Tempo de doença

A época de plantio pode favorecer o aparecimento de doenças na cultura da soja. Veja a opinião de especialista sobre como minimizar os problemas.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A data de semeadura de soja influi em muitos aspectos da cultura. Semeaduras no início ou no fim da época recomendada para cada região climática resultam em diferenças de ciclo e de rendimento. No Rio Grande do Sul, o período recomendado para semeadura de soja vai de 11 de outubro a 10 de dezembro. Em uma safra normal, as lavouras de soja semeadas no mês de novembro obtêm as melhores condições de crescimento e produzem mais grãos que as mesmas cultivares semeadas durante os primeiros quinze dias de outubro ou em dezembro. Nas semeaduras de outubro o ciclo das cultivares é aumentado em até 24 dias, e nas de dezembro o rendimento de grãos pode ser 20 % menor, em média, se comparados com as semeaduras realizadas em novembro.

Semeadura e doenças

O período de semeadura também influi na manifestação de doenças na cultura de soja. Em datas diferentes, poderão ocorrer doenças diferentes, já que as condições climáticas variam no decorrer da safra. A antecipação ou o atraso da semeadura pode auxiliar na combinação perfeita entre estádio suscetível da planta e agente causal, ou favorecer o escape e a sanidade da cultura, ou mesmo não afetar a evolução de doenças. Como o período indicado de semeadura de soja, no Rio Grande do Sul, é relativamente longo, o agricultor pode escolher a data de semeadura de modo a evitar a ocorrência de algumas doenças. No período que antecede a semeadura de soja, é interessante conhecer algumas doenças que são influenciadas pela época de semeadura de soja e que podem ser evitadas, simplesmente com a alteração dessa época, ou aquelas que têm possibilidade de ocorrer, devido a condições favoráveis de ambiente. Entre essas doenças, as mais influenciadas pela data de semeadura são aquelas cujos agentes causais habitam o solo e que causam, principalmente, apodrecimento de raízes.

Nas semeaduras do cedo, como em outubro, as sementes de soja encontram solos mais frios e úmidos que nos meses de novembro ou de dezembro. Essa situação provoca atraso na germinação e favorece o apodrecimento de sementes no solo por vários patógenos, afetando o estande da cultura. Além disso, a semeadura em solos frios e úmidos é um dos principais fatores que influem no desenvolvimento da Síndrome da Morte Súbita, conhecida também como Podridão Vermelha da Raiz (

f. sp. glycines), cujos sintomas são visíveis a partir do florescimento. Esses problemas podem ser acentuados em lavouras manejadas no sistema plantio direto, em que o solo é mais úmido e mais frio que o solo cultivado com arado ou com grade. Outra doença positivamente influenciada pela semeadura antecipada é o nematóide de cisto (

), pois é alta a probabilidade de plantas jovens de soja encontrar em maior número de cistos viáveis no início da estação de cultivo, já que o número de cistos diminui com o passar do temp.

No caso de semeaduras em dezembro, há mais probabilidade de ocorrer problemas relacionados com tombamento por Rizoctonia (

por Esclerócio (

) e por Fitóftora (

), cujos agentes causais necessitam de solos mais aquecidos para se manifestarem. No caso específico do Rio Grande do Sul, observa-se que o tombamento por Pitium também pode ocorrer em dezembro, com condições de solo mais aquecido e de excesso de umidade, diferentemente do que ocorre em outras regiões do mundo, onde é mais comum em solos frios. É interessante observar que a aplicação incorreta de herbicidas e a ação de insetos de solo podem causar injúrias à soja semelhantes aos sintomas dessas doenças e contribuir para aumentar os danos.

Influência indireta

A data de semeadura pode influir indiretamente sobre algumas doenças, como mofo branco (

), crestamento da haste e da vagem (

sp.) e podridão parda da haste (

). As infecções das duas primeiras doenças não ocorrem na fase de plântula, mas há uma janela de tempo durante a qual as plantas de soja são suscetíveis a esses patógenos. Se esse período coincidir com um período de clima favorável à infecção, certamente haverá maiores riscos de ocorrer doenças. Por exemplo, se o florescimento de soja coincidir com períodos de alta umidade e de temperatura amena (em torno de 28 ºC), o mofo branco terá ótimas condições para se desenvolver. Da mesma forma, se a fase de enchimento de grãos coincidir com períodos de falta de umidade, os sintomas de podridão parda da haste serão mais severos. Se a colheita coincidir com períodos de muita chuva, as sementes poderão ser afetadas por

, prejudicando a qualidade destas.

A data de semeadura não terá efeito sobre outras doenças, tais como apodrecimento de raízes e de haste por Fitóftora (

), crestamento bacteriano (

pv. glycines), mancha parda ou septoriose (

), míldio (

), oídio (

) e cancro da haste (

f. sp. meridionalis), pois as infecções podem ocorrer em qualquer período da estação de cultivo.

Analisando esses aspectos, o agricultor ou o assistente técnico podem programar a data de semeadura da lavoura de soja com o objetivo de escapar do período mais favorável à infecção por patógenos. Por exemplo, se, em anos anteriores, uma parte da lavoura foi afetada por tombamento por Rizoctonia ou por Podridão Vermelha da Raiz, essa área poderia ser semeada no fim do período recomendado, para aproveitar o aquecimento do solo e evitar a incidência da doença.

Leila Maria Costamilan

Embrapa Trigo

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