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string(63) "diferentes-tipos-de-pilotos-automaticos-para-maquinas-agricolas"
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string(60) "Orlando Daniel Masnello e José Paulo Molin, USP/Esalq"
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string(84) "Diferentes tipos de pilotos automáticos para máquinas agrícolas"
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string(257) "<p>Os sistemas de direcionamento
automático nas lavouras estão evoluindo a cada safra, passando de equipamentos
simples que auxiliavam visualmente o operador até a possibilidade de completa
autonomia das máquinas.</p>"
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string(19386) "<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/75fa8df262d918515c4a6c1ad189ecc2.jpg"></figure><p>É cada vez mais comum vermos notícias sobre
veículos autônomos capazes de cuidar de todas as operações da lavoura com
tratores, drones para pulverização, semeadoras e colhedoras que trabalham sem a
interferência humana. Mas é importante entendermos onde estamos e como chegamos
até aqui. Há muita complexidade tecnológica envolvida, mas mesmo assim é
possível uma abordagem simples e sucinta. Todo avanço é resultado de uma série
de acontecimentos de evolução gradativa que trazem novas oportunidades para
novos avanços. Assim, entendendo os conceitos envolvidos nos passos desse
processo podemos compreender todo o curso de evolução da tecnologia.</p>
<h2>BARRAS DE LUZES E GEORREFERENCIAMENTO</h2>
<p>No início da década de
1990, com a liberação do uso do GPS (sistema de posicionamento global
norte-americano), surgiram nos EUA os primeiros sistemas de direcionamento via
GNSS (sistemas de navegação global por satélites). Com o uso das barras de
luzes na aviação agrícola e florestal substituíram-se os “bandeirinhas”, que
eram os funcionários de campo que sinalizavam a linha a ser seguida pelo
piloto. Obviamente era uma atividade insalubre, de risco e com exatidão
limitada. Tamanho foi o impacto na aviação agrícola que as barras de luzes em
poucos anos já estavam sendo largamente usadas em máquinas e operações
agrícolas em solo, principalmente aquelas com maior dificuldade na delimitação
das linhas de percurso, como é o caso da aplicação de sólidos a lanço e
pulverização. </p>
<p>As barras de luzes,
como o próprio nome já diz, inicialmente eram formadas por painel com uma
fileira de LEDs que sinalizavam ao operador se a máquina estaria na posição
correta da linha de operação, acendendo os LEDs para a esquerda ou direita e
indicando ao operador o desalinhamento. A interface evoluiu para tela, que
mostra ao operador a faixa do percurso, especialmente mais eficaz em operações
em curvas. O caminho é traçado com base na primeira passada, gerando infinitas
passadas paralelas de largura delimitada pelo operador. </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/684e33853b649b879db5c12784da3c1a.jpg" alt="Detalhes de um piloto automático instalado no próprio volante do trator" title="Detalhes de um piloto automático instalado no próprio volante do trator"><figcaption>Detalhes de um piloto automático instalado no próprio volante do trator</figcaption></figure>
<h2>PRINCÍPIOS DO DIRECIONAMENTO AUTOMÁTICO EM TRATORES</h2>
<p>A partir da evolução
das barras de luzes surgiram os primeiros tratores com direção automática, que
mantém o trator alinhado aos percursos estabelecidos para as passadas
paralelas, baseado na mesma tecnologia das barras de luzes. Ainda é necessário
realizar os desvios de obstáculos e manobras de cabeceira, mas o operador fica
livre de manter o trator alinhado durante as passadas, reduzindo a fadiga e
aumentando a qualidade do paralelismo das operações.</p>
<p>Para isso são
necessários sinais de posicionamento, que na grande maioria dos casos são dados
exclusivamente por GNSS, que são processados para comandar o esterçamento do
