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string(30) "Caruru resistente a glifosato "
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string(278) "<p>Cresce o número de
lavouras com caruru resistente ao herbicida glifosato no Sul do Brasil. O
primeiro passo para enfrentar o problema é identificar corretamente a espécie,
através do monitoramento de plantas com falhas de controle.</p>"
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string(18963) "<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/4f01d4ff8efee764aa22ecf6cbef822c.jpg"></figure><p>O número
crescente de lavouras com falhas de controle do caruru com o herbicida
glifosato preocupa tanto os produtores como pesquisadores da área. Em 2015, no
Mato Grosso, ocorreu o primeiro relato de caruru resistente ao glifosato no
Brasil. Tratava-se da espécie <i>Amaranthus palmeri</i>, considerada planta
exótica no Brasil e que exigiu medidas severas de controle, como o isolamento
das áreas e vistorias periódicas para eliminação dessas plantas. Desde então,
as falhas de controle do caruru foram tratadas com receio pelos produtores com
“medo e preocupação” de que essas plantas fossem da espécie <i>A. palmeri.</i>
Atualmente, A. palmeri é considerada uma praga quarentenária presente, isolada
no estado do Mato Grosso.</p>
<p>Em
2018 no Rio Grande do Sul ocorreu o segundo relato de caruru resistente ao
glifosato, agora para outra espécie, o <i>Amaranthus hybridus </i>(Oliveira <i>et
al,</i> 2019), espécie considerada nativa do Brasil. Em janeiro de 2019, na
região dos Campos Gerais, no Paraná, o setor de Herbologia da Fundação ABC
identificou plantas de <i>A. hybridus </i>com suspeita de resistência ao
herbicida glifosato e aos inibidores da ALS. A partir de então, foi realizado
um trabalho a campo pela Fundação ABC, que constatou que as doses do herbicida
glifosato de 500 até 16 mil gramas de equivalente ácido por hectare não
ocasionaram controle dessas plantas de caruru, mesmo na dose maior do herbicida
(Figura 1). Amostras das plantas foram coletadas e encaminhadas para diferentes
institutos e laboratórios do País, que as identificaram como sendo da espécie <i>Amaranthus
hybridus</i>, que coincidentemente apresentavam as mesmas características dos
biótipos de caruru inicialmente encontrados no Rio Grande do Sul e dos
existentes na Argentina.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/ecbbd14911c06d024ab19743bf933b88.jpg" alt="Figura 1 - Plantas de Amaranthus hybridus aos 30 dias após a aplicação de doses dos herbicidas glifosato e clorimuron (aplicação realizada sobre plantas com até 6 folhas)" title="Figura 1 - Plantas de Amaranthus hybridus aos 30 dias após a aplicação de doses dos herbicidas glifosato e clorimuron (aplicação realizada sobre plantas com até 6 folhas)"><figcaption>Figura 1 - Plantas de Amaranthus hybridus aos 30 dias após a aplicação de doses dos herbicidas glifosato e clorimuron (aplicação realizada sobre plantas com até 6 folhas)</figcaption></figure><p>No
Brasil, recentemente foram relatados 46 casos de plantas de caruru, da espécie <i>A.
