Solo e fertilizantes com fósforo

A análise do solo é uma ferramenta útil para se determinar as prováveis limitações (deficiência ou excesso) nutricionais que a planta poderá sofrer durante o seu ciclo vegetativo e identificar os insu

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Fica fácil entender que o solo é constituído por três fases: sólida, líquida e gasosa. A fase sólida está composta pelas frações mineiras (argila e areia, por exemplo) e orgânicas; a fase líquida, pela solução do solo. A fase gasosa, composta pelo ar, também é importante na nutrição mineral das plantas. Quando o espaço do ar é ocupado pela água, ocorre uma série de reações que limitam e alteram o complexo nutricional. Este fato acarreta implicações de ordem prática, ou seja, deve-se cultivar o milho em terrenos arejados, ou que não sofram inundações por um período prolongado durante o desenvolvimento do milho. A Embrapa Milho e Sorgo criou uma cultivar (Saracura) para solos mais pesados, entretanto, isto não implica em dizer que o solo pode estar inundado durante todo o ciclo do milho.

O fósforo para ser absorvido pela planta tem que sair da fase sólida e ir para a fase líquida. Neste momento, o leitor poderá imaginar a necessidade de uma quantidade de P nesta solução e do fluxo de reposição do íon absorvido. A planta absorve o fósforo e o solo o repõe numa quantidade e numa velocidade suficiente para atender à sua demanda nutricional. Se tudo isto ocorrer em equilíbrio, o solo estará com sua fertilidade alta; se não, deverá haver ações para corrigir o desequilíbrio e aumentar a produtividade .

Estes três fatores, portanto, definem um sistema dinâmico que não é demonstrado na análise de rotina pelos extratores químicos. Observem que o solo é amostrado, seco e encaminhado para o laboratório para ser analisado. Os extratores irão definir o elemento “disponível” ou seja, uma indicação parcial (ou proporcional) da quantidade do que a planta poderá absorver. A análise de solo, portanto, apesar de ser uma ferramenta útil, não considera estas relações. Isto demonstra a necessidade do acompanhamento técnico das áreas em produção, sugerindo aumentos ou reduções nas recomendações da adubação.

O extrator retira uma quantidade empírica que, estando relacionada com a produção ou com o P absorvido, fornece indicativo do P disponível. Em síntese, há uma quantidade determinada pelo extrator e uma quantidade pronta para ser absorvida na solução do solo. Este teor na solução estará em equilíbrio com a força que o solo exerce para reter este P na sua fase sólida. Solos mais argilosos apresentarão valores mais baixos; solos mais arenosos, valores mais altos. Este P na solução, sua concentração e velocidade de reposição definirá a nutrição da planta. A solução do solo pode ser considerada como o termômetro indicador do status nutricional de P. Yost et al (1979), por exemplo, obtiveram produções de milho na ordem de 8 a 9 t ha quando a solução do solo apresentou valores na ordem de 0,05 mg L de P.

Para melhorar esta interpretação do elemento “disponível”, principalmente quando do uso do extrator Mehlich 1, é necessário a inclusão de algum parâmetro que possa ajudar nesta interpretação. Isto pode ser feito tanto pelo lado técnico como pelo lado prático, como por exemplo, o histórico de uso do solo. Há solos cuja análise revela 2 mg dm de P (valores considerados baixos pela interpretação de qualquer Tabela), e que não necessitam de nenhuma adubação de P. As plantas absorvem o P existente na solução e, imediatamente, há a reposição. Neste caso não há resposta à adubação fosfatada .

Por outro lado, existem solos com 40 mg dm (valor que pode ser considerado alto ) e, há a resposta à adubação fosfatada. Ou seja, a planta absorve o » disponível» e não possui mais P. Só tinha aquela quantidade. Isto é comum em solos arenosos e em solos com plantio direto, onde, com as constantes adubações no sulco de plantio, acumula-se P em determinados pontos da área que, quando amostrados, revelam altos valores. Contudo, há resposta à adubação fosfatada. Como implicação prática destes fatos há necessidade da interpretação técnica da análise de solo e também de se manter um histórico de uso das áreas cultivadas . A Tabela indica as quantidades de P2O5 recomendadas em função da faixa de produtividade dentro da fertilidade específica.

