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string(109) "Fernando Cezar Juliatti, UFU / JuliAgro; Breno Cezar Marinho Juliatti e Fernanda Cristina Juliatti, JuliAgro "
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string(27) "Explosão de manchas "
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string(626) "<p>Favorabilidade
térmica, presença de inóculo em restos culturais e ausência de resistência nos
genótipos cultivados estão entre os fatores que ajudam a explicar o aumento de
doenças foliares em soja nas últimas safras no Brasil. Começar a aplicação de
fungicidas ainda no estádio vegetativo, quando o Índice de Área Foliar (IAF)
permitir a deposição em menores volumes de caldas, é uma das principais
recomendações para prevenir prejuízos na próxima safra.</p>"
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string(18677) "<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/361095f60f0da5cb1ba82ab153a0e771.jpg"></figure><p>O manejo de doenças em soja tem sido baseado no uso de
cultivares resistentes, controle biológico, emprego de manejo cultural e
fungicidas via sementes e na parte aérea. Na última década, a principal tática
de controle adotada reside no emprego de fungicidas multissítios, associados ou
não aos fungicidas sítios específicos, notadamente com foco na ferrugem da soja
e mancha-alvo. Pouca ou nenhuma ênfase tem sido dada às doenças iniciais ou de
finais de ciclo da soja, como a mancha-parda ou septoriose. Com o avanço das
cultivares de ciclo indeterminado e precoces essa doença tem aumentado a sua
importância. Na realidade o patógeno incide nos cultivos desde a fase inicial
(V1) até a fase final (R6). Uma pergunta deve passar na cabeça dos agricultores
e sojicultores: por que as manchas foliares estão em evolução na cultura da soja
e a cada ano aumentando seus danos? Na realidade o sojicultor fica sempre
atento e preocupado com a ferrugem da soja e seus danos, que tem se acumulado
nos últimos 17 anos, desde a ressurgência, em 2002, no Paraguai e nos Campos
Gerais do Paraná, e nos anos seguintes se disseminou por todo o Brasil. Houve
episódios consecutivos no Paraná, Mato Grosso do Sul, Sudoeste Baiano e Mato
Grosso (Primavera do Leste e Rondonópolis) e em seguida no Triângulo Mineiro e
Rio Grande do Sul. De lá para cá, observou-se a queda na eficácia dos
fungicidas triazóis em 2006, das estrobilurinas em 2011, dos triazóis e
estrobilurinas (estrobimix) no mesmo ano, e em 2016 das carboxamidas.
Consequentemente, aumentou-se a demanda dos multissítios (mancozeb,
clorotalonil e cúpricos) de forma isolada ou em associação nos programas de
controle da ferrugem e outras doenças (septoriose ou mancha-parda, mancha-alvo,
crestamento de cercóspora, antracnose, seca da haste e da vagem, podridão e
macrofomina e o mofo branco da soja). Sabe-se que a perda da sensibilidade aos
fungicidas ocorreu para o agente etiológico da mancha-alvo (<i>Corynespora
cassiicola</i>), principalmente para benzimidazóis em 2012 (carbendazim e
tiofanato metílico) e em 2018 para as carboxamidas (fluxapiroxade). Mutações
vão se acumulando no genoma, sejam de natureza qualitativa ou quantitativa ou
ainda cruzada (dentro do mesmo grupo) ou múltipla (grupos químicos diferentes).
