Adoção do melhor manejo contra broca-pequena em tomate

Conhecer o comportamento deste inseto e os fatores que interferem no nível de infestação é imprescindível para manejo da praga

27.08.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Hortaliças e Frutas

Entre as diversas pragas que afetam a cultura do tomate atualmente, destaca-se a espécie Neoleucinodes elegantalis (Guenée) (Lepidoptera: Crambidae), conhecida popularmente como broca-pequena. O inseto é um dos maiores problemas para diversas solanáceas, principalmente para o tomateiro, pois causa danos diretos aos frutos, tornando-os impróprios para comercialização, seja para consumo in natura ou para a indústria. Estima-se que a perda causada pela praga varie de 50% a 90%, quando não controlada eficientemente. 

Para que o controle seja realizado corretamente e as perdas evitadas, é necessário conhecer minimamente a praga antes da tomada de decisão. O adulto é uma mariposa que realiza a postura de forma isolada nas flores, junto ao cálice ou sépalas. A lagarta, que eclode do ovo, possui coloração branca ou rosa e a cabeça é mais escura. Após a eclosão, a lagarta realiza a raspagem da casca do tomate, onde abre um orifício pelo qual penetra no fruto e ali se alimenta para se desenvolver, consequentemente causando danos no tecido vegetal. A lagarta sai do fruto e desce para o solo para empupar quando atinge o tamanho de aproximadamente 20mm. Após essa fase, a mariposa emerge da pupa para dar início novamente ao ciclo, que dura aproximadamente 50 dias. O adulto apresenta coloração branca com partes das asas transparentes e envergadura de 25mm. As asas anteriores possuem três manchas irregulares marrons e uma vermelha, enquanto as asas posteriores contam com pontos escuros de tonalidades distintas.

Por permanecer toda a fase juvenil no interior do fruto, o alcance de produtos fitossanitários é reduzido, o que dificulta o controle da praga. Outro agravante reside na possibilidade da produção do tomate durante todo o ano, o que consequentemente favorece a manutenção da praga entre os cultivos pela chamada ponte verde.

Fruto severamente depreciado devido ao ataque da broca-pequena.
Fruto severamente depreciado devido ao ataque da broca-pequena.

Para o manejo eficaz da broca-pequena, é imprescindível que seja realizado o monitoramento para a tomada de decisão de quando controlar. Para isso deve-se inspecionar  plantas e pencas de frutos em fase inicial de desenvolvimento, realizar amostragem de ovos, considerando infestadas aquelas que apresentarem, pelo menos, um fruto com ovos ou com sinais de entrada de lagartas da broca-pequena. O monitoramento deve ter início no florescimento e ser intensificado durante a estação chuvosa e quente do ano. No tomateiro estaqueado é recomendado que se faça a divisão da cultura em talhões de um hectare, com inspeção de 60 plantas em 12 pontos casualizados, duas vezes por semana. Este método apresenta como vantagem a facilidade de observação das posturas na superfície dos frutos, permitindo a tomada de decisão de controle na fase de maior suscetibilidade da praga. É importante salientar que ele exige o treinamento de um profissional na inspeção de pragas, quanto ao reconhecimento das diferentes fases do ciclo de desenvolvimento da broca-pequena e de outros agentes fitófagos, para que as informações geradas sejam tecnicamente seguras para a tomada de decisão de controle. O nível de ação sugerido é de 5% de plantas com ovos nos frutos em fase inicial de desenvolvimento, ou 1% dos frutos com sinais de saída da lagarta.

Armadilhas delta com feromônio também podem ser usadas, para monitorar o inicio do aparecimento dos adultos no campo. A utilização dessas armadilhas para o monitoramento de adultos da broca-pequena apresenta, sobre a avaliação direta da presença de ovos nos frutos, a vantagem da maior rapidez na obtenção dos resultados, bastando realizar as avaliações em intervalos predefinidos, fazendo-se a substituição dos fundos e dos septos de acordo com a recomendação do fabricante. Recomenda-se o emprego de quatro armadilhas por hectare, dispostas a 1 metro de altura do solo com avaliação semanal. Nesse caso, o controle da broca-pequena deve ser realizado quando houver a captura de 0,24 mariposas/armadilha/dia.

