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string(30) "desafios-da-tecnologia-digital"
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string(30) "Ricardo Balardin, Phytus Group"
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string(30) "Desafios da tecnologia digital"
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string(497) "<p>A importância das tecnologias digitais
no campo é inquestionável. Mas sua adoção enfrenta limites como a conectividade
presente em apenas 40% das propriedades rurais e o conservadorismo do setor. Há
que se ter em mente ainda o fato de que não existe solução mágica para todos os
problemas, e que é necessário cuidado para não perder o foco diante de tantas
ofertas e opções.</p>"
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string(20437) "<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/0a52c3699f56e7459975c4e0a4e94e21.jpg"></figure><p>A
produção global de alimentos terá de aumentar em mais de 70% até 2050, para que
seja possível alimentar uma população estimada em nove bilhões de pessoas,
sendo mais de 95% concentrada em regiões urbanas. Atualmente é produzido
alimento suficiente para 12 bilhões de pessoas, porém mais de 900 milhões ainda
vivem em insegurança alimentar (FAO, 2013). São muitos os gargalos envolvidos
nesse processo, como a restrição na oferta de água, as incertezas climáticas,
as dificuldades no manejo agronômico, as limitações edáficas e as perdas
observadas em todas as etapas, tanto da cadeia de produção como na distribuição
dos alimentos.</p>
<p>Se a
produtividade média das principais culturas for mantida nos valores atuais,
para produzir o alimento necessário para suprir a demanda será preciso mais que
duplicar a área de produção. O aumento na eficiência genética das culturas, a
manutenção do cenário atual de dano, causado por pragas e correções no processo
de distribuição, estão entre algumas das medidas mais relevantes.</p>
<p>Ao
longo da história, diversas tecnologias foram agregadas à atividade agrícola,
para o aumento na sua eficiência, e resultaram no notável incremento da
produtividade observado atualmente.</p>
<p>Alimentar
pessoas é um processo desafiador, que se inicia antes da fazenda, passa pelo
processo produtivo na propriedade e tem prosseguimento no mercado de
distribuição (Tabela 1). Estes processos são complementares e necessitam ser
parametrizados, passando pela simplificação na etapa produtiva, redução no
consumo de água, menor utilização de fertilizantes e agroquímicos sintéticos,
redução significativa do impacto dos sistemas de produção sobre os ecossistemas
naturais, ausência de contaminação de rios e águas subterrâneas devido aos
insumos químicos utilizados.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/20fda6c961a35b87423917ff1401df51.jpg" alt="Tabela 1 - Tecnologias envolvidas na cadeia de produção" title="Tabela 1 - Tecnologias envolvidas na cadeia de produção"><figcaption>Tabela 1 - Tecnologias envolvidas na cadeia de produção</figcaption></figure><p>Igualmente desafiador é o estabelecimento de
um processo vertical de oferta de alimentos que inclui aumento na eficiência da
cadeia de distribuição e adequações para atender ao regramento global de
comercialização dos produtos agrícolas.<br></p>
<p>Como as tecnologias digitais podem auxiliar na produtividade das culturas e na distribuição dos alimentos</p><p><span></span></p>
<p>A
agenda da nova agricultura considera que o mercado vai ser o regulador do
processo de oferta de alimento e que o sistema de produção deverá se ajustar
constantemente a estas demandas (Figura 1). </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/20b47c3c58caca6b355adfb40076bff0.jpg" alt="Figura 1 - Cadeia envolvida na disponibilidade de alimentos para o consumidor" title="Figura 1 - Cadeia envolvida na disponibilidade de alimentos para o consumidor"><figcaption>Figura 1 - Cadeia envolvida na disponibilidade de alimentos para o consumidor</figcaption></figure><p>O
desafio de alimentar o planeta de forma sustentável não é simples. No cenário
atual não basta apenas produzir mais e com menor custo. É necessário considerar
as mudanças no perfil do consumidor, as alterações na urbanização e na