Também é conhecida a perda da sensibilidade de isolados de <i>Cercospora
kikuchii</i> em relação às estrobilurinas, como o fungicida azoxistrobina. Os
danos das principais doenças da soja desde a fase de sementes e final do
enchimento de grãos podem ser visualizados na Figura 1 e na Tabela 1. Assim, o
Brasil vai acumulando os gastos nos controles de doenças em soja, com perdas
diretas e indiretas acumuladas em mais de 25 bilhões de dólares desde 2002,
somando-se o que deixa de ser colhido e o gasto com fungicidas, per si. O
número de aplicações tem aumentado ano a ano, saindo de duas em 2002, a partir
de R1, para aproximadamente 3,5, em média, na safra 2018-2019. Pela
inexistência de inovação com novos grupos químicos no mercado, a tendência será
aumentar o uso de multissítios nos programas de pulverização de base, além de
associar os sítios específicos (triazóis, estrobilurinas, carboxamidas e
morfolinas). Não se pode descartar o uso de fungicidas de ação biológica e
metabólitos de micro-organismos que contribuirão, juntamente com extratos de
plantas ou óleos essenciais derivados de plantas, no manejo das doenças da soja
e outros cultivos. Na realidade, houve uma redução na eficácia dos fungicidas
que perderam a eficiência de 80%-90% para 20%-30% de controle, notadamente em
alguns patossistemas como ferrugem e mancha-alvo. </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/652263963d013347519f00cc46261f66.jpg" alt="Figura 1 - Regressão linear entre produtividade de soja e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) para mancha-parda" title="Figura 1 - Regressão linear entre produtividade de soja e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) para mancha-parda"><figcaption>Figura 1 - Regressão linear entre produtividade de soja e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) para mancha-parda.</figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/1fac579792a989cf542e1e8911b586b0.jpg" alt="Figura 2 - Principais manchas foliares na cultura da soja na safra-2018-2019. (A - Septoriose ou mancha-parda e alvo, B - Mancha abiótica ou mancha aureolada, C - Manchas circulares por Corynespora cassiicola, D - Manchas iniciais por Corynespora cassiicola e seguida colonizadas por Cercospora kikuchii, E - Lesões nas nervuras pelo fungo da antracnose (Colletotrichum dematium truncata), F - manchas necróticas na folha unifoliada por Septoria glycines e G - Lesões por crestamento de Cercospora kikuchii)" title="Figura 2 - Principais manchas foliares na cultura da soja na safra-2018-2019. (A - Septoriose ou mancha-parda e alvo, B - Mancha abiótica ou mancha aureolada, C - Manchas circulares por Corynespora cassiicola, D - Manchas iniciais por Corynespora cassiicola e seguida colonizadas por Cercospora kikuchii, E - Lesões nas nervuras pelo fungo da antracnose (Colletotrichum dematium truncata), F - manchas necróticas na folha unifoliada por Septoria glycines e G - Lesões por crestamento de Cercospora kikuchii)"><figcaption>Figura 2 - Principais manchas foliares na cultura da soja na safra-2018-2019. (A - Septoriose ou mancha-parda e alvo, B - Mancha abiótica ou mancha aureolada, C - Manchas circulares por Corynespora cassiicola, D - Manchas iniciais por Corynespora cassiicola e seguida colonizadas por Cercospora kikuchii, E - Lesões nas nervuras pelo fungo da antracnose (Colletotrichum dematium truncata), F - manchas necróticas na folha unifoliada por Septoria glycines e G - Lesões por crestamento de Cercospora kikuchii).</figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/5e7141a318bf8cf0894032bd258009e7.jpg"></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/24ddf313e05ac08bab464a2be600e999.jpg"></figure><p>Na Tabela 1, os valores em
negativo apresentam quanto cada doença impactou na redução da produtividade, ou
seja, menor o valor negativo maior o impacto da doença e do patógeno em reduzir
o potencial de produção. Os maiores impactos nas variedades Msoy 7739 IPRO em
Uberlândia-MG e BMX Bônus em Querência-MT foram septoriose (-0,61) em MG e
mancha-alvo (-0,65) em Querência-MT. Nota-se que a ferrugem na última safra
impactou menos nos dois locais por ocorrer tardiamente ou no final do ciclo
(-0,26).</p>
<p>A Tabela 2 mostra perda da
eficiência para os diferentes alvos na cultura da soja. Nota-se que pela Tabela
2 o nível de controle varia conforme o patógeno (*) ou doença. Alguns patógenos
começam seu ciclo das relações patógeno-hospedeiro via semente ou restos
culturais (solo, palhada etc.). Por exemplo, <i>Macrophomina phaseolina</i>, <i>Diaporthe
phaseolorum</i> e <i>Colletotrichum dematium truncata</i> que, devido ao longo
período de latência, após a infecção inicial os sintomas demoram para evoluir
