​Quando realizar adubação no mamoeiro

Bastante exigente em potássio, o mamoeiro necessita desse nutriente em quantidade adequada, principalmente nos estágios de florescimento e frutificação

24.06.2016 | 20:59 (UTC -3)

O mamoeiro é uma planta exigente em potássio durante os meses de seu primeiro ano. A exigência pelo nutriente só é menor que pelo nitrogênio e um pouco maior que por cálcio, formando os três pilares necessários em quantidade ao mamoeiro na formação inicial (Cunha & Haag, 1980).

O potássio possui grande importância nos estágios de florescimento e frutificação do mamoeiro, pois é responsável por proporcionar frutos maiores, com teores mais elevados de açúcares e sólidos solúveis totais, uma melhor qualidade dos frutos (Embrapa, 2004). Sua adubação junto com o nitrogênio é de grande importância. Caso adube com uma relação alta de N/K2O os frutos podem apresentar casca fina, frutos moles, sabor alterado, crescimento excessivo da planta e frutos muito distanciados, sendo aconselhada uma relação próxima a 1, já que neste caso os frutos se apresentam doces e com polpa mais consistente (Embrapa, 2004).

Quando se estuda a qualidade dos frutos adotam-se alguns parâmetros. Para qualificá-los é possível citar atributos físicos (peso, firmeza etc), como químicos (sólidos solúveis totais, pH e acidez, dentre outros), todavia, algumas dessas características podem ser influenciadas por situações adversas à cultura, condições edafoclimáticas, tratos culturais, manuseio de colheita e outras atividades relacionadas com o fruto (Fagundes e Yamanishi, 2001).

As características físicas dos frutos referem-se à aparência externa do fruto, ao tamanho, forma e cor da casca, já as características físico-químicas estão relacionadas ao sabor, ao cheiro, à textura e ao valor nutritivo. Esses elementos constituem atributos à qualidade, à comercialização e à utilização da polpa para industrialização e elaboração de produtos industrializados (Oliveira et al, 1999).

O experimento

Para avaliar se existe efeito positivo na adubação potássica complementar, aplicada via fertirrigação, sobre características de qualidade dos frutos de mamoeiro um experimento foi conduzido em fazenda localizada no Tabuleiro de Russas, situado no município de Russas, Ceará, em uma área de 0,2 hectare. O solo da área experimental possui relevo plano e baixo teor de matéria orgânica e K, sendo classificado como NeossoloQuartzarênico.

O preparo da área experimental foi semelhante ao de áreas de produção comercial, sendo a adubação feita em sulco, onde foi adicionado esterco humificado (15t/ha), e superfosfato simples (1t/ha). Após o fechamento do sulco foram levantados camalhões de 0,4m de altura e 1m de largura, e no centro transplantadas as mudas de mamoeiro em grupos de quatro plantas por metro linear, para futura seleção de plantas hermafroditas.

Utilizaram-se mudas de mamoeiro, cultivar Tainung 01, de 30 dias de idade, produzidas em bandejas de poliestireno expandido com 128 células. O sistema de plantio empregado foi em fileira dupla, com espaçamento de 3,5m entre as fileiras duplas, 2,5m entre as fileiras simples e 2,4m entre plantas. Após 72 dias de transplantio, quando as flores estão definidas, realizou-se desbaste, deixando-se apenas uma entre as quatro plantas transplantadas por metro linear. Após o desbaste houve aplicação de adubação foliar com micronutrientes.

Utilizou-se um sistema de irrigação formado por duas fitas com gotejadores de 1,5L/h de vazão e espaçados. As irrigações foram realizadas diariamente sempre no período de 3 horas, à tarde, distribuídas em 18 pulsos com dez minutos de duração.

O experimento consistiu-se em dez tratamentos, sendo divididos da seguinte forma: 1 - controle, sem complemento de potássio ao da fertirrigação; 2, 3 e 4 - 30, 60 e 90g de K2O/planta, respectivamente na fundação; 5, 6 e 7 - 60g de K2O/planta, na fundação mais 60, 120 e 240g de K2O/planta em cobertura, respectivamente, fracionados em duas parcelas iguais a cada 180 dias e os tratamentos 8, 9 e 10 - 60g de K2O/planta, na fundação mais 60, 120 e 240g de K2O/planta, respectivamente em cobertura, fracionada em quatro parcelas iguais a cada 90 dias.

A fonte de potássio utilizada foi o cloreto de potássio. As características físico-químicas avaliadas nos frutos foram: firmeza do fruto, peso e rendimento de polpa do fruto e sólidos solúveis (ºBrix).

Os dados coletados foram submetidos à análise de variância seguindo modelo inteiramente casualizado. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey e realizada análise de regressão, utilizando-se o software Excel 2010.

Não houve diferença estatística para nenhuma das características avaliadas (firmeza do fruto, peso e rendimento de polpa do fruto e sólidos solúveis).

A firmeza dos frutos, apesar de não diferir estatisticamente, apresentou maiores valores de firmeza nos tratamentos (6, 7, 8, 9 e 10), variando entre 10,11 e 12,93kg/cm-3, sendo o tratamento com maior dose de adubação correspondendo à maior firmeza, tratamento 10. Todavia, valores muito altos de firmeza não são interessantes, já que segundo Souza (1998) dificultam o manuseio do fruto no comércio.

O peso dos frutos seguiu o mesmo comportamento da firmeza, com valores variando entre 1,21kg e 1,40kg. Esta característica é bastante importante para o mercado de frutas frescas, já que frutos mais pesados são mais atrativos para o consumidor. Entretanto, em frutos destinados para sulcos, polpa, os parâmetros relacionados ao teor de sólidos solúveis totais são mais relevantes (Souza, 2007).

O rendimento de polpa do fruto variou entre 0,274kg e 0,477kg, não havendo correspondência aos tratamentos dos frutos de maior peso. A legislação brasileira do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) define polpa de fruta como o produto não fermentado, não concentrado, não diluído, obtido pelo esmagamento de frutos polposos, através de um processo tecnológico adequado, com teor mínimo de sólidos totais provenientes da parte comestível do fruto, específico para cada um (Brasil, 2001). Frutos com rendimento de polpa alto podem ser bem aceitos no comércio de polpa congelada, já que o processo de congelamento diminui as perdas e aumenta o aproveitamento total do fruto (Bueno, 2002).

Os sólidos solúveis variaram entre 11,95º Brix e 12,87 ºBrix, evidenciando que a adubação potássica de cobertura pouco influenciou nestas características. Martins et al (2006) apontam que o ºBrix da polpa do mamão gira em torno de 11,5 a 11,6. Nesse raciocínio, Silva et al (2005) informam que frutos com altos teores de sólidos solúveis provavelmente terão um alto rendimento quando utilizados na fabricação de doces e massas.

A adubação complementar com potássio pouco influenciou na qualidade físico-química dos frutos, mostrando que se a planta for adubada corretamente no início, não é necessária adubação complementar para otimizar a produção.


Confira o artigo na edição 84 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas.

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