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string(63) "Ednilton Tavares de Andrade e Kátia Soares Moreira, Ufla"
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string(31) "Vibração negativa"
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string(669) "<p>Exposição prolongada a máquinas e equipamentos que emitem vibrações acima
do permitido pode comprometer a saúde dos trabalhadores na agricultura.</p>
<p>A
utilização de máquinas e equipamentos é indispensável na agricultura moderna.
Operações como preparo de solo, adubação, plantio, entre outras, são
desenvolvidas com o auxílio da mecanização. Essas conquistas somente foram
possíveis devido à modernização que mudou o cenário dos postos de trabalho
desses operadores.</p>"
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string(15458) "<figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/a8cbdc895bdf6c96a00185db93071a6e.jpg"></figure><p>Essas
máquinas trazem maior produtividade e melhorias nos locais de trabalho. O
controle térmico e acústico, o conforto, a boa condição ergonômica, os assentos
adaptados, entre outros, são exemplos de boas condições de trabalho para o
trabalhador, mas mesmo assim ainda temos um grande número de trabalhadores com
doenças ocupacionais e acidentes do trabalho. A exposição aos agentes capazes
de fazer mal à saúde do trabalhador e comprometer sua integridade física deve
ser monitorada periodicamente, controlada e mantida dentro dos limites
permitidos por normas e legislações. De acordo com os pesquisadores Veigas et
al (2015), a vibração e o ruído excessivos podem representar deficiências no
projeto de tratores. O tempo de uso da máquina sem a manutenção devida acentua
ainda mais esta situação.</p>
<p>Um dos
agentes nocivos à saúde dos trabalhadores e muitas vezes ignorado nos postos de
trabalho com relação às máquinas agrícolas é a vibração de corpo inteiro (VCI).
Quando ultrapassa o valor de exposição, ela pode causar problemas à saúde dos
trabalhadores e conceber direitos adquiridos por legislação. O adoecimento
depende da associação de vários fatores que estão na condição da execução da
atividade no trabalho.</p>
<p>No
Brasil, o Decreto-Lei nº 46/2006, de 24 de fevereiro de 2006, estabelece os
limites de exposição diária a vibração, para um período de referência de oito
horas. A Norma de Higiene Ocupacional (NHO) 09 da Fundacentro determina o nível
de ação para a exposição ocupacional diária à VCI de 0,5m/s-² e um limite de
exposição ocupacional diária de 1,1m/s-². </p>
<p>A
partir do diagnóstico da exposição no ambiente de trabalho superior ao nível de
ação, medidas de adequações e controles no local de trabalho deverão ser
implementadas, a fim de preservar a saúde do trabalhador. As atividades e
operações que exponham os trabalhadores sem proteção adequada à vibração são
caracterizadas como insalubres e devem ser confirmadas por meio de perícia,
conforme descreve a NR 15, no anexo 8, pela portaria 12, de 1993. A exposição
diária acima do limite de exposição dará o direito ao recebimento do adicional
que equivale a 20% sobre o salário mínimo regional. Esse reconhecimento à VCI
implicará alteração orçamentária, o que pode contribuir para a falta do
reconhecimento da exposição no ambiente de trabalho. Essa condição pode trazer
argumentos em prol do não pagamento do adicional pelas empresas, provocando
ações trabalhistas para o cumprimento do direito ao adicional.</p>
<h2>PANORAMA DOS ACIDENTES DO TRABALHO</h2>
<p>No
mundo, milhões de pessoas morrem todos os anos vítimas de acidentes de trabalho
e doenças relacionados às atividades desenvolvidas em seu ofício, segundo a
Organização Internacional do Trabalho (OIT). Em nosso país ainda temos números
bastante expressivos referentes a doenças e acidentes do trabalho. Avaliando a
última estatística, houve uma queda no número de ocorrência, em relação ao ano
anterior. No entanto, também diminuiu o número de postos de trabalho com
carteira assinada, o que nos faz refletir se houve melhoria na consciência e na
prevenção ou apenas redução no montante analisado.</p>
<p>Os
acidentes e as doenças ocupacionais computados na estatística oficial do Brasil
não contemplam a economia informal. Embora as estatísticas de acidentes do
trabalho divulgadas no relatório Anuário Estatístico da Previdência Social
(Aeps, 2016) constituam um dado importante para a análise acidentária no País,
os números devem ser relativizados. A radiografia leva em conta apenas os
