Morango mais valorizado

Técnica de armazenamento e transporte de morangos com CO2 melhora a qualidade do produto e o seu tempo de vida útil.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O morango apresenta destacada importância econômica, social e culinária, pois proporciona elevado rendimento por área, demanda muita mão-de-obra e por freqüentar os mais requintados cardápios e livros de receitas. O estado do Rio Grande do Sul produz quantidades consideráveis de morango no período de setembro a janeiro, período em que, o estado de São Paulo, maior produtor brasileiro, apresenta uma baixa produção. Desta forma, as regiões sudeste, norte e nordeste constituem-se um mercado aberto, pagando-se altos preços pelo produto, podendo chegar a embalagem de 400g a R$ 5,00, em nível de consumidor. Entretanto, o grande volume de oferta deste produto em alguns meses do ano, a distância dos mercados mais atrativos para os produtores, a rápida maturação dos frutos e a sensibilidade ao ataque de patógenos causadores de podridão, principalmente Botrytis cinerea, constituem os principais problemas pós-colheita de morangos.

Assim como outras frutas, o morango é um produto vivo que respira, amadurece e entre em senescência, exigindo, por isso, tecnologias que propiciam um aumento em sua vida pós-colheita. O Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita (NPP) da Universidade Federal de Santa Maria, com o apoio da FAPERGS e de sete prefeituras da região da serra gaúcha vêm desenvolvendo há alguns anos trabalhos de pesquisa na busca de tecnologias para o armazenamento e transporte de morangos em atmosfera modificada.

Atmosfera modificada

A atmosfera modificada (AM) é o armazenamento de frutos em embalagens com concentrações de O2 e CO2 diferentes do ar atmosférico. Estas concentrações são obtidas através do acúmulo de CO2 e redução de O2 pelo processo respiratório dos frutos. Para propiciar esta alteração nas concentrações dos gases, geralmente utiliza-se filmes de polietileno de baixa ou média densidade. Nos trabalhos desenvolvidos no NPP verificou-se que a cobertura da cumbuca com filme plástico de PVC esticável, tradicionalmente utilizado, não permite grande acúmulo de CO2 e redução de O2, não podendo considerar-se como modificação da atmosfera, servindo apenas como uma barreira à perda de água pelos frutos.

Já o envolvimento de 4 a 6 cumbucas com filme de polietileno oferece uma barreira à entrada de O2 e saída de CO2, proporcionando a modificação da atmosfera. Entretanto, o acúmulo de CO2 a níveis considerados satisfatórios para reduzir a velocidade do metabolismo dos frutos exige algumas semanas, o que para morangos é problemático, devido a sua curta vida pós-colheita. Considerando este problema, o NPP aprimorou a técnica da atmosfera modificada, com a injeção de CO2 dentro da embalagem, chamando-se então, atmosfera modificada enriquecida com CO2. Esta prática faz com que os processos metabólicos responsáveis pelo amadurecimento do fruto sejam reduzidos já desde o início, além do quê a alta concentração de CO2 inicial pode reduzir a propagação de fungos.

Resultados obtidos

Em dois anos de pesquisa trabalhando-se com a cultivar Oso Grande e um ano com a cultivar Camorosa, verificou-se que o uso da atmosfera modificada enriquecida com CO2 proporcionou frutos com maior firmeza de polpa e com menor ocorrência de podridão, evidenciando-se a efetividade da técnica na redução do metabolismo dos frutos e na supressão do desenvolvimento de patógenos causadores de podridões.

De acordo com as pesquisas realizadas, os melhores resultados foram obtidos em filme de polietileno de média densidade com 45m de espessura e injeção de 40% CO2, para frutos armazenados com uso da refrigeração. Já sem refrigeração (20ºC), o filme de 30m apresentou os melhores resultados.

No ano de 1999, frutos da cv. Oso Grande envolvidos em filmes de polietileno de 45m e com injeção de CO2, foram colocado por 7 dias em câmara de climatização a 20ºC, simulando o transporte convencional. Os morangos mantiveram a firmeza de polpa 0,25lb mais firmes e apresentaram somente 17,7% dos frutos podres, enquanto que no tratamento onde não utilizou-se a atmosfera modificada enriquecida com CO2 ocorreu uma incidência de 80% de podridão.

No ano 2000, frutos da cultivar Oso Grande embalados com filme de 45m e injeção de 30% de CO2 e armazenados a 0ºC por 7 dias, simulando o transporte refrigerado, mais dois dias a 20ºC, simulando o período de comercialização, apresentaram-se 0,65lb mais firmes e a incidência de frutos podres foi reduzida em 15%. A cultivar Camarosa mantida por 18 dias em temperatura de –0,5ºC mais 2 dias a 20ºC, os melhores resultados quanto à ocorrência de podridões, acidez titulável, escurecimento das sépalas e sabor dos frutos, foram obtidos com o filme de 45m de média densidade com injeção de 40% de CO2.

Execução da técnica

1º. Coloca-se em uma bolsa de polietileno de média densidade com espessura de 45m, 4 a 6 cumbucas, previamente envolvidas com PVC esticável de 40 a 60 micras de espessura;

2º. Succiona-se o excesso de ar na embalagem de polietileno até o filme ficar aderido aos frutos;

3º. Após injeta-se 2,5L de CO2 na embalagem para atingir a concentração desejada;

4º. Terminada a injeção de CO2, veda-se a embalagem para manter uma alta concentração de CO2 e proporcionar a redução de O2 pelo processo respiratório.

Existem no mercado equipamentos específicos que realizam rapidamente os processos de sucção do ar da embalagem, de injeção de CO2 e de fechamento da embalagem, os quais podem ser utilizados por produtores com grande volume de produção.

Para melhorar a eficiência da técnica, os morangos não devem ser colhidos muito maduros (50% da superfície com cor vermelha) e tão logo possível devem ser refrigerados, embalados e realizada a injeção de CO2. Outro fator importante a ser considerado é a utilização de filmes de polietileno intactos (sem perfurações), tomando-se cuidado para não danificá-los.

Esta Tecnologia já está sendo implantada comercialmente por uma associação de produtores de morango de Farroupilha (RS), que pretendem abastecer os mercados de São Paulo, Nordeste e Norte do país.

Auri Brackmann e Cristiano André Steffens

UFSM

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