Menos giberela

Atenção durante o manejo e escolha de técnicas adequadas de cultivo podem reduzir a incidência da giberela em trigo, causada pelo fungo Gibberela zeae.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A doença giberela, incitada por

[(Schwein.) Petch; Sn. G. saubinetti], forma assexuada

Schwabe, ocorre principalmente em espigas de cereais de inverno, como o trigo, a cevada e o triticale. Os grãos afetados apresentam-se chochos, enrugados, de coloração branco-rosada a pardo-clara. Além de reduzir diretamente o rendimento, os grãos infectados e seus derivados podem ser tóxicos devido à presença de micotoxinas.

Apesar dessa doença ser referenciada no Brasil, desde 1947, em trigo (Veranópolis, RS), foi relatada, até recentemente, causando prejuízos esporádicos às culturas de trigo e de cevada. Nos últimos anos, passou a ocorrer em níveis epidêmicos e tornou-se um problema de importância maior nas safras de trigo no Sul do Brasil, principalmente no estado do Rio Grande do Sul. Os prejuízos econômicos aos agricultores, pela redução do rendimento e da qualidade dos grãos produzidos, estão fazendo parte das reclamações nas últimas safras. Esses prejuízos, freqüentemente, são subestimados, pois, quando o patógeno afeta as espigas no início da formação de grãos, estes são leves, sendo eliminados na colheita, no processo de trilha, juntamente com a palha.

A giberela é influenciada por condições de umidade e de temperatura. Precipitação pluvial de, no mínimo, 48 horas consecutivas e temperatura entre 20 e 25oC são favoráveis ao patógeno. As epidemias mais recentes no Rio Grande do Sul ocorreram em 1997, 1998 e 2000, anos de elevada precipitação pluvial na fase reprodutiva de cereais de inverno. Em anos mais secos, a giberela não constitui problema sério.

A mudança do sistema de preparo convencional do solo, caracterizado por revolvimento do solo e incorporação de grande parte dos restos culturais, pelo sistema de manejo conservacionista, na região sul do país, principalmente no Rio Grande do Sul, provavelmente seja um fator importante no aumento da intensidade dos surtos epidêmicos de giberela. O sistema de manejo conservacionista do solo, inegavelmente, é eficaz no controle de erosão, seu objetivo principal. Esse sistema de manejo também é peça fundamental na sustentabilidade da agricultura na região. No entanto, a adoção do sistema de manejo conservacionista, cujos restos vegetais das culturas anteriores são mantidos na superfície do solo, dificultando a erosão, em substituição ao sistema convencional, como era de se esperar poderia causar alterações que implicariam o aparecimento de outros problemas, principalmente em relação a doenças.

Provavelmente a giberela seja uma doença favorecida pelo sistema conservacionista de manejo de solo. Esse sistema parece atuar do lado do patógeno, favorecendo a sobrevivência e a disseminação deste. Os grãos afetados precocemente são mais leves, permanecendo grande parte no campo junto com a palha, na superfície do solo, no processo de trilha. O número de plantas hospedeiras como milho, plantas daninhas, bem como a capacidade de sobrevivência do patógeno em restos culturais na superfície do solo, garante inóculo do patógeno em abundância. A manutenção de restos culturais na superfície do solo também facilita a disseminação das unidades infectivas (ascosporos) de

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Atualmente, a giberela é considerada um dos grandes problemas fitossanitários enfrentados pelos agricultores da região sul do país e desafio para a pesquisa. Medidas de controle, como rotação de culturas, parecem pouco eficazes, devido aos ascosporos do patógeno serem disseminados a grandes distâncias, ao grande número de plantas hospedeiras e à capacidade de sobrevivência do patógeno em restos culturais na superfície do solo. O controle de giberela através de cultivares resistentes, até o momento, não é suficiente, embora existam cultivares com melhor performance em relação à doença. O controle químico isoladamente também não constitui medida eficiente de controle, pois os fungicidas e as técnicas de aplicação disponíveis no momento possuem eficiência máxima de 70%.

Para minimizar a giberela em cereais de inverno, além da associação do uso de cultivares com melhor performance quanto à resistência genética e do controle químico, o escalonamento da semeadura deve ser uma prática considerada pelos agricultores. Essa prática de controle cultural da doença é indicada com o intuito de pelo menos parte da lavoura escapar da giberela. O escape ocorre quando a fase reprodutiva dos cereais de inverno não coincide com as condições ambientais de precipitação pluvial e temperaturas favoráveis à doença. Avaliando a giberela em cultivares de trigo semeadas em três épocas em Passo Fundo, RS, observou-se por três anos que, em uma mesma safra, pelo menos uma das três épocas de semeadura não foi favorável à doença, colhendo-se grãos com baixa incidência de giberela.

Assim sendo, o escalonamento da semeadura, dentro do período recomendado, pode ser uma tática cultural de controle a ser usada para minimizar os prejuízos por giberela, pelo escape à doença. O escape também pode ser proporcionado mediante o cultivo de pelo menos duas cultivares que possuam ciclos diferentes, em que a fase reprodutiva entre elas ocorra em períodos distintos. Atualmente, a integração de um maior número possível de táticas de controle é a melhor saída para minimizar os prejuízos por giberela em cereais de inverno.

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