Sistemas de colheita de algodão

Cuidado com a fibra é fundamental na colheita; no Brasil existem dois sistemas de colheita e cada um tem suas vantagens e desvantagens

05.05.2020 | 20:59 (UTC -3)

A colheita do algodão é uma etapa delicada da cultura, pois exige cuidado com a fibra, além de ser uma operação bastante suscetível a perdas elevadas. No Brasil existem dois tipos de sistemas de colheita e cada um tem suas vantagens e desvantagens.

No decorrer das safras, busca-se de maneira intensa a redução de custos no manejo de diversas culturas agrícolas. Dentre estas, se tem a cultura do algodoeiro, que, devido às condições climáticas favoráveis, às terras planas que permitem mecanização total, aos programas de incentivo e ao uso intensivo de tecnologias modernas, tornou-se uma das mais importantes culturas no Brasil, principalmente no Centro-Oeste. Essa última vantagem foi de extrema importância para a redução destes gastos, visto a grande demanda por mão de obra, associada em muitos casos a problemas trabalhistas, e também pela elevação do rendimento e qualidade das operações agrícolas.

Segundo a Embrapa (2003), a modernização da lavoura do algodão em grandes áreas e a escassez de mão de obra no meio rural contribuíram para a utilização, em larga escala, da mecanização do cultivo, sendo a colheita através de colhedoras automotrizes, um dos principais fatores necessários para viabilizar a exploração da cultura em grandes áreas.

A colheita torna-se um processo muito importante para a redução de perdas, visto que essas podem ocorrer de diversas formas, como, por exemplo, ao arrancar a fibra ou ao transportar da fibra já colhida.

O surgimento de uma nova forma de manejo na cultura do algodão, o adensamento entre linhas, visando plantas menores e mais precoces acarretou também a mudança na mecanização da colheita, antes voltada exclusivamente para os maiores espaçamentos entre fileiras. Atualmente é desenvolvida e projetada para, além de se adaptar a esta nova forma de manejo do algodão, reduzir significativamente as perdas e impurezas da fibra durante o processo de colheita.

SISTEMA STRIPPER

Atualmente o stripper é o sistema de colheita mecânica mais econômico e apresenta menores perdas quantitativas, ou seja, recolhe quase todo o algodão da lavoura, mas apresenta menor qualidade nas fibras recolhidas. Segundo Martin (2006) o molinete bate nas palhas secas e quebradiças, carregando junto com a fibra os capulhos e restos lenhosos de planta, deixando uma maior impureza na fibra, e, por esse motivo, esse sistema de colheita é recomendado para o sistema de cultivo adensado do algodão, pois essas plantas reduzem a formação de ramificações laterais e têm menor porte, e com isso facilitam uma melhor eficiência da máquina, reduzindo as impurezas na fibra.

O sistema de stripper trabalha com uma plataforma semelhante a um
O sistema de stripper trabalha com uma plataforma semelhante a um

O sistema de stripper trabalha com uma plataforma semelhante a um “pente fino”, de modo que o pente de sua plataforma arranque os capulhos inteiros da planta, auxiliado por um molinete, colocado logo atrás do pente na plataforma, que força o desprendimento da fibra que não tenha se soltado da planta. Porém, como já dito, isso pode fazer com que várias partes lenhosas da planta sejam carregadas junto com a fibra e o caroço, dando uma menor qualidade à fibra bruta colhida por esse sistema.

Esse sistema é comumente adaptado a colhedoras que anteriormente trabalhavam no sistema de fusos, pois as diferenças mecânicas entre eles se baseiam na plataforma e nos sistemas de extratores, mas também já estão no mercado colhedoras especializadas para esse sistema, como a Montana Cotton Blue 2826.

Por ter maior teor de impurezas, o sistema stripper conta com algum sistema de pré-limpeza, geralmente extratores HL, compostos por diversos cilindros serrilhados, grelhas e barras, que são responsáveis, primeiramente, por separar as maçãs verdes e, em seguida, retirar as impurezas maiores, depois disso a fibra é depositada no cesto.

Martin, Belot e Rodrigo et al (2005) relataram alguns resultados sobre algodão adensado, semeado com um espaçamento entre linhas de 0,45m e colhido com sistema stripper em Mato Grosso e uma das conclusões foi que as perdas na colheita com sistemas stripper variaram de 12% a 13%. Visto que esse sistema é mais simples que o sistema de fusos e possuindo na plataforma de colheita basicamente um pente e molinete, o seu custo também se torna inferior.