hybridus</i>, com suspeita de resistência aos herbicidas glifosato e inibidores
da ALS (Figura 2). A maioria dos casos relatados está na região Sul do País,
principalmente no Rio Grande do Sul, em que as sobras de caruru com as
aplicações de glifosato em pós-emergência da soja começaram a ser mais
frequentes nas últimas três safras. Na safra 2019/20 essas sobras chamaram mais
a atenção devido à frequência maior que nas safras anteriores. Destaca-se que
houve um período de estiagem de meados de novembro ao final de dezembro de 2019
que pode ter contribuído para o aumento das falhas observadas.<br></p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/70073991d17654f320ff0c4e49a06745.jpg" alt="Figura 2 - Levantamento realizado na safra 2019/20 pelas instituições de pesquisas: Fundação ABC, CCGL, Coamo, Embrapa, UEM, UFSM e UPF, que mostram a dispersão da espécie de caruru Amaranthus hybridus em áreas com suspeita de resistência aos herbicida glifosato e inibidores da ALS" title="Figura 2 - Levantamento realizado na safra 2019/20 pelas instituições de pesquisas: Fundação ABC, CCGL, Coamo, Embrapa, UEM, UFSM e UPF, que mostram a dispersão da espécie de caruru Amaranthus hybridus em áreas com suspeita de resistência aos herbicida glifosato e inibidores da ALS"><figcaption>Figura 2 - Levantamento realizado na safra 2019/20 pelas instituições de pesquisas: Fundação ABC, CCGL, Coamo, Embrapa, UEM, UFSM e UPF, que mostram a dispersão da espécie de caruru Amaranthus hybridus em áreas com suspeita de resistência aos herbicida glifosato e inibidores da ALS</figcaption></figure><p>As
possíveis hipóteses para a introdução e disseminação das populações encontradas
nessas áreas até o momento, são que sementes oriundas de regiões infestadas
tenham entrado através de: comercialização de sementes de culturas de cobertura
de inverno (principalmente azevém), aquisição de gado bovino em leilões,
esterco animal, rações, pássaros e trânsito de máquinas agrícolas.<br></p>
<p>Desde
então, o número de casos com falhas de controle de <i>A. hybridus</i> ao
herbicida glifosato vem aumentando nos estados do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Paraná.</p>
<h2>Espécies de caruru</h2>
<p>O
gênero <i>Amaranthus</i> possui aproximadamente 60 espécies no mundo,
encontradas principalmente em regiões tropicais e subtropicais. No Brasil, a
espécie hybridus é encontrada praticamente em todos os estados. <i>Amaranthus
hybridus</i>, conhecido como caruru-roxo, caruru-bravo ou simplesmente caruru,
é uma planta anual, monoica, herbácea, com caule ereto, que apresenta grande
variabilidade de cores, desde o verde até o vermelho-púrpura. As folhas são
simples lanceoladas, dispostas de forma helicoidal, com inflorescências
apresentando flores masculinas e femininas e a maturação ocorrendo com plantas
de 20cm a até 2m de altura (Kissmann & Groth, 1999).</p>
<p>Quanto
ao hábito de crescimento, é uma infestante considerada agressiva, com ciclo
fotossintético C4, que lhe proporciona grande capacidade de competição por
água, luz e nutrientes, principalmente quando comparada com culturas C3, como a
soja, o feijão e o algodão (Carvalho <i>et al,</i> 2015). Essa espécie de
caruru tem capacidade de produzir de 200 mil sementes por planta a 600 mil
sementes por planta, sendo a dispersão feita por meio de sementes, podendo ser
disseminadas por máquinas agrícolas, canais de irrigação, insumos, esterco
animal, pássaros, mamíferos, além de culturas de cobertura. </p>
<p>A
similaridade entre as espécies torna difícil sua identificação a campo, porém
alguns aspectos podem ser levados em consideração na diferenciação das espécies
de <i>Amaranthus</i>. Como no Brasil existem relatos de resistência do
glifosato a duas espécies, o foco neste artigo será a diferenciação.</p>
<p>A
marca d’água em forma de “V” invertido pode estar presente em algumas plantas
de <i>Amaranthus hybridus</i> (Figura 3), porém também é uma característica
presente nas plantas de A. palmeri. O pecíolo maior que o limbo foliar (Figura
4), a presença de pelo na ponta das folhas (Figura 5) e o crescimento das
folhas em “roseta” (Figura 6) também são características que podem ocorrer
tanto nas plantas de <i>A. hybridus</i> como de <i>A. palmeri</i>. Então, a
diferenciação das espécies ocorre quando as plantas estão no florescimento,
pois <i>A. palmeri</i> é considerado uma planta dioica, com a presença de
flores masculinas e flores femininas em plantas distintas, enquanto <i>A.