rodado e assim manter o trator alinhado ao percurso estabelecido. Assim, os
sistemas de direção automática de tratores e demais veículos agrícolas
consistem de um receptor GNSS, uma unidade processadora de dados (computador),
um sensor inercial para compensação da inclinação do trator e sinalização de
mudanças bruscas no direcionamento, um sensor de ângulo de esterçamento no rodado
esterçante e um atuador no sistema de direção.</p>
<p>As diferenças na
qualidade desse sistema de direcionamento são basicamente provenientes dos
receptores GNSS e dos atuadores de direção. Mas também deve-se considerar a
existência ou não de alguns dos demais componentes, especialmente sensor
inercial e de ângulo de esterçamento.</p>
<p>A atuação pode ser
diretamente no esterçamento ou no volante. As válvulas eletro-hidráulicas e,
mais recentemente, os atuadores elétricos acoplados ao sistema de direção, são
mais acurados e eficientes em comparação aos atuadores de volante ou
diretamente na coluna da direção. Estes são sujeitos às folgas do conjunto e
requerem maior tempo de resposta para as correções de direcionamento. No
entanto, são mais baratos e podem ser acoplados a veículos que não foram
projetados com sistema de direcionamento automático, sendo recomendados para
operações que não exijam elevada exatidão, como aplicações de insumos a lanço,
por exemplo.</p>
<p>As especificações do
receptor GNSS definem a exatidão possível de ser atingida pelo sistema. Essas
especificações definem a faixa de valor a ser pago, que certamente é mais alto
quanto maior for a acurácia desejada. Esse incremento na acurácia deve ser
acompanhado pelo atuador de direção, uma vez que atuadores de volante não
representam ganhos proporcionais à melhoria do posicionamento proporcionado por
receptores GNSS mais exatos.<span></span></p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/bf5d975e064d385ffa0f9dfd40129c58.jpg" alt="Figura 1 - Definição de um primeiro percurso reto com base na demarcação dos pontos A e B. Os demais são então gerados automaticamente e o operador os segue. (Fonte: Folheto Raven)" title="Figura 1 - Definição de um primeiro percurso reto com base na demarcação dos pontos A e B. Os demais são então gerados automaticamente e o operador os segue. (Fonte: Folheto Raven)"><figcaption>Figura 1 - Definição de um primeiro percurso reto com base na demarcação dos pontos A e B. Os demais são então gerados automaticamente e o operador os segue. (Fonte: Folheto Raven)</figcaption></figure><p><br></p>
<h2>CONTROLANDO OPERAÇÕES</h2>
<p>Um aspecto importante
para os sistemas de direcionamento automático, especialmente em tratores, é o
alinhamento entre este e a máquina ou implemento a ser tracionado ou montado.
Em trajetos curvos ou com inclinação lateral ocorre o desalinhamento,
especialmente em equipamentos de arrasto, interferindo no percurso desejado.
Existem no mercado soluções que minimizam este problema, algumas com atuadores
no equipamento, denominados de sistemas ativos, e outras sem atuadores, ou
sistemas passivos.</p>
<p>Nos sistemas passivos o
alinhamento do equipamento rebocado é priorizado na rota, calculando o percurso
do trator para compensar os desvios deste, sem a necessidade de atuadores para
governar a orientação do equipamento que executa a operação. Contudo, isso faz
com que o trator e o equipamento estabeleçam caminhos diferentes, não podendo
ser utilizados em casos de controle de tráfego. O equipamento obedece aos
percursos, mas o trator não, o que causa tráfego em locais indesejados e danos
às culturas em operações de tratos culturais.</p>
<p>Os sistemas ativos
consistem de atuadores para corrigir os desvios do equipamento e permitir que
ele e o trator sigam o mesmo trajeto. Dependendo do tipo de máquina e de
acoplamento, esse atuador pode ser hidráulico (pistão), realizando a
movimentação lateral da barra de engate em relação ao trator ou mesmo