SISTEMA PICKER

O sistema de fusos extrai de forma seletiva o algodão dos capulhos abertos da planta sem puxar as cascas, pois seus pinos giram em alta velocidade, enrolando a fibra nos fusos, extraindo somente a fibra com o caroço. Em seguida ele é solto dos fusos com desfibradores de borracha (doffer) que giram de maneira a retirar as fibras e é levado para o cesto armazenador da máquina por correntes de ar (Belot e Vilela, 2006).

No sistema picker, o algodão é colhido de forma seletiva.
No sistema picker, o algodão é colhido de forma seletiva.
Sistema picker, com fusos ao cetnro e doffers aos lados.
Sistema picker, com fusos ao cetnro e doffers aos lados.

Este sistema de colheita mecânica apresenta preços mais elevados, exigindo uma maior produção da cultura para ter rentabilidade, e pode chegar a até 16% de perdas na lavoura, sendo a maior parte dessa perda por não conseguir retirar toda a fibra da planta, (Carvalho, 1984). Por outro lado, por retirar somente a fibra da planta, e não restos vegetais como o sistema de pente, o sistema de fusos apresenta um nível baixo de impurezas, possibilitando uma qualidade muito superior à fibra colhida.

Já existe no mercado uma plataforma de sistema picker para o sistema de cultivo adensado do algodão, porém vale lembrar que é um sistema adaptado em que se corta uma fileira, que é transportada até os fusos, intercalando com a fileira de plantas que ficam em pé, trabalhando no sistema normal de colheita picker, fazendo com que cada cilindro de fusos trabalhe com duas fileiras e não com uma, como visto no sistema convencional.

Segundo Yamaoka & Belot (2011), ao se tratar de colheita em algodão adensado com sistema picker, a qualidade do algodão colhido foi semelhante à das colhedoras convencionais (sem as unidades adaptadas), porém, apresentando custo de colheita muito elevado, tanto no investimento para aquisição do equipamento como na manutenção e reposição das peças.

Recentemente, Ferreira (2013) em um experimento avaliando as perdas na colheita de cultivares de algodão adensado em função do sistema de colheita picker em Mato Grosso observou que o sistema picker adaptado para colher algodão adensado origina as maiores perdas totais (13,5%).

ENFARDAMENTO

Além da parte da colheita em si, o transporte da fibra colhida também origina muitas perdas na colheita, tanto na transferência do cesto da colhedora para o cesto de transporte, quanto na transferência do cesto de transporte para a prensa enfardadeira, que formará os fardos de algodão que ficarão na lavoura até serem levados para a algodoeira.

Nesse sistema de enfardamento, quando a máquina completa o cesto de armazenamento, ela deve parar a colheita para fazer a descarga no cesto de transporte, o que faz com que se perca algum tempo, pois é um processo lento. Em seguida o cesto transportador, que normalmente é rebocado por um trator, se dirige para a enfardadora, que é responsável por fazer a prensa do algodão com caroço e deixá-lo em fardos, que, se cobertos, podem ficar no local da colheita até o transporte para o beneficiamento.

Um grande avanço para se evitar essas perdas foi o surgimento do enfardamento em rolos, diretamente da máquina, evitando tanto as perdas durante transferências e transporte, como também o desperdício de tempo para a descarga, visto que a colhedora descarrega o fardo em pleno movimento da colheita, tornando o enfardamento mais rápido e prático.

A câmara interna construtora de fardos utiliza 11 cintas de borracha para realizar o processo de produzir fardos cilíndricos com 243cm de largura e 228cm de diâmetro. O sistema de enfardamento cilíndrico recebe algodão do acumulador, este é, então, moldado em fardos cilíndricos pela aplicação constante de pressão por um eixo oscilante situado no interior da câmara construtora de fardos. Outra grande vantagem desse sistema é que o operador pode ajustar o diâmetro do fardo para produzir um módulo de 91cm a 228cm. Essa característica permite ao operador escolher um diâmetro do módulo adequado à sua operação.

