Retomada com toda a força

O cenário atual da agricultura brasileira é bastante promissor. Embalado pela crescente busca por combustíveis limpos, os grãos ganharam força no mercado internacional, gerando aumento de demanda e valorizaç&atild

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A agricultura Brasileira conheceu o céu e o inferno nos últimos 5 anos. Tivemos lindos dias de mais de R$ 50 o saco de soja, sob a benção de um Real superdesvalorizado, e a ilusão que poderíamos fazer todos os investimentos e assumir todas as dívidas; e tivemos muitas noites sem dormir quando compramos insumos com dólar bem mais alto que o da hora da venda da produção, a ferrugem e a seca judiaram das lavouras, e se demos conta que não dava nem para pagar o custeio do ano, que dirá as parcelas dos financiamento de investimentos....

Porém, quando a coisa parecia totalmente feia e sem solução, eis que

nova e poderosa luz surge no horizonte, trazendo renovadas esperanças,

e prometendo grande transformações, no setor agrícola Brasileiro:

dessa vez, o que está por trás de tudo são dois grandes problemas

atuais da nossa civilização, e que trarão conseqüências diretas para o

agronegócio brasileiro: 1) a instabilidade política das regiões de

maiores reservas de petróleo do mundo, especialmente Oriente Médio e

Venezuela, e 2) o assustador crescimento do aquecimento global.

Esses

dois aspectos levam a uma inevitável e duradoura aposta, que o mundo

todo está fazendo na utilização cada vez maior de biocombustíveis,

como o álcool da cana no Brasil, etanol de milho nos USA, e biodiesel.

a base de soja, canola, mamona, etc..; Outra área que avança em

paralelo é a dos biomateriais, onde a idéia é produzir a partir do

refino desses biocombustíveis, produtos que hoje são feitos a partir

do refino do petróleo... Lembrem, essas mudanças não se devem somente

ao atual ou futuro preço do petróleo, mas principalmente a necessidade

de usar combustíveis "limpos", ambientalmente mais seguros, que não

contribuam com o aquecimento global. Essa necessidade é irreversível...

É

por conseqüência desses fatos que os preços de milho dispararam no

mercado mundial, puxados pela demanda de milho para álcool nos USA. Na

semana que escrevo essa matéria, o preço de milho em Chicago alcançou o

maior nível dos últimos 10 anos, tendo o USA acabado de colher a sua 2ª

maior safra da história! Já são mais de 100 usinas no centrooeste

americano que deverão consumir ano que vem o equivalente a toda safra

Brasileira de milho! Some-se a isso o contínuo crescimento da população

mundial, notadamente na Ásia, e o crescimento econômicos de países como

China e Índia, que permitem uma parcela cada vez maior dessas

populações se alimentarem de proteína animal, o que em última análise

também aumenta o consumo de milho.

Quando o aumento de preços de

uma commodity vem de um aumento de demanda sustentável, como é o caso

do milho no momento, e não por uma quebra de safra em algum país

importante produtor, esses preços tendem a se manter fortalecidos por

bem mais tempo. Esse quadro está levando os USA a plantar em 2007 área

de milho 10% maior que ano passado, tirando áreas do algodão, trigo e

soja; essa última deve perder de 2,0 a 3,0 milhões de ha. Essa

diminuição da área de soja no USA em 2007, mais a pressão de demanda,

pelo menos psicológica, gerada pelas perspectivas do biodiesel, também

ajudaram a fortalecer os preços de soja em Chicago que se encontram

hoje em patamares bem mais altos que há um ano atrás!

Pelas

mesmas razões expostas acima, a cultura da cana de açúcar tende a

dobrar de área no Brasil nos próximos 10 anos! As usinas, tradicionais

e novas, com capital nacional e estrangeiro, embaladas pelo preço e

perspectivas de demanda de alcool e açúcar, se espalham a todo vapor

pelo Brasil central.Já são quase 100 usinas em construção ou em

planejamento. Regiões como oeste paulista, partes do MS e MT, sudoeste

goiano e partes do triangulo mineiro, alem de algumas áreas do Centro

norte, estão todas na mira das usinas...

O que podemos concluir de tudo isso?

A

primeira conclusão é que a coisa melhorou para a agricultura de grãos,

mas ainda temos alguns riscos próximos no horizonte; notadamente uma

possível maior valorização do Real durante 2007, e os possíveis

"apagões logísticos" localizados. No médio prazo temos 3 grandes

assuntos a resolver: A situação das dívidas pendentes com fundos

públicos e privados; a necessidade urgente de institucionalizarmos um

seguro agrícola amplo e acessível, até para diminuir essa continua

acumulação de dívidas não pagas devido a quebra climáticas; e a

liberação mais acelerada dos transgênicos, notadamente o caso do milho

Bt, pois não faz sentido produtores americanos e argentinos terem

acesso a essa tecnologia a mais de 5 anos e nós ainda sermos obrigados

a gastar mais de R$ 120/ha a cada safra, fazendo 2 ou 3 aplicações de

inseticidas para lagarta do cartucho e ainda termos alguma perda de

produtividade ou qualidade de grão....

Segunda conclusão, deve

aumentar muito a demanda internacional pelo milho brasileiro; veremos

as grandes traders se envolverem cada vez mais com compras e exportação

de milho no Brasil, e isso pode trazer maiores oportunidades de hedge e

fixação de preços, assim como acontece com a soja; isso deve também

criar maior interesse das industrias consumidoras de milho no Brasil de

tentar organizar de vez o mercado de milho local.

A terceira

grande conclusão é que pode estar vir por aí uma grande reorganização

geográfica da agricultura brasileira! Ela será liderada pelo avanço da

cana, cujo retorno econômico é muito maior que as culturas de grãos,

mesmo valorizadas, e envolverá a soja o milho e a pecuária de corte. A

perspectiva é que 5 a 6 milhões de há no Brasil central deva virar cana

nos próximos 10 anos, notadamente áreas hoje ocupadas por lavouras de

grãos e por pastagens. O milho, com o contínuo aumento de

produtividade, e alavancado pelo provável aumento das exportações,

deverá buscar lugar em áreas de altas produtividades do sul do Brasil,

em áreas mais próximas dos portos, nas áreas irrigadas fora de época,

e na safrinha. A soja, que também deverá ceder espaço para cana,

deverá continuar abrindo fronteiras ao norte, desde que fora da bacia

amazonica, entrará em áreas de pastagens não levadas pela cana, e

também terá mais chances de se manter onde a safrinha seja viável. Caso

a soja e o milho não consigam recuperar as áreas que deverão perder

para cana, essa diminuição de área com certeza será mais um reforço

nos preços desses cereais. A pecuária de corte ou vai buscar abrigo em

área mais distantes, mas também que não inclua a bacia amazônica, ou

intensificar ao máximo o manejo para poder se manter em áreas que serão

procuradas para cana e para soja/milho.

Concluímos lembrando a

todos que por mais que as perspectivas sejam positivas, fatos não

previstos podem sempre vir estragar a festa e ainda temos sérios

problemas não resolvidos do passado. Por isso devemos continuar

combinando cada vez mais as praticas avançadas de manejo que visem

maximizar a rentabilidade, com a precaução e conservadorismo nas

análises financeiras na hora de novos investimentos, e trabalhar

sempre com um olho na lavoura e outro no mercado.

Diretor Pioneer América Latina

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