estrutura da sociedade, além das constantes alterações nas demandas
regulatórias globais.<br></p>
<p> Torna-se vital a parametrização de todas as
fases do processo de oferta de alimentos para o aumento da eficiência e da
rastreabilidade em cada etapa. Deste modo, os dados coletados passam a ser
utilizados de forma a retroalimentar o sistema, sugerindo as alterações que o
mercado consumidor exige. Machinelearning, inteligência artificial e Internet
das coisas (IoT) são ferramentas fundamentais neste processo.</p>
<p>Deve
ser considerado que o conservadorismo do meio rural pode reduzir a velocidade
inicial de adoção das novas tecnologias. Outro agravante é a precariedade de
infraestrutura observada na maioria das áreas rurais do Brasil, e em diversos
países da América Latina e América do Norte.</p>
<p> Estudo realizado entre 2017 e 2019 junto a
cooperativas, consultores e indústria nos Estados Unidos (Tabela 2) apresenta
um aumento lento na adoção das tecnologias digitais totalmente ligadas à
produção, destacando-se equipamentos orientados por GPS e/ou utilização de
imagens para diagnóstico do status das lavouras (Erickson et al, 2019). </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/b5f360afd4985d6532e2cfc4d5d04a18.jpg" alt="Tabela 2 - Taxa de utilização de tecnologias de precisão nos Estados Unidos em cultivos extensivos" title="Tabela 2 - Taxa de utilização de tecnologias de precisão nos Estados Unidos em cultivos extensivos"><figcaption>Tabela 2 - Taxa de utilização de tecnologias de precisão nos Estados Unidos em cultivos extensivos</figcaption></figure><p>Estudos
indicam que algumas tecnologias apresentam adoção preferencial, tais como
direção automática de equipamentos automotores, barras de luz auxiliares para
aplicação de insumos líquidos e sistemas providos de GPS. Vants providos de
sensores capazes de avaliar condições de solo, necessidade de irrigação, mapas
de colheita, softwares para monitoramento das condições sanitárias do cultivo,
plataformas para análise de grandes volumes de dados são outras tecnologias
adotadas, mas ainda em menor escala (Figura 2).<br></p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/5a60cc83bcaf9cf659ef173b92fab06b.jpg" alt="Figura 2 - Tecnologias utilizadas no Brasil e a dimensão do mercado" title="Figura 2 - Tecnologias utilizadas no Brasil e a dimensão do mercado"><figcaption>Figura 2 - Tecnologias utilizadas no Brasil e a dimensão do mercado</figcaption></figure><p>No
Brasil, é estimado que o mercado de tecnologias digitais apresente uma taxa de
crescimento anual composta (CAGR) de 12% até 2025, com base em um mercado
avaliado em R$ 1 bilhão em 2018 (Céleres, 2019).<br></p>
<p>Houve um momento em que a
estratégia macro para solucionar os problemas de oferta de alimentos foi
baseada tão somente no aumento de produtividade. A implantação de tecnologias
digitais disruptivas na agricultura é o caminho para transformá-la em uma
indústria altamente tecnológica. Os próximos passos irão muito além do segmento
produtivo, terão de considerar as preferências do consumidor, a construção de
bancos de dados robustos, a completa parametrização dos processos e uma
constante reinvenção de todo o processo. </p>
<p>As
tecnologias já disponíveis podem ser agrupadas em função dos produtos ou
atividades (Krishnan, 2017), conforme ilustrado na Figura 3 e relacionado a
seguir:</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/d88b7e2c05135bbf169ab28c9fdcbc39.jpg" alt="Figura 3 - Agrupamento das empresas de acordo com as tecnologias desenvolvidas" title="Figura 3 - Agrupamento das empresas de acordo com as tecnologias desenvolvidas"><figcaption>Figura 3 - Agrupamento das empresas de acordo com as tecnologias desenvolvidas</figcaption></figure>
<h2>Plataformas de gerenciamento de propriedades</h2>
<h3>Agricultura de precisão e
análise preditiva</h3>
<p>• Sistemas de monitoramento,
informação ou predição que reduzem os riscos de perdas com eventos climáticos,
pragas e desastres naturais;</p>
<p>• Sistemas automatizados de
irrigação (Smart irrigations) que reduzem o desperdício de água;</p>
<h3>Revenda</h3>
<p>• Alteração na preferência
alimentar do consumidor;</p>
