Pastagem de baixo custo

A técnica do diferimento de pastagens tem baixa necessidade de investimentos e permite evitar a perda de peso dos animais no período de seca.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A estacionalidade na produção forrageira é um fenômeno observado em maior ou menor escala em todo o Brasil. Ela é decorrente de alterações nas condições climáticas e causa uma variação acentuada de ganho de peso sobre os animais e um conseqüente atraso da idade de abate. Em sistemas onde não se contorna este fenômeno, observa-se que a lotação das pastagens sofre redução, já que a oferta de forragem é restrita.

O diferimento de pastagens implica em submeter a planta forrageira a um longo período de crescimento como alternativa para contornar o efeito da estacionalidade, podendo assim aumentar a taxa de lotação animal na propriedade dentro dos limites impostos por este método de pastejo. Esta técnica é de grau de intensificação intermediário, e pode trazer retorno econômico para a propriedade, mas que requer especial atenção do pecuarista em sua adoção. Isso se deve ao longo período de rebrota a qual a planta forrageira é submetida, o que permite um maior acúmulo de forragem, porém determina a redução de matéria seca verde, com baixas proporções de folhas na pastagem, além de apresentar baixo valor alimentar, traduzido pelo menor potencial de ingestão da forragem, digestibilidade baixa e baixos teores de proteína e minerais.

A queda na digestibilidade pode ser explicada pelo progressivo incremento na relação entre parede celular/componente celular e no grau de lignificação da parede celular, associado a uma redução na relação haste/folha. A oscilação da digestibilidade em gramíneas tropicais varia de 60 a 70% em pastagens imaturas e até 45 a 55% em forragens maduras, submetidas a um longo período de crescimento.

Em relação à proteína bruta, quando jovens, as plantas forrageiras apresentam valores entre 10 e 15%, enquanto em estádios avançados de maturidade esta faixa vai de 4 a 5%. O mesmo ocorre com relação aos minerais, que têm sua concentração diminuída no tecido da planta enquanto esta amadurece.

O sucesso da técnica de diferimento está na elevada disponibilidade de forragem, que permite ao animal selecionar partes mais nutritivas do pasto, resultando em níveis mais elevados de desempenho. Com isso, no início do uso dos pastos diferidos (primeiros 60 a 90 dias da ocupação), os animais são capazes de manter seu peso e até mesmo ganhar 100 a 300 g/cab por dia. Isto ocorre com o emprego de taxa de lotação inferior a 1,2 a 1,5 UA/ha, desde que assegurada baixa pressão de pastejo ou alta disponibilidade de forragem. Entretanto, a seletividade decresce com o decorrer do tempo e os componentes de menor valor nutricional passam a ser consumidos, tornando mais crítico o uso estratégico de suplementação concentrada. Ressalta-se que a presença de, no mínimo, 2,5 a 3 t/ha de matéria seca para uma taxa de lotação de aproximadamente 1 a 1,5 UA/ha é condição necessária para o uso da suplementação em pastejo diferido.

Os nutrientes da forragem e do suplemento a serem utilizados devem operar de forma aditiva, sendo desejável que o uso do suplemento maximize a ingestão de nutrientes da forragem, por exemplo, através do aumento no consumo da matéria seca ou na digestibilidade da forragem consumida. Isto é possível com a utilização de suplementos protéicos.

Outra maneira de obter retorno com o pastejo diferido é a escolha da espécie forrageira a ser utilizada. Busca-se uma melhor associação entre produção de forragem e valor nutritivo da planta. Deste modo, espécies prostradas como as Brachiarias e Cynodons, que possuem menor relação haste/folha, com hastes menos espessas e volumosas, são preferidas em relação a espécies cespitosas e eretas como Mombaça e Tanzânia. Estas características conferem perda menos acentuada do valor nutritivo. Mesmo as plantas prostradas tendo menor potencial de produção de forragem que as eretas e cespitosas, a sua massa de forragem acumulada é suficiente para atender aos objetivos do pastejo diferido. Isto não quer dizer que plantas de hábito ereto ou cespitoso não possam ser utilizadas no diferimento, mas significa que, se houver a opção, as prostradas devem ser preferidas.

