Zinco reduz estresse

Suplementação com zinco, via oral, em bezerros desmamados aos 90 dias melhorou a aparência geral, a saúde e o ganho de peso.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

Nos registros de fazendas de gado de corte, é notório que as maiores perdas no rebanho ocorrem no terço inicial da vida do animal. Este fato, possivelmente, está associado com o manejo de matrizes em pastos de baixo valor nutricional, que somado a uma suplementação mineral inadequada, predispõe os bezerros a uma deficiência subclínica de zinco (Zn).

O resultado é que os bezerros produzidos nessa situação normalmente são fracos e portadores de distúrbios nutricionais que, além de influenciar os demais estados mórbidos, tornam -nosmais susceptíveis a doenças resultantes de um estresse prolongado. O estresse acelera o consumo de Zn e a principal conseqüência da alteração metabólica é a falta de apetite e a depressão da resposta imune aos agentes agressores.

A aplicação oral de 300 mg de zinco/10 ml de água em animais, desmamados aos 90 dias, em comparação ao grupo sem zinco, resultou em um aumento altamente significativo: 13,7% aos 120 e 11,8% aos 150 dias no peso vivo pós-desmama.

Antecedentes

Normalmente, bezerros são desmamados entre sete e nove meses de idade e no início da estação seca, período de baixo valor nutritivo das pastagens. Portanto, além do estresse “emocional” da desmama, instala-se também um estresse metabólico que, em função de sua severidade, pode levar os bezerros a consumirem suas próprias reservas energéticas e protéicas. Quando são sadios e bem nutridos, essa etapa é superada sem maiores problemas. No caso de animais subnutridos, o estresse da desmama pode se prolongar, causando lesões irreversíveis e perdas representativas ao sistema de produção.

O zinco é um elemento essencial, requisitado para síntese de proteínas e do DNA, importantes para formação dos sistemas imunológico e nervoso, tecido muscular e órgãos, desde a formação embrionária até a fase adulta do animal. Assim, ele está presente em todas as células, principalmente na fase de divisão e síntese. Quando a deficiência é subclínica, pode passar desapercebida nas vacas de cria, mas manifesta-se nos bezerros. Assim, nascem animais fracos, de baixo desempenho, pêlos opacos e arrepiados e mais susceptíveis a doenças.

Na fase de aleitamento, os bezerros estão em crescimento rápido e a demanda por nutrientes para a formação de tecidos, incluindo o Zn, é alta. Em condições de alto estresse há prioridade do Zn para o fortalecimento do sistema imunológico.

Ensaios experimentais têm mostrado que uma dose suplementar de Zn, sob forma de sulfato, acelera sensivelmente a cura de ferimentos em animais. O elemento também participa da síntese de proteínas, como a queratina, e sua deficiência pode se manifestar na formação da pele mais fina, pêlos opacos e ralos.

Baseado nessas observações, e sabendo-se que o estresse à desmama é um fator que muitas vezes causa deficiências irreversíveis, procurou-se avaliar o efeito da aplicação de uma dose única de Zn em uma situação de desmama aos 90 dias.

Metodologia

A solução foi preparada dissolvendo-se 132 g de sulfato de zinco heptahidratado (ZnSO4.7H2O) ou 74,2 g de sulfato de zinco anidro (ZnS04) em um litro de água. Para atender uma dose única de 300 mg de Zn, 10 ml da solução foi administrada em cada bezerro, via oral, usando-se uma seringa comum.

Trinta bezerros nelores, entre machos e fêmeas, desmamados aos 90 dias, no mês de dezembro, foram separados em dois lotes de 15 animais: um grupo sem Zn (Zn0) e um com Zn (Zn1). No momento da desmama, as condições gerais dos bezerros eram preocupantes: baixo peso corporal, alta infestação de berne e alguns com pêlos arrepiados, sem uniformidade e brilho.

Pôde-se verificar que não houve diferença significativa nas pesagens em 30 e 60 dias após desmame, aos 90 dias a diferença foi grande e 120 a 150 dias após a desmama altamente significativa. Aos 180 dias a média não foi significativa, embora houvesse maior ganho de peso no tratamento Zn1 em relação ao Zn0. Como não houve diferenças significativas nas pesagens em 30 e 60 dias após a desmama, os resultados indicam o efeito do estresse, onde deve ter ocorrido forte depressão do sistema imune, que se prolongou até um pouco mais dos 60 dias nos dois grupos em estudo. No entanto, após interrompido o fornecimento da ração, houve grande diferença entre os tratamentos.

Aos 90 dias, os bezerros do grupo Zn1 começaram a recuperar o peso, justamente no início da dieta a pasto, com melhor ganho de peso em relação ao grupo Zn0. Quando o ganho de peso foi significativo, os bezerros já apresentavam massa muscular visível e pêlos uniformes. Aos 180 dias, continuaram ganhando melhor peso no tratamento Zn1, mas percebeu-se que não era progressivo.

Os bezerros têm uma capacidade limitada de armazenar o zinco de forma que possa ser utilizado com rapidez para que os sintomas de deficiência não se instalem. O estresse acelera o consumo de Zn e a principal conseqüência da alteração metabólica é a falta de apetite. Na situação de desmama precoce, as reservas de zinco dos bezerros são praticamente inexistentes e dependem da ração e volumoso para atender às suas altas exigências. Por outro lado, o estresse na desmama altera sensivelmente o metabolismo basal e a síntese de proteínas diminui, reduzindo o desempenho do animal. Reverter ou minimizar este quadro e fazer com que o animal busque o alimento é importante para garantir o desenvolvimento do bezerro.

A aplicação de 300 mg de Zn, via oral, logo após a desmama, melhorou a procura por alimento, a saúde, a aparência geral e o ganho de peso dos bezerros.

Sheila da Silva Moraes

Embrapa Gado de Corte

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