trabalhadores com vínculos formais (celetistas, temporários, avulsos, entre
outros). Excluem-se os empregados informais, trabalhadores domésticos
informais, profissionais autônomos, empregadores, militares e estatutários. Em
outras palavras, o que se verifica é um recorte (e não o panorama completo) dos
registros de acidentes em âmbito nacional. Para todo acidente de trabalho, a
lei determina que seja emitida um Comunicado de Acidente do Trabalho (CAT) em
caráter obrigatório, independentemente de haver ou não afastamento. Quando a
empresa descumpre essa regra, o acidente não é notificado e fica fora das
estatísticas oficiais.</p>
<h2>Acidentes e doenças do trabalho na agropecuária</h2>
<p>O setor
agropecuário brasileiro, que absorve aproximadamente 1.500.000 empregos
formais, aproximadamente 3% do total nacional, contabilizou 22.100, 18.300 e
17.088 ocorrências com CAT e 136, 137 e 101 doenças do trabalho nos anos de
2013, 2014 e 2015, respectivamente. A taxa de acidentalidade na agropecuária é de
quase 1.600 por 100 mil trabalhadores e vem diminuindo ano a ano.</p>
<p>Segundo
avaliações do Griffin (1998), nos postos de trabalho do setor agropecuário,
percebe-se a presença de vibrações em veículos utilizados nessas atividades que
são transmitidos através do assoalho ou assento de um carro, uma plataforma
vibratória ou o volante de uma máquina agrícola. Afirma ainda que vibrações são
transferidas ao trabalhador através de superfícies em contato com pé, nádegas,
costas, por meio de assentos e pisos. O estudo da vibração no corpo humano é de
grande relevância para observar as suas fontes geradoras, propor meios para
reduzi-las, assim como padronizar valores de referência para ambientes
ocupacionais.</p>
<p>Em uma
avaliação desenvolvida por Sandi <i>et al </i>(2016), referente à vibração de
tratores, utilizou-se um modelo com um
motor de 2.300rpm no virabrequim, massa do operador de 61kg, quatro condições
de lastragem, as quais resultaram em três diferentes massas: 70kN quando totalmente
lastrado utilizando uma combinação de lastros sólidos e líquidos (L1), 54kN
empregando somente lastro sólido (L2) ou líquido (L3) e 48kN sem qualquer tipo
de lastro adicional (L4), sendo que em todas as situações adotou-se a mesma
distribuição de 35% do peso no eixo dianteiro e 65% no eixo traseiro, em quatro
velocidades de deslocamento obteve uma exposição diária de: 1,19m/s-1 (V1);
1,47m/s-1 (V2); 1,75m/s-1 (V3) e 2,08m/s-1 (V4), sendo em sua maioria acima do
limite permitido por lei. A exposição direta a vibração pode ser extremamente grave.
Os efeitos podem variar desde uma sensação de náusea até graves problemas
físicos como espasmo vascular, dores nas costas, pescoço, peito, estômago,
câimbras, dificuldades respiratórias, desconforto físico e psicológico, lesões,
cansaço e queda de produtividade. A VCI ainda pode afetar o metabolismo,
sistema nervoso central e aumentar as perdas de energia. Cada parte do
organismo pode reagir de forma diferente e ter consequências também diferentes.
Um importante instituto europeu, Health and Safety Executive (HSE, 1994), que
acompanha a saúde dos trabalhadores em seus ambientes de trabalho, também
afirma que a vibração pode provocar distúrbios e alterações, comprometendo a
integridade física e a vida produtiva do trabalhador.</p>
<p>De
acordo com Santos <i>et al </i>(2016), a dor nas costas, também conhecida como
dorsalgia, determina um caos à saúde do trabalhador, com reflexos econômicas e
sociais, principalmente se houver a incapacidade funcional, atingindo a
capacidade produtiva e o afastando do trabalho temporariamente ou
permanentemente. O Código Internacional de Doenças (CID) M54 – Dorsalgia está
na quarta posição do ranking das doenças mais incidentes e participou com
11,77% do total registrado no relatório da Aeps (2016) e pode ter o nexo causal
também advindo de vibrações.</p>
<p>A
exposição ocupacional à vibração não é tão estudada no setor agrícola em
comparação aos demais agentes. São necessários a avaliação e o controle nos
ambientes de trabalho, principalmente nos postos mecanizados, pois é bastante
frequente encontrarmos a presença de VCI. </p>
<p>Na
avaliação da vibração no ambiente de trabalho deve-se atentar para o conforto
do trabalhador, a preservação da saúde e da segurança e a eficiência do
trabalho. Alguns elementos podem influenciar diretamente a intensidade da vibração
no operador em máquinas agrícolas, como: tipo e modelo de equipamento, idade da
frota, tipo de pavimentação, velocidade, habilidade e experiência do condutor.
