Mudas com mais qualidade

A produção de materiais propagativos de alto padrão fitossanitário é um dos principais desafios enfrentados pela cadeia produtiva da batata no Brasil. Nesse contexto, a multiplicação de plantas pré-b

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

No Brasil, a cultura da batata apresenta relevante importância, especialmente nas Regiões Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e Sudeste (São Paulo e Minas Gerais) do país em virtude, principalmente, das condições ambientais mais propícias para seu desenvolvimento. Atualmente, possui área plantada em torno de 180 mil hectares e produção ao redor de 2,6 milhões de toneladas.

Apesar dos esforços da pesquisa em lançar cultivares de batata cada vez mais adaptados às condições brasileiras, inúmeras regiões produtoras apresentam baixas produtividades em razão da deficiente qualidade dos materiais propagativos utilizados para compor as lavouras. Os altos custos e a reduzida disponibilidade de sementes de padrão adequado são fatores que levam o produtor, muitas vezes, a utilizar material propagativo de origem duvidosa e de baixo potencial produtivo. Este fato pode colocar em risco a produtividade e qualidade dos tubérculos produzidos, uma vez que o material propagativo inicial é condição básica para obter-se um bom desempenho da lavoura.

A cultura de meristemas, associada à cultura de tecidos, é a primeira etapa no processo de produção de material pré-básico e consiste na multiplicação de clones livres de doenças, especialmente as causadas por vírus. Embora essa técnica já seja dominada e amplamente utilizada para a cultura da batata, é importante a busca de novos métodos que permitam otimizar o processo de produção de materiais propagativos de alta qualidade.

Baseando-se na capacidade que possuem as várias partes da planta de formar raízes, a utilização de miniestacas de plantas de batata oriundas da micropropagação e recém aclimatizadas, pode, constituir um método bastante eficiente para aumentar a taxa de multiplicação e produzir um grande número de plantas na primeira geração de um programa de produção de semente básica, de maneira prática e econômica. A partir de um único indivíduo sadio, é possível a produção de dezenas de novas plantas, mantendo-se a integridade genética e a qualidade sanitária da muda produzida.

Plantas de batata oriundas da cultura de tecidos são transplantadas para casa de vegetação em bandejas de se- meadura (72 células) com substrato esterilizado e adequado para a sobrevivência e crescimento das plantas. Entre 15 e 30 dias de aclimatização, as plantas apresentam de 8 a 10 folhas e aproximadamente 8 a 10 cm de altura. Com o auxílio de bisturi ou tesoura devidamente esterilizada, corta-se a planta acima do primeiro ou segundo nó basal, ou seja, deixa-se de uma a duas gemas axilares e respectivas folhas para que a planta venha a brotar novamente e, desta forma, originar nova parte aérea, a qual poderá servir de material para novas estacas. Quanto a este aspecto, é importante que depois do corte, a planta matriz seja adubada com solução nutritiva para retomar seu crescimento.

Apesar da cultura de tecidos proporcionar plantas livres de patógenos, no momento da manipulação, é importante que alguns cuidados com a assepsia sejam tomados, a fim de, evitar possíveis contaminações dos materiais. Se uma planta estiver infectada, a manipulação desta poderá contaminar todas as outras em razão do uso dos mesmos utensílios. Assim, para cada planta, é importante que os instrumentos de corte sejam lavados em solução desinfetante.

A partir da parte aérea obtida, são feitas miniestacas de folha e gema única, tomando-se o cuidado de não danificar a gema axilar e, como citado, deixando com a gema uma folha bem vigorosa. Para evitar possíveis problemas de desidratação do material propagativo, recomenda-se que as miniestacas, uma vez cortadas, sejam imediatamente acondicionadas em papel toalha umedecido. Com este procedimento, podem ser obtidas de 8 a 9 miniestacas por planta, com tamanho aproximado de 1,0 a 1,5 cm.

Coletadas as miniestacas, sua extremidade inferior é colocada em contato por três segundos em solução de ácido indolbutírico (AIB) (500 mg.L-1). As estacas são então postas para enraizar em caixas plásticas contendo substrato formado por areia (granulometria média, previamente esterilizada por autoclavagem) ou vermiculita (granulometria fina), sendo que na primeira semana o material vegetativo é mantido em ambiente sob sombrite e irrigado com o auxílio de um borrifador, pelo menos, duas vezes ao dia, procurando-se manter as folhas sempre úmidas, sem excesso, para não inibir o enraizamento. Temperatura ambiente na ordem de 23°C a 25°C é a mais recomendada para a manutenção das estacas até o enraizamento.

Em média, após 20 ou 30 dias nas condições acima citadas, obtêm-se mudas enraizadas. Resultados da pesquisa indicam que os melhores índices de enraizamento são atingidos especialmente quando as miniestacas são coletadas de plantas mais novas, com 15 dias de aclimatização. Com este tipo de material, pode-se alcançar índices superiores a 95% de enraizamento. Vermiculita e areia são os substratos mais indicados para o enraizamento deste tipo de material, desde que as miniestacas sejam coletadas precocemente, de plantas com 15 dias de aclimatização, pois quando são obtidas de plantas mais velhas (30 dias), a porcentagem de enraizamento diminui, podendo baixar para cerca de 60%, dependendo do substrato utilizado. Portanto, com as devidas recomendações, dois aspectos podem ser considerados: a) a confirmação da viabilidade de se usar miniestacas de qualquer parte da planta para o enraizamento; b) resultados superiores são obtidos quando há precocidade na extração das miniestacas, demonstrando que o estado fisiológico da planta matriz parece ser o fator fundamental para facilitar o enraizamento.

É importante salientar que a velocidade e qualidade do enraizamento podem variar com o cultivar e o manejo das estacas. De maneira geral, miniestacas obtidas da porção apical da planta matriz enraízam com mais rapidez e mais eficientemente, formando raízes maiores e em maior quantidade do que aquelas originadas de outras partes da planta. Por isso, miniestacas obtidas desta região da planta podem ser colocadas para enraizar em separado, pois os resultados serão mais rápidos. Isso deve-se ao fato de que a extremidade dos ramos é um dos principais centros de síntese de auxina nas plantas, ou seja, é mais propensa ao enraizamento. Portanto, espera-se que as porções vegetativas mais apicais da planta apresentem melhores resultados. Além disso, porções mais apicais são constituídas de tecidos mais jovens do que os da base da planta, fato que, em geral, pode proporcionar melhores resultados visto que para os materiais que não recebem tratamento com AIB, tal comportamento é verificado.

A multiplicação vegetativa de mudas de batata oriundas da cultura de tecidos por meio de miniestacas, apresenta-se como importante alternativa para aumentar os índices de multiplicação do material produzido in vitro e, conseqüentemente, reduzir os custos desta técnica. A metodologia do trabalho é rápida, de baixo custo e de fácil aplicabilidade. Utilizando miniestacas de gema e folha única, pode-se obter um rendimento de oito a dez vezes à produção de mudas pré-básicas, levando-se em consideração que cada gema presente na miniestaca originará uma nova planta. Este índice pode ser ainda maior, visto que mais de uma extração pode ser realizada da planta mãe, se nesta for mantida pelo menos uma gema para novo crescimento da planta. Portanto, a técnica pode trazer benefícios diretos aos produtores, pois torna mais acessível a aquisição de material de alta qualidade sanitária, que em função da facilidade de enraizamento poderia ser multiplicado várias vezes, mantendo as características genéticas da planta que lhe deu origem. Além disso, pode constituir uma importante fonte de material propagativo para a multiplicação de tubérculos pré-básicos sob condição hidropônica.

Embrapa Acre

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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