Avaliação de velocidade com semeadoras mecânicas e pneumáticas

Ultrapassar os limites estabelecidos de velocidade pode causar falhas no estande de plantio

02.10.2020 | 20:59 (UTC -3)
Revista Cultivar

Um dos grandes gargalos na qualidade de semeadura da cultura da soja está relacionado com cuidados na regulagem e manutenção da semeadora. A uniformidade de distribuição das sementes ao longo do sulco afeta diretamente a boa produtividade de todas as culturas.

Um grupo de pesquisadores, formado de uma parceria entre Aprosoja Mato Grosso, Embrapa Milho e Sorgo e o Grupo de Plantio Direto (GPD) da FCA/Unesp Botucatu (SP), avaliou a qualidade de semeadura de soja em diferentes regiões do estado do Mato Grosso, o principal estado produtor de soja do Brasil. Os dados foram coletados pelas equipes da Aprosoja e Embrapa durante o Circuito Tecnológico – Etapa Soja em 2018.

Em levantamento realizado no estado do Mato Grosso após o início da safra 2018/2019, notou-se que 27% dos produtores tinham qualidade de semeadura com espaçamento entre sementes aceitáveis abaixo de 50%, sendo isso preocupante em termos de boas produtividades.

Durante o processo de implantação de uma lavoura, os aspectos mais relevantes para o sucesso estão relacionados ao desempenho da semeadora-adubadora, como o corte eficiente da palhada, abertura do sulco, dosagem do fertilizante, deposição das sementes na quantidade e na profundidade corretas e, principalmente, a velocidade de plantio.

Pesquisas e observações a campo mostram que as semeadoras, quando em altas velocidades (acima do recomendado), retiram o caráter de precisão, reduzindo, dessa forma, a qualidade de semeadura e aumentando o índice de espaçamentos múltiplos e falhos. Assim, segundo dados da literatura, a velocidade ideal para semeadoras de dosador pneumático seria de 6km/h, tendo como tolerável dependendo das condições do campo, de se trabalhar até a 7,5km/h sem afetar a precisão de distribuição. Para o sistema dosador mecânico (disco horizontal) recomenda-se trabalhar com velocidade de 5km/h, tendo como tolerável, dentro das condições do campo, velocidade de até 5,5km/h.

Semeadoras pneumáticas são mais eficientes na deposição de sementes e podem trabalhar em velocidades maiores que as convencionais
Semeadoras pneumáticas são mais eficientes na deposição de sementes e podem trabalhar em velocidades maiores que as convencionais

Semeadoras dotadas de dosadores pneumáticos (a vácuo) possuem geralmente qualidade superior na distribuição longitudinal de sementes quando se comparadas ao dosador mecânico (disco horizontal), na mesma velocidade. É importante ressaltar que, aumentando a velocidade do conjunto trator-semeadora, a precisão na deposição das sementes é prejudicada exponencialmente em ambos os dosadores.

Um levantamento realizado em lavouras de soja no estado do Mato Grosso, com aproximadamente 180 máquinas, revelou que 35,75% semeiam suas áreas com semeadora mecânica e 64,25% utilizam a semeadora pneumática (Gráfico 1) e, ainda, 20,32%% dos produtores realizam a semeadura com a velocidade recomendada para cada sistema dosador.

Gráfico 1 - Modelos de semeadoras utilizadas no Mato Grosso informadas no Circuito Tecnológico – Etapa Soja, coordenado pela Aprosoja MT
Gráfico 1 - Modelos de semeadoras utilizadas no Mato Grosso informadas no Circuito Tecnológico – Etapa Soja, coordenado pela Aprosoja MT

No dosador mecânico (Tabela 1), os dados apontam que mais de 80% dos produtores semeiam a sua safra com velocidades acima da faixa de velocidade tida como tolerável para esse sistema dosador. Nas semeadoras pneumáticas (Tabela 2), nota-se que 31% dos produtores trabalham em velocidades acima do tolerável.

Além da velocidade para ambos os dosadores, foi feito o levantamento da qualidade de semeadura (espaçamentos aceitáveis, múltiplos e falhos), avaliando a eficácia da distribuição desses dosadores. Altas velocidades fazem com que as sementes se choquem contra as paredes do tubo condutor, alterando seu tempo de queda, interferindo diretamente no espaçamento entre elas no sulco de semeadura. Além da interferência na deposição, outro ponto que a velocidade interfere é no revolvimento de solo na abertura do sulco, comprometendo a distribuição e a profundidade de semeadura.

No sistema dosador mecânico, o índice de plantabilidade (Tabela 3) revela que 62,50% dos produtores possuem uma qualidade de distribuição de sementes entre 50% e 70% dos espaçamentos aceitáveis e que 37,50% possuem abaixo de 50%. Isso reforça que há uma grande margem de espaçamentos múltiplos ou falhos, comprometendo diretamente a produtividade.

Mais de 30% dos produtores entrevistados trabalham acima da velocidade máxima indicada para o plantio
Mais de 30% dos produtores entrevistados trabalham acima da velocidade máxima indicada para o plantio

Nas semeadoras pneumáticas (Tabela 4), o índice de plantabilidade é mais satisfatório, mostrando que 13% das semeadoras possuem uma precisão na distribuição de sementes superior a 70%. E menos de 19% com resultados inferiores a 50%.

A distribuição incorreta das sementes ao longo do sulco compromete o desenvolvimento inicial das plantas, acarreta no menor aproveitamento dos recursos como água, nutrientes, luz etc. Plantas múltiplas geram competição entre as plantas, causando o estiolamento e a diminuição no pegamento de vagens. Existem outros problemas, como competição por luz, menos ramificações, com produção individual reduzida, menor diâmetro de haste, deixando as plantas mais propensas ao acamamento. As falhas são ausência de plantas no campo, possibilitando o desenvolvimento de plantas invasoras, muitas delas de difícil controle, como a buva (Conyza bonariensis) e o capim-amargoso (Digitaria insularis).

Atrelado aos problemas de manutenção e regulagem, a velocidade de deslocamento do conjunto trator-semeadora é um dos principais pontos de interferência na distribuição longitudinal de sementes ao longo do sulco. Por isso, problemas de regulagem da semeadora no disco de corte, pressão no carrinho e profundidade de semente são potencializados pela velocidade excessiva.

Autores compararam a eficiência de semeadoras pneumáticas e semeadoras mecânicas
Autores compararam a eficiência de semeadoras pneumáticas e semeadoras mecânicas

Emerson Borghi, Embrapa Milho e Sorgo; Paulo Roberto Arbex Silva, Júlio César Santos Pereira, Luiz Henrique Menck Rusconi, Unesp; Murilo Alves Moreira, LDC

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