Como manejar altas infestações de mosca-branca

Altas infestações da mosca-branca Bemisia tabaci, biótipo B, tem sido registradas nas lavouras brasileiras, principalmente na região Centro-Oeste. Diversos fatores estão associados a essa explosão populacional

29.07.2016 | 20:59 (UTC -3)

O aumento populacional da mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B na região Centro-Oeste tem preocupado técnicos e produtores rurais, pois infestações elevadas no final do ciclo da cultura da soja estão demandando pulverizações adicionais de inseticidas para evitar a desfolha prematura e não comprometer a produtividade da cultura. Além disso, após a colheita da soja, a praga migra para as culturas semeadas em sequência com o milho e o algodoeiro. Como consequência, ataques severos de B. tabaci em plantas recém-emergidas têm ocorrido constantemente, havendo a necessidade de fazer o tratamento das sementes com inseticidas e complementar com pulverizações foliares, devido à sua alta incidência, o que implica em aumento no custo de produção das culturas.

B. tabaci é uma praga polífaga, com registro de mais de 600 espécies de plantas como hospedeiras, e a gama de plantas hospedeiras tem aumentado no decorrer do tempo, o que tem sido atribuído, entre outras razões, ao uso de práticas agrícolas de monocultivo irrigado. Esse grande número de hospedeiros tem permitido que a mosca-branca reproduza e migre de forma rápida tanto nos vários hospedeiros silvestres como em cultivados como o algodoeiro, a soja, o tomate, o feijoeiro, a batata etc.

Recentemente, a mosca-branca foi também observada em gramíneas, completando seu ciclo (ovo a adulto) em plantas de milho. Apesar do milho não ser um bom hospedeiro para o inseto, algumas áreas cultivadas de milho segunda safra, em Mato Grosso, sofreram redução de estande devido ao ataque da mosca-branca logo na emergência das plantas.

No cultivo do algodoeiro em segunda safra, as infestações iniciais são ainda mais prejudiciais à cultura, pois a planta é uma boa hospedeira para a praga, o que favorece a permanência do inseto durante todo o ciclo da cultura. Além disso, B. tabaci é vetora do mosaico comum do algodoeiro, causando então danos diretos pela sucção de seiva e indiretos pela transmissão da virose quando há presença de plantas daninhas como guanxuma (Sida rhombifolia) e vassourinha (Sida micrantha) infectadas com a doença. Portanto, um bom controle de plantas daninhas faz parte do manejo dessa praga.

Como a mosca-branca está presente nas diversas culturas, deve ser tratada como um inseto-praga de sistemas agrícolas, pois o modelo produtivo adotado e o manejo do inseto em cada cultura implicam diretamente na infestação da praga na cultura subsequente.

A exemplo do efeito do sistema produtivo influenciando na flutuação populacional da praga, pode-se citar o plantio do feijoeiro em áreas irrigadas durante o período do vazio sanitário da soja, com o objetivo de otimizar o uso da terra. No entanto, o feijoeiro é um bom hospedeiro da praga, o que permite uma elevada população do inseto em uma época em que a população da praga normalmente diminuiria drasticamente por não haver o cultivo de plantas hospedeiras. Após a colheita do feijoeiro, ocorre imediatamente a semeadura da soja, que recebe então a infestação da mosca-branca da cultura anterior. Nessas áreas e em seus arredores, a infestação da praga no final do ciclo da soja é significativamente maior, assim como o uso de inseticidas para o seu controle.

Outro sistema produtivo que tem aumentado em Mato Grosso e que favorece o aumento populacional da praga é o cultivo de soja safrinha sobre o cultivo de soja verão. Nessas áreas, a necessidade de controle da mosca-branca na safrinha aumenta.

Apesar de sistemas em monocultivo e intensificados (duas ou três safras por ano) favorecerem surtos populacionais de pragas, a forma de condução da lavoura influencia significativamente na dinâmica das pragas. Portanto, o emprego do Manejo Integrado de Pragas (MIP), com monitoramento, respeito ao nível de controle de cada praga e com uso de inseticidas seletivos torna-se imprescindível para uma agricultura mais sustentável e com menos prejuízos causados por pragas.

