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string(27) "manejo-de-doencas-em-batata"
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string(63) "Maria Silvana Nunes e Luciana Cordeiro do Nascimento, PPGA/UFPB"
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string(34) "Manejo de doenças em batata"
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string(433) "<p>Como os efeitos do
controle químico podem ser alavancados através da adoção do manejo integrado de
doenças (MID) na cultura da batata, uma vez que tal integração busca
potencializar ao máximo o que cada técnica isolada oferece e gerar um
equilíbrio para produção sustentável dos pontos de vista econômico e ambiental.</p>"
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string(15386) "<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/a16bba93d7f5816a77b43793fa424168.jpg"></figure><p>A batateira (<i>Solanum tuberosum</i> L.) é espécie
cultivada desde a antiguidade e faz parte da história da Fitopatologia. Teve
fundamental importância para o início do estudo das doenças de plantas, com a
descoberta pelo cientista Anton de Bary de que seria um fungo a causa da
epidemia que ocasionou a destruição total de batatais na Europa e levou à morte
milhões de pessoas de fome. Pertence à família das Solanaceae, amplamente
produzida e consumida no mundo todo. Seus tubérculos são nutricionalmente
ricos, por ser fonte de carboidratos e servem como sementes para plantios
posteriores.</p>
<p>De acordo com os dados
do IBGE (2020), no Brasil a estimativa é de uma área plantada de mais de 125
mil hectares, com produção de 3.772 mil toneladas de batatas produzidas, o que
representa um rendimento médio de 30 mil kg/ha. O preço médio registrado nos
atacados de referência dos estados para o período de abril/maio variou entre R$
2,98/kg na região Sudeste e R$ 4,70/kg na região Nordeste, sendo no estado do
Ceará o maior preço registrado (R$ 4,90/kg), segundo dados da Companhia de
Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp, 2020).</p>
<p>A qualidade sanitária é
um fator tão limitante para a produção quanto a qualidade fisiológica, pois irá
determinar quanto do potencial da cultura irá ser expresso ao final do processo
produtivo, influenciando na produtividade e na qualidade da colheita, no
armazenamento, no transporte e na conservação pós-colheita. Atualmente, toda produção
convencional de batata utiliza como técnica primordial de manejo fitossanitário
a aplicação de fungicida químico, em diversas fases da cultura, sendo
realizados o tratamento de batata-semente, a pulverização em campo durante o
desenvolvimento vegetativo e também a aplicação na pós-colheita dos tubérculos.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/8ae439e8b4dc0a94b7f13bd502cb01db.jpg" alt="Sintomas de requeima em tubérculos de batata causados por Phytophthora infestans" title="Sintomas de requeima em tubérculos de batata causados por Phytophthora infestans"><figcaption>Sintomas de requeima em tubérculos de batata causados por Phytophthora infestans</figcaption></figure><p>Para uma melhor
eficácia do controle químico na manutenção da sanidade da cultura, é necessário
que alguns cuidados sejam praticados pelos produtores como controlar a dose e a
época de aplicação, a tecnologia de aplicação adotada e a realização da rotação
de princípios ativos dos produtos recomendados e registrados no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). No momento, é possível encontrar
uma grande diversidade de produtos registrados para a cultura da batata. Desses
registros, 167 produtos são indicados para a requeima da batata (<i>Phytophthora
infestans</i>), 25 produtos para rizoctoniose (<i>Rhizoctonia solani</i>), 197
para pinta-preta (<i>Alternaria solani</i>), além de outros para controle de nematoses
e bacterioses.<br></p>
<p>Os benefícios do
controle químico podem ser potencializados com um manejo integrado de doenças
(MID). Isso ocorre uma vez que a integração de métodos consegue atuar em
escalas de tempo e espaços diferentes, prolongando e ampliando o controle de
fitopatógenos, o que na prática é percebido em redução de custo, menor impacto
ambiental, manutenção na produtividade etc. O MID é eficiente para o controle
