Vilã temida: a requeima do tomate

A requeima, causada por Phytophthora infestans, é uma doença altamente agressiva na cultura do tomate, capaz de dizimar lavouras inteiras em curto espaço de tempo

17.01.2018 | 21:59 (UTC -3)

A requeima, causada por Phytophthora infestans, é uma doença altamente agressiva na cultura do tomate, capaz de dizimar lavouras inteiras em curto espaço de tempo. Carente de cultivares com bons níveis de resistência ao patógeno, o produtor brasileiro precisa lançar mão de medidas integradas, preferencialmente preventivas, com monitoramento diário e rigoroso das áreas de cultivo, além de adotar o controle químico com fungicidas específicos para cada etapa do manejo

Uma das grandes limitações para a produção do tomateiro no campo é a incidência de doenças, que ocorrem com maior intensidade em épocas chuvosas, responsáveis por perdas que comprometem toda a produção. Dentre as doenças, a requeima ou mela, causada por Phytophthora infestans, se destaca por causar sérios prejuízos à cultura, principalmente em regiões de clima ameno e de elevada umidade relativa.

A doença é temida pela maioria dos tomaticultores, tamanha sua agressividade. Quando as condições ambientais são muito favoráveis ao desenvolvimento do patógeno a lavoura pode ser completamente destruída em poucos dias, por conta de desfolha das plantas, morte de ramos e podridão dos frutos.

Apesar de ser uma doença muito estudada, seu controle ainda é difícil. A partir da década de 1990, o controle da requeima tem sido realizado mediante a adoção de práticas culturais e a aplicação de fungicidas sistêmicos, uma vez que existem cultivares de tomate com níveis satisfatórios de resistência à doença. Algumas regiões produtoras de tomate, em que as condições ambientais são muito favoráveis à ocorrência e à epidemia da doença, se tornaram produtivamente insustentáveis em determinadas épocas do ano, em razão dos altos custos com a aplicação de fungicidas para o controle da requeima.

Os sintomas

A requeima pode ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento do tomateiro e afetar severamente todos os órgãos da parte aérea da planta. Os primeiros sintomas geralmente ocorrem na metade superior da planta. Nas folhas, iniciam-se na forma de pequenas manchas de coloração verde-pálido e formato indefinido. Posteriormente, as lesões aumentam de tamanho rapidamente e atingem grande parte do limbo foliar. Em seguida os tecidos afetados adquirem coloração marrom-pálido, murcham e tornam-se necróticos com aspecto de queima, razão pela qual a doença é denominada requeima.

Lesões também podem ocorrer de forma semelhante no caule, pecíolos e no ráquis do tomateiro, na forma de lesões escuras, geralmente superficiais, quebradiças, que podem resultar na morte da porção acima da lesão.

Nos frutos as lesões aparecem como manchas escuras de coloração marrom-pardo, de aspecto oleoso e consistência firme, podendo aumentar de tamanho e estender-se por toda a superfície do fruto, causando podridão dura, sem provocar sua queda. Com o tempo, os frutos infectados podem se tornar amolecidos devido à contaminação com micro-organismos oportunistas. Em condições de alta umidade verifica-se a formação de micélio e frutificações do patógeno sobre caules, pecíolos, frutos e sobre a face inferior das folhas.

Etiologia

A requeima do tomateiro é causada pelo oomiceto Phytophthora infestans, de ocorrência em praticamente todas as regiões em que o tomateiro e a batata são cultivados. O fungo apresenta variabilidade muito alta, e inúmeras raças fisiológicas já foram descritas, o que dificulta o desenvolvimento e o estabelecimento de cultivares com níveis satisfatórios de resistência à doença.

Quando a umidade e a temperatura são favoráveis ao desenvolvimento, o patógeno produz grande número de esporos móveis conhecidos como zoósporos, responsáveis pelas infecções e epidemias. Os zoósporos podem se locomover por meio de um filme de água no solo e causar novas infecções. Por outro lado, quando a temperatura e a umidade são desfavoráveis ao seu desenvolvimento, o patógeno produz estruturas de resistência conhecidas como oósporos, que têm papel importante em sua sobrevivência, até que as condições tornem-se novamente favoráveis. Os oósporos são capazes de sobreviver no solo na ausência de uma planta hospedeira, constituindo-se em inóculo inicial, com papel importante na epidemiologia da doença por contribuir para o início antecipado da epidemia no campo. 

Epidemiologia

O fator climático mais importante para o início da doença é a umidade proveniente das chuvas ou irrigações e orvalho, tanto que na cultura do tomate é possível observar focos de requeima até mesmo nos meses mais quentes do ano, bastando para isso a presença de água livre nas folhas ou hastes e noites frias. P. infestans cresce e produz zoósporos abundantemente em umidades relativas próximas a 100% e temperaturas entre 15ºC e 25°C. Desta forma, em localidades e épocas de cultivo com clima ameno e alta umidade relativa, a quantidade de inóculo é muito maior, o que leva a epidemias mais severas no campo após vários ciclos sucessivos. Em ambiente favorável, o patógeno pode completar um ciclo de infecção em quatro a cinco dias.