(por exemplo: <i>Macrophomina</i>). A infecção inicial se dá via sementes ou
plântulas e a observação de sintomas no campo ocorrerá somente no enchimento de
grãos (R5 até R6). A antracnose da soja também pode ser associada à presença do
fungo na semente ou, ainda, nos restos culturais, e a infecção principal é na
plântula na fase inicial ou, ainda, nas vagens, por meio de entradas ou
ferimentos realizados por percevejos. Em outros patógenos, o foco do controle é
o tratamento de sementes. Certos fitopatógenos precisam de molhamento foliar
contínuo para evoluir no cultivo, como o fungo da ferrugem e das manchas
foliares. Nesse caso, a melhor forma de combate é a proteção das camadas da
planta ou o lançamento de folhas, com fungicidas via foliar, com intervalos
regulares. Em outros casos, como não se dispõe de variedades resistentes, a
melhor forma de controle é o manejo cultural de plantas não hospedeiras, como
no caso dos nematoides (cisto, galhas, lesões e outros). A explosão de manchas
observadas na última safra, 2018-2019, se deve a precipitação pluviométrica
contínua, favorabilidade térmica, presença de inóculo em restos culturais e
ausência de resistência nos genótipos cultivados. A exemplo disso, muitos
genótipos sem resistência aos fungos necrotróficos, como <i>Septoria glycines</i>
e <i>Corynespora cassiiola</i>, agentes da mancha-alvo explodiram em cultivos
como BMXDesafio, MSOy7739 Ipro, BMX Bônus, BMX Flecha, entre outros. Não
adianta a precocidade do genótipo, se o mesmo é suscetível ao fitopatógenos.
Ensaios realizados pela empresa Juliagro, em Minas Gerais e Mato Grosso
(Querência -MT), apresentaram incidência e severidade de manchas nas áreas
experimentais e de agricultores, justificando o controle no vegetativo. A
mancha-parda é uma doença necrotrófica, cujo patógeno pode ser transmitido ou
disseminado via sementes e em muitas situações sobrevive em restos culturais de
soja de um ano para outro. No passado, no Brasil foi preconizado e recomentado
o uso de Flutriafol e Fluquinconazol, via tratamento de sementes, para o
controle da doença. Com essa estratégia de manejo para a redução do inóculo inicial
(Xo), reduzia-se a severidade da doença no baixeiro das plantas de soja e a
taxa de evolução da doença (r), promovendo a melhor sanidade das plantas e a
manutenção do Índice de Área Foliar (IAF). O patógeno (<i>Septoria glycines</i>)
apresenta uma latência longa (20-30 dias), bem diferente da Phakopsora
pachyrhizi (10-20 dias). Não se conhece, ainda, um bom método de detecção do
patógeno da septoriose ou mancha-parda em sementes ou metodologia para os
testes de sanidade de sementes atuais. O teste de Blotter é deficiente. Também
não se conhece os danos representativos da doença no Brasil. As informações
existentes são apenas por observações empíricas ou constatações visuais.
Estimava-se que os danos da doença podem atingir até 20% do potencial produtivo
da soja, independentemente da cultivar. Mas, pelo modelo apresentado (Figura
1), os danos podem ser maiores, se o controle no vegetativo não for realizado.
Também se conhece muito pouco da resistência de cultivares. Os primeiros
trabalhos de pesquisa devem focar em quantificar os efeitos ou danos das
doenças sobre o rendimento de grãos. Vários modelos podem ser utilizados para
estimar danos de doenças em plantas, sendo um deles o de ponto crítico. Segundo
Nutter e Jenco, 1992, Bergamin Filho, Amorim, 1996, Reis <i>et al.</i>, 2002, e
Bordin <i>et al.</i>, 2016, o modelo de ponto crítico se caracteriza quando, em
determinado estádio fenológico da planta, a intensidade da doença se
correlaciona com o dano futuro. Esse modelo,
por ser simples, tem aplicação prática para estimar os danos que uma doença
causa no hospedeiro em função do estádio de desenvolvimento fenológico, da
intensidade (severidade e incidência) e da AACPD (Área Abaixo da Curva de
Progresso da Doença). Foi ajustado um modelo de danos e perdas para a
septoriose, baseado em duas localidades, como Uberlândia, Minas Gerais, e
Querência, Mato Grosso (Figura 1). Em Minas Gerais, os dados de severidade da
doença foram observados para septoriose (nível máximo de 80% em R5.5), enquanto
em Querência também para septoria (> 50% severidade na última
observação) e para outras doenças em
menor intensidade (< 10% última observação). O modelo do ponto crítico foi
desenvolvido com base em danos gerados em tratamentos padrões de fungicidas (diferentes
doses e compostos), onde a AACPD observada para septoria sobressaiu-se em
relação aos demais valores dos outros
patossistemas (menos expressivos). Os objetivos foram buscar maior
representatividade dos danos na produtividade em diferentes níveis da doença e
isolar os seus efeitos em Uberlândia, Minas Gerais, e Querência, Mato Grosso.
