Saiba como escolher o rodado duplo de tratores

É necessário levar em conta diversos fatores que irão interferir diretamente na escolha do modelo, garantindo combinação ideal para cada tipo de trator e atividade

08.05.2020 | 20:59 (UTC -3)

Na hora de comprar o rodado duplo para seu trator é necessário levar em conta diversos fatores que irão interferir diretamente na escolha do modelo, garantindo a uma combinação ideal para cada tipo de trator e atividade que irá realizar.

A incorporação de um segundo conjunto de rodado pneumático ao sistema de rodagem dos tratores ou colhedoras agrícola tem se tornado comum recentemente nas empresas agrícolas. Tal prática tem sustentação técnica na melhoria da relação pneu (máquina) – solo, interface dos dois corpos. Ou seja, baseado nos benefícios possíveis às características do solo e na eficiência das operações com conjuntos motomecanizados, partindo-se do pressuposto que as funções primordiais dos rodados são apoio, sustentação e realização de esforço de tração.

Desta forma, com a utilização de um rodado extra por semieixo do trator haverá uma maior área de contato entre a máquina e o solo, representando maior apoio, melhor distribuição da massa do trator, menor pressão exercida sobre solo, assegurando melhor desempenho quanto à tração por apresentar melhor rendimento tratório. No entanto, dependendo do tipo de superfície de trabalho, pressão de insuflagem e diâmetro dos pneus, a eficiência não diferirá muito do trator com rodado simples e, consequentemente, maior disponibilidade de potência na barra de tração. Neste caso, é necessário definir claramente os objetivos do uso de rodado duplo para se verificar a viabilidade econômica, a depender das características das operações a serem realizadas a relação custo/benefício será irrelevante.

A adição do rodado extra está associada ao porte do trator, ou seja, em função da potência do motor e rendimento tratório, com uso principal em tratores de grande porte, com motores acima de 149kw. Mas isso não exclui a configuração dupla em tratores de menor porte com potência abaixo de 149kw, desde que se comprove a viabilidade técnica e econômica.

Ao adquirir um trator novo a configuração com duplo rodado é um acessório, ficando a critério do cliente a escolha, mas existe disponibilidade no mercado de kits específicos para acoplamento comercializados por empresas especializadas e certificadas pelos fabricantes, com um custo atrativo.

A adição do rodado extra está associada ao porte do modelo, ou seja, em função da potência do motor e rendimento tratório, com o uso principal em grandes tratores.
A adição do rodado extra está associada ao porte do modelo, ou seja, em função da potência do motor e rendimento tratório, com o uso principal em grandes tratores.

SISTEMAS DE ACOPLAMENTO

Do ponto de vista da engenharia quanto ao acoplamento há diferentes sistemas para tornar um trator com rodado simples em duplo, conforme destacado a seguir.

Um dos sistemas é o que faz a fixação do cubo extensor diretamente no aro dos rodados interno e externo, que será o elo entre os dois rodados. Os inconvenientes deste sistema são a dificuldade para instalação e o tempo elevado para montagem e desmontagem devido à necessidade de alinhamento com a roda interna e à quantidade de parafusos que deverão ser apertados para fixação do cubo.

A segunda opção é a adição do rodado extra no próprio semieixo do trator, trata-se de um eixo prolongado, geralmente disponibilizado pelos fabricantes nos tratores acima de 149kw. Como no sistema anterior existem as mesmas dificuldades quanto à praticidade e ao tempo para instalação, no entanto oferece a vantagem de uma maior flexibilidade em termos de alteração dos espaçamentos entre as rodas, porque poderão ser deslocados na barra.

Por fim, um sistema utilizando um anel espaçador inserido entre os rodados interno e externo ajustado na base dos aros e a fixação é feito por grampos, indicado para tratores de potência abaixo de 149kw, apesar de existir no mercado internacional disponibilidade para tratores acima desta potência. No mercado nacional e internacional existem várias configurações mecânicas deste sistema, com a finalidade de facilitar e ganhar de tempo na montagem e desmontagem. A grande vantagem é a facilidade de montagem com menor tempo e a possibilidade de ajustar os espaçamentos para utilização nas entre linhas das culturas anuais como milho, soja, algodão e outras.

DIFERENTES OPERAÇÕES

Todos os três sistemas de acoplamento podem ser utilizados em qualquer tipo de operação, então a definição do mais adequado deverá levar em consideração as características das atividades a serem executadas, a topografia da propriedade e as culturas exploradas. Em áreas com declividades maiores, características de montanhas, com encostas, cuja exploração ocorre por longos períodos e requer maior estabilidade nas operações, pode-se optar pelos sistemas de cubo extensor e do eixo do trator, pois não há necessidade de desmontar.