Entre as estratégias utilizadas na condução da cultura para o controle de pragas e que pode estar relacionada com o surto populacional de mosca-branca, pode-se citar o uso de pulverizações preventivas principalmente para o controle de Helicoverpa spp. e Heliothis virescens na cultura da soja, pois vários desses inseticidas têm baixa seletividade a inimigos naturais. Insetos predadores como Geocoris sp, Orius sp., Nabis sp, Callida sp, crisopideos e joaninhas (diversas espécies), além de se alimentarem de lagartas, predam também ninfas de mosca-branca. Esses inseticidas não seletivos têm afetado também a população de parasitoides, principalmente a vespinha Encarsia sp. Dessa forma, favorecem o aumento populacional da praga devido à baixa presença desses inimigos naturais.

Outro fator que pode ter contribuído para o aumento populacional da praga foi a baixa infestação de percevejos fitófagos em algumas áreas de soja. Desta forma, a aplicação de inseticidas para o controle desse grupo de insetos diminuiu, permitindo o aumento populacional de B. tabaci, pois os inseticidas utilizados para o controle dos percevejos também controlam a mosca-branca, o que reduz indiretamente a infestação da praga. No entanto, somente esse fato isolado não provocaria o surto populacional da praga, mas sim a somatória desses eventos.

Em relação ao nível de controle, a recomendação em soja é de dez ninfas por folíolo para a maioria dos produtos utilizados no controle de mosca-branca. Como as viroses ainda não impactam a produtividade da soja, a mosca-branca provoca danos apenas quando surge a fumagina, causada pelo fungo Capnodium que geralmente ocorre em infestações superiores ao índice de dez ninfas por folíolo. Entretanto, existe variabilidade genética quanto à resistência das cultivares ao dano da mosca-branca e estudos com diversas cultivares tornam-se necessários.

Para a cultura do algodoeiro, exceto quando ocorre na área plantas daninhas infectadas por virose, existem recomendações de níveis de controle que variam de 20% a 40% de plantas com a presença do inseto. Assim como para a soja, novos estudos são necessários para um índice mais preciso.

Além de monitorar a incidência da praga, é importante avaliar a presença de inimigos naturais como fungos entomopatogênicos que, em condições de alta pluviosidade, promovem epizootias naturais que controlam a praga como Aschersonia spp e Isaria sp.

A exemplo da viabilidade do MIP, nas cidades mato-grossenses de Sinop e Sorriso, onde implementou-se o MIP durante as últimas três safras, a redução no número de pulverizações de inseticidas sempre foi superior a 50% quando comparada ao manejo com pulverizações preventivas para pragas. Além disso, nas áreas onde o MIP foi empregado, não houve surtos populacionais de pragas, o que pode ser explicado pelo aumento da comunidade de inimigos naturais, pois ao tolerar uma baixa infestação de insetos-praga na lavoura, permite-se o estabelecimento do controle biológico natural, o que influencia diretamente na redução populacional das pragas. Além disso, quando há necessidade de controle químico, a eficiência dos inseticidas é satisfatória, pois a infestação da praga não é tão elevada. Cabe ressaltar que a produtividade entre os manejos foi semelhante, porém, com um menor custo de produção nas áreas com MIP.

Em áreas onde o manejo preventivo é empregado a fim de eliminar a praga em baixas infestações, a comunidade de inimigos naturais tem dificuldade em se estabelecer. Assim, a população da praga cresce rapidamente, ocasionando surtos populacionais safra após safra.

Outro fator negativo do emprego das aplicações preventivas de inseticidas (além de dificultar o estabelecimento do controle biológico natural) é a seleção de populações de pragas resistentes aos inseticidas, o que também contribui para os surtos populacionais de pragas. Para a mosca-branca existem inúmeras comprovações científicas de populações resistentes a inseticidas.

Portanto, é importante o produtor estar ciente de que quanto mais se intensifica o sistema produtivo, maiores são os problemas com pragas. Desta forma, o emprego do MIP torna-se fundamental para a manutenção de produtividades satisfatórias e rentáveis.

Clique aqui para ler o artigo na edição 179 da Cultivar Grandes Culturas.


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