Realizando-se o controle químico quando for atingida esta densidade referencial de adultos nas armadilhas, a produção descartada pela broca-pequena nos cultivos em ciclo de verão é nula. Como a produção descartada apresenta relação direta com a infestação de plantas com ovos e, consequentemente, com a densidade de adultos capturados, foi estabelecida uma escala de produção descartada com equivalente infestação por ovos e adultos, respectivamente. Desta forma, havendo oscilação do valor de venda da produção comercializada, o produtor pode assumir uma perda estimada e adotar outro nível de ação referencial, com influência direta na intensidade de aplicação de inseticidas, garantindo a lucratividade do agronegócio.

É válido lembrar que, antes de o produtor tomar qualquer decisão para a escolha de manejo, é necessário que tenha o conhecimento de diversos fatores que podem influenciar no nível de infestação da praga. Pode-se citar as características do ambiente em que se encontra a lavoura, o histórico da área e o ciclo biológico da cultura - bem como dos insetos-praga e também dos inimigos naturais.

Existem diferentes tipos de métodos para o manejo de broca-pequena dentro da lavoura de tomate, que podem ser utilizados de forma isolada ou integrada. A melhor forma de se manejar a praga, é manter o ecossistema dentro da lavoura equilibrado, ou seja, preservando os inimigos naturais que já se encontram no cultivo e são responsáveis pela regulação natural da população da praga.

Dentre os agentes de controle biológico, estão espécies de parasitoides do gênero Trichogramma (Trichogrammatidae), que são parasitoides de ovos de mariposas e demonstram-se eficientes no controle de diveras espécies de lepidópteros. Porém, para cada tipo de praga existem linhagens de parasitoides específicas que apresentam maior nível de controle. Segundo estudos, a espécie Trichogramma galloi Zucchi (Hymenoptera: Trichogrammatidae) linhagem Tg1 apresentou boa taxa de parasitismo em ovos da broca pequena.

Outra alternativa de manejo para da broca-pequena, é o ensacamento dos cachos de tomate. Esta é uma prática que pode ser adotada como alternativa para a redução da utilização de inseticidas sintéticos. O ensacamento pode ser realizado com sacolas de TNT com fundo fechado e deve ser adotado assim que os primeiros frutos atigirem 20mm de diâmetro. Se durante a observação da lavoura for notado que alguns frutos já foram brocados pela praga, é importante que sejam eliminados - evitando um possivel aumento da infestação da praga no local. Evitar o cultivo de plantas hospedeiras da praga nos arredores do plantio de tomate, bem como a eliminação de plantas silvestres como o juá e a jurubeba, é uma alternativa para se mitigar possiveis infestações da broca-pequena na área.

A utilização de produtos fitossanitários também pode ser alternativa para o controle desse inseto, lembrando-se que, sempre que possível, se deve fazer o uso de inseticidas que sejam seletivos, ou seja, que causem o menor impacto possível na entomofauna benéfica que se encontra na lavoura. A aplicação deve ser realizada de forma direcionada aos frutos e sépalas, assim que se inicia a floração, e os produtos a serem utilizados devem conter o registro para a cultura.

Dessa forma pode-se concluir que, para que se tenha uma lavoura saudável e que apresente uma boa produção, é imprescindível um bom planejamento antes do plantio, assim como conhecimento da área em que a cultura será instalada, que o plantio seja realizado com mudas sadias e o monitoramento de pragas na lavoura seja feito de forma constante e por pessoas treinadas. Importante ressaltar que, quando necessária a utilização de produtos fitossanitários na área, as aplicações devem ser feitas com produtos seletivos, sempre respeitando as informações presentes na bula do agroquímico.   

O tomate

O tomate, Solanum lycopersicum L., pertencente à família botânica Solanaceae, é comum na mesa dos brasileiros, o que o torna um produto importante economicamente para o país. Em 2017, o país fechou com faturamento de 14 bilhões com a cultura (Anuário Brasileiro de Hortaliças), além disso, a cultura foi difundida por todo o mundo e alimenta milhões de pessoas de diferentes regiões do globo. Nacionalmente, a cultura é responsável por mais de 15% do PIB de HF, e se destaca como geradora direta e indireta de empregos. A cultura se faz importante devido à plasticidade na produção, que pode ser realizada em locais pequenos voltados para agricultura familiar e até mesmo por grandes produtores. O ciclo pode ser considerado relativamente curto e com altos rendimentos, entretanto, pode ser influenciado pela ocorrência de pragas, que são responsáveis por perdas significativas aos produtores.

Thaís Carolina Silva Cirino, Simone Silva Vieira, Daniel de Lima Alvarez e Regiane Cristina Oliveira de Freitas Bueno, FCA/Unesp

Cultivar Hortaliças e Frutas Maio 2019

A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. 

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