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string(16) "brusone-em-arroz"
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string(16) "Brusone em arroz"
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string(395) "<p>A brusone
é uma doença que se destaca na cultura do arroz, pelo alto potencial de causar
danos e de reduzir de modo drástico a produtividade. Em áreas irrigadas, o uso
de material genético não suscetível associado a outras práticas de manejo
integrado permite elevada eficiência no controle desta enfermidade </p>"
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string(14817) "<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/e38722350863a85d9dc9fba8b04c417e.jpg"></figure><p>No
Brasil, aproximadamente 75% da produção de arroz é proveniente do
agroecossistema terras baixas do Rio Grande do Sul, onde predomina a
orizicultura irrigada por inundação. Parte significativa desta produção pode
ser atribuída à elevada capacidade e estabilidade produtiva, à qualidade de
grãos das cultivares e à adoção de boas práticas agrícolas que ampliam o nível
tecnológico das lavouras.</p>
<p>O
planejamento do manejo integrado das práticas agrícolas é feito de modo a
atribuir maior chance de sucesso ao controle preventivo ou o escape das doenças
do arroz, reduzindo os riscos de perda de produtividade. Portanto, se constitui em sistema de alta
eficiência, flexível e dinâmico para o controle das doenças, incluindo
estratégias que reduzem o inóculo inicial e a taxa de progressão no campo,
integradas a outros métodos (biológico, cultural, químico, cultivares
resistentes), que têm por objetivo manter a taxa de severidade abaixo do limiar
de dano econômico, com o mínimo de efeito nocivo ao ambiente. Tal sistema, ao
eliminar a interferência de interações de efeitos negativos aos arrozais,
indiretamente, condiciona melhor expressão do potencial produtivo das
cultivares, que é de maior interesse dos orizicultores. </p>
<p>Quando
as doenças da cultura do arroz se manifestam, há risco de menor produtividade,
da sanidade das sementes e da qualidade dos grãos. Entre as doenças do arroz,
destaca-se a brusone (Pyricularia oryzae) devido ao alto potencial para
danificar plantas de cultivares suscetíveis, reduzindo drasticamente a
lucratividade.</p>
<p>A
brusone pode se estabelecer em distintas partes da planta de arroz, como
folhas, colmos, bainhas e sementes, sendo o sintoma das manchas foliares o mais
típico. Nas folhas, os sintomas iniciais consistem de pequenos pontos, de
aproximadamente 1mm de diâmetro, cor castanho, passando a castanho-avermelhado,
rodeados por um halo amarelado. Evoluem para uma lesão alongada, com bordos
irregulares e de coloração marrom, com centro grisáceo, onde aparecem as
frutificações do fungo (Figura 1). Em condições de alta umidade, na fase de
floração, pode ocorrer infecção do primeiro nó, abaixo da panícula,
esterilizando todas as espiguetas, que é a situação mais comum da brusone de
panícula, conhecida como brusone de pescoço. </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/cb8a4ff1ece6b4a030b20a7606beea0e.jpg" alt="Figura 1 - Sintomas de brusone em folha de arroz" title="Figura 1 - Sintomas de brusone em folha de arroz"><figcaption>Figura 1 - Sintomas de brusone em folha de arroz</figcaption></figure><p>A
infecção do pescoço geralmente é considerada a condição mais deletéria da
doença, devido aos danos nessa parte da planta reduzirem a formação de grãos em
toda a panícula. Por isso, a produtividade de arroz é estreitamente relacionada
à severidade da brusone de pescoço.
Neste contexto, estudos demonstraram que a cada 1% de brusone de pescoço
há uma perda de 0,5% de produtividade. Além disso, a infecção tardia da
panícula na fase de grão leitoso pode causar gessamento e reduzir o rendimento
de grãos inteiros.<br></p>
<p>No Rio
Grande do Sul, a epidemia de brusone tem sido maior nos últimos anos, devido à
semeadura de grande escala de cultivares suscetíveis. Dentre dez cultivares
mais usadas na safra 2014/2015, 70% são suscetíveis à doença, ocupando uma área
de aproximadamente 800 mil hectares. Esta epidemia se intensifica quando são
usadas elevadas doses de fertilizantes, principalmente de nitrogenados.