Enquanto em outras doenças realizou-se a análise de correlação simples de
Pearson para comprovar o menor impacto em relação à septoriose. Para alcançar
os objetivos propostos, procurou-se gerar o gradiente da intensidade da
mancha-parda por meio do uso dos fungicidas no estádio vegetativo, em
diferentes doses (Sah e MacKenzie, 1987). Desse modo, utilizou-se diferentes
fungicidas (Rede-Embrapa vegetativo,safra 2018-2019). A patometria foi
realizada nos estádios fenológicos entre V5 e R3 - 21 dias de avaliação. Os
dados de rendimento de grãos e de severidade foram submetidos à análise de
regressão (modelagem através de equações lineares). Para estabelecimento do
modelo foi utilizada a metodologia de Nutter e Jenco (1992). Em relação ao
rendimento de grãos houve uma relação negativa com a severidade. Coeficiente de
determinação (R2) foi de 73.29. Esse coeficiente de dano pode ser utilizado na
fórmula de Munford e Norton (1984) para o cálculo do limiar de dano econômico.
Na continuidade desse trabalho, estudos devem ser conduzidos para testar o
modelo obtido com cultivares com diferentes reações à septoriose ou
mancha-parda. Foi observado que a correlação para mancha-alvo também foi alta
para AACPD e produtividade. O que corrobora seu impacto na produção, porém os
dados usados na análise do ponto crítico (regressão).</p>
<p>Na
Figura 2 são apresentados sintomas e ilustrações de importantes doenças na
cultura da soja envolvendo fungos necrotróficos e suas manchas e danos no dossel
da cultura. A - Septoriose ou mancha-parda e alvo; B - Mancha abiótica ou mancha aureolada; C -
Manchas circulares por <i>Corynespora cassiicola</i>; D - Manchas iniciais por <i>Corynespora
cassiicola</i>, em seguida colonizadas por <i>Cercospora kikuchii; </i>E - Lesões nas nervuras pelo fungo da
antracnose (<i>Colletotrichum dematium truncata</i>); F - Manchas necróticas na
folha unifoliada por <i>Septoria glycines</i>; e G - Lesões por crestamento de <i>Cercospora
kikuchii.</i> Como orientação para a próxima safra, fica a observação para que
o controle das manchas foliares via fungicidas comece ainda no estádio
vegetativo, quando o Índice de Área Foliar (IAF) permitir a deposição dos
fungicidas em menores volumes de caldas. Uma atenção especial deve ser dada às
áreas de cultivo de algodão-soja e vice-versa, pois o inóculo presente no solo
e restos de cultura aumenta a intensidade de mancha-alvo no cultivo seguinte,
diferente do milho. </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/e886c741892d45f55a2607152cf35d38.jpeg" alt="Vagens de soja com sintomas da antracnose (Colletotrichum dematium truncata) " title="Vagens de soja com sintomas da antracnose (Colletotrichum dematium truncata) "><figcaption>Vagens de soja com sintomas da antracnose (Colletotrichum dematium truncata).</figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/5a3ef3baea89466dc13dd4a45568b881.jpg" alt="A explosão de manchas observadas na última safra, 2018-2019, se deve à precipitação pluviométrica contínua" title="A explosão de manchas observadas na última safra, 2018-2019, se deve à precipitação pluviométrica contínua"><figcaption>A explosão de manchas observadas na última safra, 2018-2019, se deve à precipitação pluviométrica contínua.</figcaption></figure><p>Fernando Cezar
Juliatti, UFU / JuliAgro; Breno Cezar
Marinho Juliatti e Fernanda Cristina Juliatti, JuliAgro </p>"
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