deslocamento transversal em acoplamento ao engate de três pontos. Para
equipamentos de preparo de solo é utilizado um ou mais discos lisos de
ancoragem, que servem como referência ao alinhamento e atuadores hidráulicos
como os anteriores. No caso de equipamentos com rodado (carretas, semeadoras,
plantadoras, adubadoras, pulverizadores), podem ser utilizados atuadores
hidráulicos para esterçamento diretamente no seu rodado. A maioria destas
soluções, tanto de sistemas passivos como ativos, requer duas antenas GNSS, uma
para o equipamento e outra para o trator.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/d1d8e9041f6c93677821a1f4a5a71936.jpg" alt="Figura 2 - Componentes de um sistema de direção automática de controle eletro-hidráulico: receptor GNSS (a); computador (b); sensor inercial (c); válvula atuadora eletro-hidráulica da direção (d); sensor de angulação do esterçamento (e) " title="Figura 2 - Componentes de um sistema de direção automática de controle eletro-hidráulico: receptor GNSS (a); computador (b); sensor inercial (c); válvula atuadora eletro-hidráulica da direção (d); sensor de angulação do esterçamento (e) "><figcaption>Figura 2 - Componentes de um sistema de direção automática de controle eletro-hidráulico: receptor GNSS (a); computador (b); sensor inercial (c); válvula atuadora eletro-hidráulica da direção (d); sensor de angulação do esterçamento (e)</figcaption></figure>
<h2>EVOLUÇÃO NA AUTOMAÇÃO DOS VEÍCULOS AGRÍCOLAS</h2>
<p>Até meados dos anos
2000 chegou-se aos equipamentos capazes de seguir percursos predefinidos e
manter o alinhamento, mas ainda dependentes do operador. Paralelamente já se
trabalhava com a perspectiva de tê-los autônomos. Para isso é necessário
contar, dentre outros, com a habilidade de execução autônoma das manobras, o
que não é trivial.</p>
<p>Alguns itens
importantes para se automatizar essa etapa são os comandos de cabine para a
saída e reentrada do conjunto na lavoura. Essa automação aconteceu ainda na
década de 1990, especialmente na Europa, onde as lavouras são predominantemente
menores e as manobras mais demandadas. Tratam-se aqui dos comandos de erguer e
desligar o acionamento da máquina acoplada ao trator, com ajustes de
velocidade, rotação e algo mais, e logo após a manobra, refazer esse processo
em ordem inversa para reentrar na lavoura executando a operação.</p>
<p>O outro processo é
exatamente o percurso de manobra, que pode ser de diversos formatos, mas todos
requerem espaço e tempo para a sua execução. Mas como os percursos já estão
definidos, o retorno não precisa obrigatoriamente acontecer na passada
seguinte, permitindo otimizações nesse sentido.</p>
<p>Da mesma forma, já vêm
sendo largamente adotados planejamentos de rotas mais eficientes em alguns
tipos de lavouras. Esse planejamento é feito a partir de dados topográficos das
lavouras e com otimização do uso dos espaços e das máquinas. Com o arquivo
dessas rotas o veículo opera de forma ainda mais independente do operador.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/c4d0c95e51fdc82066012afea11a4fbf.jpg" alt="Figura 3 - Equipamento de arrasto sem sistema de direção automática (a) e com sistema de direção automática e antena de GNSS independente, indicada pela seta, da mesma forma que sobre o trator (b) " title="Figura 3 - Equipamento de arrasto sem sistema de direção automática (a) e com sistema de direção automática e antena de GNSS independente, indicada pela seta, da mesma forma que sobre o trator (b) "><figcaption>Figura 3 - Equipamento de arrasto sem sistema de direção automática (a) e com sistema de direção automática e antena de GNSS independente, indicada pela seta, da mesma forma que sobre o trator (b) </figcaption></figure><p>De forma contínua e com
certa velocidade, avança-se para os veículos efetivamente autônomos. Boa parte
da tecnologia aqui aplicada tem como base a automação dos veículos rodoviários.
