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string(39) "Valtemir Carlin, Agrodinâmica, MT"
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string(47) "Caderno Técnico Soja Parte 2: Via dupla "
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string(1205) "<p>Ao mesmo tempo em que a soja experimenta rápido crescimento do teto produtivo no Brasil, desafios fitossanitários crescem em velocidade proporcional. É o caso do aumento da pressão de doenças foliares em regiões produtoras como o sudoeste do Mato Grosso. </p>
<p>A ferrugem da soja (<em>Phakopsora pachyrhizi</em>) está presente no Mato Grosso desde a safra 2002/2003. Nestas 17 safras, houve muitos aprendizados. Fatores como grandes extensões de soja como hospedeiro preferencial, ambiente tropical com alta umidade e molhamento foliar prolongado; temperatura adequada, períodos chuvosos dificultando as aplicações de fungicidas e um patógeno que se multiplica a taxas explosivas fizeram com que a ferrugem encontrasse no Brasil um dos melhores locais do mundo para se propagar e causar grandes danos. Como se isso não bastasse, as ferramentas de manejo para essa doença se fundamentam basicamente no controle químico e no escape, visto que praticamente não há resistência genética e outras ferramentas de manejo efetivas.
</p>"
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string(10439) "<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/ff9b9f35d561f59a4af5cd6a311ef9f1.jpg"></figure>
<p>Por
conta disso, a exposição dos poucos mecanismos de ação eficientes para controle
da doença tem sido alta, favorecendo a adaptação do fungo aos fungicidas
sítio-específicos atualmente utilizados, como no caso dos triazóis,
estrobilurinas e carboxamidas. Os primeiros casos de resistência foram vistos
em 2006/2007, apenas cinco safras após o início da exposição dos produtos, e
confirmados na safra seguinte, para os triazóis. Atualmente, no Mato Grosso, há
populações com resistência múltipla para os três mecanismos de ação
anteriormente citados, e as observações de pesquisa mostram que o processo de
seleção de populações resistentes do fungo aos fungicidas não está
estabilizado, ou seja, as eficácias continuam caindo ano após ano.</p>
<p>Os
fungicidas multissítios têm trazido um grande conforto para o negócio da soja,
contribuindo grandemente para o manejo de resistência e a melhora do controle
de doenças (Tabela 1). Todavia, este grupo de produtos também tem suas
limitações, principalmente pelo efeito residual curto (Figura 1) e pelo
espectro de controle. Funcionam muito bem, desde que associados aos fungicidas
sítio-específicos. E nesse contexto, para que a combinação sítio-específico +
multissítio apresente bons resultados, é fundamental que os sítio-específicos
continuem entregando eficácias satisfatórias, e assim, tenham uma ação
complementar aos multissítios.</p>
<p>Os
grandes temores, principalmente das regiões onde a ferrugem da soja tem sido
mais agressiva no Mato Grosso (Parecis, Sul e Leste do Estado), são de que a
doença se manifeste mais cedo que o normal nos últimos anos ou que haja algum
veranico forte por ocasião da semeadura, atrasando o plantio, atingindo assim a
cultura em fases mais jovens. Caso isso ocorra, a pesquisa tem mostrado que o
impacto poderá ser muito grande, pois a doença consegue gerar mais ciclos,
causando mais danos e perdas. Além disso, muitos produtores têm dificuldade em
entender o conceito dos multissítios, alegando não enxergar benefícios,
dificuldade na aplicação e aumento constante do custo de produção. Por fim, o
Mato Grosso tem ainda um sistema de semeadura fora da janela normal de plantio
(dezembro ou fevereiro) para produção de sementes salvas, o que potencializa o
processo de seleção de fungos resistentes.</p>
<p>A
mancha-alvo (<em>Corynespora cassiicola</em>), no Mato Grosso, começou a ter
maior importância no final da década de 1990, com o lançamento de cultivares
resistentes ao nematoide-do-cisto da soja que apresentavam alta
suscetibilidade. Desde então, parte significativa dos materiais lançados no
mercado tem apresentado suscetibilidade e demandado atenção ao manejo. Apesar
de ser um patossistema menos agressivo que a ferrugem da soja, perdas
significativas têm sido notadas em algumas cultivares, quando a mancha-alvo não
é eficientemente controlada. A agressividade da doença parece ter aumentado nos
últimos anos. Perdas em materiais suscetíveis, que até então eram de 5sc/ha a
8sc/ha, aumentaram para 10sc/ha a 15 sc/ha nas últimas safras, atingindo até
20sc/ha na safra 2018/19. </p>
<p>O
processo de seleção de populações de fungos menos sensíveis aos fungicidas
também está presente para a mancha-alvo. Em 2009/2010 foi confirmada no campo a
redução de eficiência para os fungicidas benzimidazóis frente à doença.
