O mapa do citros no RS

Embalado pela liderança brasileira no ranking mundial da produção de suco concentrado de laranja, o Rio Grande do Sul realiza mapeamento climático identificando as melhores regiões para expansão da citricultura no

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

O que e onde plantar são pontos decisivos no processo de produção agrícola. O ideal é escolher uma cultura rentável e realizar o plantio em região com condições climáticas que potencializem a produtividade e a qualidade da cultivar escolhida.

Embora existam centenas de opções viáveis, a cultura dos citros foi escolhida para a presente discussão por se tratar de um dos agronegócios de maior importância econômica e social. O Brasil é o maior produtor mundial de suco concentrado de laranja, chegando a dominar 80% do mercado internacional. Mesmo assim, ainda existe mercado para a produção de laranjas para suco e, principalmente, de frutas cítricas para consumo in natura. Nesse sentido, a produção de citros de mesa sem sementes, principalmente de laranjas de umbigo e de tangerinas, fora da época tradicional, tem se mostrado uma alternativa viável para os agricultores, já que o aumento no consumo de frutas é uma tendência mundial.

Nas últimas décadas, diversos estudos sobre o zoneamento agroclimático dos citros têm sido realizados em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Recentemente, foram iniciados na Bahia e no Sergipe. A cada dia que passa, novos dados climáticos são coletados nas estações meteorológicas, as quais têm aumentado em quantidade e em qualidade os dados gerados. Esse avanço, permite estabelecer zoneamentos agroclimáticos cada vez mais precisos.

Em razão da perspectiva de expansão da citricultura no Rio Grande do Sul, onde as indústrias compram até 50% dos frutos para processamento de outros Estados e as condições subtropicais favorecem a produção de citros de alta qualidade, foi realizado um novo zoneamento agroclimático para as culturas da laranja e da tangerina, com informações mais precisas do que o realizado em 1994, sob a coordenação do pesquisador Marcos Wrege, os pesquisadores Flávio Herter, Sílvio Steinmetz, Carlos Reisser Júnior e Roberto Pedroso de Oliveira, da Embrapa Clima Temperado, Ronaldo Matzenauer e Jaime Maluf, da Fepagro, e Paulo Lipp João, da Emater (RS). O estudo foi feito com base nas variáveis risco de geada e soma térmica, não sendo considerados os microclimas e a aptidão em relação aos tipos de solo.

No estudo, o Estado foi dividido em seis regiões quanto ao potencial para a citricultura. A região 1, correspondente às imediações do Vale do Rio Uruguai, foi considerada apta para todas as cultivares copa sobre qualquer porta-enxerto. O risco de geada menor do que 30% possibilita a utilização de porta-enxertos mais vigorosos, como a laranja “Caipira”, limão “Cravo”, limão “Volkameriano”, tangerina “Cleópatra” e tangerina “Sunki”, os quais não apresentam paralisação do crescimento durante as estações mais frias. A maior soma térmica, 2500 a 2900 graus-dia, proporciona maior desenvolvimento das plantas, o que inclusive viabiliza plantios de citros destinados à indústria com as cultivares de laranja “Valência”, “Hamlin”, “Natal”, “Franck”, “Seleta” e ”Westin”.

A região 2, correspondente às imediações da Depressão Central, é apta ao cultivo de todas as cultivares copa, porém utilizando, preferencialmente, porta-enxertos tolerantes ao frio, como o “Trifoliata”, citrumelo “Swingle” e os citranges “Carrizo” e “Troyer”.

A região 3, refere-se à fronteira Oeste, excetuando-se o Vale do Rio Uruguai, apresenta soma térmica idêntica à da região 1 e maior do que a da região 2, porém o risco de geada é maior (30% a 35%). Para esta região, recomenda-se o uso de qualquer cultivar copa recomendada para o Estado, porém, necessariamente, sobre porta-enxertos tolerantes ao frio.

A região 4, relacionada às imediações da região Central do Estado, apresenta soma térmica idêntica à da região 2, porém há risco de geada bem maior (35% a 45%). Por isso, a obrigatoriedade do uso de porta-enxertos tolerantes ao frio.

A região 5, correspondente à região Sul e ao Planalto Médio, apresenta soma térmica inferior (1800 a 2000 graus-dia) e maior risco de geada (40 a 50%) do que as regiões 1, 2, 3 e 4. Por isso, recomenda-se somente a utilização de cultivares de ciclo precoce, as quais são colhidas antes do mês de julho, tais como as laranjas “Navelina”, “Hamlin”, “Do Céu” e “Piralima”, e as tangerinas “Ponkan”, “Okitsu” e ”Marisol”.

Por fim, a região 6, correspondente à boa parte da Serra do Nordeste (Serra Gaúcha) e parte da Serra do Sudeste, apresenta insuficiência térmica (< 1800 graus-dia) e elevado risco de geada (> 50%), não sendo recomendada para o plantio comercial de laranjas e de tangerinas.

Os resultados apresentados demonstram a imensa potencialidade do Rio Grande do Sul para a atividade citrícola, que pode ser realizada na maior parte do território. Esses dados são importantes para o planejamento da produção, orientando investimentos privados e governamentais no sentido de proporcionar a produção de frutas de qualidade, com geração de empregos e renda.

Estudos similares estão sendo realizados por pesquisadores de diferentes Estados com citros e outras culturas, buscando-se, sempre, uma melhor orientação aos agricultores.

Como estamos discutindo onde plantar, é importante uma breve apresentação sobre a origem e a distribuição dos citros no mundo. As diferentes espécies que compõem o gênero Citrus são originárias das florestas úmidas do Sul da China, Conchinchina e arquipélago Malaio. Os principais plantios comerciais localizam-se nos países que margeiam o Mediterrâneo, como Espanha, Itália e Marrocos; em outros países que possuem regiões com clima semelhante, como os Estados Unidos, África do Sul e Austrália; e no Brasil.

A maior parte da produção Brasileira provém do Estado de São Paulo, sendo, também, expressiva em Minas Gerais, Sergipe, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. Isto ocorre em função de as espécies de citros apresentarem uma grande adaptação a diferentes condições de clima e de solo. Porém, a ocorrência de geadas, encharcamento do solo, deficiência hídrica, ventos fortes, temperaturas elevadas, insuficiência térmica, dentre outros fatores podem comprometer o cultivo do citros, havendo a necessidade do estabelecimento das melhores regiões para a cultura. Por isso, a necessidade da realização do zoneamento agroclimático, o que responderá a dúvida “onde plantar” e viabilizará políticas voltadas ao desenvolvimento das potencialidades agrícolas do País.

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Embrapa Clima Temperado

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