Qualidade comprometida

As perdas qualitativas, embora sejam menos perceptíveis, são muito importantes, pois comprometem a estrutura física do grão de arroz colhido e depreciam o produto final.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

As perdas na colheita de arroz podem ser classificadas como quantitativas e qualitativas. Quantitativas são aquelas em que podemos quantificar os grãos perdidos em uma área conhecida, normalmente, em kg/ha. Perdas qualitativas são menos perceptíveis aos operadores, mas possuem grande importância em uma agricultura globalizada, independente de se estar colhendo grãos para consumo ou sementes.

Em se tratando de sementes, as que chegam ao produtor devem possuir alta qualidade em todos os aspectos, sejam eles genéticos, físicos, fisiológicos ou sanitários. Sendo que a qualidade fisiológica depende muito das características genéticas da cultivar, de fatores ambientais, especialmente aqueles que ocorrem na época da maturação até a colheita e manejos operacionais que devem ser corretamente aplicados, como no processo de beneficiamento, secagem e armazenamento.

Os danos mecânicos são geralmente fatores determinantes na qualidade física da semente, que abrange a pureza e a condição do grão. As danificações provocadas por operações mecanizadas na colheita e pós-colheita de grãos afetam negativamente a sua qualidade. Embora o aspecto físico seja o mais evidenciado, prejuízos são observados na qualidade fisiológica e sanitária destes produtos.

Na colheita, as sementes sofrem impactos que podem causar abrasões, cortes, físsuras, esmagamentos e pressões, resultando em uma variável danificação mecânica os quais são apontados por técnicos e produtores, especialmente os da área de sementes, como um grande problema na área da produção. Nas colhedoras, o dano mecânico ocorre principalmente no momento em que se dá a trilha. Essa danificação ocorre essencialmente em conseqüência dos impactos recebidos do cilindro debulhador e no momento em que a massa de grãos e palha passa pelo espaço existente entre o cilindro e o côncavo. Quanto mais rápida for a rotação do cilindro da colhedora, tanto melhor tende a ser a debulha dos grãos, porém maior será o dano mecânico.

Entre os fatores que causam maior ou menor danificação mecânica podemos citar a direção do fluxo do material colhido em relação ao eixo do cilindro trilhador, onde nas colhedoras de fluxo axial a massa de grãos e a palha fluem no mesmo sentido em que esta posicionado o cilindro, quando comparados com as colhedoras de fluxo radial, em que a massa de grãos e a palha fluem em sentido perpendicular ao giro do cilindro, tendem a danificar menos, principalmente em grãos sensíveis, como por exemplo, o caso da soja.

A rotação do cilindro é um fator determinante quando se quer obter um produto de boa qualidade. Por isso ela deve ser regulada seguindo o manual de instruções da máquina e as normas técnicas da cultura que está sendo colhida. O preparo técnico e o bom senso do operador também são fundamentais para aumentar a qualidade do grão colhido. Durante o dia, operando em uma área uniforme normalmente é necessário realizar várias regulagens da rotação principalmente em função da variação da umidade ao longo do dia. Quando se trata de lavouras com áreas desuniformes, como por exemplo com a presença de ervas daninhas, é necessário uma regulagem específica para cada situação.

A abertura do côncavo, que consiste no espaço existente entre o cilindro e o côncavo por onde passa toda a massa a ser trilhada deve ser cuidadosamente regulada de acordo com a umidade e com o volume de produto que está passando. Esse volume depende da velocidade de deslocamento da colhedora e do porte da cultura, se a lavoura está limpa ou possui muitas plantas daninhas e se essas plantas, bem como a palha da própria cultura, estão secas ou verdes. Quanto mais difícil for a operação de trilha menor deve ser a abertura do côncavo para que a mesma ocorra sem perdas quantitativas, porém deve sempre ser realizada uma avaliação constante do nível de danificação dos grãos colhidos.