de uma ampla diversidade de fitopatógenos, reduzindo os custos com controle
químico e, consequentemente, proporcionando novas estratégias de manejo de
doenças economicamente importantes na cultura. </p>
<p>O controle genético
para doenças fúngicas como a requeima da batata pode ser empregado através do
uso de variedades resistentes à doença, sendo as principais variedades a Aracy,
a Itararé e a Contenda, que apresentam algum nível de resistência. É uma medida
de controle ideal para ser introduzida ao manejo integrado, e que nunca deve
ser utilizada como única estratégia de manejo, pois ao longo do tempo pode
contribuir com a mutação dos patógenos e criação de variedades altamente
resistentes. Também é necessário que o produtor avalie, antes de selecionar uma
variedade resistente, se seu mercado consumidor não possui nenhuma resistência
cultural em aceitar o produto. </p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/648e5f3f308c96bd13ac1ceeb1fba375.jpg" alt="Escurecimento vascular em tubérculos de batata atacados por Fusarium solani (esquerda) e manchas marrons em tubérculos de batata causadas pela requeima (Phytophthora infestans) (direita)" title="Escurecimento vascular em tubérculos de batata atacados por Fusarium solani (esquerda) e manchas marrons em tubérculos de batata causadas pela requeima (Phytophthora infestans) (direita)"><figcaption>Escurecimento vascular em tubérculos de batata atacados por Fusarium solani (esquerda) e manchas marrons em tubérculos de batata causadas pela requeima (Phytophthora infestans) (direita)</figcaption></figure><p>A escolha do local de
plantio é um fator determinante para evitar lugares com histórico de doenças,
que podem inviabilizar o sucesso da produção. O local deve ser
preferencialmente isento de patógenos para a cultura da batateira e de culturas
botanicamente semelhantes como o tomate (<i>Solanum lycopersicum</i>), a
berinjela (<i>Solanum melongena</i>) e o pimentão (<i>Capsicum annuum</i>
Group). A área deve ser de boa drenagem e é recomendado evitar baixadas para
que a umidade do ar e do solo não seja constante e excessiva, favorecendo o
desenvolvimento fúngico. A irrigação também deve ser manejada de forma
eficiente para evitar longos períodos de molhamento.<br></p>
<p>A destruição dos restos
culturais é uma técnica fundamental para a redução do inóculo de diversas doenças,
sendo realizada por meio da queima. Os restos culturais que apresentam massa
pulverulenta de esporos fúngicos e/ou sintomas de doenças não devem ser
utilizados para alimentar animais que fornecem esterco para adubação do
plantio. O preparo do solo é outra técnica que pode ser integrada, uma vez que
irá auxiliar na decomposição da matéria orgânica do solo e gerar um microclima
mais alcalino, desfavorável ao desenvolvimento dos fungos, dificultando o
processo de colonização e infecção.</p>
<p>O plantio raso (5cm –
7cm) é eficiente, pois facilita a emergência das plântulas, onde suas defesas
naturais irão se desenvolver mais rapidamente, garantindo uma melhor
resistência com o estabelecimento em campo. A rotação de culturas também deve
ser implementada para garantir benefícios diversos como a quebra de ciclo de
pragas e patógenos e a ciclagem de nutrientes, podendo utilizar feijão, milho
e/ou trigo para melhores resultados. Esta ciclagem fornece uma nutrição
equilibrada que irá contribuir com a resistência natural da planta, pois uma
planta bem nutrida é capaz de se defender das adversidades externas, não só de
patógenos, mas também de pragas e fatores climáticos desfavoráveis.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/a70a447c0043a6cf27fe7957c08a952e.jpg" alt="Raízes de batata deformada pela ação da rizoctoniose" title="Raízes de batata deformada pela ação da rizoctoniose"><figcaption>Raízes de batata deformada pela ação da rizoctoniose</figcaption></figure><p>Além destas técnicas de
manejo apresentadas, existe a termoterapia ou hidroterapia para o tratamento de
batatas-semente que, quando combinada ao uso do fungicida apresenta alto
potencial de eficiência e redução de custos. É um método alternativo que
possibilita redução da quantidade de fungicida aplicado, fácil e de baixo custo
de aplicação, não gera resíduo poluente ao ambiente, não exige um profissional