Associado a esta situação, o número de aplicações de fungicidas aumentou
aproximadamente 700%, em mais de 50% das lavouras do Rio Grande do Sul, o que
perdura até o presente. Isso, provavelmente, induziu ao aumento de epidemia,
associado ao surgimento de mais raças do fungo P. oryzae, o que reduz o período
da resistência (vida útil) das cultivares.</p>
<h2>Como manejar</h2>
<p>Para
manejar a brusone é recomendado um adequado preparo do solo, com eficiente
incorporação de restos culturais, utilização de semente certificada, em épocas
e densidades corretas de semeadura, adubação equilibrada, principalmente a
nitrogenada, irrigação por inundação uniforme e controle eficaz de plantas
daninhas. Este manejo é otimizado via uso de cultivares de arroz resistentes,
um método agronomicamente eficiente, econômico e ambientalmente mais seguro
para o controle da doença. </p>
<p>Constata-se
que a reação de resistência de cultivares à brusone é inversa à ação de
controle por fungicida. Ou seja, quanto maior o grau de resistência da
cultivar, menor é a contribuição do fungicida no controle da brusone,
ocorrendo, consequentemente, maior ação de controle (interação
fungicida/resistência), reduzindo o número de aplicações. Assim, quanto mais suscetível for a cultivar,
maior a necessidade de haver planejamento das ações de controle, como semear
mais cedo, pois o avanço das épocas de semeadura do arroz aumenta a severidade
da brusone, e outras medidas, que aumentam a responsabilidade com o
monitoramento da doença e do clima (umidade e temperatura) para estabelecer o
limiar de ocorrência da brusone (risco de epidemia). Portanto, há necessidade
de estabelecer um equilíbrio, todas as vezes que for tomada uma decisão de
alterar, modificando este manejo, como nas escolhas das cultivares suscetíveis,
no emprego de adubação pesada de cobertura, que aumenta o estresse no sistema.
Portanto, há necessidade de compensar ou intensificar ação em outras medidas ou
métodos que auxiliem no controle das doenças. </p>
<p>A
aplicação de fungicidas nas lavouras de arroz irrigado do Rio Grande do Sul,
com base em diagnóstico da situação da brusone, utilizando doses registradas, em
época correta, proporciona maior eficiência de controle, podendo resultar em
menor número de pulverizações e maior economicidade. Entretanto, esse controle pode ser mais
eficiente e econômico ainda se procedido por boas práticas de manejo da
cultura. </p>
<p>De
modo geral, todos os fungicidas registrados para controle de brusone na cultura
do arroz irrigado foram e são estudados quanto à sua eficiência, com duas
aplicações, durante período reprodutivo das plantas, sendo a primeira no
emborrachamento tardio (até 5% de emissão de panículas) e a segunda 15 dias
após, de acordo com poder residual e a dose recomendada pelo fabricante.</p>
<p>Em
situação de região que possua histórico de ocorrência de epidemia baixa, ou
seja, baixa severidade de brusone, o que é frequente em lavoura de arroz do Sul
do Rio Grande do Sul, os resultados evidenciaram que uma aplicação de
fungicida, na fase fenológica de emborrachamento (R2), é suficiente para
controlar a doença e assegurar a capacidade produtiva das cultivares, o que se
equipara com duas e três aplicações, nos estádios de emborrachamento + floração
e emborrachamento + floração + grão leitoso, respectivamente (Tabela 1). </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/a01bf2bb1141c7814681912307e95f42.jpg"></figure><p>Aos
benefícios agronômicos e econômicos de apenas uma aplicação de fungicidas,
somam-se os ambientais e alimentares. As aplicações de fungicidas mais tardias
são ineficientes no controle da doença, ao ponto de não impedirem que a doença
atinja severidade semelhante à constatada em plantas não tratadas.<br></p>
<p>Por
outro lado, quando o controle da brusone é baseado em métodos por previsão, as
plantas de arroz devem ser protegidas antes do surgimento nas panículas ou da
ocorrência de condições climáticas favoráveis à doença por períodos superiores
