Rotação de culturas: amendoim e cana-de-açúcar

Por Luiz Wanderlei Braga e Marco Antônio Drebes da Cunha, engenheiro agrônomo e desenvolvedor de mercado da Ourofino Agrociência e gerente de Produtos Inseticidas e Fungicidas da Ourofino Agrociência

21.11.2018 | 21:59 (UTC -3)

A cana-de-açúcar está entre as mais importantes riquezas agroindustriais do Brasil e, durante muito tempo, foi a base da economia colonial. Hoje, o país destaca-se em larga escala com a produção de açúcar e etanol, principal biocombustível da frota de veículos. Fatores climáticos e disponibilidade hídrica são os elementos que mais influenciam a produção canavieira e tornam o Brasil o maior produtor mundial - com 660 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Principal atividade agrícola do Estado de São Paulo, a cana-de-açúcar utiliza grandes extensões de terra para o plantio, o que traz como consequência os efeitos agronômicos gerados pela monocultura. Uma solução eficaz para amenizar o problema, e apontada por agrônomos, é a rotação da produção com a lavoura de plantas leguminosas. 

Durante a renovação do canavial, é comum o uso de espécies de plantas conhecidas, como adubos verdes, cujo objetivo é obter uma cobertura superficial para manter ou melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, inclusive, em profundidade. O cultivo de espécies de ciclo curto em áreas de renovação de cana-de-açúcar proporciona ao produtor outra série de vantagens agronômicas, financeiras, políticas e sociais, como economia na reforma do canavial, conservação do solo, devido à manutenção de cobertura numa época de alta precipitação pluvial, controle de plantas daninhas durante o cultivo anual da cana, combate indireto às pragas, aumento da produtividade e da produção de alimentos.

Para a reforma do canavial pode-se optar, dentre as leguminosas, pelo plantio de Crotalaria juncea, soja ou amendoim, sendo que a escolha deve ser feita em função do local a ser utilizado, da declividade da área, da predisposição a pragas de solo e da disponibilidade de máquinas e implementos para fundação da atividade.

Uma das culturas mais interessantes para esse processo é a do amendoim, por apresentar baixa exigência de fertilidade na terra, possuir um sistema radicular bem desenvolvido e boa adaptação a vários tipos de solo e, ainda, contribuir para o aumento da produtividade dos canaviais durante os intervalos de reforma.  Além disso, a prática com o grão tem proporcionado ganhos econômicos importantes, pois contribui para a boa manutenção da terra, equilibrando nutrientes como o nitrogênio, essencial para o desenvolvimento da cana, e para uma considerável recuperação do solo.

Somando-se aos benefícios já citados, esse sistema possibilita vantagens sociais e ganhos econômicos. Dentro da escala social está o aproveitamento do funcionário durante a entressafra, que evita a sazonalidade da renda e do trabalho. Parte da infraestrutura da cana também pode ser aproveitada para o amendoim, otimizando o maquinário.

Cerca de 85% do amendoim cultivado no Brasil encontra-se em São Paulo. Desse montante, boa parte do plantio está concentrado em áreas de renovação de canaviais, além de uma importante parcela para a atualização de pastagens.

Na região de Ribeirão Preto, renovam-se anualmente mais de 40 mil hectares de terra com a plantação de amendoim durante a entressafra da cana-de-açúcar. O processo permite ao produtor uma redução de até 50% nos custos de renovação da cana.

Tratando-se da cultura do amendoim, alguns fatores são considerados relevantes para o sucesso da rotação da cultura com a cana-de-açúcar. Entre os principais está o manejo das doenças foliares, como mancha-castanha, causada pelo fungo Cercospora arachidicola e que ocorre no início do florescimento, e a pinta-preta, ocasionada pelo fungo Cercosporidium personatum e considerada predominantemente a mais severa doença foliar da cultura do amendoim na parte final do florescimento.

As causas que favorecem o desenvolvimento das mancha-castanha e pinta-preta são a temperatura entre 20oC e 26 oC, chuvas periódicas durante o ciclo da cultura e o molhamento das folhas, devido à alta umidade do ar.   

Essas doenças são responsáveis por perdas de até 50% da produtividade e o prejuízo é consequência de uma desfolha precoce. Para o controle efetivo desse cenário, o manejo deve conter princípios ativos como Clorotalonil, fungicida protetor que, quando aplicado de forma sequencial, melhora a eficácia dos fungicidas específicos.


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