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string(55) "controle-biologico-da-mancha-de-ramularia-do-algodoeiro"
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string(100) "Fabiano Jose Perina, Wirton Macedo Coutinho e Alderi Emídio de Araujo, Embrapa Algodão"
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string(69) "Controle biológico da mancha de ramulária do algodoeiro"
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string(272) "<p>Os desafios e as
oportunidades para o controle biológico se consolidar como aliado no manejo da
mancha de ramulária do algodoeiro, doença agressiva e disseminada pelas
principais regiões produtoras da cultura no Brasil. </p>"
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string(21197) "<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/8965b88ab91ffbfb7da5655667f417ac.JPG"></figure><p>A mancha de ramulária,
também conhecida por ramulária, mancha branca, ramulariose, míldio cinza,
míldio areolado ou falso míldio (Ehrlich e Wolf, 1932), é a principal doença do
algodoeiro no Brasil, disseminada nas principais regiões produtoras de algodão
do Brasil.</p>
<p>No passado, a doença era considerada como causada pelo
fungo <i>Ramularia areola</i>. Entretanto, recentemente, com o avanço dos
métodos modernos de taxonomia, foi comprovado que a doença é provocada por duas
espécies de fungos, <i>Ramulariopsis gossypii </i>e <i>Ramulariopsis
pseudoglycines</i> - (Videria <i>et al.</i>, 2016). Ambas as espécies já foram
identificadas em áreas de produção de algodoeiro do Cerrado brasileiro em
coletas de isolados realizadas em safras recentes pelo grupo de pesquisa da
Embrapa Algodão, universidades, empresas de pesquisa e obtentoras de produtos
registrados para a doença, como parte das ações do projeto da Rede Ramulária.</p>
<p>O manejo dos agentes responsáveis por essa doença é
imprescindível para assegurar uma produtividade rentável nas condições em que o
cultivo do algodoeiro é realizado atualmente no País. Entre as medidas de
controle que contribuem para a redução do progresso da mancha de ramulária no
campo, destacam-se o uso de cultivares com alto grau de resistência; o emprego
de maiores espaçamentos entre linhas; o uso de menores populações de plantas
por hectare; o manejo adequado de reguladores de crescimento, de maneira a
evitar o desenvolvimento vegetativo vigoroso, e que induza sombreamento
excessivo nos terços médio e inferior das plantas; a adoção de cultivares
precoces, que objetivam a redução do número de ciclos da doença no campo; a
rotação e sucessão de culturas; a efetiva destruição de restos culturais e
tigueras de algodoeiro na entressafra, e o controle químico, com a aplicação de
fungicidas com modos de ação distintos e comprovada eficácia no controle dos
agentes causais da doença. </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/c3f8113c68c8d5a11ee13c910072d002.jpg" alt="Doença também é conhecida por ramulária, mancha branca, ramulariose, míldio cinza, míldio areolado ou falso míldio " title="Doença também é conhecida por ramulária, mancha branca, ramulariose, míldio cinza, míldio areolado ou falso míldio "><figcaption>Doença também é conhecida por ramulária, mancha branca, ramulariose, míldio cinza, míldio areolado ou falso míldio </figcaption></figure><p>Apesar da recomendação das medidas de controle mencionadas
anteriormente, e dos esforços dos produtores em adotá-las, principalmente
aquelas relacionadas a aspectos culturais, controlar os agentes responsáveis
pela mancha de ramulária tem sido uma tarefa árdua. O número escasso de
cultivares de algodoeiro com estabilidade e alto grau de resistência aos
agentes etiológicos da doença atualmente disponíveis no mercado, e um programa,
muitas vezes inadequado de controle químico, têm contribuído, muitas vezes,
para o insucesso no controle da doença.<br></p>
<p>Especificamente em relação ao uso de fungicidas, é
necessário realizar um criterioso programa de controle químico, com produtos
eficazes, incluindo fungicidas sítio-específicos e multissítios, e ênfase na
alternância dos modos de ação desses produtos durante o ciclo da cultura. Esse
tipo de estratégia evita o aparecimento de isolados resistentes, assegura a
redução do progresso da doença e a diminuição do impacto na produtividade. </p>
<p> Para mais
