Artigo - Camu-camu: fruto amazônico com mais vitamina C que o limão!

20.10.2009 | 21:59 (UTC -3)

Nem acerola, nem limão. O fruto com maior concentração de vitamina C ainda é um ilustre desconhecido. O título fica com o camu-camu, também chamado de caçari, araçá d'água e azedinho, um fruto típico da região amazônica.

Sua concentração de ácido ascórbico (vitamina C) é 20 vezes maior que a da acerola e 60 vezes a do limão. Cada 100 gramas de sua polpa tem entre 2,3 e 3 gramas de vitamina C. E a casca apresenta concentração ainda maior: até 5 gramas. É a maior fonte natural de ácido ascórbico que se conhece. Mais do que isso só em formato de comprimido, nas farmácias.

Por conter um alto teor de ácido ascórbico e ácido cítrico, o camu-camu é um poderoso anti-oxidante. E pode funcionar como coadjuvante na eliminação de radicais livres, retardando o envelhecimento, além de fortalecer os sistemas imunológico e nervoso e estimular o sistema cardíaco. Com estas propriedades, o camu-camu impõe-se no topo da lista das matérias-primas das indústrias de medicamentos, cosméticos, alimentos e bebidas. Mesmo após o cozimento, ele não perde a vitamina C, como ocorre com outros frutos.

Não é à toa, portanto, que as propriedades e benefícios do camu-camu têm despertado o interesse de outros países na importação da polpa e do fruto. Por outro lado, infelizmente, o camu-camu ainda não é popular na mesa do brasileiro, mesmo de quem mora na Amazônia. O fruto praticamente só é encontrado em seu estado natural, à beira dos igarapés e rios ou em regiões permanentemente alagadas. Plantações comerciais ainda não são comuns. Mas a Embrapa Roraima vem realizando pesquisas que podem, num futuro bem próximo, transformar o camu-camu no fruto da vez.

Estamos trabalhando para conhecer mais e promover a propagação da planta. Nas pesquisas preliminares, verificamos que os teores médios de vitamina C em análises de amostras de frutos maduros e de vez (imaturos) correspondem a 2,59 e 2,52g/ 100g, respectivamente. Estes teores muito próximos indicam que, mesmo em frutos imaturos, o teor de ácido ascórbico é bastante superior a maioria das plantas cultivadas e que não é diferente em relação aos frutos maduros, nas amostras analisadas. Isso revela que a colheita da fruta, em Roraima, pode ser feita ainda no estado imaturo, permitindo maior período para consumo.

A árvore do camu-camu, pertencente à família Myrtaceae, chega a alcançar até 8 metros de altura e pode ser encontrada do Estado do Pará até a Amazônia Peruana. É formada por várias hastes secundárias, que se apresentam em forma de vasos abertos. O talo e os ramos são lisos, sem espinhos, de cor marrom claro. Suas raízes são profundas e com pêlos absorventes, sendo as folhas desde ovalado-elípticas até lanceoladas. A propagação do camu-camu se dá pelas sementes, que não toleram perda de umidade, o que pode eliminar a germinação. Normalmente recomenda-se que, logo após a colheita, que as sementes despolpadas sejam lavadas e semeadas imediatamente, para que não percam a viabilidade.

Agora, estamos concluindo uma pesquisa relacionada ao tempo de armazenamento das sementes do camu-camu, obtidas em condições climáticas do Estado de Roraima. Os frutos foram coletados manualmente de plantas, da margem de rio, no município de Boa Vista. O estudo foi realizado no laboratório de sementes da Embrapa-RR e em casa de vegetação. Coletou-se frutos independentes, em seguida retirou-se as sementes que foram lavadas e, então, armazenadas a 20ºC por 90 dias. Posteriormente, no momento do primeiro plantio fez-se uma seleção de acordo com o tamanho dessas sementes, para então semear em três épocas distintas e fazer a observação quantitativa e qualitativa da muda.

Durante a pesquisa, as sementes foram armazenadas e conservadas de modo a manter essa umidade. Esse tipo de conservação pode permitir a produção de mudas por um período maior, pois as sementes do camu-camu têm uma durabilidade muito curta, não permitindo a secagem o que facilitaria a conservação a semelhança do que se faz para sementes de cultivos anuais.

Os estudos e observações tem também como finalidade a possibilidade de propagação vegetativa com enxertia sobre plantas da mesma família botânica e da produção em escala desse fruto fora das áreas próximas de rios, especificamente em regiões de terra firme, com o cultivo sendo instalado em pomares produtivos e facilitando a comercialização dos frutos. São necessários ainda mais estudos para adaptação do cultivo em terra firme. Mas, quando isso acontecer, vamos ter uma boa notícia para a saúde e a economia do brasileiro.

Oscar Smiderle

Pesquisador da Embrapa Roraima

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