Aplicativo auxilia na identificação e manejo de pragas do maracujá

Ferramenta permite que produtor compare fotos de pragas ou sintomas de uma doença no pomar

22.05.2020 | 20:59 (UTC -3)
Revista Cultivar Hortaliças e Frutas

O Brasil ocupa a posição de primeiro lugar na produção mundial de maracujá, seguido pela Colômbia e a Indonésia (Altendorf, 2018). Em 2017, a produção brasileira foi de 548.088 toneladas, em 41.067 hectares de área colhida, com rendimento de 13,3t/ha (IBGE, 2017). A Bahia é o primeiro produtor, com 170.910 toneladas, à frente dos estados do Ceará (94.816 toneladas), de Santa Catarina (46.152 toneladas) e de São Paulo (30.387 toneladas) (IBGE, 2017).

No Brasil, essa cultura apresenta grande importância socioeconômica, sendo principalmente cultivada por agricultores familiares em propriedades de pequeno e médio porte. Apesar do investimento alto para instalação, é uma cultura altamente atrativa, pois permite retorno econômico em curto prazo e propicia um longo período de colheita. Além disso, tem forte apelo aos consumidores, criando uma alta demanda pelo produto em função de suas propriedades nutritivas, farmacêuticas, entre outras. O maracujá pode ser consumido in natura ou na forma de polpa concentrada, muito utilizada na indústria de processamento de alimentos.

O maracujazeiro é uma planta que pode ser cultivada em condições de clima tropical ou subtropical. Pertence à família Passifloraceae e ao gênero Passiflora, com 140 espécies nativas do Brasil. Entretanto, as mais conhecidas são o maracujá-amarelo ou azedo (Passiflora edulis Sims), o maracujá-roxo (Passiflora edulis Sims) e o maracujá-doce (Passiflora alata Curtis).

Entretanto, a produção de maracujá pode ser comprometida e até mesmo inviabilizada em decorrência de problemas fitossanitários, devido à ocorrência de pragas (insetos, ácaros, doenças e nematoides) que afetam a produção e a comercialização dos frutos in natura. Os efeitos da infestação por essas pragas podem levar à depreciação da qualidade do fruto, com redução de seu valor comercial, ao aumento dos custos de produção pela necessidade de controle, à queda da produção e produtividade e à redução da longevidade do plantio, com consequente diminuição do lucro e perda das plantas devido não somente aos danos diretos e indiretos causados por esses organismos, bem como à erradicação das plantas.

Os danos diretos, como o próprio nome já sugere, são aqueles decorrentes da ação direta do organismo sobre a planta ou parte dela, como o consumo de folhas, flores ou outra estrutura da planta. Já o dano indireto advém quando um inseto ou ácaro, por exemplo, em seu processo de alimentação, é capaz de transmitir à planta um agente causador de doença. Nesse caso, a doença transmitida pode representar uma ameaça ainda maior que a causada pelo inseto ou ácaro vetor da doença.

Diversos organismos estão associados à cultura do maracujazeiro. No entanto, muitos deles não se constituem em pragas, visto que não causam danos econômicos. Alguns apenas visitam as plantas, visto que o maracujazeiro, pela exuberância de suas flores, é uma planta que atrai muitos insetos. Alguns insetos, inclusive, podem ser inimigos naturais das pragas, sendo então organismos benéficos à cultura. Deve ser considerada, também, a constante presença das mamangavas (insetos polinizadores da planta) no plantio.

Por outro lado, sintomas de doenças ou ataque de nematoides podem não ser percebidos ou, em alguns casos, confundidos com deficiências nutricionais ou mesmo com outras doenças, dificultando, portanto, a identificação precoce, o que contribui para o aumento dos prejuízos e dos custos para seu controle.

Todas as situações anteriormente expostas levam a uma fragilidade no sistema. Diante deste cenário, é essencial o manejo integrado de pragas (MIP), que preconiza a associação de diferentes métodos de controle (legislativo, cultural, biológico, genético, químico, resistência de plantas a insetos, comportamental), desde que compatíveis e que atendam aos critérios econômicos, ecológicos e sociais.

Portanto, fica clara a necessidade de se identificar corretamente as espécies de pragas que estão presentes no pomar de maracujazeiro. Por sua vez, a melhor forma para se fazer a correta identificação dos principais organismos-praga da cultura é contando com a colaboração de um especialista em taxonomia. Entretanto, na maioria das vezes, o produtor não tem essa disponibilidade. Assim, muitas vezes, é necessária a intervenção de um profissional que tenha experiência com a cultura e habilidade para reconhecer as principais pragas locais, sua correta identificação, o conhecimento de sua epidemiologia e dos principais métodos de controle.

Essa tarefa é facilitada pela comparação entre os organismos ou sintomas presentes no plantio com fotos das pragas disponibilizadas em publicações técnicas. Essa foi a principal motivação que a equipe da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, Bahia, encontrou para a elaboração do “Guia de identificação e controle de pragas na cultura do maracujazeiro” (https://bit.ly/2S2JAbZ) no ano de 2017, na forma de cartilha impressa.