Esses elementos podem ser avaliados para a redução dos valores de exposição.</p>
<p>No ano
de 2015, foram 3.524 acidentes (típico e trajeto) registrados com trabalhadores
que utilizam a mecanização agropecuária, desse total, 3.091 acidentes típicos,
412 acidentes de trajeto e 21 doenças do trabalho. Em uma visita ao site da
Previdência Social, percebe-se que praticamente inexistem registros de doenças
e acidentes do trabalho com o Código Internacional de Doenças (CID)
relacionados diretamente com vibração.</p>
<p>A falta
de estatísticas de acidentes e de doenças decorrentes do trabalho,
principalmente o trabalho rural, pela falta de notificação por desconhecimento
do assunto ou pela omissão de outros, agravados pela grande massa trabalhadora
no setor informal, torna o planejamento de trabalhos de prevenção muito mais
difíceis e de projeções muito subestimadas acerca dos prejuízos causados à
saúde dos trabalhadores no setor.</p>
<p>O setor
rural possui limitações oferecidas pela carência de legislação específica para
fabricação, comercialização e uso de máquinas e equipamentos no setor. O grau
de instrução dos operadores de máquinas, bem como a ausência, muitas vezes, dos
conceitos de segurança e ergonomia nos currículos escolares das escolas
agrícolas, pode contribuir para a falta dos registros encontrados no cenário
analisado. Importante frisar que existem exigências legais e normas nacionais e
internacionais que regulamentam a exposição humana a níveis significativos de
vibração.</p><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/c8ef7e92a36920d9f24658f0105c6802.jpg" alt="A falta de estatísticas de acidentes e de doenças decorrentes do trabalho torna o planejamento de trabalhos de prevenção muito mais difícil " title="A falta de estatísticas de acidentes e de doenças decorrentes do trabalho torna o planejamento de trabalhos de prevenção muito mais difícil "><figcaption>A falta de estatísticas de acidentes e de doenças decorrentes do trabalho torna o planejamento de trabalhos de prevenção muito mais difícil.</figcaption></figure><figure><img src="http://www.grupocultivar.com.br/ativemanager/uploads/plugin/imagens/05fdbabdb795fb67e5850f694c08363d.jpg" alt="A vibração e o ruído excessivos podem representar deficiências no projeto de tratores" title="A vibração e o ruído excessivos podem representar deficiências no projeto de tratores"><figcaption>A vibração e o ruído excessivos podem representar deficiências no projeto de tratores.</figcaption></figure><h2>CONSIDERAÇÕES FINAIS</h2>
<p>Em
tempo de crise, em que o ambiente de trabalho e o processo produtivo devem ser
reorganizados, o conhecimento e o monitoramento da exposição aos agentes
físicos capazes de fazerem mal à saúde da população devem ser antecipados, a
fim de preservar a integridade física e a saúde do trabalhador.</p>
<p>É
conhecido que várias máquinas do setor rural emitem vibrações, as quais, associadas
ao tempo prolongado de exposição, podem causar danos à saúde dos trabalhadores,
porém praticamente não foram encontrados registros de CAT com o CID
relacionados diretamente a vibrações nas estatísticas do governo brasileiro.
Esse diagnóstico chama a atenção, pois o meio rural possui uma massa de
trabalhadores no setor informal e devido ao desconhecimento sobre o assunto ou
à omissão nos registros, existe uma subestimação dos prejuízos causados à saúde
e ao direito do trabalhador e aos cofres públicos.</p>
<p>Conhecer
e monitorar a exposição nos locais de trabalho, conhecer e respeitar os limites
estabelecidos para o tempo de exposição e registrar as ocorrências de acordo
com o nexo da atividade contribuirão para o conhecimento da realidade
enfrentada pelo setor sem máscaras que podem favorecer os custos das empresas e
o tempo de contribuição à Previdência Social.</p><p>Ednilton Tavares
de Andrade e Kátia Soares
Moreira, Ufla</p>"
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Exposição prolongada a máquinas e equipamentos que emitem vibrações acima
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