Utilização de EPIs adequados para diminuir ruído de tratores

Ruído ocasionado pelo motor do trator pode afetar a audição dos operadores principalmente de máquinas sem cabine

12.05.2020 | 20:59 (UTC -3)

O ruído ocasionado pelo motor e demais componentes do trator podem afetar a audição dos operadores principalmente de máquinas sem cabine. Por isso é necessário a utilização de EPIs adequados durante as operações com a máquina.

O ruído é considerado um dos principais fatores ambientais presentes nas atividades agrícolas que prejudicam os operadores de máquinas. Contribui para aumentar o estresse e o desconforto nas operações em campo, podendo resultar no aumento de acidentes de trabalho, e na diminuição da capacidade operacional ao longo da jornada.

O ruído é uma onda sonora, ou um complexo de ondas, que podem causar sensação de desconforto e gradual perda da sensibilidade auditiva. O risco de problemas auditivos é determinado pelo nível de som, frequência e tempo de exposição. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT possui normas sobre medições de ruído em máquinas agrícolas, sendo a NBR-9999 a principal.

A norma regulamentadora NR-15 da Portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego, estabelece o nível máximo de ruído permitido para oito horas de exposição diária em 85 dB. O tempo de exposição estabelecido pela norma diminui à medida que o nível de ruído aumenta. Ainda de acordo com a NR-15, não é permitida exposição a níveis acima de 115 dB para indivíduos que não estejam adequadamente protegidos com EPI (equipamento de proteção individual). Do ponto de vista fisiológico e da ergonomia do posto de trabalho do operador, altura e intensidade são as duas características de interesse com relação ao ruído emitido por tratores.

O geoprocessamento é uma importante ferramenta na descrição espacial do comportamento de variáveis, e traz excelentes resultados na execução dos mais deversos projetos. A análise geoestatística compreende o levantamento do variograma experimental, ajuste à uma família de modelos de variogramas, e a validação do modelo a ser utilizado nos procedimentos da krigagem.

A importância do nível de ruído para a segurança dos operadores de máquinas é indiscutível, e neste sentido, o Núcleo de Ensaio de Máquinas e Pneus Agroflorestais da Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu (FCA-UNESP), utilizando as técnicas geoestatísticas para confecção de mapas, mensurou e analisou o ruído de um trator agrícola em diferentes distâncias de sua fonte (o próprio trator)  em duas rotações de trabalho do motor.

Foi definida uma malha amostral do tipo homogênea, e a fim de tornar mais simples a leitura do ruído nas diferentes distâncias, a área foi delimitada por um quadrado de 1764m² (42m de lado), contido em um plano cartesiano imaginário. A cada seis metros existia uma reta, e com o cruzamento destas, foi definida a malha. Cada amostra, portanto, representou uma área de 36m², totalizando 64 pontos de coleta para cada rotação do motor.

Utilizou-se um trator de pequeno porte, com 78cv de potência no motor (ISO14396), de três cilindros, turbo e cabine aberta. As rotações escolhidas foram a de trabalho (2200 rpm) e a de plena aceleração (2400 rpm). O trator foi posicionado no centro desta malha, sendo escolhida uma área ao ar livre, plana e com ausência de ruídos externos ao ensaio. Os pontos de coletas mais distantes do ruído estavam localizados a 30m, isto é, nas extremidades da malha amostral.

Foi utilizado um decibelímetro modelo DL-4200 da Icel para as coletas de ruído, sendo que este atende aos padrões da “International Eletrotechnical Commision Standards IEC 60651:1979; Amd1:1993; Amd2:2000”. Durante as coletas, o microfone do decibelímetro foi posicionado sempre à altura dos ouvidos de um indivíduo de estatura média, que corresponde a 1,7m. A escala foi ajustada em decibéis (dB) por ser a escala convencionalmente utilizada nos ensaios de ruído de tratores, e por representar a curva de resposta do ouvido humano. Após a coleta dos dados, estes foram submetidos ao software “Surfer 9.1.352” para a plotagem dos mapas e cálculo da área ocupada pelos níveis de ruído.

As duas rotações avaliadas apresentaram estrutura de dependência espacial na escala de amostragem adotada, também sendo observado forte dependência espacial para as duas rotações segundo a classificação de Zimback (Tabela 1).

A partir da krigagem ordinária (método de regressão usado na geoestatística para aproximar ou interpolar dados), foram construídos os mapas temáticos para a distribuição do ruído em função da rotação, mostrando que no posto de operação do trator, o nível tolerado pela NR-15 para um turno de oito horas de trabalho foi ultrapassado (Tabela 2). Este nível de ruído revela-se constante em uma área ao redor do trator, sendo de 122,5m² para 2200 rpm, e 231,3m² para 2400 rpm.

Figura 1. Mapas de distribuição espacial do ruído emitido (dB) por um trator, em função das distâncias e rotações do motor.
Figura 1. Mapas de distribuição espacial do ruído emitido (dB) por um trator, em função das distâncias e rotações do motor.

Podem-se considerar seguras as distâncias de 7 e 11 metros em relação ao trator para as rotações de 2200 e 2400 rpm respectivamente. A partir deste raio, em relação ao trator, os níveis de ruído medidos estão abaixo do limite informado pela NR-15 para um turno de trabalho de oito horas.

Os níveis de ruídos encontrados nas proximidades e no posto de operação do trator foram superiores ao estabelecido pela NR-15, e sendo assim, é necessária a utilização de EPIs na operação e proximidades de tratores similares. Seguindo este modelo, o mesmo pode ser aplicado a outros tratores de cabine aberta. A não utilização dos EPIs pelo operador, quando em operação, ou pelos indivíduos nas proximidades do trator, pode resultar em prejuízos irreversíveis.

Pesquisadores realizaram teste com trator de 78cv sem cabine.
Pesquisadores realizaram teste com trator de 78cv sem cabine.


Emanuel Rangel Spadim, UNIP; Indiamara Marasca, Marcelo Scantamburlo Denadai, Saulo Philipe Sebastião Guerra, Kléber Pereira Lanças, UNESP


Artigo publicado na edição 158 da Cultivar Máquinas. 

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