à duração do efeito residual dos fungicidas (dez-18 dias). Dependendo da situação
da doença, deve-se decidir pela necessidade ou não de uma segunda aplicação. Em
casos de dúvida, deve ser considerado que o período que abrange as fases de
emborrachamento tardio e o início da emissão das panículas é aquele em que são
obtidos melhores efeitos das aplicações de fungicidas (Tabela 1). Poderá
também, ser adotada uma tática de aplicação mista, em áreas com histórico de
ocorrência da brusone, realizando a primeira pulverização por calendário fixo,
no final do emborrachamento, e a segunda por previsão empírica (sob a
probabilidade de ser atingido o limiar de ocorrência da doença), de modo a
impedir o estabelecimento de danos econômicos. </p>
<p>Há
fortes indicativos de correlação entre a produção de arroz irrigado e a
severidade de brusone nas panículas, sendo atingida maior produtividade da
cultura quando as plantas são tratadas com fungicidas (Tabela 1 e Figura 2).</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/8c67aba173ec38767c4c2bf0ce3866d3.jpg" alt="Figura 2 - Relação entre produtividade de arroz irrigado e severidade de brusone nas panículas da cultivar Guri Inta CL, com base na aplicação de fungicidas em três estádios de desenvolvimento - safra 2015/16. 1Notas (0 a 9) atribuídas às panículas aos dez dias após a aplicação" title="Figura 2 - Relação entre produtividade de arroz irrigado e severidade de brusone nas panículas da cultivar Guri Inta CL, com base na aplicação de fungicidas em três estádios de desenvolvimento - safra 2015/16. 1Notas (0 a 9) atribuídas às panículas aos dez dias após a aplicação"><figcaption>Figura 2 - Relação entre produtividade de arroz irrigado e severidade de brusone nas panículas da cultivar Guri Inta CL, com base na aplicação de fungicidas em três estádios de desenvolvimento - safra 2015/16. 1Notas (0 a 9) atribuídas às panículas aos dez dias após a aplicação</figcaption></figure><p>Com
base nesse indicativo de correlação, foi estimada a viabilidade econômica
(lucratividade) de um maior ou menor número de aplicações (Tabela 2),
utilizando as seguintes informações: severidade de brusone nas panículas
(Tabela 1); doses, custos da aplicação aérea e preço médio atual (litro ou
quilo) das marcas comerciais de fungicidas contendo triciclazol (R$ 235,00) e
trifloxistrobina + tebuconazol (R$ 70,00); preço atual da saca de arroz de 50kg
(R$ 40,00).<br></p>
<p>As
maiores produtividades simuladas corresponderam a uma, duas e três aplicações
dos fungicidas, em R2 (emborrachamento), R2 + R4 (emborrachamento + floração),
e R2 + R4 + R6 (emborrachamento + floração + grão leitoso), respectivamente,
superando em 1t/ha a produtividade associada ao tratamento testemunha. A
indicação de que a aplicação única de fungicidas em R2 viabiliza uma
produtividade igual à atribuída a duas e três pulverizações mais tardias, tem
base na evidência de que tratamentos no estádio de emborrachamento e floração
são mais efetivos no controle da brusone, assegurando níveis normais de
produtividade. Portanto, dependendo da severidade da doença, que pode variar
conforme a safra, a região orizícola, a cultivar utilizada e as práticas de
manejo da cultura, dentre outros fatores, é possível reduzir o número de
aplicações de fungicidas, com impacto positivo nos custos de produção e
qualidade de recursos naturais, e menor risco de acúmulo de resíduos nos grãos.</p>
<p>Portanto,
considera-se que cultivares resistentes à brusone são relevantes para o manejo
da doença em arrozais irrigados, associado ao fato de que em determinadas
regiões orizícolas há histórico de baixa severidade. Assim, evidencia-se que,
com base em monitoramentos, apenas uma aplicação de fungicida, no
emborrachamento (R2), é suficiente para o controle da doença e manutenção da
produtividade, aumentando o nível tecnológico de arrozais irrigados.</p>
<p> </p>
<p>Cley Donizeti
Martins Nunes e José Francisco da
Silva Martins, Embrapa Clima
Temperado</p>"
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