informações a respeito da eficácia de fungicidas sítio-específicos e
multissítios e seus diferentes modos de ação no controle da mancha de
ramulária, sugere-se consultar os resultados de pesquisas realizadas
anualmente, pela Embrapa em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores
de Algodão (Abrapa), empresas obtentoras de produtos fungicidas e empresas de
pesquisa atuantes nas principais regiões produtoras de algodão no Brasil, em:
www.rederamularia.com.br. Esse tipo de informação também está disponível em
publicações da série Embrapa (Araujo <i>et al.</i>, 2018; Araujo <i>et al.</i>,
2019).</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/3e7cf30d86c74f8fe718b874248f269e.jpg" alt="Figura 1 - Folha de algodoeiro com sintomas de mancha de ramulária: lesões pequenas na face abaxial, variando, delimitadas pelas nervuras, com formato angular (à esquerda). Detalhe das lesões com esporulação branca de aspecto pulverulento (à direita)" title="Figura 1 - Folha de algodoeiro com sintomas de mancha de ramulária: lesões pequenas na face abaxial, variando, delimitadas pelas nervuras, com formato angular (à esquerda). Detalhe das lesões com esporulação branca de aspecto pulverulento (à direita)"><figcaption>Figura 1 - Folha de algodoeiro com sintomas de mancha de ramulária: lesões pequenas na face abaxial, variando, delimitadas pelas nervuras, com formato angular (à esquerda). Detalhe das lesões com esporulação branca de aspecto pulverulento (à direita)</figcaption></figure>
<p>Apesar da oferta de fungicidas de comprovada eficácia no
controle dos agentes da mancha de ramulária e dos esforços realizados pelos
gestores de fazenda e produtores, no sentido de utilizar fungicidas com
diferentes princípios ativos e distintos modos de ação, a pressão resultante do
grande número de aplicações desses produtos empregados durante o longo ciclo do
algodoeiro no campo tem aumentado os custos de produção e favorecido o risco de
surgimento de isolados ou raças de fungos resistentes aos fungicidas
utilizados. Além disso, considerando a recente constatação da existência de
duas espécies de fungos como agentes causadores da doença (Videira <i>et al., </i>2016)
e os indícios de variabilidade desses fungos já evidenciados (Novaes <i>et al.</i>,
2011; Girotto <i>et al</i>., 2013; Metha <i>et al.</i>, 2016), somados às
condições altamente favoráveis para esses patógenos nas regiões onde se cultiva
o algodão no Cerrado brasileiro, faz-se necessária a busca por métodos
adicionais que contribuam com o controle da doença e, ao mesmo tempo,
desfavoreçam o aparecimento de isolados resistentes aos fungicidas químicos
atualmente empregados. </p>
<p>Nesse sentido, a Embrapa tem atuado em pesquisas para a
melhoria do monitoramento e do manejo dessa doença no campo e buscado
contribuir para que medidas adicionais possam ser incorporadas para aumentar o
controle e a eficiência da utilização de recursos para garantir a sanidade da
cultura e a rentabilidade da atividade em médio e longo prazo. O controle
biológico de doenças de plantas, apesar de pouco estudado quando comparado ao
controle biológico de insetos-praga, consiste em uma das medidas de grande potencial,
desde que bem posicionada e aplicada com critérios técnicos e acompanhamento de
especialistas. </p>
<p>O controle biológico de doenças de plantas é definido como
a redução da soma de inóculo ou das atividades determinantes da doença,
provocada por um patógeno, podendo ser realizado por um ou mais organismos que
não o homem (Cook e Baker, 1983). Assim, para os pesquisadores que atuam com
controle biológico de doenças de plantas, as doenças de plantas são vistas além
do tradicional triângulo da doença, resultante da íntima relação do patógeno
com o hospedeiro influenciada pelo ambiente. No controle biológico, a doença é
vista como a resultante da interação entre hospedeiro, ambiente e patógeno,
influenciada por uma infinidade de organismos não patogênicos, também presentes
no sítio de infecção, que apresentam potencial para limitar ou aumentar a
atividade do patógeno ou a resistência do hospedeiro (Ghini <i>et al</i>.,
2011; Cook e Baker, 1983; Cook, 1985). </p>
<p>Pensando nisso e considerando a notável abertura do setor
produtivo à utilização de bioprodutos em áreas de produção de algodão dos