hybridus</i> é uma planta monóica com a presença de flores masculina e feminina
ocorrendo na mesma inflorescência (Figura 7). </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/2fd216fcc4377405d6f70bae5e56f95f.jpg" alt="Figura 3 - Marca d’água em forma de “V” invertido presente em plantas de Amaranthus hybridus" title="Figura 3 - Marca d’água em forma de “V” invertido presente em plantas de Amaranthus hybridus"><figcaption>Figura 3 - Marca d’água em forma de “V” invertido presente em plantas de Amaranthus hybridus</figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/0c77638b242d490db2b525ec7b863737.jpg" alt="Figura 4 - Pecíolo maior que o limbo foliar, outra característica presente nas plantas de Amaranthus hybridus" title="Figura 4 - Pecíolo maior que o limbo foliar, outra característica presente nas plantas de Amaranthus hybridus"><figcaption>Figura 4 - Pecíolo maior que o limbo foliar, outra característica presente nas plantas de Amaranthus hybridus</figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/fc4697287b5b8ae4ea82b1dcb071bd1c.jpg" alt="Figura 5 - Presença de pelo na ponta das folhas de Amaranthus hybridus" title="Figura 5 - Presença de pelo na ponta das folhas de Amaranthus hybridus"><figcaption>Figura 5 - Presença de pelo na ponta das folhas de Amaranthus hybridus</figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/a151535f95c704b14d88302ca94154ff.jpg" alt="Figura 6 - Plantas de Amaranthus hybridus com crescimento das folhas em “roseta”" title="Figura 6 - Plantas de Amaranthus hybridus com crescimento das folhas em “roseta”"><figcaption>Figura 6 - Plantas de Amaranthus hybridus com crescimento das folhas em “roseta”</figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/33bb387cad4d05fd7e4df4abf8bb815a.jpg" alt="Figura 7 - Flores masculina e feminina presentes na mesma inflorescência, característica que pode ser utilizada para diferenciar a espécie Amaranthus hybridus" title="Figura 7 - Flores masculina e feminina presentes na mesma inflorescência, característica que pode ser utilizada para diferenciar a espécie Amaranthus hybridus"><figcaption>Figura 7 - Flores masculina e feminina presentes na mesma inflorescência, característica que pode ser utilizada para diferenciar a espécie Amaranthus hybridus</figcaption></figure>
<h2>Motivo de preocupação</h2>
<p>Na
Argentina existem casos de resistência dessa espécie ao herbicida glifosato
desde 2013, e atualmente, há populações de <i>A. hybridus</i> que apresentam
resistência múltipla aos herbicidas inibidores da EPSPS (glifosato), ALS
(chlorimuron-ethyl) e Auxinas (2,4-D e dicamba) (Heap, 2020). Com isso, a
aplicação de glifosato na pós-emergência da soja RR ou do milho RR se mostra
ineficaz, sendo necessária a utilização de outros herbicidas, tanto na pré como
na pós-emergência da cultura, onerando o custo de controle.</p>
<p>Uma
das características que facilitam a rápida infestação de Amaranthus na lavoura
é a alta capacidade de produção de sementes (Figura 8), sendo que uma única
planta pode produzir até 600 mil sementes. Essas sementes são pequenas,
esféricas e não apresentam estrutura de dispersão pelo vento (Foto 9). A
temperatura média ideal para germinação dessas sementes é de 20°C e pode
ocorrer mesmo na ausência de luz, com isso os meses de maio a julho podem
apresentar baixos fluxos de germinação; o pico de emergência de <i>Amaranthus
hybridus </i>ocorre nos meses de setembro-outubro, se estendendo com menores
fluxos entre dezembro e fevereiro. Conhecer esse fluxo de emergência é uma
ferramenta importante para definir as melhores estratégias de controle e, nesse
caso, o uso de herbicidas residuais na pré-emergência da soja será a base de uma