Uma das maiores dúvidas com relação ao pastejo diferido é a época de vedação do pasto. Observa-se que temperaturas mínimas inferiores a 15oC restringem o crescimento de gramíneas tropicais. Desta forma, a vedação deveria considerar um período de crescimento prévio da planta sem esta limitação climática. Por outro lado, não existe um valor mínimo para precipitação, pois o tipo de solo, cobertura, manejo da pastagem etc., influenciam na capacidade de retenção de água no solo. Porém, a falta d’água determina a redução ou paralisação do crescimento da planta. Levando-se em conta estes fatores, e também a espécie forrageira empregada, pode-se chegar a uma época de vedação ideal para cada situação. Como exemplo, pode-se citar a recomendação de vedação para o Brasil Central.

A vedação prematura, feita em dezembro/janeiro, não é recomendável devido à senescência da planta. Além deste fator, o longo período de rebrota a que este pasto é submetido e as altas temperaturas deste período causam a redução do seu valor nutritivo. Pastagens diferidas em fevereiro contam com condições climáticas mais favoráveis ao crescimento em comparação ao período de outono, e poderiam ser utilizadas após intervalo de vedação de 3 a 4 meses. Adiar o período de utilização traria prejuízos à qualidade da forragem. Por outro lado, pastos vedados em março contam com grande parte de seu crescimento ocorrendo sob condições climáticas menos favoráveis, exigindo maior período de tempo para produzir quantidade satisfatória de matéria seca, ou seja, 5 a 6 meses de vedação. Apesar disso, o valor nutricional da forragem vedada em março diminui mais lentamente quando comparado à vedação em fevereiro, devido a taxa de crescimento mais reduzida da planta forrageira e também em conseqüência de condições climáticas menos prejudiciais à qualidade da forragem. A vedação de pastos depois de março não produz massa de forragem suficiente para a prática do diferimento.

Deve-se observar que o efeito do período de tempo em que o pasto permanece vedado sobre a redução do valor nutritivo da forrageira é muito mais evidente do que o efeito da época do ano onde grande parte do crescimento acontece.

A vedação, preferencialmente, deve ser feita em pastagens bem formadas e produtivas, como é o caso de pastos formados em áreas férteis ou recém recuperados. Nestas condições, recomenda-se a aplicação de 40 a 60 kg de nitrogênio, de preferência, na forma de nitrato de amônia, aplicado em cobertura, na data da vedação do pasto.

No Brasil Central, com o uso de estação de monta ou não, há uma concentração de nascimentos de bezerros entre os meses de novembro e janeiro decorrente da estação chuvosa iniciada em setembro do ano anterior. Com isso os animais são desmamados entre maio e julho, em pleno declínio da qualidade e quantidade de forragem.

Nessa época do ano (inverno), os animais desmamados é a categoria de maior exigência em uma fazenda de gado de corte, uma vez que as vacas estão prenhez e não lactantes. O pastejo diferido, associado ao uso de proteinados para a desmama, irá fazer com que esses não percam peso na seca e, com isso, reduzindo significativamente sua idade de abate. Além disso, a suplementação protéica irá reduzir o custo médio da arroba engordada (Figuras 1 e 3 -

).

Em sistemas onde se programa abate de animais com mais de 2 anos e terminados a pasto, deve-se optar por proteinados de baixo consumo (1 g/kg de peso vivo), esses, se bem formulados, irão promover ganhos adicionais ao suplemento mineral da ordem de 200 g/dia. Ganhos maiores, até 400 g/dia, poderão ser conseguidos com proteinados de alto consumo (3 a 4 g/kg de peso vivo), entretanto, deve se fazer uso dessa técnica quando se programa abate de animais com idade inferior a 2 anos, terminados ou não em confinamento. Nesse caso, é importante que se dê continuidade à suplementação protéica nas águas, caso contrário, o maior ganho no inverno seria perdido nas águas (Figura 2).

Para o planejamento e dimensionamento da área a ser diferida, o primeiro passo a ser dado é a projeção da quantidade de animais que deverá ser alimentada em cada período do ano e da exigência de cada categoria animal. Após este levantamento, deve-se saber qual o potencial de produção e utilização das pastagens, em diferentes manejos e épocas do ano. A seguir, é possível programar a produção e o planejamento nutricional do sistema de produção.

O diferimento de pastagens é uma técnica de baixa necessidade de investimento. Em sistemas de produção em que a taxa de lotação é de até 1,5UA/ha, o diferimento é a alternativa mais rentável. Acima deste valor, o confinamento seria mais viável.

Marco Antonio Alvares Balsalobre e Mirella Colombo

Bellman Nutrição Animal Ltda.

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