Cerrados brasileiros, notada nos últimos anos, foi realizado um trabalho
exploratório pela Embrapa, em parceria com a Fundação BA, na região Oeste da
Bahia, para avaliar a capacidade de bioprodutos registrados no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e já utilizados de alguma maneira
nos cultivos do algodoeiro e da soja para o controle da mancha de ramulária no
campo. </p>
<p>Assim, em condições de campo comercial de produção de
algodão, realizou-se a semeadura de algodoeiro, cultivar FM 975 WS, amplamente
utilizada na região dos cerrados brasileiros com alto grau de suscetibilidade à
mancha de ramulária. O algodoeiro foi semeado em espaçamento de 0,76m entre
linhas, na densidade de nove sementes por metro linear. </p>
<p>Foram avaliados dois bioprodutos e um biofertilizante
(Tabela 1) utilizados nos cultivos da soja e do algodoeiro nos Cerrados, os
quais foram aplicados com ou sem associação a um fungicida químico. Essa associação
foi realizada, com o propósito de comparar a capacidade de redução da
severidade da ramulária, acumulada durante todo o ciclo do algodoeiro no campo,
em relação ao fungicida e à capacidade de contribuir para o controle
proporcionado pelo fungicida. Os produtos aplicados de forma isolada ou em
associação com o fungicida estão especificados na Tabela 1.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/52b8066da4e4eb138a7956c7967e75e4.jpg"></figure><p>O experimento foi realizado em delineamento experimental
de blocos casualizados, com oito tratamentos e quatro repetições, com parcelas
constituídas por quatro linhas de seis metros de comprimento, utilizando como
parcela útil, as duas linhas centrais da parcela experimental.<br></p>
<p>Para efeito de comparação e adaptação da metodologia de
aplicação dos bioprodutos e biofertilizantes, com a metodologia tradicionalmente
utilizada na aplicação de fungicidas na cultura do algodoeiro, adotou-se a
metodologia de aplicação semelhante à usada para avaliação de fungicidas.</p>
<p>Assim, foram realizadas oito aplicações de cada produto na
cultura do algodoeiro, sendo a primeira realizada aos 30 dias após a
emergência, a segunda aos 14 dias após a primeira, e assim seguiram as demais
aplicações sucessivas, que foram realizadas sempre entre às 7h e às 8h30min ou
entre as 17h30min e as 19h, de acordo com a ocorrência de condições de temperatura,
umidade relativa do ar e vento, favoráveis à aplicação. As aplicações foram
realizadas por meio de um pulverizador costal pressurizado (pressão constante
de 30 PSI) acoplado a uma barra contendo seis bicos Teejet (11002VK) tipo
leque, distanciados de 0,76m entre si, com volumes de calda equivalentes a
150L/ha.</p>
<p>Foram
realizadas dez avaliações da severidade da mancha de ramulária, por meio da
estratificação da planta em metade inferior e metade superior, com avaliação de
cinco folhas de cada terço, utilizando a escala de severidade da ramulária em
algodoeiro proposta por Aquino <i>et al.</i> (2008). A primeira avaliação
(pré-spray 1) foi realizada antes da aplicação dos tratamentos, assim como as
sete avaliações subsequentes: pré-spray 2 a pré-spray 8, enquanto as duas
últimas avaliações foram realizadas aos sete e 14 dias após a última aplicação
dos tratamentos.</p>
<p>Ao
final do experimento, realizou-se a avaliação da produtividade em cada
tratamento, por meio da colheita das duas linhas centrais de cada parcela
experimental, desprezando-se 0,5 metro em cada extremidade. O peso de algodão
em caroço obtido em cada parcela foi convertido para arrobas por hectare, os
quais foram submetidos à análise de variância. </p>
<p>Com base nos dados de severidade da ramulária, foram
calculadas as áreas abaixo da curva de progresso da severidade da doença
(AACPSD), conforme Shaner & Finney (1977), os quais foram submetidos à
análise de variância. As comparações dos agrupamentos das médias de AACPSD e
produtividade média de algodão em caroço por hectare foram realizadas pelo
teste de Scott-Knott (p<0,05). </p>
<p>Nas
condições em que o trabalho foi realizado, observou-se que os dois bioprodutos
aplicados sem associação ao fungicida (T.h + T.a + <i>B.amyloliquefaciens</i> e
<i>B. subtilis</i>) reduziram o progresso da mancha de ramulária, superando a
testemunha e o tratamento que recebeu aplicações do biofertilizante (Figura 2).
