Abertura da Colheita do Arroz: Fórum Mercadológico discute lavoura orizícola

Tecnologia, comercialização e gestão foram alguns dos temas apresentados em seminário

22.02.2019 | 20:59 (UTC -3)
Marcelo Machado e Karen Nunes/AgroEffective

A 29ª Abertura Oficial do Arroz contou com mais uma edição do Fórum Mercadológico. Os painéis abordaram temas do setor orizícola como tecnologia, comercialização e gestão.

O que o agronegócio tem a ver com as novas tecnologias? Essa foi a provocação que o engenheiro agrônomo Donário Lopes de Almeida fez aos produtores ao apresentar o painel “Agricultura 4.0 e os impactos da digitalização no campo”. O palestrante defendeu que as mudanças no setor, sejam de oportunidades ou de riscos, estão ocorrendo de forma muito rápida e são cada vez mais complexas. “No passado não havia inteligência na comunicação. Hoje, as produtividades são monitoradas e os melhores resultados podem ser replicados”, avaliou.

Conforme o último levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o mercado nacional de arroz enfrentará uma quebra de 11,3% na produção com uma redução de 7% na área. Os números foram discutidos no painel “Panorama do novo período comercial”, apresentado pelo economista Sérgio Santos. Nesse contexto, um dos fatores que mais contribuiu para a situação desfavorável foi o excesso de chuva na região da Fronteira-Oeste gaúcha. “A expectativa é de que haja uma amplitude de preços na safra 2018/2019”, disse.

O economista salientou que, entre os fatores de alta do arroz, podem ser citados a redução dos estoques de passagem, o ajuste da oferta e da demanda interna, a projeção de aumento da demanda mundial e a baixa produtividade nacional. De acordo com Santos, os pontos negativos são o endividamento dos produtores e a concorrência do Mercosul.

Há informações sobre a indústria que a própria indústria desconhecia. A análise foi apresentada por Tiago Barata, diretor executivo do Sindicato da Indústria do Arroz no Estado do Rio Grande do Sul (Sindarroz). O economista informou que, nos últimos dez anos, 77 indústrias deixaram de operar no Rio Grande do Sul. “As diferenças competitivas impostas à indústria de arroz gaúcha em relação a lugares de fora têm prejudicado o setor”, afirmou.

Com o aumento do custo de produção, as empresas também são prejudicadas. Barata cita itens como matéria-prima, frete, energia elétrica e cabotagem. “As indústrias estão escoando o produto pelo porto de Santa Catarina, porque é mais barato”, destacou. Além disso, o economista afirmou que um dos principais gargalos do setor é a diminuição do consumo, que caiu 17% nos últimos anos. “O consumidor moderno tem novas exigências em relação ao arroz. A indústria não está sabendo se adequar, disse.

O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, manifestou preocupação com o fato de que todos os países do Mercosul, com exceção do Paraguai, estão diminuindo área e produção. “O Brasil reduziu em todos os Estados, com exceção da Amazônia”, avaliou. Com 2% da área colhida no Rio Grande do Sul, Dornelles lembrou que as perdas nas lavouras gaúchas foram comprometidas pela chuva e luminosidade. 

A terceira palestra foi ministrada pelo economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio Da Luz, trazendo para debate a temática: “Crédito Rural no Brasil: está na hora de revê-lo”. O especialista discutiu pela primeira vez abertamente sobre um certo descontentamento por parte dos produtores rurais com a situação atual. “O crédito está cada vez mais caro, e cada vez temos menos recursos para o crédito rural em que pesem os anúncios, o governo anuncia valores cada vez maiores e os recursos menores”, observou.

Segundo o especialista, o formato atual do sistema de financiamento vem expulsando milhares de produtores todo ano do crédito rural. Da Luz conta que nos últimos quatro anos mais de 300 mil produtores deixaram de ter acesso ao crédito, agricultores estes que precisaram utilizar outras alternativas para se manter na atuação. “Ou seja, o sistema do jeito que está, não está bem. Este sistema que por muitos anos funcionou muito bem, vem dando sinais claros de esgotamento nos últimos anos”, avaliou.

O economista-chefe da Farsul afirma ainda que, diante desta realidade, é importante pensar e discutir outras alternativas, visto que, com a mudança de governo, e este entende que é uma discussão oportuna, cabe aos produtores e técnicos propor essa discussão para estudar o que está acontecendo e como podem ser as coisas para o bem do produtor. “Esta discussão está atrelada a outro fator que é o subsídio e as perdas dos subsídios ao agro e ao produtor. Quem afinal o governo está subsidiando? E se o objetivo do subsídio é o agricultor, será que está chegando nele? E se não está, como fazer para isso acontecer?”, questiona.

Da Luz finaliza dizendo que este é um problema da classe, que possui um sistema de financiamento que tem gerado um endividamento enorme. “Resolver endividamento pelo endividamento não resolve a causa, resolve só a consequência”, conclui.

No término do Fórum Mercadológico, o ex-jogador de futebol, Paulo César Tinga, palestrou sobre “Gestão Dinâmica no Campo”. O atleta comparou as experiências de vida com o atual cenário do setor orizícola gaúcho. Tinga afirmou que estas turbulências exigem que o produtor se reinvente para atingir os resultados e ter prazer pela solução e não pelo problema.

A Abertura Oficial da Colheita do Arroz tem o tema “Matriz Produtiva: Atividade Diversificada, Renda Ampliada” e ocorre na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, em Capão do Leão , na região de Pelotas, Sul do Rio Grande do Sul. O evento conta com patrocínio Premium do Irga e Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento (Mapa), correalização da Embrapa e realização da Federarroz. 

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