Na ponta do lápis

A análise de custos é uma importante ferramenta de gestão da propriedade, quando será possível identificar pontos de estrangulamento para melhorar o desempenho da empresa rural.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Muitas vezes precisamos afastar-nos da paixão que sentimos por nosso ofício para podermos avaliar a realidade que nos cerca da forma mais clara e imparcial possível, não significando isto que devamos abandonar nossa vocação natural, mas significando, sim, a possibilidade de que, através do conhecimento dessa realidade, venhamos a encontrar saídas sustentáveis para os nossos problemas.

Tem sido comum ouvir produtores rurais dizerem que preferem não fazer "as contas", para não terem que abandonar seus negócios. Grande engano, pois na verdade não serão as contas que farão com que alguém abandone sua realidade, mas, sim, o próprio tempo, cada vez mais cruel à medida em que os anos de "cegueira" forem avançando.

Hoje, somente tamanho não é documento; sentimos no bolso que mais importante do que produzir o máximo possível é produzir com o maior lucro possível.

Pensando nisto, já demonstramos ser competentes no que tange à capacidade de produzir mais alimentos, com maior tecnologia e melhor qualidade. Agora chegou a hora de mostrar que também conseguiremos nos adaptar mais uma vez e passar a ser também competentes na administração de nossas empresas, tornando-nos não só os maiores produtores do mundo, mas os melhores produtores deste planeta. Para isto, devemos ter em mente que as tão assustadoras contas devem servir de ferramenta de gestão e não de sentença de morte, como algo inapelável ou mesmo irrevogável.

Assim sendo, antes mesmo de iniciarmos nossa conversa, é importante discutirmos sobre um aspecto básico para a gestão de empresas urbanas ou rurais: a função de uma empresa no sistema econômico.

Como é de conhecimento geral, vivemos em um sistema capitalista, tecnicamente conhecido como economia de mercado, onde nossas empresas devem responder com alguns resultados mínimos esperados para esta realidade, dentre os quais se destaca principalmente a remuneração em separado para trabalho e capital. Isso mesmo, um proprietário rural que administre seu próprio negócio deve receber por dois lados, como trabalhador e como empresário investidor.

No Quadro 1, é possível verificar como ocorre o fluxo financeiro no sistema capitalista, em que existe remuneração, como dito anteriormente, para trabalho (salário) e para capital investido (dividendos e juros). Dessa forma, o empresário rural pode separar perfeitamente o que deve ser aferido da empresa como relativo ao seu trabalho de administrador do próprio negócio e o que deve ser aferido como dividendo pelo seu capital investido no negócio (patrimônio e despesas operacionais).

Cuidados como esses podem garantir a sobrevivência e/ou o próprio sucesso de uma empresa rural nos dias de hoje, já que, atualmente, a simples propriedade da terra não confere ao produtor rural a garantia tão necessária para a referida sobrevivência, nem tampouco para seu destaque na sociedade, como no passado.

No papel parece fácil, mas os produtores rurais sabem que, no caminho dessa adaptação, existe uma primeira grande pedra, relacionada diretamente ao acesso a conceitos modernos da administração e à compreensão deles por parte dos produtores e, principalmente, à adaptação desses conceitos dentro das propriedades rurais. Não nos cabe aqui discutir as razões para esse fato, cabendo-nos, sim, quebrar esse paradigma histórico, pois não existe conceito administrativo-econômico que, bem explicado, através de termos adequados e de uma boa exemplificação, não possa ser entendido por um produtor rural.

Após entendermos a função de nossas empresas, fica mais fácil entendermos de onde surgem os custos de produção de nossas propriedades. Nesse sentido, cabe salientar que estes muitas vezes são nossos grandes inimigos, já que, em grande parte das situações, as alterações nos valores de venda de nossas produções são quase impossíveis, ainda mais em uma economia globalizada como a que vivemos agora.

As maiores dificuldades iniciais estão relacionadas à formação do plano de contas, etapa em que são listadas todas as despesas que a empresa rural pode ter durante o ano, e ao levantamento do inventário desta mesma, formulário onde deverá ser descrito o patrimônio com suas respectivas características (ano, idade, valor novo, valor atual, vida útil remanescente etc). Cabe salientar que esta etapa somente é difícil na primeira vez que é feita, pois nos anos seguintes são necessárias somente atualizações dos dados.

Portanto, após esses dois levantamentos, é possível dar início às contas necessárias para o cálculo dos custos de produção e, posteriormente, para a análise financeira da empresa, identificando principalmente quais são os indicadores que mais contribuem para os números obtidos.

Para isto, é necessário conhecer os componentes do custo de produção, formado pelos quatro principais tipos de custos, conforme apresentado na Tabela 1 (

).

É através desses quatro tipos que realizaremos um bom estudo do custo de produção e poderemos dar início a uma boa análise de resultados. Nesse sentido, deve-se compreender que o custo operacional fixo é todo aquele relacionado ao uso operacional do patrimônio, ou seja, tudo que se relaciona a este e se deve ao fato de sermos produtores rurais, ou seja, consiste basicamente na depreciação do patrimônio.

Já o custo operacional variável é todo aquele que está relacionado à operação "ser agro-pecuarista" e se diferencia dos fixos por estar relacionado diretamente a todos os valores gastos com custeio da produção, portanto, com itens de duração (vida útil) inferior ou igual a uma safra (ciclo de produção). Ressalta-se que neste grupo de contas deve estar incluída a já citada remuneração pelo trabalho do maioria dos casos, as receitas de propriedades com características semelhantes a esta são inferiores aos custos apresentados, entretanto salienta-se mais uma vez que estes resultados devem ser usados como ferramentas de gestão, portanto devem ser analisados de forma a mostrar ao empresário quais os pontos de estrangulamento a serem trabalhados no sentido de reduzir seus impactos negativos e sobre os quais devemos ressaltar as vantagens ainda passíveis de exploração.

Para isto deve o produtor procurar capacitar-se, desenvolvendo ou mesmo aperfeiçoando sua capacidade de interpretação de resultados como estes. Neste sentido, sugere-se ao empresário freqüentar cursos de capacitação em gestão, como os oferecidos pelo Senar, através dos sindicatos rurais e de trabalhadores rurais conveniados. Dessa forma, o produtor rural estará preparando-se para ser cada vez mais competitivo no mundo do agribusiness.

Eduardo Condorelli

Senar

* Confira este artigo, com fotos e tabelas, em formato PDF. Basta clicar no link abaixo:

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