<p>• Diversificação dos
alimentos disponíveis;</p>
<p>• Cadeia de distribuição
viabilizando maior rapidez na distribuição dos alimentos;</p>
<h3>Robótica e Vant</h3>
<p>• Equipamentos embarcados em
máquinas agrícolas podem indicar desde a necessidade da manutenção até
parâmetros específicos de desempenho;</p>
<p>• Automação das máquinas
agrícolas agregando precisão às operações;</p>
<p>• Colhedoras providas de
inúmeros dispositivos embarcados que fornecem informações em tempo real sobre o
desempenho produtivo da cultura;</p>
<p>• Equipamentos instalados em
silos podem indicar as condições de estocagem evitando perdas no armazenamento;</p>
<p>• GPS (global positioning
system) para automação de diversas operações no segmento da produção e da
distribuição;</p>
<p>• Equipamentos embarcados
nas diversas máquinas, e que facilitam a comunicação entre produtor, operadores,
administradores, agrônomos, através do uso de celulares e/ou ferramentas de
internet;</p>
<h3>Sensoriamento</h3>
<p>• Sensores associados ao
solo podem coletar dados indicativos de umidade ou do balanço hídrico, levando
à indicação da necessidade de irrigação;</p>
<p>• Imagens de plantas,
capturadas por sensores térmicos ou hiperespectrais, podem acelerar a detecção
de pragas permitindo a aplicação de defensivos específicos, na quantidade e no
momento corretos;</p>
<p>• Parametrização na
utilização de luz, umidade, energia e água, permitindo que os alimentos sejam
produzidos apenas com a quantidade necessária destes recursos naturais;</p>
<h3>Genética de animais e
plantas</h3>
<p>• Dados sobre desempenho,
sanidade e vigor em animais (Animal data);</p>
<p>• O sistema Crispr
(Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) e a edição de genes
possibilitam que os alimentos apresentem características que especificamente
atendam a demanda do mercado;</p>
<h3>Fazendas da próxima
geração</h3>
<p>• Computação em nuvem com
armazenamento de grandes volumes de dados, possibilitando rastreabilidade do
alimento na produção, armazenamento e consumo final;</p>
<p>• Análises de dados para
orientação de mercado e logística;</p>
<p>• Dispositivos móveis e
redes sociais para monitorar o mercado;</p>
<p>• Aumento da produtividade
por unidade de área resultando em redução no uso de terra por unidade de
alimento produzido; </p>
<p>• Completa automação das
fazendas com o apoio de robótica;</p>
<p>• Alimentos cultivados em
laboratório, de origem animal ou vegetal, com maior eficiência, em menor
período de tempo e sem todos os insumos exigidos pelas fazendas;</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/b098cc06c93f0e8b6b58f7689d7a9d23.jpg" alt="Figura 4 - Barreiras para adoção das tecnologias nos Estados Unidos em cultivos extensivos" title="Figura 4 - Barreiras para adoção das tecnologias nos Estados Unidos em cultivos extensivos"><figcaption>Figura 4 - Barreiras para adoção das tecnologias nos Estados Unidos em cultivos extensivos</figcaption></figure>
<h2>Como não perder o foco diante de tantas ofertas e opções?</h2><p><span></span></p>
<p>A
importância das tecnologias digitais no meio rural é inquestionável. Contudo, é
fundamental que os avanços buscados na produção de alimentos não sejam apenas
baseados na aquisição de tecnologias digitais. Não existe solução mágica para
problemas de tal complexidade cujos gargalos podem estar ligados a uma gama
enorme de condicionantes, incluindo desde limitações técnicas, culturais, até
de infraestrutura. </p>
<p>As tecnologias oferecidas
somente serão impactantes se condições mínimas forem disponibilizadas. Alguns
questionamentos são comumente formulados, tais como qual tecnologia é a mais
apropriada para resolver determinado problema, como utilizá-la e quais
resultados podem ser obtidos. </p>
<p>O processo de adoção de uma
nova tecnologia digital deve contemplar quatro etapas:</p>
<p>1ª etapa: avaliação das
condições onde a tecnologia vai ser empregada, os problemas que se propõe a
resolver, as limitações de infraestrutura que podem interferir no seu
desempenho, nas dificuldades técnicas que possam dificultar a sua utilização.</p>
<p>2ª etapa: escolha de
tecnologias que melhor atendam a demanda, sendo identificados benefícios,
