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string(40) "Influência do clima em café"
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string(370) "<p>O que mostram os números das precipitações no Espírito Santo ao longo dos
últimos anos em relação à produção de café Conilon, o que se pode extrair de
lições e que práticas podem auxiliar a minimizar os efeitos desses eventos
climáticos adversos.</p>"
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string(19088) "<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/13cfc860594b41eb1ebca877867dc2ee.jpg"></figure><p>O estado do Espírito
Santo (ES) é responsável por 13% da produção mundial e 70% da produção
brasileira de café Conilon. Em 2019, o estado produziu mais de dez milhões de
sacas (60kg), com produtividade média de 43 sacas por hectare (sc/ha). Em
comparação, os estados de Minas Gerais e Rondônia obtiveram produtividade de 33
sc/ha e 35 sc/ha, respectivamente. A obtenção de maiores níveis de
produtividade no Espírito Santo é possível devido à busca crescente por
melhorias dos níveis tecnológicos e de manejo das lavouras. No estado,
aproximadamente 70% das lavouras de café Conilon são irrigadas e, em associação
com outras tecnologias e práticas de manejo, têm possibilitado a alguns
produtores atingir níveis de produtividade superiores a 100 sc/ha.</p>
<p>O
Norte do Espírito Santo produz 80% do café Conilon capixaba (destacado em
vermelho na Figura 2c). Nesta região, o café é a principal fonte de renda em
80% das propriedades rurais. A cultura é reponsável por 35% do PIB agrícola do
estado, e gera 250 mil empregos diretos e indiretos. Contudo, os crescentes
custos de produção e a variabilidade climática têm gerado instabilidades na
produção de café Conilon do estado.</p>
<p>O
custo de produção de café Conilon em algumas regiões, como no município de
Pinheiros, Espírito Santo, passou de R$ 10 mil/ha em 2010, para R$ 20 mil/ha em
2019 (Figura 1c), ou seja, em nove anos o custo de produção dobrou de preço. No
mesmo período, o preço de venda médio anual da saca de 60kg do produto aumentou
de R$ 310,00 para R$ 420,00 (Figura 1d), significando um aumento de 36%. Com
isso, há a necessidade de se obter maiores produtividades para que a atividade
cafeeira seja lucrativa. Em 2010, por exemplo, a produtividade média necessária
para compensar os custos foi de 30 sc/ha, enquanto em 2019, foi superior a 40
sc/ha. Estas condições deixam os produtores rurais mais vulneráveis a eventos
climáticos adversos, como os ocorridos durante as safras de 2015 e 2016.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/ee24e8b7fe1b3e352e6e6098627d93fc.jpg" alt="Figura 1 - Os desafios da produção de café Conilon no Espírito Santo. (a) Variação espacial da área em produção de café Conilon nos munícipios do ES entre 2010-2019 (IBGE, 2020). (b) Variação da área em produção de café Conilon, entre 2010-2019, no ES (Conab, 2020). (c) Variação do Custo de produção de Conilon, entre 2010-2019, em Pinheiros-ES (Conab, 2020). (d) Variação do preço de venda de café Conilon, entre 2010-2019, no ES (Pecege, 2020). Variação do número de sacas de café (60 kg) necessárias para cobrir o custo de produção, entre 2010-2019, no ES" title="Figura 1 - Os desafios da produção de café Conilon no Espírito Santo. (a) Variação espacial da área em produção de café Conilon nos munícipios do ES entre 2010-2019 (IBGE, 2020). (b) Variação da área em produção de café Conilon, entre 2010-2019, no ES (Conab, 2020). (c) Variação do Custo de produção de Conilon, entre 2010-2019, em Pinheiros-ES (Conab, 2020). (d) Variação do preço de venda de café Conilon, entre 2010-2019, no ES (Pecege, 2020). Variação do número de sacas de café (60 kg) necessárias para