Morte ronda bananeiras

Controle a broca-da-bananeira (C. sordidus), principal praga desta cultura no Brasil, que causa a morte das plantas mais jovens e reduz a produção em até 80%.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

É no rizoma que se encontra a principal praga da bananicultura brasileira. Trata-se da espécie Cosmopolites sordidus (Germar, 1924) e é conhecida vulgarmente como “moleque”, broca-do-rizoma ou broca-da-bananeira.

A ocorrência dessa praga no Brasil foi constatada em 1915 no Rio de Janeiro; a partir desta data foi encontrada em todos os estados brasileiros que cultivam banana, atacando com maior ou menor intensidade todas as cultivares. Os danos provocados pelo inseto são, essencialmente, atribuídos à forma larval, caracterizando-se pela presença de galerias no rizoma e se manifestam segundo uma sintomatologia que varia com a idade e vigor da planta, e com a intensidade de infestação. Os prejuízos são provocados pela morte de plantas, principalmente as mais jovens, e pela redução da colheita, causada por uma diminuição do peso dos cachos ou por tombamento das bananeiras. Em algumas regiões, as altas populações de brocas encontradas nos bananais podem reduzir a produção em até 80%.

Descrição e ciclo biológico

O inseto pertence à família Curculionidae, caracterizada pela presença de um prolongamento anterior na forma de tromba ou bico longo e recurvado, em cuja extremidade estão inseridas as peças bucais mastigadoras. Sua coloração é preta, mede por volta de 11 mm de comprimento e 5 mm de largura. Os adultos têm hábito noturno, sendo encontrados, em ambientes úmidos e sombreados, juntos às touceiras, entre as bainhas foliares e nos restos culturais. A longevidade do adulto varia de alguns meses a 2 anos.

As fêmeas de

põem seus ovos no interior do rizoma, em pequenas cavidades feitas com o rostro, a um ou dois milímetros de profundidade. A oviposição ocorre em toda a superfície do rizoma, com a maior quantidade dos ovos sendo distribuída no sua metade superior. Contudo, tem-se observado que um número considerável de bananeiras apresentam seus rizomas atacados apenas na parte inferior.

O período de incubação varia segundo as condições ambientais. Trabalho realizado na Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, Bahia, mostra que as larvas eclodem após um período mínimo de quatro dias e um máximo de 14 dias após a postura, para quatro épocas distintas de observação. A partir da eclosão da larva até o seu ingresso na fase de pupa, pode transcorrer um período que varia de 22 a 118 dias. Essa variação é fortemente influenciada pelas condições climáticas e, também, pelas cultivares hospedeiras, afetando inclusive o número de ecdises. As pupas são de coloração branca, sendo encontradas, normalmente, próximo à superfície do rizoma, no interior das galerias. Em condições de laboratório, com temperatura variando de 22 a 25 oC e Umidade Relativa de 77 a 84 %, o período médio pupal foi de aproximadamente seis dias.

Danos e importância econômica

Os danos que evidenciam o ataque da praga são causados pelas larvas, as quais constróem galerias no rizoma, debilitando as plantas e tornando-as mais sensíveis ao tombamento, principalmente naquelas que se apresentam na fase de frutificação. As galerias no rizoma também causam danos indiretos como o favorecimento à penetração de patógenos nas áreas atacadas causando podridões e morte da planta.

Plantas infestadas normalmente apresentam desenvolvimento limitado, amarelecimento das folhas com posterior secamento, ausência de frutificação e, principalmente em plantas jovens, morte da gema apical. O peso médio de cachos de bananeira, cultivar Nanicão, em áreas onde o controle da praga foi efetuado, variou de 25 a 30 kg, enquanto que em uma área com alta infestação da broca do rizoma, o peso dos cachos variou de 15 a 18Kg. Além disso, os frutos colhidos na área infestada foram curtos e finos, em contraste com aqueles obtidos de plantas sadias, os quais foram compridos e grossos.

A estimativa da população do

é feita, normalmente, com a utilização de iscas atrativas, construídas de pedaços de pseudocaule de bananeira que produziram cachos, de mais ou menos 50cm de comprimento, partidos no sentido longitudinal e distribuídos periodicamente no bananal. Em algumas regiões produtoras de banana, o número de insetos coletados nas iscas pode fornecer indícios para adoção de medidas de controle. Para as condições das Antilhas Francesas, o número de um adulto por unidade atrativa, com distribuição de 60 unidades por hectare, já é suficiente para se recomendar medidas de controle. Entretanto, para os bananais ‘Prata’, no Espírito Santo, a média mensal de 1,97; 3,77 e 5,17 adultos/isca, para planta matriz, primeiro e segundo seguidores, respectivamente, não interferiu no peso médio dos cachos.

