Sintomas de hastes manchadas em soja

Conhecer os principais sintomas dos problemas que ocorrem na cultura torna mais fácil a sua diagnose, prevenção e controle

21.09.2020 | 20:59 (UTC -3)

Doenças, danos mecânicos, aplicação de produtos químicos, fenômenos meteorológicos e até mesmo ataque de pragas estão entre as causas possíveis da presença de manchas nas hastes de soja observadas ao longo da safra 2016/17. Conhecer os principais sintomas dos problemas que ocorrem na cultura torna mais fácil a sua diagnose, prevenção e controle.

Na safra 2016/2017 observou-se a ocorrência de diversas manchas em hastes de plantas de soja que, na maior parte das vezes, podem ser confundidas com doenças. Outras vezes são causadas por danos mecânicos ou por aplicação de produto químico, mas que sempre geram dúvidas quanto às verdadeiras causas.

Um dos pontos importantes para a correta diagnose do problema é a observação da planta inteira: se a raiz está sadia (coloração interna clara) ou doente (escura e faltando a raiz principal ou as secundárias); se as folhas estão amarelando e murchando, com seca de tecido entre as nervuras; e que tipo de sintoma aparece na haste (deprimida? vermelha? escura? O escurecimento persiste no interior da haste quando se retira a camada superficial da lesão?). Todas estas informações podem ser colhidas analisando-se superficialmente as plantas com problemas, sendo importantes para se descobrir a causa. Alguns casos:

Exemplo 1: plantas murcham intensamente, com necrose dos pontos de crescimento, tanto de folhas jovens quanto em brotos florais. Manchas avermelhadas nas hastes, mais intensas nos terços superior e médio, diminuindo em direção ao terço inferior. Nervuras avermelhadas na face inferior das folhas (Fig. 1). Raízes sadias. Resultado: efeito da aplicação de herbicida inibidor de ALS. Neste caso, o erro ocorreu por troca de produto (herbicida armazenado em embalagem de inseticida). Também é comum ocorrer a intoxicação de plantas devido à utilização de pulverizador com restos de herbicida inibidor de ALS no tanque. Neste caso, os sintomas aparecem em faixas, sendo mais fortes em plantas localizadas no início da aplicação, reduzindo gradativamente com o decorrer da operação. 

Fig. 1. Efeito da aplicação de herbicida inibidor de ALS em planta de soja.
Fig. 1. Efeito da aplicação de herbicida inibidor de ALS em planta de soja.

Exemplo 2: plantas murcham levemente, com alguns galhos mais afetados que outros, na mesma planta. Lesões escurecidas no terço inferior das hastes, tanto entre tecido sadio quanto progressiva a partir do solo. Raízes com sinais de desenvolvimento em solo compactado, apresentando raiz principal morta e desenvolvimento considerável de raízes secundárias superficiais (Fig. 2). Lesões não escurecidas abaixo da superfície, na haste (Fig. 3). No interior do tecido das raízes, ao microscópio ótico, observam-se estruturas circulares com paredes duplas (oosporos), típicas de Phytophthora sojae (Fig. 4). Resultado: após a constatação dos oosporos nas raízes, pode-se afirmar que os sintomas foram causados pela podridão-radicular-de-fitóftora. Este tipo de lesão é resultado da ação de um tipo moderado a baixo de resistência parcial da cultivar de soja afetada. Estas lesões nas hastes poderiam ser confundidas com cancro-da-haste, mas a falta de escurecimento interno na medula e de folhas com necrose internerval já indica não ser este o problema. Também é preciso ter atenção ao se tentar isolar o patógeno, em laboratório, pois P. sojae não se desenvolve em meio de cultura padrão (batata-dextrose-agar). Para informações sobre técnicas com P. sojae, consulte: http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/1058082.

Fig. 2. Lesões na haste e raízes podres em soja, causadas por podridão-radicular-de-fitóftora.
Fig. 2. Lesões na haste e raízes podres em soja, causadas por podridão-radicular-de-fitóftora.