cobrir o custo de produção, entre 2010-2019, no ES"><figcaption>Figura 1 - Os desafios da produção de café Conilon no Espírito Santo. (a) Variação espacial da área em produção de café Conilon nos munícipios do ES entre 2010-2019 (IBGE, 2020). (b) Variação da área em produção de café Conilon, entre 2010-2019, no ES (Conab, 2020). (c) Variação do Custo de produção de Conilon, entre 2010-2019, em Pinheiros-ES (Conab, 2020). (d) Variação do preço de venda de café Conilon, entre 2010-2019, no ES (Pecege, 2020). Variação do número de sacas de café (60 kg) necessárias para cobrir o custo de produção, entre 2010-2019, no ES</figcaption></figure><p>A
média histórica do acumulado mensal de chuva em novembro no Norte do Espírito
Santo é, aproximadamente, 200mm. Em novembro de 2014, a chuva média acumulada
nessa região foi de 83mm. Acumulados de chuva abaixo da média também foram
registrados para dezembro de 2014 e janeiro de 2015. Os baixos volumes de
chuva, associados às altas temperaturas no mesmo período, fizeram com que a
produção de café Conilon em 2015 diminuísse 22% em relação a 2014. Além disso,
devido às condições climáticas adversas, 9% das áreas em produção de café
Conilon foram destruídas, prejudicando a safra de 2016 (Figura 1b).<br></p>
<p>A safra de café Conilon de 2016 foi desastrosa no Norte do
Espírito Santo. A precipitação acumulada dos meses de outubro, novembro e
dezembro de 2015 foi a menor dos últimos dez anos (Figura 2e). O número médio
de dias com chuva no mês de outubro é de 12 dias. Em outubro de 2015, a chuva
ocorreu em somente dois dias (Figura 1d). O acumulado mensal de chuva em
novembro foi de 30mm, o que corresponde a 15% do esperado para o mês. Além
disso, as temperaturas médias mensais para novembro e dezembro também foram as
maiores registradas neste século. A temperatura média em dezembro, por exemplo,
foi de 27,5°C, i.e., 2°C superior à média histórica para o mês na região. As
chuvas retornaram em janeiro de 2016, contudo um segundo período de seca começou
em fevereiro e prevaleceu até maio do mesmo ano. Durante este período
(2015/2016), também houve a proibição da irrigação em alguns locais, devido à
contaminação das águas do Rio Doce pelos rejeitos de mineração provenientes do
rompimento da barragem de Mariana, Minas Gerais.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/51f3dabc57fce03b76d6a46e8e8e80ed.jpg" alt="Figura 2 - A produção de café Conilon no Espírito Santo. (a) Variação espacial da produção de café Conilon no ES e Brasil entre 2010-2020 (Conab, 2020). (b) Variação espacial da produtividade de café Conilon no ES e Brasil entre 2010-2020. (c) Variação espacial da produtividade do Conilon em 2016 em relação à média do período de 10 anos (2010-2020), adaptado de IBGE (2020). Boxplots (d) da média da temperatura média mensal, (e) do número de dias com chuva nos meses do ano e (f) da chuva acumulada mensal. Os valores referentes as médias mensais da safra 2016 estão destacadas com o asterísco vermelho em (d), (e) e (f)" title="Figura 2 - A produção de café Conilon no Espírito Santo. (a) Variação espacial da produção de café Conilon no ES e Brasil entre 2010-2020 (Conab, 2020). (b) Variação espacial da produtividade de café Conilon no ES e Brasil entre 2010-2020. (c) Variação espacial da produtividade do Conilon em 2016 em relação à média do período de 10 anos (2010-2020), adaptado de IBGE (2020). Boxplots (d) da média da temperatura média mensal, (e) do número de dias com chuva nos meses do ano e (f) da chuva acumulada mensal. Os valores referentes as médias mensais da safra 2016 estão destacadas com o asterísco vermelho em (d), (e) e (f)"><figcaption>Figura 2 - A produção de café Conilon no Espírito Santo. (a) Variação espacial