Após a construção de um fardo, o construtor ergue-se, ejetando o fardo acabado no manipulador. Nessa hora, o operador pode escolher por liberar o fardo ou transportá-lo até o final do campo, onde o fardo pode ser posicionado para transporte conveniente até a algodoeira. Trazendo mais uma vantagem, essa função tem como objetivo facilitar o trabalho com os fardos pós-colheita, evitando o trabalho de busca no meio do campo.

O sistema de enfardamento utiliza um filme de polietileno para envolver e proteger os fardos. Assim que eles são construídos, a película envolve-os por meio de correias que giram o fardo, para melhor fixar o filme.

Independentemente do modelo de colhedora, a maior parte do recolhimento da fibra colhida é feita através de transferência da colhedora para o cesto de transporte.
Independentemente do modelo de colhedora, a maior parte do recolhimento da fibra colhida é feita através de transferência da colhedora para o cesto de transporte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sistema de fusos atualmente continua sendo muito usado, pois apresenta maior qualidade de fibra colhida, rentabilizando, assim, maior preço de venda, e com essa nova adaptação para o sistema de cultivo adensado, ganhou o mercado antes somente da plataforma stripper. Porém, mesmo com essas vantagens, ainda perde mercado ano a ano para o sistema stripper, pois é demasiadamente caro, e com isso exige maior rentabilidade do algodoeiro para ser implantado e gerar lucro para o produtor. O sistema stripper, por sua vez, não exige isso, sendo mais acessível ao produtor e, mesmo causando uma perda de qualidade na fibra, consegue ter um custo menor em relação aos outros sistemas de colheita.

Tipos de perdas que ocorrem na colheita mecanizada do algodão

Segundo Ferronato et al (2003) existem dois tipos de perda na colheita do algodão, tal como existem em outras culturas, que são as perdas quantitativas e qualitativas.

A perda quantitativa é a perda em si, como, por exemplo, a queda de algodão no chão durante a colheita ou no transporte e também os resquícios de fibra que ficam nas plantas após a colheita. Este tipo de perda é a que, geralmente, mais gera prejuízo para o produtor, pois, por ser uma perda massiva, se as colhedoras não estiverem reguladas de maneira correta, pode arruinar boa parte de uma safra.

Já a perda qualitativa é a de qualidade da fibra colhida, como, por exemplo, restos da planta (folhas, galhos) misturados à fibra, imaturidade da fibra devido à colheita adiantada e o excesso de umidade. Neste tipo de perda notamos também a importância de a cultura ser colhida na “hora certa”, pois se colhida adiantada, pode gerar imaturidade na fibra, ainda úmida, e se tardiamente colhida, pode gerar perda de massa na fibra, devido à falta de umidade, ou também ficando mais tempo exposta a intempéries.

Em função do exposto anteriormente, o sistema de colheita que melhor reduz perdas é o sistema manual, pois dá a possibilidade de se separar os capulhos verdes e restos da cultura, possibilitando mais qualidade à fibra colhida, não deixando capulhos na planta. Porém, demanda grande mão de obra e é lento, tendo um custo muito elevado.

Os sistemas mecanizados de colheita existentes no Brasil, que são o stripper (pente) e o picker (fusos), se mostram mais eficientes e menos custosos que o manual, porém apresentam maiores perdas nas lavouras e nas fibras de menor qualidade. Ainda não existe no mercado brasileiro um sistema mecanizado de colheita de algodão que tenha uma baixa porcentagem de perda nos dois quesitos. Atualmente, um sistema que atende as demandas de baixas perdas quantitativas, tem elevadas perdas qualitativas, e vice-versa.

Modelos de colhedoras mais modernas adensam o material colhido e deixam o fardo pronto para o transporte, como é o caso de modelos da Case IH e John Deere.
Modelos de colhedoras mais modernas adensam o material colhido e deixam o fardo pronto para o transporte, como é o caso de modelos da Case IH e John Deere.
Modelos de colhedoras mais modernas adensam o material colhido e deixam o fardo pronto para o transporte, como é o caso de modelos da Case IH e John Deere.
Modelos de colhedoras mais modernas adensam o material colhido e deixam o fardo pronto para o transporte, como é o caso de modelos da Case IH e John Deere.


João Vitor Scopel, Airton dos Santos Alonço, Tiago Rodrigo Francetto, Pablo do Amaral Alonço, LASERG/UFSM


Artigo publicado na edição 156 da Cultivar Máquinas. 

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