recomendação para controle dessa planta daninha.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/9428f51fcbf014faa6003191aeec6385.jpg" alt="Figura 8 - As plantas de Amaranthus hybridus apresentam inflorescências longas, com mais de 30cm" title="Figura 8 - As plantas de Amaranthus hybridus apresentam inflorescências longas, com mais de 30cm"><figcaption>Figura 8 - As plantas de Amaranthus hybridus apresentam inflorescências longas, com mais de 30cm</figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/c4d25d74fa3e9899927bd8c0eec4a48a.jpg" alt="Figura 9 - Sementes de Amaranthus hybridus" title="Figura 9 - Sementes de Amaranthus hybridus"><figcaption>Figura 9 - Sementes de Amaranthus hybridus</figcaption></figure><p>Outro
ponto que deve ser considerado é que durante a safra irão ocorrer vários fluxos
de emergência (Figura 10), de acordo com a oferta de água no campo. Com isso é
possível ter plantas daninhas em diferentes estádios de desenvolvimento, desde
planta adulta até plântulas, que apresentam crescimento rápido, de 2cm a 3cm
por dia, e podem atingir até 3m de altura (Figura 11). Novamente com essas
informações percebe-se que além do herbicida residual, é preciso realizar mais
um controle na pós-emergência da cultura, e esse irá depender do estádio da
planta daninha.<br></p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/eff868ab1ec8e9acf23d36f9bb5506a6.jpg" alt="Figura 10 - Plantas de Amaranthus hybridus podem atingir mais de 3m de altura em solos de alta fertilidade" title="Figura 10 - Plantas de Amaranthus hybridus podem atingir mais de 3m de altura em solos de alta fertilidade"><figcaption>Figura 10 - Plantas de Amaranthus hybridus podem atingir mais de 3m de altura em solos de alta fertilidade</figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/fa259723b4875f58391102a4ddf9ae31.jpg" alt="Figura 11 - Dentro da lavoura podem ser observadas plantas de Amaranthus hybridus em diferentes estádios de desenvolvimento, devido à emergência ocorrer em vários fluxos" title="Figura 11 - Dentro da lavoura podem ser observadas plantas de Amaranthus hybridus em diferentes estádios de desenvolvimento, devido à emergência ocorrer em vários fluxos"><figcaption>Figura 11 - Dentro da lavoura podem ser observadas plantas de Amaranthus hybridus em diferentes estádios de desenvolvimento, devido à emergência ocorrer em vários fluxos</figcaption></figure>
<p>E qual
o impacto dessa planta daninha nas lavouras de soja? O caruru-de-macha, espécie
<i>Amaranthus viridis</i>, é controlado facilmente com glifosato. Os biótipos
suscetíveis de <i>Amaranthus hybridus</i> e de <i>Amaranthus palmeri </i>também
eram manejados com glifosato. Já para os biótipos resistentes ao herbicida
glifosato, o controle em pós-emergência ocorre apenas em plantas muito pequenas
(duas folhas a seis folhas), o que irá dificultar e encarecer o custo de
controle na soja RR.</p>
<p>A
presença dessa planta daninha nas culturas do milho e da soja pode reduzir o
rendimento em até 80%, além de inviabilizar a colheita mecânica. Outra
informação relevante é que as plantas possuem hibridação natural e, portanto,
pode ocorrer transferência da resistência a herbicidas de <i>A. hybridus</i>
para outras espécies de caruru.</p>
<p>É
importante ressaltar que nas áreas já infestadas se deve evitar a disseminação
dessas sementes para áreas vizinhas, principalmente pelo trânsito de máquinas e
animais, e, sobretudo, para as áreas ainda não infestadas, que se realize o
monitoramento permanente das lavouras, e caso sejam observadas plantas de
caruru com falhas de controle ao herbicida glifosato, entrar em contato
imediato com as áreas de pesquisa das instituições que elaboraram esse
comunicado: Fundação ABC, CCGL, Coamo, Embrapa, UEM, UFSM e UPF.</p>
<p> </p>
<p>Luis Henrique
Penckowski, Evandro H. G.
Maschietto e Eliana Fernandes
Borsato, Fundação ABC; Fernando S. Adegas, Embrapa Soja; Lucas S. O.
Moreira, Coamo; Mario A. Bianchi, CCGL; Mauro A. Rizzardi, UPF; Rubem S. Oliveira
Jr., UEM; Sylvio H. B.
Dornelles, UFS</p>"
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primeiro passo para enfrentar o problema é identificar corretamente a espécie,
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