da produção de café Conilon no ES e Brasil entre 2010-2020 (Conab, 2020). (b) Variação espacial da produtividade de café Conilon no ES e Brasil entre 2010-2020. (c) Variação espacial da produtividade do Conilon em 2016 em relação à média do período de 10 anos (2010-2020), adaptado de IBGE (2020). Boxplots (d) da média da temperatura média mensal, (e) do número de dias com chuva nos meses do ano e (f) da chuva acumulada mensal. Os valores referentes as médias mensais da safra 2016 estão destacadas com o asterísco vermelho em (d), (e) e (f)</figcaption></figure>
<p>Essas condições adversas destruíram, pela segunda safra
consecutiva, 10% das áreas em produção de café Conilon do Espírito Santo. Nesta
década, alguns munícipios do Norte do estado perderam mais de 20% das áreas em
produção (Figura 1a). A produtividade média em 2016 foi 37% inferior à média
histórica do Espírito Santo (Figura 2b). Alguns munícipios tiveram
produtividade reduzida em mais de 60% (Figura 2c). Em 2016, a produção
brasileira de café Conilon diminuiu 29% em relação à média histórica, o que
correspondeu a 417 mil sacas (Figura 2a). Vale ressaltar que a variação
positiva da produtividade do Conilon na região Sul do estado pouco impactou na
produção nacional, uma vez que 80% da produção de Conilon é proveniente do
Norte do Espírito Santo (Figura 2c).</p>
<p>Condições climáticas extremas, como as ocorridas durante
as safras de 2015 e 2016, já podem ser consequências das mudanças climáticas.
Portanto, essas condições podem se tornar ainda mais frequentes em um futuro
próximo, uma vez que há tendência de mudança nos padrões de distribuição e
quantidade de chuva e de temperatura. Questiona-se, portanto, como minimizar os
impactos desses eventos climáticos extremos?</p>
<p>É importante conhecer quais são as variáveis climáticas
que afetam a produtividade do café Conilon. Para isso, correlacionou-se a
produtividade média dos munícipios do Norte do Espírito Santo nos últimos dez
anos, com a chuva acumulada e a temperatura média mensal do mesmo período. Os
resultados indicam que o estresse hídrico e as altas temperaturas durante a
formação dos grãos (Nov-Dez) podem afetar drasticamente a produtividade do
cafeeiro (Figura 3a, 3b e 3c). Além disso, as altas temperaturas durante o
florescimento (Set-Out) e enchimento de grãos (Jan-Mar) também prejudicam a
produção da cultura (Figura 3a).</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/170594843b5855cecd6ed69a8254fa77.jpg" alt="Figura 3 - As variáveis climáticas e a produtividade do Conilon. (a) Correlação de Pearson entre a produtividade de café Conilon e a média mensal da temperatura média (Tmed) e precipitação mensal acumulada (Chuva). Os “x” se referem à correlação não estatisticamente significante a um nível de significância de 0,05. Relação entre produtividade média de café Conilon no ES e (b) Chuva acumulada e (c) temperaura média durante a formação dos grãos de café Conilon. (d) e (e) Efeitos dos eventos climáticos extremos durante a safra 2016 no cafeeiro Conilon em Marilândia-ES" title="Figura 3 - As variáveis climáticas e a produtividade do Conilon. (a) Correlação de Pearson entre a produtividade de café Conilon e a média mensal da temperatura média (Tmed) e precipitação mensal acumulada (Chuva). Os “x” se referem à correlação não estatisticamente significante a um nível de significância de 0,05. Relação entre produtividade média de café Conilon no ES e (b) Chuva acumulada e (c) temperaura média durante a formação dos grãos de café Conilon. (d) e (e) Efeitos dos eventos climáticos extremos durante a safra 2016 no cafeeiro Conilon em Marilândia-ES"><figcaption>Figura 3 - As variáveis climáticas e a produtividade do Conilon. (a) Correlação de Pearson entre a produtividade de café Conilon e a média mensal da temperatura média (Tmed) e precipitação mensal acumulada (Chuva). Os “x” se referem à correlação não estatisticamente significante a um nível de significância de 0,05. Relação entre produtividade média de café Conilon no ES e (b) Chuva acumulada e (c) temperaura média durante a formação dos grãos de café Conilon. (d) e (e) Efeitos dos eventos climáticos extremos durante a safra 2016 no cafeeiro Conilon em Marilândia-ES</figcaption></figure>