Fig. 3. Lesões de podridão-radicular-de-fitóftora em soja. Na haste inferior, parte da superfície da lesão foi removida, para mostrar o interior sadio, de coloração clara.
Fig. 3. Lesões de podridão-radicular-de-fitóftora em soja. Na haste inferior, parte da superfície da lesão foi removida, para mostrar o interior sadio, de coloração clara.

Fig. 4. Oosporos de P. sojae em corte de raiz de soja, como observado em microscópio ótico (aumento de 400 x)
Fig. 4. Oosporos de P. sojae em corte de raiz de soja, como observado em microscópio ótico (aumento de 400 x)

Para auxiliar na diferenciação de sintomas são apresentadas lesões de cancro-da-haste, identificadas em safras anteriores, no Brasil, nas figuras 5 e 6. Estas lesões normalmente originam-se nas inserções de ramos laterais, progredindo tanto verticalmente quanto em direção ao interior da haste, escurecendo o lenho (Fig. 7) e a medula, causando a morte do ramo afetado. As raízes permanecem sadias.

Fig. 5. Cancro-da-haste em soja, causado por Diaporthe aspalathi (sin. Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis), na safra 1993/1994.
Fig. 5. Cancro-da-haste em soja, causado por Diaporthe aspalathi (sin. Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis), na safra 1993/1994.

Fig. 6. Cancro-da-haste em soja, causado por Diaporthe caulivora, na safra 2005/2006.
Fig. 6. Cancro-da-haste em soja, causado por Diaporthe caulivora, na safra 2005/2006.

Fig. 7. Escurecimento interno do lenho da haste de soja abaixo da lesão de cancro-da-haste.
Fig. 7. Escurecimento interno do lenho da haste de soja abaixo da lesão de cancro-da-haste.

Outra causa de confusão é mostrada na Figura 8, quando manchas aparecem após a ocorrência de granizo, fenômeno meteorológico esporádico durante a safra de verão, nas condições do Rio Grande do Sul. A diferença principal entre cancro-da-haste e granizo é a ausência de folhas com necrose internerval e o aparecimento súbito de manchas escurecidas em toda a extensão da haste, em uma face (o lado voltado para a chuva de pedras), com o centro da mancha fendido devido à morte do tecido atingido.

Fig. 8. Lesões causadas por granizo em haste de soja.
Fig. 8. Lesões causadas por granizo em haste de soja.

Exemplo 3: extremidades de ramos entortadas e escurecidas, brotações florais deformadas, folhas superiores menores e de coloração verde mais clara, com bolhas no limbo foliar. Pecíolos e legumes atacados apresentam coloração marrom. Resultado: não é uma doença de soja propriamente dita, mas sintomas da ação do ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus). Ao contrário dos demais ácaros da soja, o ácaro-branco desenvolve-se melhor em períodos chuvosos. Por ser diminuto, é melhor observado sob lupa, em laboratório.

Fig. 9. - Haste de soja com lesão de mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum).
Fig. 9. - Haste de soja com lesão de mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum).

Exemplo 4: plantas murchas, com lesão na haste iniciando na inserção de ramo lateral, após o florescimento. Presença de micélio branco cotonoso sobre a lesão (Fig. 9). Resultado: mofo-branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum. Esta doença ocorre em verões chuvosos, em regiões de temperatura amena, em plantas muito próximas ou acamadas. É facilmente identificável pelo micélio branco e pelo desenvolvimento de escleródios, que são pequenas estruturas negras, que se desenvolvem tanto dentro quanto fora da haste afetada.

Conhecer os principais sintomas dos problemas que ocorrem na cultura da soja torna mais fácil a sua diagnose, a fim de evitá-los ou controlá-los, nas próximas safras.


Leila Maria Costamilan , Leandro Vargas, Embrapa Trigo


Artigo publicado na edição 214 da Cultivar Grandes Culturas.

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