A técnica do coeficiente de infestação proposta por um pesquisador francês (Técnica de Vilardebo), para avaliar ataque do “moleque”, tem sido pouco utilizada no Brasil e, possivelmente, necessite de uma adaptação para as nossas condições, devido ao hábito do inseto ovipositar, com certa freqüência, apenas a parte mais inferior do rizoma. Os danos provocados pelas larvas advindas dessas posturas, não são considerados segundo modelo proposto, tendo em vista que as avaliações são feitas em função das galerias observadas na metade superior do rizoma. No sentido de tentar corrigir essas imperfeições, a Embrapa Mandioca e Fruticultura propôs uma outra técnica (Método de Mesquita) que consiste em avaliar a infestação da broca em um corte transversal do rizoma de plantas recém-colhidas e atribuindo-se uma nota correspondente ao dano, dividindo-se a superfície exposta em quatro partes iguais; cada parte representa 25% da superfície total. A constatação de galerias na parte inferior do rizoma será feita através de cortes verticais, retirando-se algumas fatias no lado que menos afetar os seguidores. Nesse caso, evita-se o fornecimento de nota zero, quando o rizoma apresentar ataques na sua parte mais inferior. A soma do conjunto dos valores das observações efetuadas, dividida pelo número de plantas examinadas, fornecerá o coeficiente de infestação médio.

Medidas de controle:

Utilização de mudas livres de infestação

A principal forma de disseminação do moleque é através da muda infestada. Para os plantios feitos com mudas produzidas em laboratório, através da técnica de cultivo in vitro, a sanidade do material propagativo está assegurada. Contudo, para os plantios feitos com mudas de rizoma, ou seja, mudas provenientes de plantios estabelecidos, a sanidade do material propagativo merece cuidados especiais. Neste caso, a seleção de mudas em campo requer inspeção rigorosa dos rizomas, os quais devem ser levemente descorticados, com o objetivo de remover ovos e larvas presentes. Mudas seriamente comprometidas pela presença de galerias devem ser descartadas. O descorticamento deve ser feito no próprio local onde o material propagativo foi retirado. Para evitar problemas de reinfestação, as mudas selecionadas e limpas devem ser retiradas imediatamente para a nova área de plantio. Em áreas altamente infestadas, próximas a bananais atacados pelo moleque, o tratamento das mudas através de imersão em calda de inseticida protege a planta no estágio inicial de desenvolvimento. A aplicação de inseticida granulado diretamente na cova de plantio também é outra medida eficiente para o controle do moleque na fase de implantação do bananal.

Utilização de iscas atrativas

As iscas são confeccionadas a partir de rizomas ou pseudocaule de plantas colhidas e tem como base a atração exercida por substâncias voláteis presentes no rizoma e pseudocaule. Além de sua utilização nos estudos de estimativa populacional, elas têm sido largamente usadas nas práticas de controle do inseto. Apesar das iscas construídas a partir de rizoma serem mais atrativas, as de pseudocaule são mais utilizadas pela facilidade de confecção. Após a colheita do cacho, o pseudocaule pode ser utilizado para obtenção de dois tipos de iscas: a tipo “queijo” e a tipo “telha”.

A isca “queijo” é confeccionada rebaixando-se o pseudocaule a uma altura de 30 cm do nível do solo e cortando-o novamente ao meio no sentido longitudinal. A isca “telha” é uma banda de um pedaço de pseudocaule de aproximadamente 60 cm de comprimento, partido ao meio no sentido longitudinal. Cada pedaço de pseudocaule fornece duas iscas, as quais devem ser distribuídas com a face cortada em contato com o solo, na base da planta. A catação manual dos besouros a cada semana ou a utilização de inseticidas químicos ou biológicos na face cortada das iscas contribui para a redução gradativa da praga. A utilização de inseticidas dispensa a catação manual dos insetos. De maneira geral, recomenda-se o número de 60 a 100 iscas/ha, sendo distribuídas durante todo o ano a depender da infestação do bananal; as coletas devem ser semanais e quinzenalmente as iscas devem ser renovadas.

A utilização de iscas “queijo” e “telha”, ao mesmo tempo e na mesma área, produz efeitos mais rápidos no controle da praga. De um ponto de vista prático, pode-se adotar a seguinte recomendação: utiliza-se a base das plantas colhidas para confeccionar “queijos” e emprega-se o resto do pseudocaule para confecção de “telhas”. A eficiência da captura é maior com o aumento da densidade das iscas e freqüência de coletas, porém o custo da operação, associado à disponibilidade de mão-de-obra, deve ser considerado.

Variedades resistentes

A resistência de plantas a insetos é considerada uma estratégia segura e durável para o controle de

. A busca por resistência ao inseto é prioridade, particularmente no contexto de uma agricultura com baixas taxas de investimento.

