Reação de cultivares de soja a nematoides das galhas

Cultivo contínuo de variedades com alto fator de reprodução da praga tem agravado os prejuízos, por isso importância do estudo constante do comportamento das cultivares

28.04.2020 | 20:59 (UTC -3)

Nematoides das galhas, Meloidogyne javanica, estão entre os principais fitonematoides presentes no Brasil, capazes de atacar as raízes de soja e causar danos severos à cultura. O cultivo contínuo de variedades com alto fator de reprodução da praga tem agravado os prejuízos. Por isso a importância do estudo constante do comportamento das cultivares em relação a esta espécie.

O cultivo da soja tem se tornado desafiador, devido à elevada diversidade de problemas fitossanitários que incidem na cultura. Se analisado apenas o cenário das doenças, já seria assustador. Neste grupo, podem ser agrupados problemas que ocorrem na semente, nas raízes e na parte aérea das plantas. No tocante aos organismos que podem atacar as raízes da soja, destacam-se os fitonematoides, distribuídos por todas as regiões produtoras do Brasil e capazes de causar danos significativos. Anualmente, a incidência de nematoides tem sido crescente, potencializando problemas de compactação de solo ou mesmo incidência de outros patógenos de solo. Como a sintomatologia pode ser variada, em função da complexidade da interação das espécies de fitonematoides e as diversas cultivares de soja, diversos problemas observados na cultura são, erroneamente, atribuídos a outros fatores, minimizando um problema que na verdade tem dimensões preocupantes.

Esta praga de solo alimenta-se no sistema radicular causando interferência nos processos fisiológicos da planta, comprometendo a absorção e translocação de nutrientes, reduzindo a produtividade. A alimentação destes microrganismos, quando estabelecidos nos estádios iniciais de desenvolvimento das plântulas de variedades de soja suscetíveis e dependendo da densidade populacional presente no solo, pode favorecer a entrada de fungos de solo que infectam as radicelas, comprometendo o desenvolvimento dessas plântulas e o estande inicial.

Em levantamentos realizados pelo Instituto Phytus, Rio Grande do Sul, a partir de 2012/13, tem sido observada a presença do nematoide das galhas (Meloidogyne javanica) em mais de 70% das áreas amostradas (Figura 1), seguido do nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines) e o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus).

Uma das possíveis explicações para a elevada ocorrência de M javanica, quase sempre causando níveis elevados de danos, é o uso contínuo de variedades de soja com alto fator de reprodução. Em decorrência disso, o Instituto Phytus desenvolve estudos para determinar a reação de 20 (vinte) variedades de soja ao nematoide das galhas M. javanica, em casa de vegetação, ano 2014/15 (Tabela 1). Os estudos têm sido conduzidos em vasos com capacidade de 2,8 litros preenchidos com solo e areia (2:1). As variedades de soja foram semeadas e, após a emergência, foi inoculado um total de 5000 ovos e juvenis de Meloidogyne javanica. Após 60 dias da inoculação, todas as variedades de soja foram avaliadas, utilizando o fator de reprodução (FR) determinado pela divisão entre a população final e a população inicial (5000), conforme a metodologia descrita por Oostenbrink (1966), considerando-se resistentes cultivares com FR < 1,00 e suscetíveis com FR > 1,00. (Gráfico 1).

O Fator de Reprodução e/ou multiplicação refere-se à capacidade de reprodução do nematoide M. javanica sobre uma determinada planta hospedeira, neste caso, as cultivares de soja. É importante salientar que estes resultados foram obtidos em condições controladas (população do nematoide 5.000/planta para cada variedade), utilizando a metodologia de fator de reprodução. Foi considerada apenas a capacidade reprodutiva, pois existem outras metodologias de avaliação, que analisam outros aspectos como, por exemplo, os danos visuais causados no hospedeiro. Embora este seja um método limitado, apresenta bons indicativos acerca do comportamento das variedades.

Os resultados obtidos mostraram diferentes níveis de multiplicação entre as cultivares, o que indica escassez de materiais com baixo fator de reprodução a M. javanica. A cada safra há surgimento de inúmeras cultivares de soja, sendo necessário o estudo contínuo da sua reação às espécies de fitonematoides importantes para cada região.

Se for construído um plano anual de manejo, além da reação varietal, a contribuição das diferentes culturas de inverno sobre a densidade populacional de M. javanica passa a ser de grande importância, para a diminuição da população no solo. Neste caso, além de reduzir o impacto dos fitonematoides na produtividade da cultura soja, também seria reduzida uma possível pressão de seleção exercida pelas diversas populações sobre variedades que apresentem mecanismos genéticos ligados à resistência. Como regra, variedades de soja resistentes devem ser ajustadas em programa de manejo, utilizando a rotação/sucessão com culturas não hospedeira.

Os avanços por parte do melhoramento genético para o lançamento de cultivares resistentes, vêm evoluindo. Os mecanismos de resistência que atuam no patossistema nematoide/soja passam por fatores presentes em dois momentos: antes da penetração do organismo, através da liberação de exsudatos radiculares que apresentam características químicas repelentes, ação nematicida. E após a penetração do nematoide, através da ação de elicitores que desencadeiam eventos bioquímicos, impedindo o estabelecimento dos nematoides.

De maneira geral, o produtor deve intercalar a rotação ou sucessão de culturas não hospedeiras, de modo a reduzir a população inicial de uma safra para outra, permitindo o convívio com este organismo e preservando as fontes de resistência.

Gráfico 1 – Fator de reprodução (FR) de M. javanica em cultivares de soja. Itaara/RS, 2014/15.
Gráfico 1 – Fator de reprodução (FR) de M. javanica em cultivares de soja. Itaara/RS, 2014/15.
Ganha na raiz, fêmea de M. javanica, corte perineal e juvenil de 2º estádio.
Ganha na raiz, fêmea de M. javanica, corte perineal e juvenil de 2º estádio.


Paulo Santos, Andrezza Lopez, Gracieli Rebelato e Maiquel Frigo, Instituto Phytus; Pablo Tuzi Serafini e Jacson Zuhl, Universidade Federal de Santa Maria


Artigo publicado na edição 203 da Cultivar Grandes Culturas.

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