AgBiTech acelera no Brasil para ser um player do mercado de controle de lagartas

Empresa nascida na Austrália investe forte em pesquisa e desenvolvimento e traz ao País tecnologias para ‘manejo inteligente de lagartas’

15.08.2018 | 20:59 (UTC -3)
Fernanda Campos

Depois de dar os primeiros passos no agronegócio brasileiro em 2013, ao licenciar um inseticida biológico para o Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro (CCAB), no auge de uma infestação de Helicoverpa armigera, a australiana AgBiTech chega de vez ao mercado agrícola local. A companhia se prepara para lançar cinco novos lagarticidas à base de baculovírus, para uso nos principais sistemas de produção brasileiros.

A AgBiTech nasceu na Austrália, no ano 2000. Atuou exclusivamente nesse país, com sucesso comercial surpreendente, até atrair, em 2015, investimento do fundo de Private Equity americano Paine Schwartz Partners. Focado na produção de alimentos sustentáveis e no agronegócio, o fundo conta atualmente com US$ 1,9 bilhão aportado em 42 empreendimentos.

Na Austrália, a AgBiTech assumiu em pouco tempo a liderança do mercado de proteção biológica de cultivos, com participação acima de 95%. Seus baculovírus tiveram desempenho surpreendente em períodos críticos da agricultura daquele país, em que lagartas como a Helicoverpa armigera levaram risco de colapso à atividade. Segundo a AgBiTech, seus produtos transferiram ao agricultor australiano indicadores positivos até então inéditos no manejo de lagartas, além de uma relação custo-benefício disruptiva.

Em 2015, a AgBiTech transferiu sua sede para os Estados Unidos. Em Dallas, no estado do Texas, construiu a mais moderna fábrica de baculovírus do mundo, com capacidade para suprir uma demanda inicial de 15 milhões de hectares de lavouras tratadas. A empresa também decidiu, à época, investir fortemente no Brasil, onde montou um time de pesquisa e desenvolvimento formado por especialistas, para dar suporte à obtenção de registros locais e desenvolver pesquisas a campo. Esse trabalho vem sendo feito em parceria com alguns dos mais renomados pesquisadores e consultores do País.

De acordo com o diretor geral da AgBiTech para a América Latina, o brasileiro Adriano Vilas-Boas, a empresa é resultante da combinação de longa experiência a campo, inovação científica e desenvolvimento tecnológico. “Trabalhamos diretamente com pesquisadores, consultores e agricultores focados em inovação, para assegurar a customização de nossas novas tecnologias aos complexos sistemas de produção brasileiros. A estrutura científica da AgBiTech é comparável à das maiores empresas de proteção de cultivos do mundo”, resume Vilas-Boas.

Contratado este ano pela AgBiTech, para impulsionar a operação brasileira e criar novos mercados, Vilas-Boas é dono de sólida carreira executiva. Ele acumula experiência internacional nas áreas de desenvolvimento de produtos, marketing, estratégia e gestão de negócios, tendo ocupado postos de liderança na empresa de proteção de cultivos Syngenta.

Segundo o executivo, a expectativa da AgBiTech Brasil é a de assumir até 2021 a primeira posição do mercado de bioinseticidas para controle de lagartas, que hoje representa menos de 1% do montante anual de US$ 900 milhões do segmento de inseticidas. Projeções da indústria indicam que num período de cinco a dez anos os inseticidas biológicos terão maior participação, concentrando entre 15% e 20% dessa receita, perto de US$ 150 milhões.

Vilas-Boas sustenta que o mercado nacional de controle de lagartas passará por “grandes transformações” nas próximas safras. “O aumento da pressão de pragas previsto por pesquisadores, e o desafio de produzir alimentos em um país tropical como o Brasil, demandam a introdução de novas ferramentas tecnológicas. Produtos com modos de ação distintos e perfil sustentável, como os baculovírus, terão mais relevância.” Para ele, o iminente desenvolvimento de resistência de pragas a moléculas químicas e a culturas transgênicas também trará mudanças marcantes na configuração do mercado.

Engana-se, entretanto, quem deduz que o setor de agroquímicos seja o grande concorrente dos inseticidas à base de baculovírus. “Nossos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento buscam o ‘manejo inteligente’ de lagartas. Isso implica no máximo aproveitamento de todas as tecnologias eficientes disponíveis ao produtor agrícola para o manejo integrado de pragas. Na AgBiTech, os investimentos são focados em ciência e inovação. A meta é viabilizar uma agricultura economicamente sustentável. Nosso objetivo é entregar ao produtor estabilidade no manejo de lagartas”, reforça Vilas-Boas.

Baculovírus no Brasil - A produção de defensivos biológicos no Brasil, principalmente baculovírus, ainda tem alcance limitado. A AgBiTech acredita que sua chegada ao País tende a mudar esse cenário, pois a empresa detém tecnologia, propriedade intelectual e infraestrutura de produção para entregar grandes volumes de produtos. Segundo o CTO (Chiem Tecnology Officer) e fundador da AgBiTech, o executivo australiano Anthony Hawes, a empresa conta com fábricas cuja modernidade permite expandir a produção e atender plenamente à demanda de grandes propriedades. “O Brasil é estratégico para o nosso negócio global”, declarou Hawes.

A primeira safra comercial da AgBiTech Brasil está em andamento. A empresa, de forma planejada, comercializa este ano um volume limitado de produtos, enquanto avança na integração de sua nova tecnologia aos principais sistemas de produção do agronegócio. “Participam de nosso lançamento alguns dos mais importantes produtores de soja e algodão do País, unidos a um time de entomologistas com reputação de liderança na introdução de novas tecnologias”, revela o diretor Vilas-Boas.

Professor-doutor da Unesp de Ilha Solteira (SP), o pesquisador Geraldo Papa integra a equipe de cientistas colaboradores da AgBiTech Brasil. De acordo com ele, os estudos realizados no País mostram que os inseticidas biológicos já trazem uma boa notícia a produtores de soja e algodão preocupados com o controle de lagartas do gênero Spodoptera, de difícil manejo, nos cultivos convencionais e transgênicos.

“Os baculovírus trazem mais eficácia ao controle da Spodoptera. Reduzem o número de aplicações de químicos e prolongam o período de controle da população dessa lagarta que é hoje um dos ‘gargalos’ da agricultura”, afirma Papa. Ele acredita que a adoção de biológicos tende a aumentar bastante nos próximos anos. “Há produtos que estão enchendo os olhos dos pesquisadores, principalmente pela seriedade adotada em seu desenvolvimento.”

Ainda em 2018, a AgBiTech lança oficialmente mais dois produtos com registro no Brasil: os lagarticidas Cartugen e Chrysogen, indicados ao controle das lagartas Spodoptera frugiperda Chrysodeixis includens

Outros três lagarticidas de ponta da AgBiTech estão em fase avançada de análise pelos órgãos reguladores. Estes produtos fazem parte do plano de negócios da empresa para os ciclos 2018-19 e 2019-20. “Dois destes produtos são baseados em tecnologia de última geração, disruptivas no agronegócio nacional, resultantes de misturas prontas de baculovírus com amplo espectro de controle de lagartas”, conclui Adriano Vilas Boas.

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