O grau de umidade do grão é um fator determinante para que se possa realizar uma colheita sem perdas quantitativas e qualitativas. Cada cultura possuí um índice ótimo e uma faixa aceitável para que seja possível realizar com sucesso a colheita mecanizada. Por questões econômicas, como por exemplo a quantidade de máquinas que seriam necessárias para colher toda a área dentro do ponto ótimo, então usamos uma faixa ótima que possui uma amplitude maior. Mesmo colhendo dentro da faixa ótima é necessário considerar que a variação da umidade dos grãos ocorre durante o dia e entre os dias, ou seja, normalmente em um mesmo dia ao iniciarmos a colheita pela manhã, os grãos estarão mais úmidos que às duas horas da tarde e no final da tarde começa novamente a haver uma elevação da umidade, tanto do grão como da palha. Torna-se importante essa avaliação para que possa ser realizada uma correta regulagem da rotação do cilindro e da abertura do côncavo, pois grãos muito úmidos são facilmente amassados e grãos muito secos quebram com facilidade. Também as condições de trabalho dos operadores é um fator importante, pois é por ele que passa todo o processo de colheita.

Muitos outros fatores também contribuem para colher com qualidade como a manutenção correta das máquinas, dimensionamento do número de colhedoras, plantio de variedades recomendadas, plantio na época e com densidades corretas do número de plantas por hectare, adubação, controle de plantas daninhas, doenças e pragas seguindo as recomendações oficiais da pesquisa.

Grãos e sementes com qualquer tipo de dano estão mais sujeitos à deterioração durante o armazenamento. Além da danificação mecânica ocasionar facilidade na deterioração devido à alteração no sistema protetor, constitui-se também em uma porta de entrada a microorganismos, sendo que esses aceleram o processo de deterioração.

Colher um produto sem impurezas apresenta diversas vantagens como a melhora no fluxo no beneficiamento dando maior vazão em todas as máquinas e equipamentos aumentando portanto a capacidade de recebimento e beneficiamento de produto que está chegando da lavoura. Esse é um ítem importantíssimo, pois em todos os sistemas de produção é consenso que o beneficiamento, especialmente a pré-limpeza e a secagem, são os “gargalos” da capacidade de recebimento de produtos na unidade de beneficiamento.

As impurezas são compostas por partes das plantas presentes na lavoura e sementes de plantas daninhas e normalmente possuem um alto teor de umidade que quando permanecem junto aos grãos colhidos aumentam o teor de umidade destes reduzindo o período que esses podem ficar à espera do processo de limpeza até ir para o secador, pois o alto teor de umidade provoca um aquecimento da massa de grãos, acelerando o processo de perda de qualidade e se o destino for a produção de sementes o cuidado com a qualidade deve ser ainda maior para que não ocorra a perda de vigor e até mesmo a morte das sementes.

Quando o objetivo é a produção de sementes, a presença de impurezas, especialmente sementes de plantas daninhas é indesejável, pois pode provocar a condenação do lote se o número ultrapassar àqueles previstos pelas regras de análise, pois essas sementes irão contaminar novas áreas.

As impurezas encarecem o transporte especialmente se esse for realizado a grandes distâncias, pois ao invés de se estar transportando os grãos que desejamos estaremos transportando impurezas que não nos interessam.

Procurando avaliar a qualidade das sementes de arroz irrigado diante dos sistemas de trilha axial e radial e com sistema de limpeza com colhedoras dotadas de saca-palhas e por separação centrífuga desenvolveu-se o presente trabalho, utilizando a cultivar “El Paso L 144” no município de Santa Vitória do Palmar- RS.

Os ensaios levaram à conclusão de que todas as colhedoras reduziram a qualidade fisiológica das sementes quando se aumentou a rotação a partir de 600 rpm. As colhedoras de fluxo axial e providas com sistema de separação centrífuga proporcionam uma maior pureza física dos grãos de arroz. A diferença foi aproximadamente 1,4% a menos de impureza nas máquinas com fluxo axial.

O mesmo estudo provou que a velocidade de operação de uma combinada automotriz, recomendada pelos fabricantes e executada pelos operadores para as condições de lavoura e variedades em que o estudo se desenvolveu é a que causa menos quebras e perdas na semente de arroz.

CAVG

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