O guia contempla informações básicas sobre as principais doenças, insetos, ácaros e nematoides que ocorrem nas principais áreas produtoras de maracujá. Dessa forma, facilita o reconhecimento dessas pragas em função dos danos causados e parte da planta atacada e a diferenciação dos sintomas causados pelos mais diversos agentes causais. Estabelece também quais as estratégias do MIP são as mais indicadas para redução dos danos.

No seu lançamento, a receptividade ao guia impresso por parte de produtores, técnicos e estudantes foi muito boa, porém algumas limitações foram apresentadas a partir do seu uso em campo. A principal queixa dos usuários era a de que a utilização no campo era prejudicada, devido à necessidade de impressão das fotos em alta resolução para permitir a comparação com as pragas encontradas no pomar. Isso representava uma contradição ao processo, visto que a cartilha é grátis justamente para viabilizar o seu livre acesso pelos usuários. A necessidade de impressão da mesma (e em alta resolução) praticamente inviabilizava o alcance desse objetivo.

Essa limitação impulsionou a equipe da Embrapa Mandioca e Fruticultura a propor o desenvolvimento de um aplicativo que possibilitasse o diagnóstico e controle das principais pragas do maracujazeiro, em tempo real.

Foi uma ação do projeto “Caracterização e uso de germoplasma e melhoramento genético do maracujazeiro (Passiflora spp.) auxiliados por marcadores moleculares - fase IV”.  A construção do aplicativo contou com a participação de profissionais da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, Bahia, da Embrapa Cerrados, Planaltina, Distrito Federal, da Embrapa Semiárido, Petrolina, Pernambuco, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Cruz das Almas, Bahia, e da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Vitória da Conquista, Bahia.

Essa atividade resultou no lançamento do aplicativo AgroPragas Maracujá no ano de 2019. É um aplicativo para celular que traz, basicamente, as mesmas informações veiculadas no guia impresso. O acesso ao conteúdo é rápido via consulta ao tópico de interesse. O aplicativo traz as informações por categoria: fungos, bactérias, insetos, vírus e nematoides. A principal vantagem do aplicativo é poder ser utilizado off-line. Também permite que o produtor compare fotos de uma praga ou do sintoma de uma doença, por ele tiradas no seu pomar, com as imagens disponíveis no aplicativo. O aplicativo é gratuito e de fácil uso. Está disponível para download no Google Play (Figura 1): https://bit.ly/2VyPCDz. É compatível com o Android 4.1 (JELLY_BEAN) ou superior.

Em resumo, seguem as principais funcionalidades do aplicativo:

1) Identificação das principais pragas do maracujazeiro

2) Recomendações para o manejo integrado de pragas

3) Busca de informações específicas das pragas por meio de imagens

4) Buscas textuais

5) Comparação de fotos de cada praga de interesse e/ou sintoma de doenças encontradas no pomar com as imagens disponíveis no aplicativo em tempo real e off-line (Figura 2)

6) Link de acesso para o Agrofit (Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários)

O lançamento oficial do aplicativo foi feito por ocasião do Semiárido Show, em Petrolina (PE), realizado no período de 19 a 22 de novembro de 2019.

Como o aplicativo está ainda na primeira versão, os usuários são convidados a avaliar o seu desempenho, sugerindo agregação de novas funcionalidades e atualização do conteúdo.

O aplicativo substitui a consulta do conteúdo impresso, promovendo economia de tempo e papel, simplificando e agilizando o diagnóstico ou a identificação das pragas. Com a identificação correta, espera-se que as tomadas de decisão acerca dos métodos de controle sejam feitas no momento apropriado e com estratégias de baixo impacto ambiental, contribuindo para a sustentabilidade do agroecossistema e um controle mais eficiente de cada praga de interesse.

Figura 1 - Tela de download do aplicativo e tela inicial do aplicativo AgroPragas Maracujá.
Figura 1 - Tela de download do aplicativo e tela inicial do aplicativo AgroPragas Maracujá.

Figura 2 - Um dos recursos do aplicativo: comparação de fotos com possibilidade de ampliação das imagens (“zoom”). No exemplo, mostrando imagens da infestação de frutos de maracujá por larvas de moscas-das-frutas.
Figura 2 - Um dos recursos do aplicativo: comparação de fotos com possibilidade de ampliação das imagens (“zoom”). No exemplo, mostrando imagens da infestação de frutos de maracujá por larvas de moscas-das-frutas.

Marilene Fancelli, Cristina de Fátima Machado, Murilo da Silva Crespo, Hermes Peixoto Santos Filho, Embrapa Mandioca e Fruticultura

Cultivar Hortaliças e Frutas abril/Maio 2020 

A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. Na edição de abril/maio você confere também: 

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