restrições, demandas técnicas, suporte técnico disponível, compatibilidade com
equipamentos já existentes e vantagens econômicas.</p>
<p>3ª etapa: teste piloto da
tecnologia escolhida para avaliar sua adequação às condições onde será
implantada, capacidade para solução do problema identificado e mensurar as
vantagens financeiras agregadas.</p>
<p>4ª etapa: implantação da
tecnologia considerando os resultados obtidos a partir dos testes pilotos, os
ajustes necessários, adequação à infraestrutura existente, treinamento da
equipe e avaliação dos resultados técnicos e econômicos.</p>
<p>A adoção de novas
tecnologias pode encontrar barreiras significativas (Figura 3), listadas de
forma simplificada a seguir:</p>
<p>● Equipamentos inadequados
e/ou conectividade limitada. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), 40% das propriedades rurais possuem conectividade. Este
fator é o mais restritivo ao uso das tecnologias digitais.</p>
<p>● Potencial de entrega da
tecnologia no contexto da propriedade define o grau de adequação e das
necessidades de ajuste do sistema para otimização da entrega da mesma.</p>
<p>● Capacitação do pessoal
técnico para explorar as potencialidades da tecnologia, é crítico e limitante
se não houver possibilidade de treinamento.</p>
<p>● Capacidade de investimento
por parte do produtor, restringe as possibilidades de busca por tecnologias
digitais.</p>
<p>● Suporte deficiente por
parte do fabricante.</p>
<p>● Incompatibilidade entre
equipamentos e tecnologias já existentes.</p>
<p>● Insegurança no
compartilhamento das informações com as empresas.</p>
<p>● Softwares e aplicativos
têm alto potencial de crescimento, mas enfrentam uma falta de conhecimento além
das limitações de conectividade. Céleres (2019) calcula que 6% da área agrícola
total foi monitorada através de softwares no Brasil em 2018, sendo uma forte tendência
nos próximos anos. </p>
<p>A adoção de tecnologias
digitais vai mudar radicalmente a agricultura, transformando-a em uma indústria
altamente tecnológica. O papel gerencial e operacional do produtor em sua
propriedade cederá lugar ao gerencial-estratégico considerando o mercado. O
conhecimento de todas as etapas do processo produtivo por parte do produtor
será decisivo para que seja avaliado o ganho tecnológico ao seu negócio,
permitindo avaliação da sua capacidade competitiva para o atendimento das demandas
do mercado. Evidente que, para tanto, é importante compreender a inversão na
cadeia de valor. O consumidor será o definidor de todo o processo, e o sistema
de produção, até então proeminente, deverá se ajustar tanto à demanda do
consumidor como aos sistemas verticais de distribuição.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/33ea78004d3cc87c512a5954f48f00a8.jpg" alt="Balardin aponta potencialidades e desafios da tecnologia" title="Balardin aponta potencialidades e desafios da tecnologia"><figcaption>Balardin aponta potencialidades e desafios da tecnologia</figcaption></figure>
<h2>BOX - Tecnologias e incremento de produtividade</h2>
<p>●
Implementos movidos por tração animal -
século 19</p>
<p>●
Máquinas a combustão - anos 40</p>
<p>●
Agroquímicos sintéticos orgânicos ou inorgânicos - anos 60</p>
<p>●
Revolução Verde - anos 70</p>
<p>●
Plantio Direto - anos 80</p>
<p>●
Biotecnologia - anos 90</p>
<p>●
Agricultura de Precisão - anos 90</p>
<p>● GPS
(global positioning system) - anos 90</p>
<p>●
Veículos terrestres autônomos - anos 2000</p>
<p>●
Veículos aéreos não tripulados (Vants) - anos 2010</p>
<p>●
Sistemas de coleta e gestão de dados - anos 2010</p>
<p>●
Digital Farming (agricultura 4.0) - anos 2010</p>
<p>● Data
banking, conectividade, robótica (agricultura 5.0) - anos 2020 </p><p><br></p><p>Ricardo Balardin, Phytus Group</p>"
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no campo é inquestionável. Mas sua adoção enfrenta limites como a conectividade
presente em apenas 40% das propriedades rurais e o conservadorismo do setor. Há
que se ter em mente ainda o fato de que não existe solução mágica para todos os
problemas, e que é necessário cuidado para não perder o foco diante de tantas
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