Diferentemente da ferrugem, as opções atuais de controle químico para <em>C.
cassiicola</em> são mais restritas. Dentre os fungicidas com maior eficácia, se
destacam aqueles contendo protioconazol, fluxapiroxade e bixafem, ou seja, uma
oferta muito limitada de princípios ativos, que precisam ser utilizados de
maneira correta, a fim de manter a eficácia. Uma queda de performance para
algumas carboxamidas no campo já foi observada (confirmado pelo Frac em
dezembro/2018) e isso põe em alerta as questões de manejo.</p>
<p>O fungo <em>C.
cassiicola</em> pode hospedar-se em outras culturas importantes no estado do
Mato Grosso. Uma delas é o algodão. São mais de 1 milhão de hectares cultivados
na última safra, onde a soja, sob a resteva dessa cultura, apresenta maior
severidade da doença e mais dificuldade de controle. Outra espécie é a <em>Crotalaria
spectabilis</em>, muito importante no manejo de nematoides. Porém, se torna um
problema no caso da mancha-alvo, pois, ao ser hospedeira, tem aumentado a severidade
da doença na soja cultivada na sua resteva. Os fungicidas multissítios têm tido
importante contribuição no controle dessa doença, especialmente o mancozebe.
Mas, novamente, é preciso que os fungicidas sítio-específicos continuem tendo
performance, para que os multissítios consigam complementar o controle.</p>
<p>Considerando que a
mancha-alvo tem aumentado sua severidade, que possui outros hospedeiros, que
muitas cultivares de soja são suscetíveis e que as ferramentas químicas são
limitadas, a sugestão é que o produtor empregue o máximo de ferramentas de
maneira integrada, conhecendo o histórico da área, a escolha da genética, o
monitoramento para definir o momento correto de controle, novas formulações de
fungicidas, o uso dos multissítios e a rotação de mecanismos de ação.</p>
<p>O
crestamento foliar de cercóspora (<em>Cercospora kikuchii</em>) tem sido a Doença
de Final de Ciclo (DFC) mais importante do Mato Grosso, e está presente desde
os tempos em que começou a aplicação fungicida em soja (por volta de 1996 a
1998). Essa doença inicialmente era controlada com fungicidas benzimidazóis no
final do ciclo, porém, passou a não ser mais vista devido ao grande número de
aplicações de triazóis e estrobilurinas após o surgimento da ferrugem da soja.
O lançamento de cultivares mais suscetíveis e a redução da performance de
alguns fungicidas têm trazido de volta essa moléstia, que tem estado presente
nos últimos três anos a quatro anos, causando maturação acelerada de lavouras,
encurtando o ciclo e reduzindo a produtividade entre 3sc/ha e 5sc/ha em algumas
cultivares, em resultados preliminares. Identificar os materiais mais
suscetíveis e tratá-los conforme a sua necessidade têm trazido respostas
viáveis para esta doença (Figura 2).</p>
<p>Enfim, a
soja tem experimentado tetos produtivos nunca vistos antes. Entretanto, da
mesma forma que tem sido rápido o aumento de produtividade, os desafios têm
surgido em igual velocidade (doenças foliares, radiculares, nematoides,
sensibilidade ao fotoperíodo, épocas de semeadura e outros) e fazem com que a
cultura se torne cada vez mais técnica e exija mais conhecimento para se
conseguir explorar o potencial produtivo e garantir rentabilidade ao produtor.</p>
<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/4b3b1785b408245026b0f9e59071521e.jpg" alt="Figura 1 - Percentagem de controle de ferrugem da soja, com diferentes intervalos entre aplicações de Mancozebe. Estação Experimental Agrodinâmica, Campo Novo do Parecis, 2018/2019" data-original-title="Figura 1 - Percentagem de controle de ferrugem da soja, com diferentes intervalos entre aplicações de Mancozebe. Estação Experimental Agrodinâmica, Campo Novo do Parecis, 2018/2019"><figcaption>Figura 1 - Percentagem de controle de ferrugem da soja, com diferentes intervalos entre aplicações de Mancozebe. Estação Experimental Agrodinâmica, Campo Novo do Parecis, 2018/2019.</figcaption></figure>
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<p>Valtemir Carlin, Agrodinâmica, MT</p>
<p><br></p>
<p><a href="https://www.grupocultivar.com.br/materias/caderno-tecnico-soja-parte-2-cenario-de-desafios">Link para o texto "Cenário de desafios" do Caderno Técnico Soja Parte 2 disponível aqui.</a><br></p>"
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A ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi) está presente no Mato Grosso desde a safra 2002/2003. Nestas 17 safras, houve muitos aprendizados. Fatores como grandes extensões de soja como hospedeiro preferencial, ambiente tropical com alta umidade e molhamento foliar prolongado; temperatura adequada, períodos chuvosos dificultando as aplicações de fungicidas e um patógeno que se multiplica a taxas explosivas fizeram com que a ferrugem encontrasse no Brasil um dos melhores locais do mundo para se propagar e causar grandes danos. Como se isso não bastasse, as ferramentas de manejo para essa doença se fundamentam basicamente no controle químico e no escape, visto que praticamente não há resistência genética e outras ferramentas de manejo efetivas.