<h2>Box - Práticas
para minimizar os efeitos climáticos adversos </h2>
<h3>Irrigação<span></span></h3>
<p>Se não
for possível irrigar durante todo o ciclo da cultura, é importante manter a
irrigação pelo menos entre os meses de novembro e fevereiro (momento de maior
demanda hídrica do Conilon). Além disso, é importante o uso de sistemas de
irrigação eficientes (e.g. irrigação localizada) e a realização do manejo da
irrigação, para fornecer água em quantidade e momento adequados.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/84cbea37cb363e39390990d3ad533ef7.jpg"></figure><h3>Favorecer o desenvolvimento das raízes</h3>
<p>Um
sistema radicular mais profundo e bem desenvolvido possibilita acessar maiores
volumes de água no solo. Esse tipo de estratégia pode ser atingido através de
mudas com sistema radicular pivotante (e.g. propagação seminífera) e/ou por meio
de técnicas de manejo nutricional, como, por exemplo, através da aplicação de
gesso agrícola para estimular o desenvolvimento das raízes em camadas mais
profundas do solo. </p>
<h3>Escolha de cultivares mais resistentes às altas temperaturas e ao déficit hídrico</h3>
<p>A
escolha adequada do material genético a ser utilizado é uma das prerrogativas
no planejamento da atividade cafeeira. No contexto da resistência à seca, o
Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper)
lançou, recentemente, a cultivar clonal “Marilândia ES8143” e a cultivar de
propagação seminífera “Conquista ES8152”. Estas cultivares apresentam
características de tolerância ao déficit hídrico. A cultivar “Marilândia
ES8143” pode atingir produtividade de 63 sc/ha em condições de restrição
hídrica.</p>
<h3>Adensamento</h3>
<p>Cultivos
adensados possibilitam menor incidência de radiação solar sobre o solo,
diminuição da temperatura no inteiro do dossel e da perda de água por
evaporação, proporciona maior aproveitamento da área e dos insumos aplicados,
favorece a manutenção da umidade do solo devido à maior cobertura do mesmo,
diminui a ocorrência de erosões, entre outros. No cafeeiro Conilon, o
adensamento da lavoura pode se dar tanto no número de plantas por área, quanto
pelo número de ramos ortotrópicos mantidos na planta. </p>
<h3>Cultivos consorciados</h3>
<p>Os
efeitos dos eventos climáticos extremos podem ser minimizados através de
cultivos consorciados. Por exemplo, o cultivo em consórcio do cafeeiro Conilon
com o coqueiro-anão favorece a conservação da umidade do solo, a diminuição de
danos causados pelos ventos, a menor incidência de plantas espontâneas, o maior
aproveitamento da mão de obra e a possibilidade de maior retorno financeiro. </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/98b09de33af6bcac8e860d2ebf3e2974.jpg" alt="Nóia Júnior, Christo e Verdin Filho" title="Nóia Júnior, Christo e Verdin Filho"><figcaption>Nóia Júnior, Christo e Verdin Filho</figcaption></figure><p><br></p><p>Rogério de Souza
Nóia Júnior, Universidade da
Flórida; Tafarel Victor
Colodetti, Universidade
Federal do Espírito Santo; Bruno Fardim
Christo, Agroconsult; Abraão Carlos
Verdin Filho, Instituto Capixaba
de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural<br></p>"
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