Embora, em condições de campo, todas as variedades sejam infestadas, existem trabalhos que mostram diferenças quanto ao desenvolvimento, sobrevivência e atratividade para a oviposição em função dos genótipos utilizados. A generalização sobre a suscetibilidade de um determinado grupo genômico exige cautela, em virtude da grande variabilidade genética, mesmo dentro de um mesmo grupo genômico. Entretanto, de maneira geral, a utilização de determinadas cultivares como Terra, D’Angola, Nanica e Nanicão requer maior intensidade no manejo da praga do que outras como Prata, Prata Anã, Pacovan, Maçã e Mysore. Estudos sobre a dureza do rizoma permitiram detectar um dos prováveis mecanismos da resistência em genótipos diplóides de bananeira, embora outras causas também pudessem estar associadas a esse caráter.

Controle biológico

A utilização do fungo

(Bals.) Vuill, um parasito natural da broca da bananeira, como agente biológico de controle da praga, oferece boas perspectivas de aplicação prática em função dos resultados obtidos nos Estados da Bahia e Pernambuco. Os níveis de controle em condições de laboratório atingem 100 por cento de eficiência e, em condições de campo, em alguns locais, tem-se alcançado níveis de até 40 por cento de mortalidade dos adultos. O fungo é facilmente cultivado em arroz autoclavado e 1kg desse substrato fornece o inóculo infeccioso em quantidade suficiente para aplicação em 1 hectare. O método das iscas tem sido utilizado para aplicação desse fungo em campo, fazendo-se uma suspensão do inóculo e distribuindo-o através de pulverizações ou pincelamento, sobre a superfície cortada das iscas “telha” ou “queijo”. O agente de controle atua por contato sobre os adultos atraídos pelas iscas, os quais morrem alguns dias depois.

Além desse inimigo natural, os histerídeos

e

foram, também, encontrados em galerias no interior do rizoma, alimentando-se de larvas do

e em pseudocaule tombados, predando formas jovens de

. Apesar da baixa especificidade dos predadores, aliada ao próprio habitat da praga, o que dificulta o contato do inimigo natural com a presa, são usualmente citados como dificuldades para o sucesso da implantação de programas de controle biológico utilizando esses histerídeos. Entretanto, alguns autores consideram a sua atuação bastante efetiva, principalmente quando outras táticas de controle estão disponíveis na plantação.

Controle químico

Além do tratamento de imersão das mudas em calda de inseticida, da aplicação de inseticida na cova de plantio, da utilização de inseticidas nas iscas de pseudocaule, o controle da broca em plantio estabelecido, pode ser feito através da aplicação de inseticidas sobre o solo, na base da planta. Esta prática tem sido adotada principalmente em áreas de exploração mais intensiva. Alguns produtos comumente usados para controle de nematóides têm sido recomendados para o controle da broca devido a sua dupla ação nematicida/inseticida. Para o controle específico da broca do rizoma, a distribuição do defensivo deve ser localizada bem próxima à touceira, circundando completamente as plantas que deverão ser protegidas, cobrindo uma faixa de 10-15 cm de largura. Os produtos químicos registrados para o controle da broca do rizoma constam na Tabela 1 (

).

Controle por comportamento

A emissão de uma substância volátil de agregação emitida pelos machos foi detectada por volta de 1993 por alguns autores. Segundo eles, este feromônio poderia ser emitido via intestino posterior e seria ativo para os dois sexos. Entre seis compostos voláteis liberados pelos machos, ativos biologicamente, o composto principal foi isolado e teve sua estrutura estereo-química decifrada. Esta substância foi denominada de sordidina. Após alguns estudos mais detalhados sobre a configuração da sordidina natural, a confirmação de sua atividade biológica em laboratório e apresentação de um método de produção massal de uma mistura de estereo-isômeros deste feromônio, foi comprovada também sua ação sobre a captura de machos e fêmeas, em condições de campo.

Estudos conduzidos na Costa Rica mostraram que a taxa de capturas diminuiu para mais de 75% após 10-12 meses de observação; os danos nos rizomas decresceram de 61-64% durante o experimento; o vigor das plantas, o peso dos cachos e a produtividade aumentaram nas parcelas tratadas com o feromônio. No Brasil, existe um feromônio comercialmente denominado de cosmolure, comercializado pela Bio-Controle, de São Paulo. Testes em andamento, realizados pela Embrapa Agroindústria Tropical, no município de Quixeré, Ceará, utilizando-se quatro iscas por hectare, em banana irrigada, mostram que as iscas com o feromônio são bem mais atrativas do que iscas de pseudocaule.

Contudo, os resultados obtidos até o momento são ainda insuficientes para tirar conclusões sobre o efeito do controle na redução de danos no rizoma, aumento de vigor das plantas, produção e qualidade dos frutos obtidos.

Antonio L. Martins Mesquita,

Embrapa Agroindústria Tropical

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