Mosca-da-haste-da-soja:Avanço detectado

Presente no Brasil a mais tempo do que se supunha a mosca-da-haste da soja Melanagromyza sojae acaba de ser identificada também no Cerrado brasileiro

20.08.2018 | 20:59 (UTC -3)

Espécies exóticas invasoras são aquelas pelas quais a introdução e/ou dispersão ameaçam a diversidade biológica dos ecossistemas, pois passam a ocasionar impactos econômicos e ecológicos de difícil detecção e quantificação. Os deslocamentos destes organismos, de uma região a outra, independentemente da forma como ocorrem, intencional ou acidental, acarretam perdas ambientais, econômicas, sociais e culturais muitas vezes irreversíveis, e podem incidir diretamente ou não na alimentação, nutrição e saúde humana. Além disso, há um aumento das barreiras fitossanitárias para comercialização dos produtos agrícolas da região afetada.

Com certeza, é a atividade humana dos tempos atuais que tem eliminado as barreiras geográficas do mundo e isso tem proporcionado a chamada “bioglobalização das pragas”. Desta forma, a cada ano que passa um novo problema surge em relação a pragas invasoras, uma vez que ambientes modificados como os agroecossistemas, são seriamente sujeitos a estas invasões biológicas.
Dentro deste contexto e levando em consideração os agroecossistemas brasileiros onde áreas cultivadas com soja apresentaram, nessas últimas décadas, aumento de mais de 200%, proporcionando crescimento em torno 370% na produção, há de se considerar também que os problemas relacionados a fitossanidade possam surgir, principalmente no que diz respeito a pragas invasoras. A exemplo disso, há a entrada da ferrugem asiática (Phakospora pahyrizi) ou de artrópodes pragas, como a mosca branca (Bemisia tabaci MEAM1 (Middle East-Asia Minor 1)) e a lagarta Helicoverpa (Helicoverpa armigera). Todas com grande impacto na agricultura brasileira e ainda considerada um grande problema para a produção de soja no país.
Além destas pragas já citadas, existe uma lista com aproximadamente 70 espécies de insetos e ácaros exóticos incidentes em cultivos de soja e que de acordo com a literatura, se introduzidas no Brasil podem acarretar danos significativos à cultura. Além disso, em uma classificação de insetos exóticos com potencial de adaptação à soja no Brasil, publicada em 2012, apenas duas espécies apresentavam grau de importância “alta” sendo as duas pertencentes a Família Agromyzidae e uma delas “era” a mosca-da-haste da soja Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae), isso porque atualmente é possível afirmar que esta praga já se encontra no Brasil e provavelmente há mais tempo do que se supunha.
A mosca-da-haste da soja M. sojae já é praga conhecida em diferentes continentes, pois possui vasta distribuição nos países asiáticos, está em partes da Rússia, Austrália e Espanha causando danos expressivos e com grandes prejuízos aos cultivos de soja. Em 2017 foi identificada atacando alfafa na África, mais especificamente no Sudão, ocasionando significativas perdas à cultura. E sua presença foi confirmada recentemente no Paraguai e Bolívia.


No Brasil, a ocorrência de minadoras danificando hastes de soja foi relatada em 1983, mais precisamente nos estados do Sul, porém como não houve referência à espécie e os dados ainda eram vagos quanto a sua identificação e as ocorrências consideradas esporádicas, a espécie M. sojae foi mantida na lista de pragas ainda não presentes no território nacional.
Entretanto, em 2015 na segunda safra de soja, a ocorrencia de M. sojae foi confirmada pela equipe do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (Lab MIP) da Universidade de Santa Maria/Rio Grande do Sul em cultivos de soja de diversas localidades do Sul e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) foi oficialmente notificado da sua presença. 
Quanto ao Cerrado brasileiro, M. sojae ainda não tinha sido relatada, sendo considerada por algumas Instituições até pouco tempo atrás, como uma praga não disseminada no país. Mas infelizmente esta afirmação não procedia e, para surpresa de muitos, foi encontrada neste ano em diversas áreas do Cerrado Goiano. A primeira constatação de M. sojae no Cerrado brasileiro foi verificada pela equipe do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (Lab-MIP) da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG), no final de abril de 2018, no município de Silvania, Goiás (Latitude: -16o 26’ 6.33’’, Longitude: -48o 50’4.22’’), em uma área de 223 hectares com soja voluntária (tiguera) em fase reprodutiva com uma infestação de aproximadamente 100% de plantas com danos e presença de larvas e pupas da mosca-da-haste. Cortes longitudinais das plantas atacadas ajudaram a verificar a presença de larvas e pupas, misturadas a tecidos apodrecidos do caule de consistência mole e coloração marrom avermelhado. Continue lendo...

Cecilia Czepak 
Pablo C. Gontijo 
Matheus Le Senechal Nunes
 Lucas C. G. Silva 
Tiago R. Moraes 
Jordana R. S. de Morais 
Anna Lydhia S. Santos 
Aurelio A. Silva1 
Escola de Agronomia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia/GO
Bruno de M. Ribeiro 
Afonso B. Lima 
Luis Henrique Kazuya 
Kasuya Inteligência Agronômica, Luiz Eduardo/BA
Júlio C. de Souza
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, Centro Tecnológico do Sul de Minas Gerais, Lavras/MG



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