Sorgo: opção rentável para a safrinha

Com o desenvolvimento da região do Cerrado, o sorgo passou a ser plantado em fevereiro/março no sistema de cultivo denominado de “sucessão”

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

No país, as zonas de adaptação da cultura do sorgo se concentram no Sul (região de fronteira) em plantios de verão, no Brasil Central em sucessão a plantios de verão (safrinha) e no Nordeste em plantios nas condições do Semi-Árido com altas temperaturas e precipitação inferior a 600 mm anuais. Atualmente, tem sido verificado grande expansão do cultivo do sorgo principalmente em plantios de sucessão em algumas regiões, com destaque para o estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e região do Triângulo Mineiro, onde se concentram aproximadamente 90% do sorgo granífero plantado no Brasil.

Estima-se que a área plantada com sorgo granífero no Brasil na safra 2007/2008 esteve próxima a um milhão de hectares, com uma produção de grãos em torno de 2,4 milhões de toneladas. A excelente adaptação do sorgo a ambientes secos é uma qualidade que tem contribuído, atualmente, para o rápido crescimento da área plantada com esse cereal.

Durante muito tempo, a área cultivada com o sorgo no Brasil não se expandia porque sua época de plantio coincidia com a época das principais culturas de primavera/verão, como o milho e a soja, plantadas nas regiões Sul e Sudeste do país. Com o desenvolvimento da região dos Cerrados nas últimas décadas houve, então, a necessidade de se buscar uma cultura de sucessão ao milho e à soja que viabilizasse a máxima utilização dos recursos e também do patrimônio do agricultor nessa nova fronteira agrícola. Foi então que o sorgo passou a ser plantado em fevereiro/março no sistema de cultivo denominado de “sucessão”.

• Além do seu desempenho em condições de estresse hídrico, o sorgo apresenta muitas outras vantagens, pois proporciona ótima cobertura verde nas épocas em que os solos dos Cerrados ficam quase sempre expostos ao excesso de radiação solar e às fortes chuvas. O cereal fornece ao produtor uma receita adicional no período da entressafra. O sorgo é também uma ótima opção para a rotação de culturas, principalmente nos casos de ocorrência de problemas fitossanitários, pois quebra o ciclo das doenças e pragas do trigo e do milho, culturas também plantadas no mesmo período;

• Após a colheita, sua palhada residual é de longa duração no solo, o que viabiliza a utilização do sistema de plantio direto;

• O produtor de soja, ao optar pelo cultivo de sorgo em sucessão, não necessita de nenhum investimento adicional em máquinas e equipamentos;

• Nos últimos anos, o sorgo passou a ser uma das principais alternativas estratégicas que o governo tem para o abastecimento de grãos, já que esse cereal pode compor junto com o milho e outros grãos a chamada “cesta básica de ingredientes para ração”

A planta do sorgo se adapta a uma gama de ambientes, principalmente sob condições de deficiência hídrica, pois ele possui características fisiológicas que permitem paralisar seu crescimento ou diminuir suas atividades metabólicas durante o estresse hídrico e reiniciá-lo quando a água se torna disponível. Essa característica permite que a cultura seja apta para se desenvolver e se expandir em regiões de cultivo com distribuição irregular de chuvas e em sucessão a culturas de verão.

Do ponto de vista de mercado, o cultivo de sorgo em sucessão a culturas de verão tem contribuído para a oferta sustentável de alimentos de boa qualidade para alimentação animal e de baixo custo, tanto para pecuaristas como para a agroindústria de rações. Atualmente, em toda a região produtora de grãos de sorgo do Brasil Central, o produto tem liquidez para o agricultor e grande vantagem comparativa para a indústria que, cada vez mais, procura alternativas para compor suas rações com qualidade e menor custo.

O avanço da moderna agricultura no Cerrado e os seus sistemas de produção continuam ampliando as possibilidades para o sorgo. A soja, principal parceira no sistema de sequência de culturas, avança para os estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O sorgo segue este avanço. O sistema de plantio direto abre um amplo campo para a integração do sorgo ao sistema como excelente produtor de palhada de alta qualidade. A agroindústria de carnes se expande na região na busca de matérias primas de menor custo para alimentação de aves, suínos e bovinos. A pecuária de leite e de corte se profissionaliza cada vez mais, à medida que os mercados consumidores de carne bovina exigem mais qualidade e preço competitivo. Para manter o mercado de rações abastecido com grãos de qualidade confiável e custo ajustado ao negócio, o sorgo já é reconhecido como o principal grão alternativo ao milho na chamada cesta básica de ingredientes forrageiros. Uma parte da demanda de grãos, estimada entre 10% e 20% da produção de milho, pode ser atendida, com maior economicidade, com o sorgo.

O potencial de rendimento de grãos de sorgo, normalmente, pode ultrapassar sete toneladas / hectare em plantios de sucessão. Entretanto, as condições em que predominantemente o sorgo é cultivado não possibilitam a expressão de todo o seu potencial, uma vez que a produtividade média alcançada nas lavouras brasileiras está em torno de 2,4 toneladas / hectare. Essa produtividade tende ao crescimento à medida que o produtor passe a planejar suas atividades e utilize o manejo adequado para possibilitar o melhor desempenho da cultura.

O uso de cultivares adaptadas aos sistemas de produção em uso e às condições de ambiente encontradas nas regiões de plantio, com planejamento e manejo adequado, constituem fatores de grande importância para a obtenção de rendimentos elevados, para a expansão da cultura, para o aumento da oferta de grãos e estabilidade de produção.

Dentre as cultivares disponíveis, é predominante o uso de híbridos com ampla adaptabilidade e estabilidade de produção. Na escolha do híbrido, principalmente para o plantio em sucessão, devem ser observadas as seguintes características: tolerância a períodos de déficit hídrico principalmente em pós-florescimento; resistência ao acamamento e ao quebramento; porte entre 1,0 m e 1,6 m com boa produção de massa residual; ciclo precoce a médio; resistência às doenças predominantes na região de plantio.

Considerando-se o risco inerente ao sistema de plantio em sucessão, principalmente com a ocorrência de doenças e deficiência hídrica, recomenda-se que o produtor utilize uma combinação de cultivares.

Existem informações que, convenientemente utilizadas, possibilitam a melhor exploração do potencial produtivo dos cultivares de sorgo granífero disponíveis no mercado. A agricultura brasileira vem se modernizando com a inclusão de novas tecnologias que têm proporcionado aumentos significativos na produção, na produtividade e na qualidade do produto.

José Avelino Santos Rodrigues

Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo

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