Zoneamento agrícola e época de semeadura de trigo

Por Sérgio Ricardo Silva, pesquisador da Embrapa Trigo, e por Sérgio Luiz Gonçalves, pesquisador da Embrapa Soja

15.02.2018 | 21:59 (UTC -3)

O Ministério da Agricultura adota o “Zoneamento Agrícola de Risco Climático” (ZARC) para definir regiões e épocas mais apropriadas ao cultivo agrícola, considerando a precipitação pluvial, evapotranspiração, tipos de solo, ciclos das culturas, fases fenológicas e adaptação de cultivares. O objetivo principal do ZARC é subsidiar a definição da “política de crédito de custeio agrícola oficial e de seguro rural privado e público”, visando reduzir os riscos de perdas causadas por adversidades climáticas. Nas regiões tradicionais de cultivo de trigo no Brasil, os maiores riscos de perda de produção estão relacionados com: 1) temperatura elevada e deficiência hídrica (na região tropical); 2) geada no espigamento; 3) excesso de chuva após o espigamento, causando doenças de difícil controle, como a giberela na região temperada e brusone na região tropical; e 4) excesso de chuva na colheita, ocasionando a perda de qualidade tecnológica dos grãos.

Os períodos de semeadura do trigo (por decêndios), para cada munícipio brasileiro, são indicados oficialmente pelo ZARC, cuja revisão anual é previamente disponibilizada na internet (http://www.agricultura.gov.br/assuntos/riscos-seguro/risco-agropecuario/portarias/portarias). Ele considera três grupos de cultivares com semelhantes ciclos (precoce, médio e tardio), três grupos de solos (arenoso, textura média e argiloso) e três níveis de risco (20%, 30% e 40%). 

Uma limitação do ZARC é não considerar a probabilidade de ocorrência de doenças de espiga do trigo (giberela e brusone), devido à elevada dificuldade de previsão da ocorrência simultânea de duas condições ambientais necessárias para infecção dos fungos nas espigas: altas temperaturas (20 a 25 ºC para giberela e 24 a 28 ºC para brusone) e longos períodos de precipitação pluvial (48 a 72 horas para giberela e 15 a 40 horas para brusone).

Portanto, o agricultor precisa conhecer o histórico de precipitação e de temperatura de sua propriedade ou de seu município, para definir a melhor data de semeadura do trigo, evitando condições climáticas pós-espigamento favoráveis a estas doenças. Como exemplo, em 2017, o ZARC - considerando o risco de perdas de 20% - indicou o período de semeadura do trigo em Londrina – PR de 21 de março até 10 de maio, de modo a minimizar os riscos com geada e com excesso de chuva na colheita. Porém, agricultores e pesquisadores têm verificado (nas safras de 2009, 2011, 2015 e 2017) que a semeadura do trigo realizada antes de 20 de abril intensifica a ocorrência de brusone no norte do Paraná. Assim, o momento de semeadura deve ser escolhido considerando também a probabilidade de ocorrência da doença.

Nós concluímos que a época de semeadura baseada no ZARC é uma importante ferramenta de manejo da cultura do trigo, pois reduz os riscos de perda de produtividade de grãos devido às adversidades climáticas. Além disso, o agricultor que conhece bem o histórico climático de sua propriedade e a forma de propagação das doenças, estará melhor capacitado para escolher o momento ideal de semeadura, que é uma peça-chave para o sucesso da lavoura.

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