O patógeno sobrevive principalmente em restos culturais do tomateiro e da batata, como folhas, hastes, frutos e tubérculos infectados, e é disseminado pela chuva, ventos fortes e implementos agrícolas contaminados. Cultivos de tomate e batata em fase final de produção também podem, eventualmente, hospedar o patógeno, servindo como fonte de inóculo para cultivos posteriores de tomateiro ou lavouras próximas.

As sementes, embora em baixa ocorrência, podem também servir de fonte de inóculo da doença, promovendo sua disseminação por meio de mudas infectadas.

Manejo da doença

O uso integrado de práticas de manejo é necessário para o sucesso no controle da requeima, que inclui medidas preventivas culturais e aplicação de fungicidas. Atualmente, não existem cultivares de tomateiro com boas características agronômicas e resistência duradoura a P. infestans. O que se pode verificar na prática é que há diferentes níveis de suscetibilidade à requeima nas cultivares comerciais, mas todas são atacados pela doença. Outra dificuldade se refere à alta variabilidade genética do patógeno agravada pelo não conhecimento do comportamento das cultivares frente aos isolados de cada região.

Os métodos preventivos devem ser priorizados sempre que possível para se ter maior sucesso no controle da doença. O primeiro passo é a escolha da área e a época de plantio. Deve-se evitar o plantio em solos sabidamente contaminados pelo fungo, de baixada, sujeitos à ocorrência e permanência de neblina por longos períodos, solos mal drenados ou áreas próximas a lavouras velhas de tomate e batata contaminadas. O ideal é o plantio em épocas mais quentes e menos chuvosas sempre que possível, como uma das formas de desfavorecer o estabelecimento do patógeno e o progresso da doença. É importante lembrar que o plantio de mudas sadias é essencial e a irrigação deve ser preferencialmente por gotejamento para não promover o molhamento foliar. Após a última colheita do tomateiro, recomenda-se incorporar imediatamente os restos culturais ao solo, para que haja tempo suficiente para a sua decomposição, de forma a eliminar fontes de inóculo para os plantios de tomate sucessivos. Em áreas contaminadas recomenda-se fazer a rotação de culturas com gramíneas ou outras plantas não solanáceas.

Para garantir a eficiência do controle químico é necessário realizar o monitoramento diário da lavoura a fim de verificar os primeiros sintomas da doença. O momento certo de aplicação do fungicida é a chave para controlar a doença. As aplicações de fungicidas de contato devem ser iniciadas antes do aparecimento da doença, sendo recomendadas no decorrer de todo o ciclo da cultura. Estes fungicidas possuem ação protetora e, portanto, devem ser aplicados periodicamente para promover a cobertura de toda a parte aérea das plantas, uma vez que não são translocados. São produtos que permanecem na superfície foliar, mas estão sujeitos à remoção pela ação das chuvas e irrigação. O período de proteção destes fungicidas varia de quatro dias a oito dias. De maneira geral, as pulverizações para renovar a proteção das plantas devem ser repetidas a intervalos de quatro dias a sete dias em períodos chuvosos ou de rápido desenvolvimento vegetativo da cultura, e de sete dias a dez dias em períodos secos.

Os fungicidas sistêmicos possuem ação curativa e devem, portanto, ser aplicados após a detecção dos primeiros sintomas. Esses defensivos são translocados pelo sistema vascular, com a característica de se distribuírem pela planta como um todo. Apresentam rápida absorção, em torno de 30 minutos, e períodos de proteção de aproximadamente dez dias a 14 dias. Vale ressaltar que a aplicação de fungicidas deve ser realizada de forma sequencial com produtos de contato a partir da emergência, com posterior uso de produtos com atividade sistêmica nas fases de crescimento vegetativo e frutificação. Esta alternância de ingredientes ativos e modos de ação é de extrema importância para prevenir a seleção de patógenos resistentes a fungicidas.

Atualmente, os tomaticultores dispõem de um grande número de fungicidas registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle da requeima, incluindo produtos de contato e com diferentes níveis de atividade sistêmica. Os principais fungicidas de contato recomendados para o controle da requeima em tomateiro são: os cúpricos, mancozebe, clorotalonil, fluazinan, propinebe, captana, mandipropamid, zoxamida e ciazofamida, e os principais fungicidas sistêmicos são: cimoxanil, fenamidona, dimetomorfe, famoxadona, metalil-M e benalaxil. Alguns dos fungicidas já apresentam em sua composição misturas de ingredientes ativos de ação protetora e sistêmica. Fungicidas registrados para o controle de P. infestans poderão ser consultados através do site: http://extranet.agricultura.go... (Agrofit, 2012). Para as aplicações dos fungicidas o produtor deve seguir rigorosamente as recomendações do fabricante quanto à dose, ao número e ao intervalo de aplicação, ao volume do produto e da calda a ser aplicado, ao intervalo de segurança e ao período de carência. Vale ressaltar que o uso do equipamento de proteção individual (EPI) é essencial para a proteção do aplicador.

 

Clique aqui para ler o artigo na edição 78 da Cultivar Hortaliças e Frutas. 

 

 

 

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