Extratores químicos

São vários os extratores para indicar o P disponível, contudo, no Brasil, apenas dois são utilizados extensivamente: o Mehlich 1 (Norte Carolina) – duplo ácido e a Resina Aniônica.

O nível crítico (NC) é definido como o teor de nutriente no solo apartir do qual não mais haveria resposta à adubação. Neste caso, a adubação seria apenas aquela para repor o que a cultura iria retirar, mantendo-se a fertilidade do solo.

O NC para o extrator Mehlich 1 seria dependente do teor de argila. Nos solos argilosos, pode-se considerar o valor de 10mg dm; para solos arenosos, 20 mg dm. Nas análises com Resina, este nível crítico seria o mesmo, tanto para solos arenosos como para os argilosos, 40 mg dm.

Outro aspecto que merece atenção no caso dos extratores é uso de fosfato natural (fosfato de Araxá e fosfato de Patos de Minas, por exemplo) e o estádio de seu envelhecimento do fertilizante no solo. Pode-se pensar que as adubações mais recentes estariam mais disponíveis para a cultura do que as aplicações mais tardias, principalmente quando em contato com um volume maior de solo.

Como a agricultura é dinâmica, áreas que foram utilizadas para pastagem, quando o uso do fosfato natural é mais efetivo, ao serem utilizadas para o cultivo de milho, deverão sofrer uma avaliação crítica dos resultados analíticos. A solubilização dos fosfatos considerados insolúveis fica na dependência do tempo. O extrator duplo-ácido, como o extrator Mehlich 1, dissolve o P diretamente no adubo, alterando a interpretação dos resultados. Novamente ressalta-se a importância do histórico da área e a necessidade de análise por extrator específico, como por exemplo a resina aniônica.

Fatores relativos

Os nutrientes nos fertilizantes são expressos em termos de teor total e o solúvel em água. Ao se adquirir uma formulação (4-30-16, p.e.) estão expressos apenas os valores solúveis em água, que são as formas disponíveis para as plantas. Parte do fósforo total, não solúvel em água, porém, solúvel em ácido cítrico e em citrato neutro de amônio, são também disponíveis para as plantas. Nos fosfatos naturais, por exemplo, tem-se altos valores de P total ( 28% - 30%), baixos valores de P solúvel em água (5%), contudo, a planta poderá absorver de 8 a 10% que seriam as formas solúveis em ácido cítrico.

Outrossim, dentro dos conceitos de granulometria, pode-se ter misturas de grânulos e todos os nutrientes no mesmo grânulo. No primeiro caso, o produtor pode observar cores diferenciadas no adubo: branca para o nitrogênio e cinza para o fósforo e vermelha para o potássio, por exemplo. Neste caso, em função da diferença de peso dos grânulos (densidade diferente), é possível haver sedimentação diferenciada das partículas devido ao transporte, afetando a uniformidade quando da sua aplicação no campo. As partículas mais pesadas irão ficar no fundo e serão aplicadas primeiro; as mais leves, na superfície da caixa, e serão aplicadas no final. Como implicação prática, em caso de deficiência, haverá plantas com diferentes estádios de desenvolvimento no sulco de plantio.

Quando o adubo vem na forma de pó, sua distribuição fica mais difícil, em função de constantes entupimentos dos tubos que o levam aos sulcos de plantio. Deve-se observar, constantemente, o fluxo de caída destes fertilizantes.

Outro aspecto a considerar é o uso de formulações concentradas, 4-30-16, 4-30-10, 4,20-20, etc. Nestas formulações não existe o enxofre. Ganha-se no transporte e perde-se na quantidade de nutrientes que acompanham o NPK. O uso constante destas formulações leva a deficiência de S.

No caso do milho, pode-se optar pelo sulfato de amônio em cobertura, contudo, vale a pena investir em pequenas aplicações de gesso agrícola para o fornecimento de S e facilitar a aplicação de formulações mais concentradas, com menor gasto de energia para sua aplicação e transporte.

Carlos Alberto Vasconcellos, Gilson V. E. Pitta, Gonçalo E. de França e Vera Maria C. Alves

Embrapa Milho e Sorgo

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