Em sistemas de exploração onde se realizam diferentes operações – cultivo, aplicação de fertilizantes e defensivos – quando ora precisa de mais estabilidade para o trator ou mesmo para evitar danos à estrutura do solo e ora não há a necessidade de uso, pode-se optar pelo sistema de engate rápido, devido à praticidade e ao menor tempo gasto para desmonte. Em algumas propriedades de porte menor a largura total do trator com rodado duplo torna-se algumas vezes limitante devido aos carreadores e porteiras estreitas, onde a desmontagem rápida facilita na logística.

Uma das principais desvantagens na aquisição do rodado duplo é o custo de aquisição e manutenção. Outro ponto importante é que a adição de um rodado em cada lado do trator aumentará sua largura, dificultando seu transporte nas vias públicas e vias de acesso às atividades, sendo necessárias adaptações em toda área. Atividades diferentes realizadas durante o mesmo período de trabalho que demandem a montagem ou desmontagem do rodado duplo proporcionam uma perda de tempo considerável, fator limitante em períodos de alta atividade. Além disso, caso o primeiro rodado do eixo furar, para fazer o conserto será necessário retirar o segundo rodado.

Com a presença dos rodados duplos, algumas partes do trator como transmissão e eixos podem ficar pesadas demais, causando desgaste precoce de tais peças e futuros problemas à máquina.

Modelo de alongador utilizado para duplar o rodado do trator.
Modelo de alongador utilizado para duplar o rodado do trator.
Modelo de rodado duplo com engate rápido.
Modelo de rodado duplo com engate rápido.
A Marini, já disponibiliza opções de rodados triplos para alguns modelos.
A Marini, já disponibiliza opções de rodados triplos para alguns modelos.

OPÇÕES DE SISTEMAS DE ACOPLAMENTO

Existem no mercado nacional duas empresas prestando o serviço de adaptadores para rodado duplo no país, a Marini e a Techonoradas, ambas com parque fabril instalado no Rio Grande do Sul.

A empresa Marini disponibiliza os sistemas mais utilizados para acoplamento de rodados, com destaque para o sistema de acoplamento com engate rápido que facilita a movimentação diária de troca entre rodados simples e duplo.

A Technorodas apresenta uma gama diferenciada para adaptação em rodados duplos e o destaque fica para o separador-alongador multiuso com regulação específica para roda externa.

De uma forma geral foi comprovado um melhor desempenho do trator em relação à tração, ao consumo específico de combustível, à potência disponível na barra de tração, assim como ao aumento da área de contato e à menor pressão exercida no solo, porém não há diferença significativa.

O desempenho dos tratores com rodados simples ou duplos é influenciado pela pressão de insuflagem dos pneus, a depender da escolha poderá ocorrer desempenho melhor do rodado simples. Quanto à capacidade operacional que pode ser influenciada pela patinagem dos rodados não houve diferença entre rodados simples e duplos.

Alguns resultados de uma pesquisa realizada pelo especialista Ulisses Giacomini Frantz, Universidade Federal de Santa Maria, evidenciam o melhor desempenho do trator e efeito sobre o solo do sistema de rodado duplo em relação ao simples. Na Tabela 1 estão apresentados os dados aproximados, levando em consideração a mesma pressão de insuflagem.

Considerações finais

Os fatos citados são de extrema importância para a tomada de decisão sobre a utilização ou não do rodado duplo. É primordial a definição dos objetivos da utilização do rodado duplo, bem como o levantamento de todas as características do sistema de produção para assegurar a correta escolha. Como não é um sistema de baixo custo para instalação é fundamental determinar o retorno do investimento.

Rodados duplos podem ser utilizados nos rodados dianteiro a traseiro.
Rodados duplos podem ser utilizados nos rodados dianteiro a traseiro.

O que considerar na escolha do rodado duplo?

Na hora de escolher um rodado duplo é necessário definir claramente os objetivos quanto a sua utilização, levando em consideração as possibilidades de aplicação em diferentes operações, condições de solo, topografia e culturas, minimização dos efeitos negativos sobre o solo, estabilidade em áreas acidentadas, melhoria da tração em função do tipo de solo e manejo.

Outros fatores importantes:

- Rapidez na montagem utilizando-se um sistema de engate com menor número possível de pontos de fixação.

- Facilidade de acoplamento sem a necessidade de alinhamento com a roda interna em função do tipo de fixação.

- Possibilidade de aplicação em rodas de 8” a 54”.

- Compatibilidade com qualquer marca e modelo de trator.

- Disponibilidade de kits para tratores independentemente da potência com sistema fácil e rápido para acoplamento.

- Aplicação de rodados duplos na parte dianteira do trator.

- Custos de aquisição e manutenção do kit versus possíveis aplicações e definição dos benefícios que justifiquem o investimento.

- Possibilidade de adequação para o uso nas entre linhas das culturas anuais em diferentes espaçamentos. 


Marcos Roberto da Silva, Edeilton Arruda dos Santos, Fabrício Pedreira Santos, Ismael dos Reis Alves, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; Avelar Araujo Alves, Raphael Moraes Pinheiro, Riagro


Artigo publicado na edição 157 da Cultivar Máquinas. 

Compartilhar

Mosaic Biosciences Março 2024