especializado para manipulação e não oferece riscos à saúde do manipulador,
pois não utiliza nenhum componente tóxico, apenas água potável aquecida.<br></p>
<p>A termoterapia consiste
na imersão das batatas-semente em água quente em banho-maria com uma combinação
de tempo x temperatura predeterminada. A elevação da temperatura do tubérculo,
quando bem executada, não gera prejuízo à qualidade fisiológica e funciona como
antimicrobiano, realizando a desinfestação superficial com a eliminação de
patógenos necrotróficos, reduzindo assim os danos causados durante o
armazenamento e após o plantio, mesmo com a diminuição da quantidade de
fungicida aplicado. </p>
<p>Um trabalho
desenvolvido por Santos <i>et al.</i> (2019) objetivou avaliar a qualidade
pós-colheita de tubérculos de batata submetidos ao tratamento hidrotérmico e
utilizou água na temperatura de 50ºC e 60ºC durante um, seis, 11 e 21 minutos,
mais o tratamento controle sem a imersão dos tubérculos em água quente. Os
autores concluíram que a incidência de brotação foi menor nos tratamentos de
50°C por 21 minutos e 60°C por seis minutos. Os tratamentos de 50°C, por um,
seis e 11 minutos, e 60°C, por um e seis minutos, proporcionaram uma maior vida
útil pós-colheita dos tubérculos quando comparados com o tratamento controle.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/4d00178239a977bd266be7cc0a736e2a.jpg" alt="Danos em raízes de batateira causados por Rhizoctonia" title="Danos em raízes de batateira causados por Rhizoctonia"><figcaption>Danos em raízes de batateira causados por Rhizoctonia</figcaption></figure><p>Da Silva Silveira <i>et
al.</i> (2016) avaliaram a influência do tratamento térmico sobre a qualidade
pós-colheita de tubérculos de batata e sob o controle da podridão-mole causada
por bactérias do gênero Pectobacteruium. Os autores utilizaram 40°C, 50°C, 60°C
e 70°C e concluíram que a temperatura de 40°C se mostrou a mais eficiente em
manter as características físico-químicas e no controle da podridão-mole, pois
houve redução da exsudação de pus bacteriano durante 20 dias de armazenamento.<br></p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/5201f231751af0db27464a839330d837.jpg" alt="Sintomas de requeima em plantas adultas causados por Phytophthora infestans" title="Sintomas de requeima em plantas adultas causados por Phytophthora infestans"><figcaption>Sintomas de requeima em plantas adultas causados por Phytophthora infestans</figcaption></figure><p>A agricultura 4.0 pode
ser utilizada para auxiliar na precisão da adoção dos métodos de controle das
doenças fúngicas da batateira de forma preventiva, já que estas enfermidades
são, em geral, altamente dependentes de temperatura e de umidade. Com
instalação de equipamentos de medição das variáveis climáticas como o
anemômetro, que serve para aferir a velocidade do vento, termômetro,
pluviômetro e softwares para previsão de chuvas, é possível prever o
aparecimento de certas doenças e realizar o controle antes que causem prejuízos
ou evitar aplicações desnecessárias de produtos químicos e reduzir
significativamente os custos de produção.<br></p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/a989b10f4d2444890eef1dd21f17d968.jpg" alt="Podridão seca de Fusarium " title="Podridão seca de Fusarium "><figcaption>Podridão seca de Fusarium </figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/29d1370993f3017d550b4a09a8c36926.jpg" alt="Sintoma de sarna pulverulenta" title="Sintoma de sarna pulverulenta"><figcaption>Sintoma de sarna pulverulenta</figcaption></figure><p>Para garantir o sucesso
do manejo fitossanitário na cultura da batata, é necessário que durante o
processo pós-colheita seja evitada ao máximo a distribuição de tubérculos
comprometidos para novas áreas agricultáveis, reduzindo o risco de disseminação
e formação de novas fontes de doença. O manejo integrado de doenças busca
potencializar ao máximo o benefício que cada técnica isolada oferece e gerar um
equilíbrio entre custo de produção e impacto ambiental do processo produtivo do
pequeno, médio ou grande produtor, contribuindo para um modelo de agricultura
sustentável.<br></p>
<p> </p><p>Maria Silvana
Nunes e Luciana Cordeiro
do Nascimento, PPGA/UFPB</p>"
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