</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/f7e3a46ecbb8f534fef9529047e7873b.jpg" alt="Figura 2 - Gráfico da Área Abaixo da Curva de Progresso da Severidade da Ramulária (AACPSD) em função da dos tratamentos avaliados. Luís Eduardo Magalhães, BA" title="Figura 2 - Gráfico da Área Abaixo da Curva de Progresso da Severidade da Ramulária (AACPSD) em função da dos tratamentos avaliados. Luís Eduardo Magalhães, BA"><figcaption>Figura 2 - Gráfico da Área Abaixo da Curva de Progresso da Severidade da Ramulária (AACPSD) em função da dos tratamentos avaliados. Luís Eduardo Magalhães, BA</figcaption></figure>
<p>Nota-se
que quando associados ao fungicida FG, os dois bioprodutos avaliados superaram
novamente o tratamento composto pelo biofertilizante + FG e o próprio fungicida
FG aplicado isoladamente. Esse resultado evidenciou um ganho na redução da
severidade acumulada ao longo da safra (AACPSD), tanto por parte do bioproduto
à base de T.h + T.a + <i>B. amyloliquefaciens</i>, como por parte do bioproduto
à base de <i>B. subtilis</i> quando aplicados associados ao fungicida FG,
caracterizando uma oportunidade de melhoria da performance em termos de redução
da AACPSD para ambos, fungicida e bioprodutos quando aplicados em associação. </p>
<p>Nessas condições, esses resultados evidenciam uma opção de
utilização do controle biológico em associação a fungicidas químicos no sentido
de maximizar a eficiência de controle da doença no campo, contribuindo tanto
para a redução da severidade, como para diminuir a pressão de seleção exercida
pelo limitado número de moléculas de fungicidas utilizadas no controle dos
agentes causadores da mancha de ramulária atualmente. Assim, possibilita-se
menor probabilidade de surgimento de isolados ou raças do patógeno, resistentes
aos princípios ativos de fungicidas. </p>
<p>Ressalta-se, no entanto, que para a melhoria da eficiência
de uso do controle biológico de forma ampla e integrada aos demais métodos e
práticas culturais aplicadas à cultura do algodoeiro e, ainda, para o melhor
entendimento dos processos envolvidos no controle por parte de biofungicidas
como os utilizados nesse trabalho, há necessidade de intensificação de
pesquisas básicas e aplicadas, no que se refere principalmente a
posicionamento, intervalo de aplicação, associação com demais grupos de
fungicidas, compatibilidade com fungicidas e demais produtos fitossanitários
utilizados na cultura, de forma a permitir a inserção mais assertiva e
eficiente de bioprodutos para o controle de doenças ao sistema de produção
utilizado atualmente nas principais regiões produtoras de algodão do País.</p>
<p>No que se refere à produtividade de algodão em caroço,
conforme pode ser observado na Figura 3, o fungicida biológico T.h + T.a + <i>B.
amyloliquefaciens</i>, juntamente com o fungicida químico aplicado isoladamente
ou em associação com bioprodutos ou biofertilizantes, superou o biofertilizante
e o biofungicida à base de <i>B. subtilis</i> que não diferiram da testemunha
sem aplicação. </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/eaae50bebbea3a61fd7d1c9754eae104.jpg" alt="Figura 3 - Gráfico de produtividade de algodão em caroço (@/ha) em função da dos tratamentos avaliados. Luís Eduardo Magalhães, BA" title="Figura 3 - Gráfico de produtividade de algodão em caroço (@/ha) em função da dos tratamentos avaliados. Luís Eduardo Magalhães, BA"><figcaption>Figura 3 - Gráfico de produtividade de algodão em caroço (@/ha) em função da dos tratamentos avaliados. Luís Eduardo Magalhães, BA</figcaption></figure><p><br></p>
<p>Tal fato demonstra que a associação dos biofungicidas
avaliados com fungicidas químicos não interferiu negativamente na
produtividade. Contudo, ressalta-se novamente a necessidade de realização de
estudos aprofundados para a melhoria do conhecimento acerca da utilização de
biofungicidas, no que se refere à eficiência de controle da doença e ao aumento
da produtividade do algodoeiro. Tais estudos podem gerar ganhos, desde que
sejam priorizados o melhor juízo acerca do posicionamento, os intervalos entre
aplicações, as combinações e a compatibilidade entre produtos, de forma a
possibilitar novas ferramentas que contribuam para o manejo da ramulária no
campo. Este trabalho contou com o apoio
da Fundação BA e do Fundo para o Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão
(Fundeagro).</p><p><br></p><p>Fabiano Jose
Perina, Wirton Macedo
Coutinho e Alderi Emídio de
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oportunidades para o controle biológico se consolidar como aliado no manejo da
mancha de ramulária do algodoeiro, doença agressiva e disseminada pelas
principais regiões produtoras da cultura no Brasil.