colonizar a lavoura subsequente seja reduzida.

Com o intuito de auxiliar os produtores a reduzirem a população e consequentemente estabelecerem uma boa convivência com o bicudo-do-algodoeiro, são recomendadas medidas de manejo que devem ser consideradas na fase final de desenvolvimento das lavouras de algodão:

Zona verde – 0 BAS, sem necessidade de aplicação;

Zona azul – 0 a 1 BAS, fazer uma aplicação;

Zona amarela – 1 a 2 BAS, fazer duas aplicações sequenciais, com intervalo de cinco dias;

Zona vermelha – acima de 2 BAS, fazer três aplicações sequenciais, com intervalo de cinco dias.

É preciso chamar a atenção nesta etapa final do cultivo, fase em que os prejuízos causados pelo bicudo-do-algodoeiro são considerados mínimos, pois acredita-se que a produção já está garantida e que a população da praga nesta etapa não causará problemas e/ou perdas consideráveis. Devido a essa mentalidade equivocada, em geral, a cadeia produtiva negligencia o manejo da praga no fim da safra e não se atenta para os riscos que esses indivíduos podem representar para a safra seguinte. Entretanto, sabendo-se da capacidade adaptativa da praga, principalmente através do sucesso em se manter na entressafra e migrar para lavouras subsequentes, as medidas de manejo de final de safra devem ser adotadas de forma rigorosa, por toda cadeia produtiva do algodão, sempre de forma conjunta e coordenada por região, com o objetivo de minimizar problemas futuros por meio da redução da pressão da praga no início da safra seguinte.

Figura - Adulto do bicudo-do-algodoeiro. (Foto: Arquivo IMAmt)
Figura - Adulto do bicudo-do-algodoeiro. (Foto: Arquivo IMAmt)
Figura - Larvas do bicudo-do-algodoeiro no interior da maçã de algodão no final da safra. Observar o grande número de indivíduos capaz de se desenvolver em uma maçã. (Foto: Eduardo M. Barros)
Figura - Larvas do bicudo-do-algodoeiro no interior da maçã de algodão no final da safra. Observar o grande número de indivíduos capaz de se desenvolver em uma maçã. (Foto: Eduardo M. Barros)
Figura - Maçã de algodoeiro, no final da safra, com elevado ataque de bicudo. (Foto: Edenilson Souza).
Figura - Maçã de algodoeiro, no final da safra, com elevado ataque de bicudo. (Foto: Edenilson Souza).
Figura - Lavoura com intenso ataque do bicudo no final da safra. Baixa produtividade, devido às perdas de parte do terço médio e perda total de produção do terço superior. (Foto – Eduardo M Barros)
Figura - Lavoura com intenso ataque do bicudo no final da safra. Baixa produtividade, devido às perdas de parte do terço médio e perda total de produção do terço superior. (Foto – Eduardo M Barros)
Figura - Lavoura de algodão após bom manejo do bicudo, apresentando boa carga no terço médio e ponteiro. (Foto: Aldair Kossmann)
Figura - Lavoura de algodão após bom manejo do bicudo, apresentando boa carga no terço médio e ponteiro. (Foto: Aldair Kossmann)
Figura - Destruição de plantas de algodão em beira de rodovias. (Fotos: Aldair Kossmann)
Figura - Destruição de plantas de algodão em beira de rodovias. (Fotos: Aldair Kossmann)
Figura - Tubo Mata Bicudo instalado no perímetro da lavoura (Foto esquerda – Eduardo M Barros. Foto direita – Aldair Kossmann)
Figura - Tubo Mata Bicudo instalado no perímetro da lavoura (Foto esquerda – Eduardo M Barros. Foto direita – Aldair Kossmann)
Figura - Destruição mecânica da soqueira. (Foto: Aldair Kossmann)
Figura - Destruição mecânica da soqueira. (Foto: Aldair Kossmann)
Figura - Armadilha iscada com feromônio Grandlure na bordadura do talhão de algodão. (Foto: Eduardo M. Barros)
Figura - Armadilha iscada com feromônio Grandlure na bordadura do talhão de algodão. (Foto: Eduardo M. Barros)


Eduardo Moreira Barros, Jacob Crosariol Netto, IMAmt, Guilherme Gomes Rolim, Felipe Colares, UFRPE


Artigo publicado na edição 195 da Cultivar Grandes Culturas. 


Compartilhar

Mosaic Biosciences Março 2024