Nesses, a programação da tomada de decisão é basicamente dividida em três
camadas de processamento: camada controladora, responsável pelos comandos
básicos, frear, acelerar, esterçar; camada sequenciadora, responsável por criar
a sequência das ações a serem realizadas, por exemplo a sequência de etapas da
saída, manobra de cabeceira e reentrada na lavoura; e camada deliberadora, em
que é lida a rota predefinida e calculados eventuais desvios de rota por
obstáculos, sempre verificando se a rota principal está sendo cumprida.<br></p>
<p>Este tipo de
processamento é baseado em inteligência artificial, que possibilita a entrada
de dados de diversas fontes diferentes e busca a saída mais eficiente possível.
Assim, é capaz de melhorar as tomadas de decisão do veículo conforme mais é
utilizado, por processos de aprendizado de máquina.</p>
<p>Paralelamente, os
sistemas de injeção eletrônica nos motores e câmbio automático trouxeram a
possibilidade de controlar a velocidade e a potência dos veículos. Somado a
isso têm-se dados de múltiplos sensores espalhados pelas máquinas para informar
o sistema e aumentar a eficiência das operações. É possível, por exemplo,
variar a velocidade de colhedoras de cereais com base no volume de biomassa ou
produtividade da cultura de modo que a mesma sempre trabalhe com a melhor taxa
de alimentação para a máxima eficiência e com perda de grãos limitada.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/8e0bbad6e067a265caba3649852b6ddb.jpg" alt="Figura 4 - Ilustração de comunicação entre máquinas e gestão de dados em fazendas" title="Figura 4 - Ilustração de comunicação entre máquinas e gestão de dados em fazendas"><figcaption>Figura 4 - Ilustração de comunicação entre máquinas e gestão de dados em fazendas</figcaption></figure>
<h2>DESAFIOS E PERSPECTIVAS</h2>
<p>Tudo indica que o
mercado esteja caminhando para a automação plena em sistemas agrícolas
mecanizados nas próximas décadas. Para isso, as tecnologias ainda precisam
evoluir para que o operador não seja mais necessário, passará a ser um gestor.
Porém, gradativamente todo o sistema produtivo terá as ações realizadas pelas
máquinas, sem a necessidade de supervisão humana.</p>
<p>Os ambientes com
condições controladas, como cultivos protegidos, por exemplo, serão os
primeiros a apresentar soluções comerciais viáveis de veículos totalmente
autônomos. Os caminhos a serem percorridos são definidos pela estrutura
espacial dos cultivos, o que facilita o controle dos equipamentos e de suas
ações no espaço. Além disso, a disponibilidade de dados ambientais precisos
também pode auxiliar na tomada de decisão dos robôs.</p>
<p>A integração entre as
máquinas, de um sistema mecanizado, no campo, já é perseguida, e quando
plenamente implementada fará com que as ações de uma máquina em operação
influenciem diretamente as demais. Em colheita de grãos ou de cana, por
exemplo, o fluxo dos transbordos poderá ser contínuo e comandado por sinais
emitidos pelas colhedoras. </p>
<p>Para isso é necessária
a conectividade entre as máquinas, com padronização de formatos entre
diferentes fabricantes. Especificamente,
entre o trator e o equipamento acoplado já existe um pacote normativo desde a
década de 1990, com a norma ISO 11783 (Isobus), a qual ainda não é de uso
limitado no Brasil.</p>
<p>Existe também uma
discussão acerca da redução do porte dos equipamentos, os quais trabalhariam de
maneira coordenada e com maior agilidade e acurácia em comparação com
equipamentos grandes que dominam hoje o mercado. Esta tendência já pode ser
visualizada em operações de coleta de dados e mesmo de pulverização utilizando
drones. Estes já são autônomos, mas a partir de percursos programados, e apesar
de ser uma tecnologia relativamente nova, está se popularizando rapidamente. </p>
<p>A maior limitação para
a adoção ampla desses equipamentos na agricultura ainda são os custos, com a
baixa lucratividade e na maioria das vezes os usos sazonais dos equipamentos.
Com isso, o processo de desenvolvimento dessas tecnologias deve levar em conta
principalmente as demandas de cada tipo de lavoura, o perfil dos usuários e as
realidades regionais.</p>
<p> </p>
<p>Orlando Daniel
Masnello e José Paulo Molin, USP/Esalq</p>"
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